
Paracatu – Em clima de muita como��o e com perguntas cujas respostas permanecem um mist�rio, foram sepultados ontem os corpos das quatro v�timas do acesso de f�ria que levou Rudson Arag�o Guimar�es, de 39 anos, a assassinar a facadas a ex-namorada, antes de matar a tiros tr�s pessoas em uma igreja evang�lica de Paracatu, munic�pio de 92 mil habitantes no Noroeste de Minas, a 502 quil�metros de Belo Horizonte. O homem agiu, segundo suspeita a Pol�cia Civil local, movido pela f�ria contra o pastor do templo, Evandro Rama, que o havia afastado h� cerca de dois meses da comunidade por “m� conduta”.
A mulher tamb�m orava, ao lado da m�e e da irm� de Rudson, quando recebeu um golpe no pesco�o e morreu no sof� da sala de estar do im�vel, segundo a pol�cia. O corpo dela foi enterrado em Uberl�ndia, no Tri�ngulo Mineiro, sua cidade natal. A motiva��o para o assassinato da mulher e sua liga��o com a f�ria contra o l�der religioso � o principal mist�rio do massacre.
As investiga��es devem mostrar, nos pr�ximos dias, a liga��o entre a morte da ex-companheira do atirador e a persegui��o ao pastor da Igreja Batista Shalom.
Apesar de Helo�sa Andrade ter sido a primeira v�tima, at� o momento as apura��es indicam que o principal alvo era o pastor Evandro Rama. Durante o ataque de Rudson, o religioso conseguiu escapar da morte pulando um muro da igreja. Fraturou um tornozelo e teve de ser internado no Hospital Municipal de Paracatu. Ap�s passar por cirurgia, seu quadro cl�nico � est�vel, mas ele permanece sob cuidados da equipe m�dica.
CONSTERNA��O As cerim�nias de despedida reuniram dezenas de familiares e amigos dos mortos. Ainda sem acreditar no massacre, a cozinheira Maria Aparecida Loures, de 57, reconheceu que ter� de ser forte para aceitar a morte de Ant�nio Rama, com quem era casada havia 40 anos. “Perdi meu companheiro de vida. Ele foi um exemplo de pai e esposo, que nunca virou as costas para a fam�lia. Era um homem de car�ter”, lamentou.
Consternado, o primo de Marilene, o aut�nomo Renato Martins, de 45, tamb�m n�o se conforma. “Foi uma coisa lament�vel. � imposs�vel imaginar que algu�m em s� consci�ncia entre em um ambiente sagrado e tire a vida de v�rias pessoas, sem mais nem menos. N�o consigo descrever o tamanho da minha tristeza. A ficha vai demorar a cair”, declarou.
A professora Iana Quirino, de 37, era da mesma igreja que as v�timas e fez quest�o de ressaltar a personalidade dos quatro mortos, especialmente a de Ros�ngela. “Ela era bastante ass�dua na nossa comunidade. Uma mulher ativa na obra e verdadeira serva de Deus. Sinto que perdi algu�m da minha fam�lia. Ela foi uma grande companheira para todos os fi�is da nossa igreja.”
ALUCINADO Na noite da chacina, Rudson arrancou uma barra de ferro do port�o da igreja para invadir o templo. De acordo com o tenente-coronel da PM Luiz Magalh�es, ele parecia ter alucina��es e dizia frases desconexas, como a de que havia voltado do inferno para cumprir a miss�o de assassinar o religioso.
“Como o pastor fugiu, ele se voltou contra os fi�is. Uma equipe da PM ia em dire��o � casa onde aconteceu o primeiro assassinato quando ouviu tiros na igreja. Quando chegamos, dois fi�is j� estavam mortos e o assassino fez uma terceira pessoa ref�m. Tentamos negociar, mas ele atirou na cabe�a dessa v�tima. Em prote��o �s demais pessoas, a guarni��o disparou contra ele, que foi atingido no peito. Assim, conseguimos desarm�-lo”, detalhou o militar. Pelo menos 20 pessoas participavam da reuni�o na igreja. Com Rudson, os militares encontraram seis cartuchos intactos.
ATRITO As investiga��es est�o a cargo da 2ª Delegacia Regional de Paracatu. A delegada de Homic�dios da unidade, Thays Silva, levantou a hip�tese de que Rudson tenha cometido a chacina devido a um atrito que tinha com o pastor. “Acredita-se que Rudson tenha ficado irado em raz�o de sua destitui��o de uma posi��o de lideran�a da igreja. A partir de ent�o, teria come�ado a proferir ofensas ao pastor. Isso gerou uma indigna��o grande e chegou ao �pice ontem (ter�a-feira), quando ele estava bastante alterado e cometeu os crimes”, explicou.
A delegada afirmou ontem que as apura��es ainda v�o esclarecer muitos detalhes. O atrito entre Rudson e o religioso teria ocorrido h� dois meses. Ela acrescentou que n�o haviam sido ainda constatadas provas materiais indicando um homic�dio em virtude da condi��o de g�nero da ex-companheira, o que caracterizaria feminic�dio. “N�o havia medida protetiva contra o suspeito, incid�ncia de viol�ncia dom�stica ou discrimina��o � mulher, mas destacamos que a motiva��o exata continua em apura��o”, disse a delegada.
Integrante da Igreja Batista Shalom, Yuri Jord�o, de 45, disse que Rudson ocupava o cargo de “intercessor”, auxiliando o pastor a conduzir ora��es. Segundo ele, h� dois meses, ap�s ser alertado sobre problemas pessoais do subordinado, o l�der religioso o tirou da fun��o. Teria tentado auxili�-lo, mas Rudson n�o se mostrou interessado nos conselhos. A partir da�, Rudson passou a atacar a imagem do religioso em redes sociais.
O atirador j� foi ouvido informalmente no hospital, onde terminou autuado em flagrante pelo crime de homic�dio contra as quatro pessoas, com duas qualificadoras: motivo f�til e impossibilidade de resist�ncia das v�timas. J� a tentativa de homic�dio teve as mesmas qualificadoras com rela��o ao l�der religioso.
FRIEZA “Ele alegou que o alvo principal seria o pastor, mas disse que teve a inten��o de atingir os demais que acabaram mortos”, explicou a delegada. Ela destacou que, conforme as imagens do circuito interno de seguran�a, o suspeito foi frio, uma vez que a arma usada permite apenas um tiro por vez. “Ele recarregava, mirava e atirava”, concluiu.
A policial pretende ouvir o atirador formalmente at� amanh�, assim que ele estiver em condi��es. Rudson seguia ontem internado sob escolta no Hospital Municipal de Paracatu e seu estado era considerado est�vel.

As v�timas
Helo�sa Vieira Andrade, 59 anos
» Namorou com Rudson por menos de um ano
» Era master-coach
» Nascida em Uberl�ndia
» Deixa dois filhos
Ant�nio Rama, 67 anos

» Era agricultor aposentado
» Nascido em Colorado (RS)
» Morava em Paracatu desde 1984
» Deixa mulher e tr�s filhos, entre eles o pastor Evandro Rama
Marilene Martins de Melo Neves, 52 anos

» Era comerciante
» Nascida e criada em Paracatu
» Deixa marido e dois filhos
Ros�ngela Albernaz, 50 anos

» Era dona de uma padaria
» Nascida e criada em Paracatu
» Deixa marido e duas filhas
O autor
Rudson Arag�o Guimar�es, de 39
» Segundo a Pol�cia Civil, j� trabalhou como vigilante
» Nas redes sociais, diz j� estudado direito na UniCEUB, em Bras�lia (DF)