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Estado de Minas

Dificuldades do carnaval de BH crescem com o p�blico e s�o desafio para o pr�ximo ano

Assassinatos, agress�es e den�ncias de estupro se somam a enormes gargalos de tr�nsito e a cr�ticas � estrutura e � organiza��o


postado em 07/03/2019 06:00 / atualizado em 07/03/2019 07:39

Policiamento em um dos desfiles que tomaram conta das ruas da capital: apesar do agravamento das ocorrências e de três homicídios, PM faz balanço positivo(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Policiamento em um dos desfiles que tomaram conta das ruas da capital: apesar do agravamento das ocorr�ncias e de tr�s homic�dios, PM faz balan�o positivo (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)


O carnaval de Belo Horizonte enfrenta as dores do crescimento: com uma multid�o que parece aumentar ano ap�s ano, administrar seguran�a p�blica, tr�nsito, evolu��o dos blocos e preserva��o de estruturas urbanas � um desafio para o qual h� muito mais perguntas que respostas. Os n�meros de ocorr�ncias e as avalia��es da Guarda Municipal e da Pol�cia Militar se contrap�em � percep��o de que a viol�ncia e a gravidade das ocorr�ncias v�m aumentando junto com o p�blico, em uma festa para a qual estimava-se a passagem de 5 milh�es de pessoas e que contabilizou pelo menos tr�s mortos, tr�s baleados e quatro esfaqueados – entre eles dois turistas franceses roubados no Centro da cidade –, al�m de den�ncias de estupro e de casos de homofobia.

O �ltimo homic�dio ligado ao carnaval ocorreu na madrugada de ontem, quando um homem foi morto e outro, esfaqueado em um intervalo de menos de duas horas, na Pra�a Sete, no Centro da capital. No primeiro caso, durante uma confus�o generalizada, um homem teria ca�do e batido a cabe�a no ch�o, na Avenida Afonso Pena. A v�tima ainda teve carteira e celular furtados. Segundo a pol�cia, n�o foi poss�vel identific�-lo.

Poucas horas antes, uma mulher de aproximadamente 30 anos morreu durante evento de carnaval em torno de um dos palcos fixos montados pela prefeitura, na Pra�a da Esta��o, Centro de BH. Bombeiros e brigadistas do Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia (Samu) tentaram reanimar a mulher por cerca de 20 minutos, mas sem sucesso. Nas duas ocorr�ncias, ningu�m foi preso at� o fechamento desta edi��o.

No domingo, uma briga terminou em morte tamb�m em uma comemora��o carnavalesca, no in�cio da noite, no Bairro Castelo, na Regi�o da Pampulha. As ocorr�ncias se somam aos epis�dios de tr�s pessoas baleadas na Savassi, tamb�m no domingo, e ao ataque a dois turistas franceses a facadas, seguido de roubo, na segunda-feira. Na Pra�a da Esta��o, ponto que concentrou a maioria das ocorr�ncias, houve ainda o caso de uma mulher esfaqueada e quatro den�ncias de estupro.

REVIS�ES Apesar da gravidade das ocorr�ncias, a Pol�cia Militar faz uma avalia��o positiva sobre a seguran�a no carnaval de BH. Hoje, a corpora��o vai divulgar um balan�o com n�meros da festa. “Alcan�amos redu��o nos principais crimes: roubo ou furto de celular e crimes violentos. A redu��o foi em torno de 50% em Minas Gerais em rela��o aos crimes violentos”, disse o capit�o Cristiano Ara�jo, assessor de imprensa da PM, sem mencionar n�meros espec�ficos da capital.

Ao ser questionado sobre os homic�dios, ele classificou os epis�dios como “pontuais” se comparados ao aumento de foli�es na rua. “Eventualmente, tivemos alguns casos. Estamos dando toda a aten��o para o ano que vem. Vamos fazer novos planejamentos para que isso n�o ocorra”, acrescentou o representante da corpora��o.

J� a Guarda Municipal registrou, de 28 de fevereiro at� anteontem, 93 ocorr�ncias. As principais foram de acidentes de tr�nsito (12), agress�es (nove), desacatos (sete), danos ao patrim�nio (seis) e amea�as (cinco). Ainda segundo a corpora��o, 61 pessoas foram presas, tr�s ve�culos furtados recuperados, assim como quatro celulares.

DISPERS�O E CONFUS�O
Grande parte das ocorr�ncias, segundo a PM, ocorreram � noite, durante a dispers�o dos blocos. Ontem, no Viaduto Santa Tereza, no Centro de BH, foi registrado mais um tumulto,  no in�cio da madrugada. Segundo a PM, houve arremesso de pedras contra viaturas e uso de bombas de efeito moral por parte da pol�cia, que chegou para intervir em uma den�ncia de briga generalizada.

“Ficava n�tido que n�o se tratava em nenhum momento de pessoas vinculadas aos blocos. S�o pessoas j� mal-intencionadas. Isso n�o � comportamento de foli�es”, disse o capit�o. Em rela��o ao tr�nsito, avaliado como um dos pontos problem�ticos da festa, a BHTrans foi consultada pelo Estado de Minas, mas informou que ontem n�o se manifestaria a respeito.

Desvios atravessam o samba

Baianas Ozadasfoi um dos grupos envolvidos na mudança de roteiro na última hora:críticas ao planejamento (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Baianas Ozadasfoi um dos grupos envolvidos na mudan�a de roteiro na �ltima hora:cr�ticas ao planejamento (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)

No percurso dos desfiles, dois dos maiores blocos de carnaval de BH criticam a orienta��o da Belotur para a mudan�a de percurso durante os cortejos. No domingo, o Angola Janga, que atraiu milhares de foli�es no Centro, teve que desviar o trajeto, que iria da Avenida Amazonas com Rua S�o Paulo rumo � Pra�a Rui Barbosa, no Complexo da Pra�a da Esta��o, e terminou bem antes, na Avenida dos Andradas, altura do Viaduto Santa Tereza. Tamb�m foram sugeridas altera��es ao Baianas Ozadas, na segunda-feira. Mas, nesse caso, diante de protestos, o caminho foi mantido. A cofundadora do Angola, Nayara Gar�falo, e o fundador e vocalista do Baianas, G�o Cardoso, afirmam que a situa��o pegou os organizadores de surpresa. Nayara explicou que, para que pudessem desfilar, os blocos tiveram que apresentar laudo t�cnico, assinado por um engenheiro, aprovando o roteiro.

“Ficamos muito chateados. A prefeitura burocratizou muito a autoriza��o para os cortejos dos blocos. Mas, se exigiram, que fa�am valer o que foi pedido. Eu mesmo fiz a visita t�cnica de percurso. Relatamos e fotografamos onde era necess�rio fazer poda de �rvore, reposicionar placas e suspender a fia��o”, afirma G�o. O vocalista critica a ideia de mudar o roteiro no meio do desfile. “Al�m do mais, fizemos o mesmo trajeto ano passado, com o mesmo trio”, completa.

Nayara tamb�m faz cr�ticas � mudan�a de trajeto no dia do desfile. “A gente costuma ser bem tranquilo para receber essas mudan�as, mas passamos por um momento de confus�o. N�o tinha ningu�m para nos informar se era para seguirmos pela esquerda ou direita. Nem nos foi informada a motiva��o da troca”, diz. “O trajeto que escolhemos tinha apenas uma curva. O caminho alterado tinha tr�s curvas, o que complica muito para o bloco se deslocar com cordas e seguran�as. Avaliamos que a pr�-produ��o foi desnecess�ria, j� que mudaram tudo”, afirma, questionando tamb�m o fato de a Pol�cia Militar n�o ter comparecido a audi�ncias p�blicas na C�mara Municipal para discutir aspectos da festa.

Nayara, que integrou a diretoria da Associa��o dos Blocos Afro de Minas Gerais, afirmou que, neste ano, n�o houve repress�o ao bloco Arrasta Favela, como ocorreu no ano passado, mas diz que, contrariando a Constitui��o Federal, a corpora��o inibiu manifesta��es pol�ticas pelos blocos. Ela afirma que o Angola Janga, embora tenha em seu DNA causas pol�ticas, como a valoriza��o da juventude negra, n�o leva para o desfile quest�es partid�rias. Apesar disso, os organizadores ficaram temerosos da repress�o ao p�blico que, espontaneamente, entoou gritos contra o presidente Jair Bolsonaro. “A interfer�ncia da pol�cia aconteceu com o Tchanzinho Zona Norte. Temos que discutir isso. No Angola, o p�blico puxou tamb�m manifesta��o contra o governo. Ficamos tensos, pois n�o sab�amos qual seria a rea��o policial”, afirma. Ontem, o capit�o Cristiano Ara�jo, da assessoria de imprensa da PM, atribuiu o epis�dio a “um olhar n�o compreensivo” sobre o que ocorreu. “Somos parceiros dos blocos e somos garantidores do Estado democr�tico de direito. Foi uma avalia��o pontual do que estava acontecendo. Acreditamos na cidadania e no respeito na pr�tica operacional”, disse.

Para G�o Cardoso, a exemplo dos blocos que est�o aprendendo a fazer carnaval, os belo-horizontinos est�o aprendendo a curtir a festa de rua. Ele avalia ainda que � preciso pensar circuitos que comportem e sejam seguros para receber os blocos que levam milhares �s ruas. Outra necessidade, defende, � a de maior articula��o entre o estado e a prefeitura para pensar solu��es a m�dio e longo prazos para a seguran�a p�blica.

Depoimento


Com hora para acabar

Amo carnaval e aproveitei a folga para ir a nove blocos em Belo Horizonte. Apaixonada por festas na rua, avalio o conjunto como muito positivo. Tive a oportunidade de conhecer grupos novos e o prazer de ver tantas pessoas ocupando espa�os normalmente dominados por carros. Mas acho importante considerar as dificuldades para se locomover de um bloco a outro. Andar veio de uma necessidade, j� que o tr�nsito estava travado e os aplicativos de transporte, com tarifas muito altas. Enquanto pela manh� os blocos estavam lindos e com clima bem pac�fico – n�o presenciei nenhuma ocorr�ncia – � noite o clima era tenso. Por volta das 18h j� era obrigat�rio voltar para a casa. Tinha medo dos arrast�es e de ser v�tima de ass�dio. Ouvia alertas de roubos e furtos vindos dos pr�prios trios. Nesse hor�rio, o clima era bastante hostil no Centro, onde moro. Sair � noite, s� se fosse para bares fechados ou para a casa de amigos. (Larissa Ricci)


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