Moradores e comerciantes relatam medo ap�s alerta de barragem em Nova Lima

“� um desespero. Eu tenho 33 anos de macacos, nunca imaginei passar por isso, nunca. De ter na porta algu�m mandando eu pegar a bolsa e sair de casa”. A declara��o � de Elo�sa Cardoso, chef de cozinha propriet�ria de uma pousada e um restaurante no distrito que pertence a Nova Lima, na Grande BH. Na noite deste s�bado, cerca de 200 pessoas precisaram abandonar suas casas ap�s um alerta quanto � estabilidade de uma barragem da Mina Mar Azul, da Vale. 

A moradora ficou sabendo da situa��o por meio de um amigo, por volta das 18h50. Algum tempo depois, recebeu uma liga��o da Vale informando que ela tinha uma hora e meia para evacuar a resid�ncia. Desconfiada, ela queria o nome de quem estava ligando, para saber se n�o era um trote. Um segundo telefonema j� informou que ela tinha entre 15 e 45 minutos para deixar a resid�ncia. “Fui avisar meus vizinhos e j� tinha um carro da Vale falando. Come�aram a chegar v�rios t�xis e vans para evacuar o pessoal”, contou. “Passei pelo WhatsApp de um grupo, nem a pol�cia sabia (da ordem de evacua��o). Havia um �nibus com 10 t�cnicos averiguando a situa��o, o risco era de um e passou para 2”, disse a empres�ria, agora hospedada em um hotel na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte. Hipertensa, n�o conseguiu pegar os medicamentos antes de sair. 

Elo�sa afirma que somente os comerciantes de Macacos foram alertados inicialmente. Os moradores com quem ela falou n�o receberam liga��es. “Os moradores s�o invis�veis. Eles avisaram aos comerciantes porque sabem que o preju�zo maior � dos comerciantes. Morador ali em Macacos � invis�vel, como foi em Maria e Brumadinho”, declara, comentando que tamb�m teme por outros amigos e vizinhos que n�o deixaram a cidade. 

Os moradores j� temiam a situa��o, que foi tema da uma reuni�o na semana passada. A chef de cozinha diz que, no fim de 2018, as placas dos estabelecimentos de Macacos instaladas ao longo da estrada do distrito foram retiradas pela prefeitura. Ela entrou com uma contesta��o no Executivo municipal. O motivo da retirada, segundo ela, foi revelado em novembro. “Tivemos uma reuni�o com a Vale informando que est�vamos em �rea de risco, que implantariam 200 placas. Ent�o elas foram retiradas por isso. Disseram que instalariam uma sirene”, afirmou. 

Elo�sa foi volunt�ria em Brumadinho e viu de perto os impactos do desastre. Quando falava com a reportagem do Estado de Minas, aguardava uma pessoa que levaria a medica��o para ela. A empres�ria disse que sua pousada est� lotada com reservas para a pr�xima semana, quando a movimenta��o do carnaval come�a a se intensificar. “Eu n�o falo por mim como comerciante. Eu fui � casa de um senhor l� que se negou a sair de casa. Eu implorei para ele sair. Eles n�o avisaram aos moradores”, enfatizou. 

“MEU CORA��O EST� DISPARADO” Turistas que estavam no distrito para curtir o fim de semana relataram correria em pousadas no momento do alerta. A estudante Fernanda Gabriela Lima de Faria, de 22 anos, estava desde a sexta-feira em Macacos e teve de deixar �s pressas o local ap�s ser informada por funcion�ria de pousada. “Estava descansando no momento. Na hora, todos apavoraram e o tr�nsito agarrou. Tinha policiais militares tentando resolver e n�o conseguiam. Deixamos o carro e subimos para o ponto de apoio”, relatou ao EM. “Estou achando muito perigoso, meu cora��o est� disparado. � uma coisa que a gente nunca imagina pela qual passaria”, desabafou.

O comerciante Paulo Gon�alves de Melo, dono de uma distribuidora de g�s e moradorde Macacos h� 40 anos, disse que depois do rompimento da barragem da Mina C�rrego do Feij�o, em Brumadinho, a popula��o local come�ou a ser informada pela Vale sobre eventuais altera��es em barragens. “Agora � que eles est�o passando para a popula��o uma coisa que est�o escondendo h� muitos anos: de que existe o perigo”. Ele foi transferido de t�xi para um dos hot�is de BH reservados para os moradores. “Minha raiz est� aqui, minha fam�lia e meus amigos est�o aqui e ter de sair de uma hora para outra � triste”, desabafou, emocionado.

VALE Por meio de nota, a Vale confirmou que acionou o n�vel 2 do Plano de A��o de Emerg�ncia de Barragens de Minera��o (PAEBM), que indica alerta. “A decis�o � uma medida preventiva e se d� ap�s a revis�o dos dados dos relat�rios de an�lise de empresas especializadas contratadas para assessorar a Vale. Cabe ressaltar que a estrutura est� inativa e essa iniciativa tem car�ter preventivo”, diz a mineradora. 

A Vale afirma que cerca de 200 pessoas ser�o retiradas das 49 edifica��es, entre resid�ncias e com�rcio em Macacos, que fica a 25 quil�metros de Belo Horizonte. “As pessoas evacuadas est�o sendo acolhidas e registradas no centro comunit�rio, onde receber�o informa��es adicionais”. 

“Foi solicitado pela Defesa Civil de Minas Gerais � Ag�ncia Nacional de Minera��o (ANM) uma vistoria t�cnica in loco nas barragens, estando dispon�vel todo o aparato log�stico que se fizer necess�rio para celeridade da a��o”, informou a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, por meio de nota enviada nesta noite. “As barragens se encontram com n�vel de emerg�ncia classificado com o grau 2 e, por este motivo, em car�ter preventivo e a fim de buscar a redu��o do risco de desastres no local, est� ocorrendo a evacua��o da �rea do mapa de inunda��o (dam break - poss�vel �rea de alagamento na hip�tese de rompimento das barragens)”, pontua o �rg�o. 

BR-040 FECHADA O Corpo de Bombeiros informou que, por conta da evacua��o dos moradores, a entrada do distrito de Macacos pela BR-040 est� fechada. Segundo o tenente Pedro Aihara, o objetivo � reduzir o fluxo de entrada na comunidade para diminuir os impactos de uma eventual retirada de emerg�ncia ou da pr�pria evacua��o. At� as 23h13 n�o havia previs�o para libera��o do trecho.