
As paredes sujas, os capacetes jogados, os terminais quase irreconhec�veis sob o barro seco d�o dimens�o do tsunami de lama liberado em 25 de janeiro. Quase dois meses depois, apesar do sil�ncio, quase pode se ouvir o p�nico que ficou congelado no espa�o em que pessoas trabalhavam no primeiro andar da Ger�ncia de Tratamento de Min�rio e Movimenta��o da Vale, na sede da Mina C�rrego do feij�o.

L�, uma porta discreta, que quase ficou suspensa por um vagalh�o de lama, dava acesso a um c�modo que n�o resistiu ao desastre que despejou quase 13 milh�es de metros c�bicos de rejeitos morro abaixo: os m�veis foram revidados, documentos ficaram espalhados pelo ch�o. Apenas uma televis�o continuou suspensa na parede, com a tela destru�da.

De l�, uma grande janela permite uma vis�o panor�mica da maior cat�strofe humana da hist�ria de Minas Gerais. Logo abaixo, o Corpo de Bombeiros trabalha na �rea onde ficava o p�tio de manobra das locomotivas. A busca � por pelo menos 10 corpos de pessoas que estavam trabalhando no alto da represa no momento da ruptura.

No segundo andar, chama a aten��o uma placa, onde se l�: “Nesta �rea estamos trabalhando a ‘0’ dias sem acidentes pessoais e materiais”. O espa�o para se colocar o n�mero estava vazio. O zero foi completado por algu�m que escreveu com os dedos por cima da poeira. Na sala ao lado da placa, ainda � poss�vel imaginar as pessoas trabalhando.

Naquele espa�o os m�veis n�o sa�ram do lugar, n�o foram revirados pela for�a da lama. Entretanto, as pe�as coloridas deram lugar ao marrom. Cadeiras, monitores de computador, teclados, calend�rios e mesas foram completamente tomados pelo rejeito vazado da barragem. Os capacetes deixados sobre a mesa tamb�m parecem ter sido abandonados na correria que pegou quem trabalhava por ali de surpresa na hora do almo�o.
� dif�cil precisar quantas pessoas exerciam suas rotinas ali. Restaram apenas as impress�es do cotidiano denunciado por itens como x�cara preta, posta � mesa, que permaneceu intacta. Provavelmente � espera do caf� de algu�m que n�o voltou do almo�o.