
As sirenes voltaram a tocar. Mas, dessa vez, para treinar as pessoas que podem ser atingidas pelo rompimento de barragem. A eleva��o do n�vel de risco das barragens B3/B4, em Macacos (Nova Lima), e Forquilhas 1 e 3, em Ouro Preto, para o est�gio de pr�-rompimento fez com que este domingo fosse marcado por centenas de pessoas deixando suas casas.
O treinamemto foi feito pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec). Em Hon�rio Bicalho, comunidade de Nova Lima, assim como em Macacos, a lama demoraria 1h03 para chegar em caso de rompimento da B3/B4. L�, foram sete pontos seguros, distribu�dos pelos bairros Hon�rio Bicalho, Santa Rita e Alto do Gaia. Cerca de 4,3 mil cidad�os vivem neste territ�rio.
Outra localidade atingida pela B3/B4, a cidade de Raposos, na Grande BH, tamb�m ter� nove pontos de encontro. Eles est�o divididos entre os bairros Matadouro 1, Matadouro 2, Vila Bela, Pra�a da Esta��o, Morro das Bicas, V�rzea do S�tio, Recanto Feliz, Barrac�o Amarelo, Retirinho e Ponte de Ferro, al�m do Centro do munic�pio.
Assim como em Raposos, Itabirito, na Regi�o Central de Minas, pretende reunir 4,3 mil moradores no treinamento. Ser�o 14 esta��es seguras na cidade, que seria atingida em 1h36 em caso de ruptura da barragem Forquilha 1 e 3h20 no caso de Forquilha 3. Ambas represas est�o na Mina de F�brica, da Vale.
As barragens j� estavam em n�vel 2 desde 20 de fevereiro, o que culminou na necessidade de evacuar regi�es em Ouro Preto e Nova Lima. Nessa quarta-feira, a situa��o dos reservat�rios mudou. Passou para o n�vel 3 – o �ltimo da escala de risco, que significa risco iminente de ruptura.
Moradores relatam medo
Presente na simula��o, Maria Vit�ria da Silva, dom�stica, de 75 anos. Ela � moradora de Hon�rio Bicalho h� 48 anos, regi�o "bem pertinho da barragem", conta. "Ap�s a sirene, conseguimos chegar aqui num tempo razo�vel, gra�as a Deus. O som est� bem alto, d� para ouvir. Ainda assim, ficamos com medo de n�o acordar, de n�o conseguir pegar os rem�dios a tempo", descreve.
Na simula��o, apenas trancou a porta e deixou a casa. No entanto, a fam�lia de dona Maria Vit�ria divide um mesmo terreno. Ou seja, em caso de rompimento, ela teme por todos. "Tenho medo de n�o acordar se acontecer � noite. Como sou a que mora mais perto da estrada, numa situa��o dessa teria que acordar todo mundo. E temos sempre que deixar alguma janela, alguma coisa aberta para ouvir. Aqui era um lugar tranquilo demais. Agora, a Vale fez um neg�cio desse com a gente. Mudou muito a rotina", lamenta.

Katerine Santos, 29 anos, recepcionista, revela que o filho de tr�s anos, que faz tratamento contra convuls�es, � uma preocupa��o a mais em caso de rompimento. "Ele estuda na creche e seria levado para outro ponto de encontro. Caso ocorra a lama vou ficar desse lado e as crian�as l�, ilhadas". Ela tamb�m se queixa da troca de lugar de um dos pontos de encontro. E diz que o risco de rompimento acabou com o sossego da fam�lia. "Vivo de mala pronta. Meu filho toma rem�dio controlado toda noite. Minha preocupa��o �: se estourar, o que farei com ele? Sem roupa, sem fralda, sem mamadeira. Hoje mesmo vou deixar uma pasta e uma troca de roupa prontas. A gente n�o dorme mais direito, qualquer barulinho assusta. A pol�cia passa e a gente assusta. Perdemos o sossego."
Denise Ferreira Mendes, 57 anos, cabeleireira, mora em Hon�rio Bicalho h� 16 anos e gastou cerca de 20min para chegar ao ponto de encontro. "Nunca havia passado por isso, vivendo sob suspense. Quando vou deitar para dormir v�m uns fleshes � mente, e voc� n�o sabe se est� dormindo ou acordado. Por causa do emocional abalado, n�?".
A preocupa��o tamb�m � com o lugar, as hist�rias de cada casa, de cada morador, conta ela. "Fiz um jardim, com a minha cara. E tudo que eu conquistei vai ser perdido? Vai acabar tudo que eu construi com muita luta, carinho e amor?" A moradora diz estar triste por ela, pelo lugar, pela irm�, que sofre de press�o alta, por todos. Teme por pessoas que n�o tem mobilidade. Ela mesma vai operar o joelho. E se pergunta: "Como � que voc� vai trabalhar e deixa um filho para tr�s? Se acontecer, voc� vai retornar para onde?"
Apesar de aprovar a realiza��o do simulado, a decep��o e a incerteza permanecem. "Vim com uma tristeza muito grande. Essa situa��o toda d� um aperto no peito, as pernas ficam bambas. Vi minha irm�, que tem press�o alta, passando mal, uma outra parente passando mal. Por que o melhor seria que n�o estivesse acontecendo tudo isso".