O respons�vel pelo mais contundente alerta sobre o risco de rompimento da Barragem 1, em Brumadinho, foi v�tima da trag�dia que ele mesmo previu. As investiga��es mostram que Olavo Henrique Coelho, considerado o mais antigo funcion�rio da mina, disse h� cerca de sete meses � chefia, a um t�cnico e a um gerente que todo o pessoal deveria ser retirado do C�rrego do Feij�o, porque a barragem n�o tinha conserto. O depoimento � do filho dele, tamb�m funcion�rio da empresa, Luciano Henrique Barbosa Coelho, e consta na decis�o do juiz de Brumadinho, Rodrigo Heleno Chaves, que decretou a pris�o de oito funcion�rios da Vale. “(...) Seu pai disse a eles que, se fosse �gua n�o teria jeito, quanto mais res�duos, afirmando que a barragem estava condenada e n�o tinha mais conserto, que os chefes, t�cnicos e gerentes presentes disseram que n�o poderiam tirar o pessoal de l�, porque � muita gente envolvida e empregos, dizendo que iriam contratar empresa especializada de urg�ncia para consertar a Barragem 1”. Olavo, uma das 166 v�timas j� identificadas da cat�strofe, foi sepultado no cemit�rio de Brumadinho no �ltimo dia 4.
Segundo o processo, ele havia sido chamado por ter conhecimento de sobra sobre os mecanismos da barragem e por ser uma refer�ncia em infraestrutura, por sua experi�ncia pr�tica, embora n�o tivesse forma��o superior. Uma das pessoas que ouviram o alerta, segundo o depoimento prestado ao Minist�rio P�blico, foi Cristina Helo�sa da Silva Malheiros, presa na opera��o de ontem. E n�o foi s� ele que alertou sobre o problema. E-mails de dois funcion�rios da consultoria T�v S�d afirmavam que os estudos de liquefa��o da barragem estavam em fase final, mas que a estrutura n�o seria aprovada e que, a rigor, n�o poderiam assinar a Declara��o de Condi��o de Estabilidade da barragem, que teria como consequ�ncia a paralisa��o imediata de todas as atividades da mina.
“O coordenador Felipe ligou na sexta-feira passada para saber como andavam os estudos, e sabendo da possibilidade de a Barragem 1 n�o passar, comentou que todos os esfor�os ser�o feitos para aumentar o fator de seguran�a, como o rebaixamento do len�ol fre�tico, a reminera��o do rejeito, etc.... Mas s�o todas solu��es de longo prazo, que levar�o de 2 a 3 anos para surtir o efeito desejado”, diz um dos trechos de mensagem eletr�nica trocada entre funcion�rios da T�v S�d.
Em outro trecho da decis�o, o juiz destaca depoimento de outro funcion�rio, Washington Pireti, segundo o qual “em caso de risco de rompimento da barragem a ordem de evacua��o deveria vir de Renzo Albieri, mas a ordem de evacua��o deveria ser startada (deflagrada) por Cristina Malheiros”. O juiz Rodrigo Heleno afirma que “os autos apontam que qualquer um dos oito funcion�rios da Vale ora representados, pela posi��o que ocupavam, sabedores da situa��o cr�tica da barragem desde meados de 2018, sem que alguma medida eficaz fosse tomada, e diante da leitura discrepante dos piez�metros em 10/01/19, situa��o que permaneceu sem solu��o at� o dia anterior ao rompimento, deveriam obviamente ter agido de maneira preventiva e acionado o PAEBM (plano de emerg�ncia), o que evitaria que centenas de vidas fossem ceifadas.”
CONSULTORES LIVRES Al�m dos oito funcion�rios da Vale presos na manh� de ontem, o MP havia solicitado a pris�o de quatro funcion�rios da T�v S�d, consultora alem� contratada pela mineradora para vistoriar as condi��es da Barragem 1. Mas o juiz Rodrigo Heleno Chaves considerou n�o haver ainda dados que permitam as pris�es.
O MP alega que eles “participavam de um esquema patrocinado pela Vale no sentido de maquiar dados t�cnicos, externalizando, falsamente, a situa��o de normalidade da estrutura de barramento”. No entanto, o juiz entendeu que ainda s�o necess�rias provas, “pois nenhum deles assinou a declara��o de estabilidade da barragem e, como n�o eram funcion�rios da Vale, em tese n�o tinham a incumb�ncia de acionar o Plano de A��es Emergenciais”. A T�v S�d n�o se pronunciou sobre o assunto at� o fechamento desta edi��o.
Defesa desmente que engenheiro teria sofrido press�o
As press�es que um dos engenheiros da empresa de consultoria T�v S�d Brasil afirma ter sofrido da Vale para atestar a estabilidade da barragem que se rompeu em 25 de janeiro n�o teriam ocorrido, de acordo com um dos advogados que defendem os tr�s funcion�rios da mineradora presos no dia 29 e libertados por habeas corpus no dia 7. O engenheiro Makoto Namba afirmou � pol�cia que representantes da mineradora insistiam em saber quando o laudo de garantia de estabilidade seria emitido, e respondeu que a empresa deveria seguir as 17 recomenda��es que fez para que a opera��o continuasse. Makoto e o engenheiro Andr� Jum Yassuda tamb�m foram presos e libertados nos mesmos dias que os funcion�rios da Vale. De acordo com o advogado Henrique Viana Pereira, defensor dos respons�veis pela seguran�a da Barragem 1 da Mina de C�rrego do Feij�o, em Brumadinho, na Grande BH, o engenheiro interpretou incorretamente um pedido de expectativa de emiss�o do laudo, como se fosse algum tipo de amea�a que poderia resultar na perda do contrato de presta��o de servi�os.
“Isso foi uma impress�o que o engenheiro pode ter tido, mas n�o houve nenhuma press�o de fato”, disse o advogado Henrique Viana Pereira. Os clientes do escrit�rio de Pereira s�o o ge�logo da Vale Cesar Augusto Paulino Grandchamp – um dos citados na decis�o de ontem que levou � pris�o de mais oito funcion�rios da Vale – o gerente de Meio Ambiente, Sa�de e Seguran�a do complexo miner�rio de C�rrego do Feij�o, Ricardo de Oliveira e o gerente-executivo operacional Rodrigo Artur Gomes Melo. “Eles est�o � disposi��o da Justi�a, como sempre estiveram”, afirmou, enquanto aguardava o julgamento no Tribunal de Justi�a de Minas Gerais (TJMG) do habeas corpus definitivo, uma vez que o concedido pelo Superior Tribunal de Justi�a (STJ) foi uma decis�o liminar.
Os advogados que defendem os engenheiros da consultoria T�v S�d Brasil preferiram n�o comentar as declara��es de press�o dadas no depoimento de seu cliente, e refor�adas na decis�o de ontem. De acordo com o advogado Augusto de Arruda Botelho Neto, os dois profissionais defendidos por ele est�o � disposi��o da Justi�a em n�veis federal e estadual. “Nossos pr�ximos passos se dar�o a partir do que a investiga��o policial decidir. Eles prestaram depoimentos falando tudo o que sabiam sobre o caso, mas n�o posso comentar o conte�do dos depoimentos.”
Ouvida sobre esse processo espec�fico, a Vale informou que vem colaborando “proativamente e da forma mais c�lere poss�vel com todas as autoridades que investigam as causas do rompimento”. “Como maior interessada no esclarecimento das causas desse rompimento, al�m de materiais apreendidos, a Vale entregou voluntariamente documentos e e-mails, no segundo dia �til ap�s o evento, para procuradores da Rep�blica e delegado da Pol�cia Federal”. A companhia informou que se abster� de fazer coment�rios sobre particularidades das investiga��es, de forma a preservar a apura��o dos fatos pelas autoridades. (Matheus Parreiras).
*Estagi�rio sob supervis�o do editor Roney Garcia