
Traumas e transtornos gerados pelo risco de rompimento da barragem B3/B4 da Mina Mar Azul, em Macacos, distrito de Nova Lima, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, tocam num ponto especialmente sens�vel para a comunidade. Desde a evacua��o dos moradores, no �ltimo dia 16, a �nica escola de S�o Sebasti�o das �guas Claras, nome oficial da localidade, est� fechada.
Embora a Defesa Civil do munic�pio tenha considerado segura a �rea da Escola Municipal Rubem Costa Lima, pais e alunos come�aram uma greve h� 12 dias exigindo um outro lugar para o col�gio, que abriga creche e ensino fundamental 1, funcionar provisoriamente, longe da zona de risco, at� a constru��o definitiva de novo pr�dio.
Imbr�glio envolvendo a prefeitura seria motivo da resist�ncia � mudan�a. O Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG) foi acionado para fazer uma devassa na situa��o. M�es e professores de cerca de 200 crian�as com idade at� 10 anos aguardam manifesta��o da Promotoria de Defesa da Educa��o sobre o caso.
A den�ncia ao MPMG partiu da professora de ingl�s da escola e moradora de Macacos, Fernanda Tuna, de 36 anos, cujo filho estudou na institui��o at� o ano passado. A Rubem Costa Lima ficou fechada dois dias depois da evacua��o. No dia 18, postagem em rede social da secret�ria de Educa��o, Viviane Matos, informava que a medida duraria enquanto “as estradas alternativas passavam por obras emergenciais para garantir a seguran�a dos alunos e professores”. Acrescentou que as aulas seriam normalizadas no dia 20. No pr�prio dia 18, os docentes se opuseram � retomada das atividades e, no dia 20, as m�es come�aram a paralisa��o.
Isso porque a escola fica a 40 metros da mancha de risco da barragem de Cap�o da Serra e a 250 metros da barragem B3/B4, o que gera medo e inseguran�a nos pais de mandarem seus filhos � aula. A demanda feita � promotoria � de que a escola funcione no espa�o do antigo Instituto Kair�s, no Bairro Jardim Amanda, situado longe de qualquer mancha de risco. Mas um impedimento judicial pode estar atrapalhando as negocia��es.
“O instituto estaria pedindo uma indeniza��o � prefeitura e n�o devolveram ainda o espa�o adequado. Nem retiraram todo o material. Mas, o espa�o � p�blico e, ainda mais numa situa��o emergencial, tem que ter a destina��o adequada”, afirma Fernanda. O fato de o Kair�s ter funcionado durante muitos anos na comunidade criou uma raiz afetiva das crian�as com o espa�o, o que facilitaria a mudan�a. “As m�es fizeram uma caminhada para reconhecer o trajeto, que n�o passa por qualquer pare e siga nem zona de risco. Qualquer evento que ocorra, os alunos estar�o a salvo.”
Mesmo em local seguro, ela chama a aten��o para a necessidade de orienta��o sobre o que fazer em caso de trag�dia, para evitar corre-corre e desespero dos estudantes. “Al�m da quest�o do espa�o, � grave o fato de nenhum profissional de qualquer escola de Nova Lima localizada pr�ximo a alguma barragem ter recebido treinamento nem da Defesa Civil nem dos Bombeiros para evacua��o”, relata Fernanda. Para ela, h� uma tentativa clara da prefeitura de instalar a escola provisoriamente em outro espa�o, onde o trajeto exige margear Macacos e passar por uma rota em que as crian�as gastariam uma hora e meia no transporte escolar para chegar.
Com o novo local, a expectativa � resolver um antigo problema. “P�r fim � insalubridade da creche, que � pequena para o tanto de crian�as que atende”, ressalta. A nova escola, a ser constru�da no bairro Capela Velha, tinha previs�o de entrega no fim do ano passado. Fernanda lembra que a Vale se disp�s a arcar com os custos das instala��es provis�ria e definitiva em assembleia com moradores no �ltimo dia 21.
“O vice-prefeito e a secret�ria se comprometeram nessa data a transferir para o espa�o do Kair�s e deram para tr�s no dia seguinte, quando haviam ficado de apresentar a documenta��o do munic�pio autorizando a Vale a mexer”, afirma. “Quatro dias depois, pais e amigos da escola se reuniram para se organizar novamente. A Viviane ligou para uma professora dizendo que tinha autoriza��o de cess�o de espa�o para abrigar a escola provis�ria. Ela n�o veio e, � tarde, um representante da defesa civil disse que a Rubem Costa Lima est� boa e as aulas deveriam voltar imediatamente”, diz. A sugest�o da prefeitura � que a escola provis�ria v� para uma outra �rea cuja entrada est� dentro do bloqueio na estrada.
Inseguran�a
A neta da dom�stica Ros�ngela da Silva Rodrigues, de 47, � uma das alunas sem escola. A fam�lia est� abrigada num hotel na Pampulha, em Belo Horizonte, sem saber quando ter�o casa novamente nem a vida escolar normalizada. “Qual a seguran�a oferecem para tirar 200 crian�as da escola?”, questiona.A van oferecida pela Vale para levar e trazer a meninada passa por duas �reas de risco. A menina teria de sair �s 6h para chegar ao col�gio e voltaria por volta das 14h. “N�o ficar�amos sossegados aqui pensando que no trajeto pode ocorrer algo a ela. E mais, se uma barragem rompe, mesmo estando dentro da escola, elas ficar�o l� ilhadas esperando resgate?”. Segundo ela, a neta n�o para de perguntar quando poder� ir � aula. “Ela tem problemas de sa�de e tudo o que avan�ou em oito anos regrediu agora. Ela ficou em p�nico com tudo isso. Ouvir a sirene ensurdecedora, o corre-corre e a sa�da de casa foram um caos para todos, mas para as crian�as � pior ainda”, diz.
Os filhos do m�sico Leonardo Diniz Avelar, de 37, tamb�m est�o sem aula. Isaac, de 10, e Natan, de 7, est�o num hotel na Savassi, sem previs�o de voltar � vida normal. Alunos da Escola Municipal Rubem Costa Lima, eles passam o tempo trancados no quarto. A fam�lia foi autorizada a voltar para casa, mas se recusou, uma vez que a �rea de risco passa no terreno do im�vel, interditado pela Defesa Civil de Nova Lima.
A Vale chegou a oferecer � fam�lia matr�cula em col�gios renomados do entorno. Com o ano letivo j� em curso, a m�e das crian�as, Camila Marques Trindade de Oliveira, de 31, conseguiu vaga em institui��o no Bairro Cidade Jardim, em Belo Horizonte. Ela pagou R$ 100 pelo teste de sele��o – os meninos passaram na prova – e ainda obteve 50% de desconto. “Me falaram que o teste mostrou que meu filho mais novo � extremamente inteligente, que tem o QI acima do normal”, conta.
Mas, ao receber a conta, a Vale enviou resposta protocolar: “A Vale est� priorizando atendimento de hospedagem, alimenta��o e transporte aos atingidos. A defini��o de crit�rios para indeniza��o das atividades econ�micas potencialmente impactadas est�o sendo discutidas com os �rg�os competentes e ser�o comunicadas assim que definidas. Medidas de apoio financeiro emergencial ser�o discutidas pela Vale e informadas oportunamente”. Apesar da orienta��o para procurar escola para os filhos, a empresa acrescentou que entende que a escola onde estudavam est� funcionando.
Reuni�o agendada
A assessoria da mineradora informou ontem que a empresa tem se reunido regularmente com representantes do Minist�rio P�blico, Defensoria P�blica, Prefeitura de Nova Lima, Conselho Tutelar e associa��es de pais e m�es da comunidade de Macacos para definir o in�cio do ano letivo no distrito. Ainda segundo a assessoria, uma nova reuni�o est� agendada para a pr�xima semana, “visando a resolu��o da situa��o e o retorno �s aulas com tranquilidade para toda a comunidade escolar do distrito”.A secret�ria de Educa��o de Nova Lima, Viviane Matos, tamb�m foi procurada, mas at� o fechamento desta edi��o n�o havia respondido a mensagem enviada por rede social. O Estado de Minas tentou em contato ainda com o Instituto Kair�s para se posicionar sobre a quest�o, mas nenhum representante deu retorno.