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Estado de Minas

Exames de bombeiros de Brumadinho j� apresentam altera��es em n�veis de cobre e alum�nio

Com sa�de vigiada por 20 anos, militares que atuam em rompimento de barragem da Vale d�o sinais de altera��es no sangue devido ao contato com rejeitos. Especialistas alertam para 'bomba de efeito retardado'


postado em 09/03/2019 06:00 / atualizado em 09/03/2019 07:41

Equipes que atuam na chamada zona quente têm contato com substâncias como ferro, manganês e alumínio. Nutricionista chama a atenção para ameaças que poucos conhecem(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 27/1/19)
Equipes que atuam na chamada zona quente t�m contato com subst�ncias como ferro, mangan�s e alum�nio. Nutricionista chama a aten��o para amea�as que poucos conhecem (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 27/1/19)

N�o se escolhe ser bombeiro, se nasce bombeiro. A declara��o � de uma integrante do efetivo que est� em Brumadinho desde a trag�dia de 25 de janeiro, todos mergulhados na lama da barragem da Mina C�rrego do Feij�o, da Vale. Her�is da vida real, eles tamb�m se tornam v�timas dessa trag�dia diante do contato direto com rejeitos com altas concentra��es de metais, que s�o um risco � sa�de. No material, conforme especialistas, h� seguramente a presen�a de ferro, mangan�s e alum�nio, comumente encontrados nos rejeitos de min�rio de ferro. Mas existe tamb�m a possibilidade da presen�a de outras subst�ncias, como cobre, cromo, chumbo e ars�nio. Agentes envolvidos nas buscas j� come�am a apresentar altera��es em testes que indicam par�metros de sa�de e especialistas alertam para riscos da exposi��o a esses elementos qu�micos. Amea�as associadas � nutri��o e ao risco de desenvolvimento de doen�as a longo prazo.

Por esse motivo, o Minist�rio da Sa�de anunciou que vai acompanhar pelos pr�ximos 20 anos cerca de mil profissionais envolvidos no resgate e buscas �s v�timas do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho: al�m de bombeiros, agentes da For�a Nacional de Seguran�a, Defesa Civil e Ibama, entre outros. O estudo de coorte (conjunto de pessoas que t�m em comum um evento que se deu no mesmo per�odo) vai avaliar doen�as que estejam relacionadas diretamente ao desastre, como a contamina��o por metais pesados e leptospirose. O primeiro passo do monitoramento ser� a coleta de amostras de sangue e urina, que seguir�o para an�lise no Instituto Evandro Chagas, refer�ncia para essa a��o. Caso seja necess�rio, outras institui��es referenciadas poder�o ser envolvidas. A a��o ter� a colabora��o de institui��es como a Fiocruz, as universidades federais de Minas Gerais (UFMG) e do Rio de Janeiro (UFRJ) e a organiza��o M�dicos Sem Fronteiras.

No fim de fevereiro, quatro exames feitos em bombeiros que trabalharam nas buscas e resgates j� haviam mostrado altera��o na quantidade de alum�nio e cobre no sangue. Tr�s exames se apresentaram alterados para o par�metro alum�nio e um apontou presen�a de cobre. No entanto, conforme nota divulgada pelo governo de Minas Gerais, a altera��o nesses par�metros n�o significa intoxica��o aguda por esses metais e essas pessoas permanecem assintom�ticas.

O comunicado assegura que “considerando o tipo de atividade de busca e salvamento realizado em Brumadinho, foi aplicado protocolo de monitoramento da sa�de em todos os militares empenhados na zona quente, por meio da verifica��o da dosagem de metais no sangue e urina. Exames iniciais apontaram altera��es, mas elas n�o significam intoxica��o aguda por esses metais. Essas pessoas permanecem sem sintomas e seguindo o protocolo de monitoramento de sa�de. Continuam trabalhando, mas em outras �reas em que n�o haja contato direto com os rejeitos do rompimento da barragem. Justamente por isso � esperado que, ap�s a interrup��o do contato, os n�veis de metal no organismo sejam normalizados.”

A nota ainda destaca que a an�lise do material ocorreu na Funda��o Ezequiel Dias (Funed), onde s�o seguidos os protocolos pr�prios para esses casos. Entretanto, a an�lise de parte do material tamb�m � feita em parceria com o Instituto Evandro Chagas, do Par�, laborat�rio de refer�ncia nacional, que vai determinar os prazos para haver resultados.

A Funed informa que o monitoramento ocorre por meio de “exames de an�lises cl�nicas de rotina (complementares) que permitem monitorar o estado geral de sa�de, fun��es hep�ticas e renais, e tamb�m an�lises de metais em urina e sangue.” Mais de um m�s ap�s o rompimento da barragem da Vale, equipes de buscas continuam em a��o em Brumadinho. Pela opera��o j� passaram centenas de profissionais de Minas Gerais e de outros estados.

Bombeiros se reúnem para resgatar corpo em área atingida: convivência com a dor e o luto alheio também exige suporte(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 27/1/19)
Bombeiros se re�nem para resgatar corpo em �rea atingida: conviv�ncia com a dor e o luto alheio tamb�m exige suporte (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 27/1/19)

Risco dos males de longo prazo


O excesso de alum�nio no organismo, segundo estudos recentes, mostra correla��o com doen�as como mal de Alzheimer, e alguns tipos de c�ncer. Pode haver altera��es cr�nicas de problemas intestinais e casos de anemia. Diana Coulon, nutricionista integrativa funcional aiurv�dica, afirma que esse � um assunto s�rio e que falta � maioria das pessoas, inclusive aos bombeiros, consci�ncia da gravidade de como a sa�de pode ser afetada. “Primeiro, o risco de desidrata��o em decorr�ncia do esfor�o e desgaste causados pela exposi��o a uma situa��o extrema de calor e lama densa; segundo, a desnutri��o, por que metais pesados se ligam a receptores hormonais, roubando o lugar de vitaminas e minerais essenciais � sa�de, como iodo, c�lcio, zinco, sel�nio etc.”

Conforme a nutricionista, o contato com metais como ferro e alum�nio preocupa, porque “o ferro � um mineral oxidante, ou seja, tem grande capacidade de gerar estresse oxidativo em nossas c�lulas, fazendo-nos produzir mais radicais livres, subst�ncias relacionadas ao envelhecimento celular e doen�as. O alum�nio est� associado a altera��es do sistema nervoso central, dem�ncia e ao mal de Alzheimer”. Ela alerta ainda que se entre os rejeitos for confirmada a presen�a de outros metais, como cromo, chumbo e ars�nio, h� risco de “infertilidade feminina e masculina, altera��es hormonais, risco de les�o no f�gado, fadiga cr�nica, altera��es no funcionamento da tireoide, dificuldade de emagrecimento, dem�ncia e Alzheimer”.

Diana Coulon alerta que os bombeiros t�m de estar atentos aos sinais que podem apresentar. “Os sintomas s�o amplos e podem aparecer a curto, m�dio ou longo prazo. Incluem dores de cabe�a, ins�nia, s�ndrome do p�nico, depress�o, irritabilidade, impot�ncia sexual, infertilidade, queda de libido, m� digest�o, cansa�o, ganho de peso, etc. Se for o caso de intoxica��o aguda, a pessoa pode ter febre, mudan�a abrupta de comportamento e irritabilidade, por exemplo”.

� recomend�vel tamb�m aten��o com a alimenta��o. Diana Coulon afirma que existem plantas, fitoter�picos e substratos naturais essenciais para ajudar a prevenir dist�rbios, como as ervas coentro, alecrim, sals�o e cavalinha, clorella e spirulina e o carv�o ativado. “� importante que esses bombeiros tamb�m sejam monitorado nutricionalmente, n�o s� pelo contato com o rejeito, mas tamb�m pelo trabalho intenso que exercem brilhantemente”, alerta a especialista.

Diana afirma que � preciso alertar todos que est�o em contato com o rejeitos: “� uma situa��o extrema, chocante e que d�i em todo mundo. Minha grande preocupa��o � qual a consci�ncia que as pessoas t�m sobre os riscos do contato com os metais e o que far�o para elimin�-los. � muito s�rio e n�o pode ser deixado de lado. Afeta a sa�de presente e futura de todos.”

Cuidado f�sico e mental


A m�quina f�sica (o aparelho motor) e a mente dos bombeiros envolvidos nos trabalhos em Brumadinho tamb�m s�o uma preocupa��o. Anderson Coelho, presidente do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 4ª Regi�o (Crefito-4), conta que fisioterapeutas t�m feito interven��es baseadas em recursos terap�uticos manuais, uma vez que o tipo de opera��o desenvolvida pelos militares e suas respectivas necessidades de sa�de funcional requerem um atendimento fisioterap�utico imediato, de car�ter preventivo e recuperativo, e a terapia manual propicia resultados mais r�pidos. “Temos feito reajustes biomec�nicos e musculares para prevenir les�es e restabelecer for�a, pot�ncia e a efici�ncia f�sico-funcional dos bombeiros, evitando fadiga e melhorando a performance e o desempenho”, afirma.

Conforme Anderson Coelho, o trabalho foi organizado com escalas semanais, com o envolvimento de 14 fisioterapeutas civis e os fisioterapeutas militares do Hospital da Pol�cia Militar. Ele explica que os principais quadros observados s�o fadiga, espasmos musculares e dores de exaust�o f�sica. “Consequ�ncia da jornada extenuante em uma condi��o de terreno inst�vel e irregular, que exige esfor�o f�sico muito grande. O afundamento de membros inferiores na lama requer um esfor�o f�sico conc�ntrico constante. As consequ�ncias s�o dores muito fortes nas pernas e p�s, sobretudo na coluna vertebral, devido ao trabalho e ao peso do equipamento, mochila e roupa espec�fica, e � flex�o de cabe�a para fazer buscas.”

Suporte psicol�gico J� o m�dico psiquiatra Maur�cio Le�o Rezende, vice-presidente da Funda��o Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), alerta que a sa�de mental passa n�o s� pela bagagem gen�tica como pela qualidade de vida de cada um. Fatos traum�ticos que incidem sobre a gen�tica dependem da constitui��o e da capacidade de resili�ncia diante de um ambiente hostil: “Os bombeiros s�o treinados e capacitados a viver num cen�rio, quase sempre, de trag�dia. Mas tamb�m s�o seres humanos e, num primeiro momento, n�o se pode falar em aus�ncia de influ�ncia, j� que seria tirar sua capacidade humana de sentimentos, cren�as e valores.”

Por outro lado, alerta, diante da trag�dia de propor��o inigual�vel em Brumadinho, esses profissionais, ainda que haja renova��o de contingentes, vivem um dia a dia de desgaste emocional e excesso de trabalho ao lidar com o sofrimento humano e a fragilidade da vida. “�bvio que, com o tempo, o cansa�o e o desgaste podem ter incid�ncia de fragiliza��es, podendo apresentar desde quadros depressivos, ansiedade, altera��o do sono at� rea��es psicossom�ticas”, alerta o especialista.

Maur�cio Le�o Rezende explica que viver o sofrimento de quem est� no entorno acarreta outra carga aos bombeiros que � “satisfazer tantas expectativas, j� que s�o her�is e tamb�m mensageiros de m�s not�cias”. “� um per�odo extremo de emo��es. Por isso, � indispens�vel que eles tenham um acompanhamento de profissionais com capacidade para ouvir e lidar com essas emo��es, com quem possam falar, que tenham esse espa�o para elaborar suas viv�ncias.”

 

AFASTADOS

A Vale informou ontem que, em reuni�o realizada na quinta-feira, a Diretoria Executiva decidiu acatar todas as recomenda��es da for�a-tarefa que apura o rompimento da Barragem da Mina C�rrego do Feij�o, em Brumadinho. Com isso, o gerente-executivo de Governan�a de Geotecnia Corporativa, Alexandre Campanha, a gerente de gest�o de Estruturas Geot�cnicas, Marilene Ara�jo, o gerente-executivo de Planejamento e Programa��o do Corredor Sudeste, Joaquim Toledo, o gerente-executivo do Complexo Paraopeba, Rodrigo Melo, e o ge�logo vinculado � Ger�ncia Executiva de Planejamento e Programa��o do Corredor Sudeste, C�sar Grandchamp, ser�o afastados definitivamente da empresa. Outros cinco funcion�rios ser�o realocados em outras fun��es.


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