
Pelos corredores com pistas segregadas de concreto ou em faixas pintadas no asfalto das avenidas, o sistema BRT/Move � respons�vel pelo transporte de mais de um ter�o dos passageiros do transporte coletivo de Belo Horizonte. Dos 30.769.992 usu�rios que circulam por m�s pelo transporte rodovi�rio da capital mineira, 10.372.177 (33,7%) utilizam o Move. O sistema de transporte completa 5 anos em 8 de mar�o, em meio a pol�micas sobre a composi��o dos pre�os das tarifas – alvo de auditorias da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e de movimentos independentes como o Tarifa Zero –, que tiveram alta no fim de 2018, passando de R$ 4,05 para R$ 4,50 (+11%). Em contrapartida, o n�mero de �nibus deve aumentar, bem como o de pistas exclusivas, que deve receber mais 50 quil�metros. Foi sob esse clima de cobran�as e promessas que a reportagem do Estado de Minas submeteu a teste os circuitos de pistas e esta��es segregados.
H� benef�cios ineg�veis, como a disponibilidade de ve�culos com ar-condicionado e a crescente organiza��o das esta��es. O tempo m�dio dos deslocamentos tamb�m foi reduzido com a ado��o do circuito e de faixas exclusivas, com a m�dia de velocidade dos 20 corredores do Move sendo de 26km/h, ou 29,4% mais r�pidos que a m�dia dos antigos coletivos do sistema BHBus, de 15,24km/h, em 2013. Mas h� ainda muitos desafios, como as expans�es do sistema e falhas na manuten��o de esta��es e corredores, sobretudo equipamentos de seguran�a.
Para os usu�rios ouvidos pelo EM, a acessibilidade melhorou muito e a velocidade parece ter compensado o desconforto dos hor�rios de pico. Por outro lado, baldea��es que n�o eram necess�rias antes agora irritam passageiros do antigo sistema. Pessoas que procuram linhas n�o costumeiras reclamam de falta de clareza sobre o trajeto das linhas, que poderia ser mais bem apresentado por meio de placas e pain�is autoexplicativos. Nas esta��es, a falta ou a inoper�ncia dos aparatos de seguran�a obrigat�rios, como extintores de inc�ndio, mangueiras para combate a chamas ou alarmes, preocupa devido ao movimento de uma dezena de milh�es de pessoas por m�s. Os corredores tamb�m apresentam necessidade de reparos, ainda que estejam muito distantes do fim previsto de sua vida �til.

Para o auxiliar de servi�os gerais Adonel Alves da Guarda, de 57 anos, a vida piorou depois da implanta��o do BRT/Move, ampliando seus deslocamentos di�rios do trabalho para casa de uma para duas horas. “Chegava em casa por volta das 19h30, agora, j� � tarde quando volto, mais de 20h30”, disse. No sentido oposto de sua casa, no Bairro Santa M�nica, at� a Esta��o Pampulha s�o 40 minutos dentro do �nibus da linha alimentadora 645. Ao chegar � esta��o, mais problemas. “Tem dias em que fico at� 15 minutos na fila esperando minha vez de embarcar no 6350, que me leva para o trabalho. A fila � de todo o tamanho e os fiscais s� ficam olhando aquele embarque maluco, com os �nibus em filas, quase saindo da esta��o”, disse.

J� a diarista Juliana de Jesus Gon�alves, de 35, gostou e aprovou a implementa��o do BRT/Move, chegando a elogiar, inclusive, as melhorias que o sistema foi incorporando aos poucos. “Melhorou bastante, est� cada vez mais r�pido, mais organizado. A �nica coisa que me incomoda, ainda, � que tem hor�rios que os �nibus saem muito cheios. Talvez se tiv�ssemos mais �nibus, isso melhoraria. Mas, mesmo assim, n�o d� saudades do que a gente tinha antes (BHBus), que era lotado do mesmo jeito e a gente passava raiva com a lentid�o”, compara a trabalhadora, que mora no Bairro Let�cia, em Venda Nova, e vai para o trabalho em no Bairro de Lourdes, na Regi�o Centro-Sul da capital.
EMBARQUES A seguran�a para embarques e desembarques nas esta��es trouxe a tranquilidade que o comerciante Charles Rocha dos Santos, de 40, precisava para poder levar o filho, de 9, � escola e ao trabalho dele, na Regi�o Central. “A gente vem do Bairro Rio Branco (Venda Nova). Se fosse antes do Move, �amos ter de descer em v�rios pontos no meio da rua. Aqui vemos os seguran�as nas esta��es, sabemos que h� c�meras. Dentro dos corredores os riscos de sermos assaltados � muito menor do que circulando pelas ruas. Ficou mais r�pido tamb�m a integra��o dentro das esta��es em vez de ficar andando v�rios quarteir�es atravessando ruas e avenidas, enfrentando tr�nsito e a viol�ncia”, enumera.
Para quem precisava de apenas um �nibus de sua casa, no Bairro Santa Am�lia (Pampulha), ao Prado (Regi�o Oeste), onde trabalha, a cabeleireira Mariana Cristina de Freitas, de 27, passou a ter de utilizar dois transportes de �nibus e um de metr�, ampliando sua viagem di�ria de 40 minutos para 1h30min. “Antes era muito r�pido, fora do hor�rio de pico. Agora, tenho de ir at� a esta��o de qualquer forma, andar por ela, esperar o �nibus, ir at� a Esta��o Vilarinho e ainda pegar o metr�”, conta. Dentro do �nibus da linha 67 (Esta��o Vilarinho/Santo Agostinho via Carlos Luz), apesar de poucos passageiros no hor�rio das 10h, o desconforto era grande, uma vez que o condicionador de ar estava sem funcionar e as janelas e acessos de emerg�ncia n�o podiam ser abertos.
A reportagem utilizou um term�metro para comparar a temperatura externa com a do coletivo. Enquanto na esta��o o dia estava ameno, com 26°C, no interior do coletivo a temperatura chegou a 30°C. “� muito comum termos de pegar �nibus abafados e sem ar-condicionado funcionando. A�, para quem j� tem de viajar por mais tempo, andar pela esta��o correndo, s� pode chegar suando no trabalho, com muito desconforto”, lamentou a cabeleireira.
Realidades opostas nas esta��es

A pressa dos passageiros nos hor�rios de pico � a mesma nas duas maiores esta��es do BRT/Move – a Pampulha, com 1.895.395 passageiros por m�s, e a S�o Gabriel, com 1.525.751. Mas o desgaste e a tens�o experimentados pelos usu�rios para embarcar em uma ou em outra � bem diferente. Enquanto na Esta��o Pampulha os passageiros se amontoam, sem respeitar as filas que at� se fundem tomando a plataforma, na S�o Gabriel tudo foi organizado por cavaletes de pl�stico laranja e correntes que formam corredores para que cada pessoa possa ter seu espa�o respeitado por ordem de chegada, contando, inclusive, com uma fileira reservada apenas para os idosos. “Aqui (na Esta��o Pampulha), a gente quase disputa no tapa a entrada no Move. Tem muitos marmanjos, sem educa��o, que chegam depois e v�m entrando pelas laterais, fora das filas, e embarcam na frente dos idosos, de quem estiver pela frente. Os fiscais n�o conseguem fazer nada”, reclama a atendente Maria do Carmo Ribeiro Silva, de 52 anos, que precisa baldear na esta��o para fazer o percurso de casa (Bairro Santa M�nica) ao trabalho (Barro Preto).
As diferen�as de organiza��o das duas maiores esta��es do sistema de transporte de massas n�o param por a�. Enquanto a S�o Gabriel tem acessos bem definidos e travessias demarcadas para pedestres, na Pampulha se v�, ainda que esporadicamente, pessoas andando pela pista do BRT. O comportamento dos condutores que estacionam na pista da direita tamb�m � arriscado. Sem uma passagem pr�pria, os funcion�rios das empresas de transportes precisam cruzar toda a pista exclusiva dos coletivos e tendo de saltar ou escalar – no caso daqueles que est�o em pior forma – a plataforma de concreto onde os ve�culos normalmente atracam e que tem cerca de um metro de altura. “A gente n�o tem outra forma de trabalhar. O jeito mais r�pido � atravessando a pista e subindo na plataforma, que n�o tem escada. Temos de preencher a planilha e fazer a pausa”, disse um dos condutores.
Talvez o ponto em comum entre as duas grandes instala��es de integra��o, embarque e desembarque sejam os problemas com os equipamentos de seguran�a. Na Esta��o Pampulha, por exemplo, a reportagem encontrou 23 extintores de inc�ndio despressurizados, sete caixas met�licas de mangueiras para combate �s chamas sem a presen�a dos equipamentos e cinco pilares que deveriam ter cilindros de extintores, mas estavam vazios. Apenas quatro extintores tinham press�o adequada para debelar chamas em caso de um inc�ndio amea�ar a estrutura ou os ve�culos, sendo, ironicamente, metade deles na guarita de acesso � esta��o pela Rua Barragem da Pampulha, que est� fechada, com grades bloqueando a entrada, as catracas vazias e os guich�s abandonados. A sujeira tamb�m salta aos olhos, pois mesmo com lixeiras nos guich�s, a �rea de compra de passagens re�ne montes e mais montes de comprovantes de compras de passagens descartados no ch�o.
Na Esta��o S�o Gabriel, onde as din�micas s�o mais organizadas, os problemas com equipamentos tamb�m s�o igualmente graves. Nos pilares onde deveriam estar dependurados extintores de inc�ndios, h� 18 estruturas sem o equipamento. Duas dessas est�o assim h� tanto tempo que viraram cabides para motoristas e fiscais engancharem suas sacolas de mantimentos, �gua e roupas. Em cinco caixas onde mangueiras de combate �s chamas precisariam estar preparadas n�o foi encontrado nada e dois alarmes que podem ser acionados quando se constata um inc�ndio se encontravam destru�dos.

DESGASTE NAS PISTAS As vias que levam �s Esta��es de Transfer�ncia, ao longo dos corredores segregados, e �s Esta��es de Integra��o j� experimentam grande desgaste. A pior delas � a da Avenida Presidente Ant�nio Carlos, a mais movimentada, com 3.558.159 passageiros por m�s e que, apesar de ter um pavimento de concreto projetado para durar entre 10 e 30 anos sem necessidade de manuten��o, j� se encontra com rachaduras grandes, fissuras, placas se desprendendo e at� buracos cobrindo toda a largura da pista entre as esta��es de transfer�ncia Hospital Belo Horizonte, Aparecida, Am�rico Vesp�cio, S�o Francisco e sob o viaduto da Avenida Ant�nio Abrah�o Caram.
Para piorar, muitos remendos foram feitos com asfalto, uma pr�tica que � reprovada pelos especialistas. “Tais problemas no pavimento s�o defeitos construtivos. Foi uma obra mal-executada ou aquele velho problema que temos no Brasil de materiais de baixa qualidade sendo empregados. Para se ter uma ideia, um pavimento de concreto bem executado dura de 30 a 40 anos, como � o da Via Expressa, da PUC Cora��o Eucar�stico a Contagem. As pistas do Move e a Linha Verde duraram pouco demais”, considera o engenheiro e especialista em transporte e tr�nsito M�rcio Aguiar. “J� os remendos com asfalto s�o um desperd�cio de dinheiro p�blico. S�o materiais diferentes. As fissuras que ficam no concreto logo abrem rombos no asfalto e os buracos acabam abertos novamente. Tem de fazer o servi�o direito. Remover as placas de concreto e fazer o servi�o todo de novo”, afirma o especialista.
Vandalismo e furtos afetam e oneram sistema

Nas esta��es, os respons�veis pela opera��o da Empresa de Transporte e Tr�nsito de Belo Horizonte (BHTrans) afirmam que o grande problema que enfrentam com equipamentos e estruturas est� ligado ao vandalismo que essas edifica��es sofrem e que vem sendo combatido, ao mesmo tempo em que as estruturas s�o substitu�das ou recarregadas. A assessoria de imprensa informou que a resolu��o de cada problema cabe �s esta��es e que s�o quest�es pontuais. De acordo com a empresa, h� v�rios problemas de furtos e vandalismo. A alimenta��o el�trica entre os m�dulos das esta��es do Move ocorre por meio de cabos el�tricos de cobre flex�vel, muito visados pelos bandidos, e quando a a��o de furto desses componentes “ocorre em uma determinada esta��o, cerca de 630 metros desse cabo s�o furtados. Com o roubo, os sistemas de ilumina��o, portas autom�ticas e monitores informativos s�o os principais afetados”.
Cerca de 11 mil metros de cabo de cobre flex�vel foram roubados at� julho deste ano e resultaram em gastos de cerca de R$ 16 mil em material, mais R$ 7.500 em m�o de obra para os reparos. “Estima-se que ser�o necess�rios cerca de R$ 94.600 para restabelecer todo o sistema el�trico afetado.”
A seguran�a das esta��es tem sido uma preocupa��o. S�o 202 vigias, que trabalham por turno de 12 horas, divididos nas esta��es de acordo com a demanda. Em dias especiais, o esquema � intensificado, como em dias de partidas de futebol, quando podem ser alocados mais vigias em determinada esta��o. “S�o vigias patrimoniais, desarmados, que exercem a vigil�ncia dentro dos m�dulos das esta��es. Se verificarem situa��es que demandem a presen�a e atua��o dos �rg�os de seguran�a, Pol�cia Militar e Guarda Municipal, s�o orientados a acion�-los. Todas as 37 esta��es de transfer�ncia do Move contam c�meras de seguran�a”, informou a BHTrans. (MP)
Palavra de Especialista
M�rcio Aguiar,professor da Fumec, mestre em transporte e tr�nsito e ex-presidente da Transcon