
Incerteza, transtornos e, ainda por cima, aproveitadores marcam os momentos de tens�o que antecedem o desabamento, j� dado como certo, do talude da cava da Mina Gongo Soco, em Bar�o de Cocais, na Regi�o Central de Minas. Sem saber se a Barragem Sul Superior sofrer� consequ�ncias, sendo a pior delas o rompimento, moradores vivem com a aten��o voltada para um alerta que pode soar a qualquer momento.
“A ruptura do talude vai acontecer. N�o se consegue dizer se ser� no dia 21 ou at� 26. Pode ser um dia a mais ou a menos”, afirmou ontem o secret�rio de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent�vel, Germano Vieira. O secret�rio tamb�m informou que a movimenta��o no talude norte da cava de Gongo Soco ocorria desde 2011 e se intensificou nos �ltimos meses.
O prazo m�ximo para rompimento apontado por ele � ligeiramente diferente do que a Vale havia informado na semana passada, quando previu o dia 25 como data-limite para o evento. “� uma quest�o imponder�vel se esse rompimento do talude na cava vai afetar a barragem. Isso n�o � poss�vel precisar. O consultor da auditoria independente, uma empresa estrangeira, registrou que essa chance � de uma em 10 ou uma em oito, que levaria de 10% a 15% de probabilidade”, afirmou o secret�rio.
O rompimento pode gerar dois tipos de impacto para a Barragem Sul Superior, que armazena 6 milh�es de metros c�bicos de rejeitos de min�rio de ferro, conforme o Cadastro Nacional de Barragens, da Ag�ncia Nacional de Minera��o (ANM). O primeiro deles � a vibra��o da barragem, que est� a 1,5 quil�metro da cava da mina. O segundo impacto seria o in�cio de um processo de liquefa��o da estrutura a partir das vibra��es, o que poderia levar ao colapso da estrutura do reservat�rio. As declara��es de Germano Vieira foram dadas durante o lan�amento do Plano de Seguran�a para as Comunidades Pr�ximas �s Barragens, na Cidade Administrativa, pelo governador Romeu Zema. Uma das a��es prev� o treinamento da Defesa Civil dos munic�pios onde est�o as barragens com n�veis de seguran�a elevado.
No mesmo evento o coronel Edgar Estevo, comandante-geral do Corpo de Bombeiros, disse que uma equipe de 12 militares est� passando pelos im�veis da zona de autossalvamento da �rea que seria inundada pela barragem para garantir que todas as casas est�o vazias. Segundo ele, se tudo for feito dentro do que est� previsto, n�o haver� perda de vidas caso a Barragem Sul Superior se rompa.
O coordenador estadual de Defesa Civil, coronel Evandro Geraldo Ferreira Borges, ressaltou a import�ncia do plano de seguran�a. “Esse plano tem grande significado pela oportunidade que traz para o sistema de defesa civil. As v�rias institui��es contribuem e trabalham de forma integrada para ajudar nossa popula��o em momentos dif�ceis”, afirmou o coronel.
Desde o in�cio de fevereiro, 458 moradores da zona de autossalvamento (ZAS) foram retirados de suas casas. Em mar�o e no �ltimo s�bado, foi feito treinamento com quem vive nas chamadas zonas secund�rias. Ontem, a Defesa Civil de Minas Gerais fez um plano para socorrer acamados e pessoas com dificuldades de locomo��o j� que, em caso de rompimento, o atendimento a esse grupo � mais dif�cil, segundo coordenador-adjunto da Cedec, tenente-coronel Fl�vio Godinho. Entre acamados e cadeirantes, 13 pessoas foram realocadas. Outras 14 n�o aceitaram sair de casa. Tr�s moradores nessas condi��es n�o foram encontrados.

TRANSPORTE A queda iminente do talude e o risco de colapso da Barragem Sul Superior levou a Vale a interditar, para o transporte de carga, o ramal de Belo Horizonte, entre Sabar� e Bar�o de Cocais, que � atendido pela Estrada de Ferro Vit�ria a Minas (EFVM). “A empresa est� avaliando alternativas para minimizar os impactos decorrentes dessa paralisa��o”, informou a mineradora. Ela acrescentou que a interrup��o est� alinhada com a Ag�ncia Nacional de Minera��o (ANM) e foi feita por medida de seguran�a.
O trem circula nas imedia��es da cava da Mina Gongo Soco. Segundo a empresa, a medida busca preservar a seguran�a das pessoas e ficar� em vigor at� que sejam feitas an�lises de risco mais aprofundadas. Desde a �ltima quinta-feira, a viagem de trem de passageiros entre Belo Horizonte e Vit�ria (ES) foi alterada. As pessoas que fazem o percurso est�o sendo levadas da capital mineira at� a Esta��o Dois Irm�os, em Bar�o de Cocais, por meio de �nibus locados pela empresa. De l�, fazem o restante do trecho por trem. No sentido contr�rio, desembarcam na Esta��o Dois Irm�os e seguem por meio rodovi�rio at� o destino final.
A Vale informou que o transbordo da carga est� sendo feito em alguns ramais para que a viagem por trem continuem depois do ramal Belo Horizonte, mas n�o detalhou como a opera��o est� ocorrendo.
Lentid�o preocupante
O secret�rio de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent�vel de Minas Gerais, Germano Viana, est� apreensivo com o baixo n�mero de mineradoras que apresentaram cronograma para a realiza��o do descomissionamento das barragens a montante. “Os cronogramas devem ser apresentados imediatamente e me causa preocupa��o que, at� o momento, apenas 10 os entregaram”, afirmou. Foi estabelecido prazo de 90 dias para apresentar o cronograma, desde a san��o da Lei 23.291, de 2019, em 25 de fevereiro, que institui a Pol�tica Estadual de Seguran�a de Barragens e determina a erradica��o das barragens constru�das pelo m�todo de alteamento a montante no estado de Minas Gerais. Em Minas s�o cerca de 600 barragens, sendo 400 delas da �rea de minera��o.
Quadrilhas de aproveitadores
O sofrimento e as incertezas de pessoas desalojadas de �reas sujeitas ao rompimento de barragens da Vale n�o s�o suficientes para inibir que quadrilhas de estelionat�rios continuem tentando se aproveitar da situa��o para desviar aux�lios.
A Pol�cia Civil j� rastreou pelo menos 18 pessoas suspeitas de se passar por atingidos, sendo que 15 foram presas em Brumadinho, onde barragem da Vale se rompeu em 25 de janeiro, e as demais em Nova Lima, todos munic�pios da Grande BH. Ontem, mais uma pessoa que recebia aux�lio a desalojados da mineradora devido a risco em reservat�rio da regi�o foi presa. Outra est� foragido.
Samuel Batista dos Santos, de 25 anos, � a segunda pessoa presa na Opera��o Chacal, da Pol�cia Civil de Nova Lima. Na verdadeira resid�ncia, uma surpresa: cerca de R$ 10 mil em artigos aliment�cios e temperos de alto padr�o, que a pol�cia afirma terem sido comprados com o aux�lio irregular para serem vendidos posteriormente.
Na semana passada, Luiz Carlos da Silva, de 56, residente do Bairro Bet�nia, Oeste de BH, foi preso depois de se passar por morador de S�o Sebasti�o das �guas Claras, o distrito de Nova Lima conhecido como Macacos. Ele estava na fila para obter vouchers de alimenta��o quando recebeu voz de pris�o. S� esses tr�s teriam dado um preju�zo de R$ 90 mil, estima a pol�cia.
Em Macacos, distrito amea�ado pelo rompimento das barragens B3/B4, da Mina de Mar Azul, em Nova Lima, cerca de 250 pessoas foram realocadas para hot�is, mas, devido � opera��o, muitos benefici�rios est�o pedindo desligamento dos aux�lios para n�o serem investigados. Segundo a pol�cia, o homem preso ontem j� estava hospedado �s custas da Vale numa pousada havia 20 dias e tinha dado entrada no pedido de aux�lio emergencial de R$ 5 mil fornecido pela empresa.
Ele e o outro suspeito detido em Macacos utilizavam comprovantes de resid�ncia de outra fam�lia, que realmente morava em �rea de risco e est� amparada licitamente pela mineradora. “N�o h� rela��o entre a fam�lia atingida e os suspeitos. Eles disseram que obtiveram facilidade para usar esses documentos e, por atravessarem dificuldades financeiras, resolveram praticar o golpe”, afirma o delegado respons�vel pelo caso, Murillo Ribeiro de Lima, da 3ª Delegacia Regional de Nova Lima.
A pol�cia apurou que os presos e o suspeito foragido chegaram a ter gastos di�rios na pousada acima de R$ 1 mil para conseguir os artigos encontrados na resid�ncia. “Os representantes da pousada desconfiaram, mas como os gastos estavam sendo cobertos regularmente pela Vale, n�o interferiram”, disse o delegado do caso. As apura��es continuam e mais pessoas est�o sendo procuradas. “Devido ao grande n�mero de golpes em aux�lios a atingidos pelas barragens que a pol�cia detectou, foi poss�vel identificar mais esse. � importante frisar que essa opera��o inibe os crimes e garante que os aux�lios cheguem a quem realmente precisa”, destaca o delegado.