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Estado de Minas

Move completa 5 anos em BH, entre conquistas e desafios para o futuro

Sistema de transporte, usado por mais de 10 milh�es de passageiros/m�s, deve ganhar mais �nibus e pistas. Usu�rios elogiam acessibilidade, mas criticam seguran�a das esta��es


postado em 13/01/2019 06:00 / atualizado em 13/01/2019 07:55

Ao mesmo tempo que usufruem de melhorias nas estações, usuários também enfrentam falhas na manutenção(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Ao mesmo tempo que usufruem de melhorias nas esta��es, usu�rios tamb�m enfrentam falhas na manuten��o (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Pelos corredores com pistas segregadas de concreto ou em faixas pintadas no asfalto das avenidas, o sistema BRT/Move � respons�vel pelo transporte de mais de um ter�o dos passageiros do transporte coletivo de Belo Horizonte. Dos 30.769.992 usu�rios que circulam por m�s pelo transporte rodovi�rio da capital mineira, 10.372.177 (33,7%) utilizam o Move. O sistema de transporte completa 5 anos em 8 de mar�o, em meio a pol�micas sobre a composi��o dos pre�os das tarifas – alvo de auditorias da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e de movimentos independentes como o Tarifa Zero –, que tiveram alta no fim de 2018, passando de R$ 4,05 para R$ 4,50 (+11%). Em contrapartida, o n�mero de �nibus deve aumentar, bem como o de pistas exclusivas, que deve receber mais 50 quil�metros. Foi sob esse clima de cobran�as e promessas que a reportagem do Estado de Minas submeteu a teste os circuitos de pistas e esta��es segregados.


H� benef�cios ineg�veis, como a disponibilidade de ve�culos com ar-condicionado e a crescente organiza��o das esta��es. O tempo m�dio dos deslocamentos tamb�m foi reduzido com a ado��o do circuito e de faixas exclusivas, com a m�dia de velocidade dos 20 corredores do Move sendo de 26km/h, ou 29,4% mais r�pidos que a m�dia dos antigos coletivos do sistema BHBus, de 15,24km/h, em 2013. Mas h� ainda muitos desafios, como as expans�es do sistema e falhas na manuten��o de esta��es e corredores, sobretudo equipamentos de seguran�a.

Para os usu�rios ouvidos pelo EM, a acessibilidade melhorou muito e a velocidade parece ter compensado o desconforto dos hor�rios de pico. Por outro lado, baldea��es que n�o eram necess�rias antes agora irritam passageiros do antigo sistema. Pessoas que procuram linhas n�o costumeiras reclamam de falta de clareza sobre o trajeto das linhas, que poderia ser mais bem apresentado por meio de placas e pain�is autoexplicativos. Nas esta��es, a falta ou a inoper�ncia dos aparatos de seguran�a obrigat�rios, como extintores de inc�ndio, mangueiras para combate a chamas ou alarmes, preocupa devido ao movimento de uma dezena de milh�es de pessoas por m�s. Os corredores tamb�m apresentam necessidade de reparos, ainda que estejam muito distantes do fim previsto de sua vida �til.

'Chegava em casa por volta das 19h30, agora chego mais de 20h30. Tem dias em que fico até 15 minutos na fila esperando minha vez de embarcar', Adonel Alves da Guarda, auxiliar de serviços gerais(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
'Chegava em casa por volta das 19h30, agora chego mais de 20h30. Tem dias em que fico at� 15 minutos na fila esperando minha vez de embarcar', Adonel Alves da Guarda, auxiliar de servi�os gerais (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

Para o auxiliar de servi�os gerais Adonel Alves da Guarda, de 57 anos, a vida piorou depois da implanta��o do BRT/Move, ampliando seus deslocamentos di�rios do trabalho para casa de uma para duas horas. “Chegava em casa por volta das 19h30, agora, j� � tarde quando volto, mais de 20h30”, disse. No sentido oposto de sua casa, no Bairro Santa M�nica, at� a Esta��o Pampulha s�o 40 minutos dentro do �nibus da linha alimentadora 645. Ao chegar � esta��o, mais problemas. “Tem dias em que fico at� 15 minutos na fila esperando minha vez de embarcar no 6350, que me leva para o trabalho. A fila � de todo o tamanho e os fiscais s� ficam olhando aquele embarque maluco, com os �nibus em filas, quase saindo da esta��o”, disse.

'Está cada vez mais rápido, mais organizado. A única coisa que incomoda é que tem horários em que os ônibus saem muito cheios. Mesmo assim, não dá saudades do BHBus', Juliana de Jesus Gonçalves, diarista(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
'Est� cada vez mais r�pido, mais organizado. A �nica coisa que incomoda � que tem hor�rios em que os �nibus saem muito cheios. Mesmo assim, n�o d� saudades do BHBus', Juliana de Jesus Gon�alves, diarista (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

J� a diarista Juliana de Jesus Gon�alves, de 35, gostou e aprovou a implementa��o do BRT/Move, chegando a elogiar, inclusive, as melhorias que o sistema foi incorporando aos poucos. “Melhorou bastante, est� cada vez mais r�pido, mais organizado. A �nica coisa que me incomoda, ainda, � que tem hor�rios que os �nibus saem muito cheios. Talvez se tiv�ssemos mais �nibus, isso melhoraria. Mas, mesmo assim, n�o d� saudades do que a gente tinha antes (BHBus), que era lotado do mesmo jeito e a gente passava raiva com a lentid�o”, compara a trabalhadora, que mora no Bairro Let�cia, em Venda Nova, e vai para o trabalho em no Bairro de Lourdes, na Regi�o Centro-Sul da capital.

EMBARQUES A seguran�a para embarques e desembarques nas esta��es trouxe a tranquilidade que o comerciante Charles Rocha dos Santos, de 40, precisava para poder levar o filho, de 9, � escola e ao trabalho dele, na Regi�o Central. “A gente vem do Bairro Rio Branco (Venda Nova). Se fosse antes do Move, �amos ter de descer em v�rios pontos no meio da rua. Aqui vemos os seguran�as nas esta��es, sabemos que h� c�meras. Dentro dos corredores os riscos de sermos assaltados � muito menor do que circulando pelas ruas. Ficou mais r�pido tamb�m a integra��o dentro das esta��es em vez de ficar andando v�rios quarteir�es atravessando ruas e avenidas, enfrentando tr�nsito e a viol�ncia”, enumera.

Para quem precisava de apenas um �nibus de sua casa, no Bairro Santa Am�lia (Pampulha), ao Prado (Regi�o Oeste), onde trabalha, a cabeleireira Mariana Cristina de Freitas, de 27, passou a ter de utilizar dois transportes de �nibus e um de metr�, ampliando sua viagem di�ria de 40 minutos para 1h30min. “Antes era muito r�pido, fora do hor�rio de pico. Agora, tenho de ir at� a esta��o de qualquer forma, andar por ela, esperar o �nibus, ir at� a Esta��o Vilarinho e ainda pegar o metr�”, conta. Dentro do �nibus da linha 67 (Esta��o Vilarinho/Santo Agostinho via Carlos Luz), apesar de poucos passageiros no hor�rio das 10h, o desconforto era grande, uma vez que o condicionador de ar estava sem funcionar e as janelas e acessos de emerg�ncia n�o podiam ser abertos.

A reportagem utilizou um term�metro para comparar a temperatura externa com a do coletivo. Enquanto na esta��o o dia estava ameno, com 26°C, no interior do coletivo a temperatura chegou a 30°C. “� muito comum termos de pegar �nibus abafados e sem ar-condicionado funcionando. A�, para quem j� tem de viajar por mais tempo, andar pela esta��o correndo, s� pode chegar suando no trabalho, com muito desconforto”, lamentou a cabeleireira.

Realidades opostas nas esta��es

Passageiros embarcam na Estação Pampulha(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Passageiros embarcam na Esta��o Pampulha (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

A pressa dos passageiros nos hor�rios de pico � a mesma nas duas maiores esta��es do BRT/Move – a Pampulha, com 1.895.395 passageiros por m�s, e a S�o Gabriel, com 1.525.751. Mas o desgaste e a tens�o experimentados pelos usu�rios para embarcar em uma ou em outra � bem diferente. Enquanto na Esta��o Pampulha os passageiros se amontoam, sem respeitar as filas que at� se fundem tomando a plataforma, na S�o Gabriel tudo foi organizado por cavaletes de pl�stico laranja e correntes que formam corredores para que cada pessoa possa ter seu espa�o respeitado por ordem de chegada, contando, inclusive, com uma fileira reservada apenas para os idosos. “Aqui (na Esta��o Pampulha), a gente quase disputa no tapa a entrada no Move. Tem muitos marmanjos, sem educa��o, que chegam depois e v�m entrando pelas laterais, fora das filas, e embarcam na frente dos idosos, de quem estiver pela frente. Os fiscais n�o conseguem fazer nada”, reclama a atendente Maria do Carmo Ribeiro Silva, de 52 anos, que precisa baldear na esta��o para fazer o percurso de casa (Bairro Santa M�nica) ao trabalho (Barro Preto).

As diferen�as de organiza��o das duas maiores esta��es do sistema de transporte de massas n�o param por a�. Enquanto a S�o Gabriel tem acessos bem definidos e travessias demarcadas para pedestres, na Pampulha se v�, ainda que esporadicamente, pessoas andando pela pista do BRT. O comportamento dos condutores que estacionam na pista da direita tamb�m � arriscado. Sem uma passagem pr�pria, os funcion�rios das empresas de transportes precisam cruzar toda a pista exclusiva dos coletivos e tendo de saltar ou escalar – no caso daqueles que est�o em pior forma – a plataforma de concreto onde os ve�culos normalmente atracam e que tem cerca de um metro de altura. “A gente n�o tem outra forma de trabalhar. O jeito mais r�pido � atravessando a pista e subindo na plataforma, que n�o tem escada. Temos de preencher a planilha e fazer a pausa”, disse um dos condutores.

Talvez o ponto em comum entre as duas grandes instala��es de integra��o, embarque e desembarque sejam os problemas com os equipamentos de seguran�a. Na Esta��o Pampulha, por exemplo, a reportagem encontrou 23 extintores de inc�ndio despressurizados, sete caixas met�licas de mangueiras para combate �s chamas sem a presen�a dos equipamentos e cinco pilares que deveriam ter cilindros de extintores, mas estavam vazios. Apenas quatro extintores tinham press�o adequada para debelar chamas em caso de um inc�ndio amea�ar a estrutura ou os ve�culos, sendo, ironicamente, metade deles na guarita de acesso � esta��o pela Rua Barragem da Pampulha, que est� fechada, com grades bloqueando a entrada, as catracas vazias e os guich�s abandonados. A sujeira tamb�m salta aos olhos, pois mesmo com lixeiras nos guich�s, a �rea de compra de passagens re�ne montes e mais montes de comprovantes de compras de passagens descartados no ch�o.

Na Esta��o S�o Gabriel, onde as din�micas s�o mais organizadas, os problemas com equipamentos tamb�m s�o igualmente graves. Nos pilares onde deveriam estar dependurados extintores de inc�ndios, h� 18 estruturas sem o equipamento. Duas dessas est�o assim h� tanto tempo que viraram cabides para motoristas e fiscais engancharem suas sacolas de mantimentos, �gua e roupas. Em cinco caixas onde mangueiras de combate �s chamas precisariam estar preparadas n�o foi encontrado nada e dois alarmes que podem ser acionados quando se constata um inc�ndio se encontravam destru�dos.

Na Estação São Gabriel, embarque é organizado e cavaletes formam corredores para evitar 'fura-filas'(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Na Esta��o S�o Gabriel, embarque � organizado e cavaletes formam corredores para evitar 'fura-filas' (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

DESGASTE NAS PISTAS As vias que levam �s Esta��es de Transfer�ncia, ao longo dos corredores segregados, e �s Esta��es de Integra��o j� experimentam grande desgaste. A pior delas � a da Avenida Presidente Ant�nio Carlos, a mais movimentada, com 3.558.159 passageiros por m�s e que, apesar de ter um pavimento de concreto projetado para durar entre 10 e 30 anos sem necessidade de manuten��o, j� se encontra com rachaduras grandes, fissuras, placas se desprendendo e at� buracos cobrindo toda a largura da pista entre as esta��es de transfer�ncia Hospital Belo Horizonte, Aparecida, Am�rico Vesp�cio, S�o Francisco e sob o viaduto da Avenida Ant�nio Abrah�o Caram.

Para piorar, muitos remendos foram feitos com asfalto, uma pr�tica que � reprovada pelos especialistas. “Tais problemas no pavimento s�o defeitos construtivos. Foi uma obra mal-executada ou aquele velho problema que temos no Brasil de materiais de baixa qualidade sendo empregados. Para se ter uma ideia, um pavimento de concreto bem executado dura de 30 a 40 anos, como � o da Via Expressa, da PUC Cora��o Eucar�stico a Contagem.  As pistas do Move e a Linha Verde duraram pouco demais”, considera o engenheiro e especialista em transporte e tr�nsito M�rcio Aguiar. “J� os remendos com asfalto s�o um desperd�cio de dinheiro p�blico. S�o materiais diferentes. As fissuras que ficam no concreto logo abrem rombos no asfalto e os buracos acabam abertos novamente. Tem de fazer o servi�o direito. Remover as placas de concreto e fazer o servi�o todo de novo”, afirma o especialista.

Vandalismo e furtos afetam e oneram sistema

Falta de aparatos de segurança obrigatórios, como extintores de incêndio, preocupa(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Falta de aparatos de seguran�a obrigat�rios, como extintores de inc�ndio, preocupa (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Nas esta��es, os respons�veis pela opera��o da Empresa de Transporte e Tr�nsito de Belo Horizonte (BHTrans) afirmam que o grande problema que enfrentam com equipamentos e estruturas est� ligado ao vandalismo que essas edifica��es sofrem e que vem sendo combatido, ao mesmo tempo em que as estruturas s�o substitu�das ou recarregadas. A assessoria de imprensa informou que a resolu��o de cada problema cabe �s esta��es e que s�o quest�es pontuais. De acordo com a empresa, h� v�rios problemas de furtos e vandalismo. A alimenta��o el�trica entre os m�dulos das esta��es do Move ocorre por meio de cabos el�tricos de cobre flex�vel, muito visados pelos bandidos, e quando a a��o de furto desses componentes “ocorre em uma determinada esta��o, cerca de 630 metros desse cabo s�o furtados. Com o roubo, os sistemas de ilumina��o, portas autom�ticas e monitores informativos s�o os principais afetados”.

Cerca de 11 mil metros de cabo de cobre flex�vel foram roubados at� julho deste ano e resultaram em gastos de cerca de R$ 16 mil em material, mais R$ 7.500 em m�o de obra para os reparos. “Estima-se que ser�o necess�rios cerca de R$ 94.600 para restabelecer todo o sistema el�trico afetado.”

A seguran�a das esta��es tem sido uma preocupa��o. S�o 202 vigias, que trabalham por turno de 12 horas, divididos nas esta��es de acordo com a demanda. Em dias especiais, o esquema � intensificado, como em dias de partidas de futebol, quando podem ser alocados mais vigias em determinada esta��o. “S�o vigias patrimoniais, desarmados, que exercem a vigil�ncia dentro dos m�dulos das esta��es. Se verificarem situa��es que demandem a presen�a e atua��o dos �rg�os de seguran�a, Pol�cia Militar e Guarda Municipal, s�o orientados a acion�-los. Todas as 37 esta��es de transfer�ncia do Move contam c�meras de seguran�a”, informou a BHTrans. (MP)

Palavra de Especialista

M�rcio Aguiar,
professor da Fumec, mestre em transporte e tr�nsito e ex-presidente da Transcon

� preciso investir em metr� e monotrilho

Nesses 5 anos, o que podemos perceber � que a efici�ncia do Move se d� no espa�o segregado. Quando os �nibus enfrentam o tr�nsito, ocorrem atrasos, mesmo quando temos demarca��es, pois essas n�o s�o respeitadas pelos demais ve�culos. O BRT veio mitigar os problemas de transporte p�blico de BH, que j� vinham de muitos anos e eram crescentes. Mas isso vai continuar ocorrendo enquanto os ve�culos de transporte sa�rem das canaletas. O que resolveria seria a ado��o de um modal diferencial, como metr� ou monotrilho. Estamos adiando isso, enquanto outras grandes cidades com problemas similares aos nossos j� est�o investindo. N�o podemos insistir apenas em �nibus. As demandas est�o mais sens�veis. Se n�o mudarmos e se n�o expandirmos tamb�m o pr�prio sistema, as pessoas sair�o dos �nibus. Com isso, o pre�o da tarifa acaba aumentando, j� que � o movimento que sustenta tudo, ainda que haja subs�dios. As gratuidades tamb�m me parecem muito extensas e pesam sobre as tarifas, obrigando os mais pobres a pagar por isso, j� que s�o a maioria dos usu�rios. Do ponto de vista ecol�gico, dever�amos ter �nibus el�tricos, que s�o menos poluidores, mas continuamos com o diesel, que � o pior tipo de combust�vel que existe. Um problema que tem reflexos em BH, mas que na verdade � fruto da falta de planejamento metropolitano, � em rela��o aos transportes e suas integra��es com os demais munic�pios da Grande BH. O sistema de transporte da capital n�o � pensado para a regi�o metropolitana, as prefeituras n�o fazem trabalhos de transporte comuns, poderia ser mais integrado, mas s�o investimentos deixados de lado e quem paga por isso s�o os passageiros.


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