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Estado de Minas M�LTIPLOS OLHARES SOBRE A VELHA CIDADE

Rabiscos urbanos: Ouro Preto recebe encontro do movimento 'urban sketchers'

Brasileiros e estrangeiros ocupam as cal�adas da cidade para traduzir suas formas e modos de vida em desenhos. E nem � preciso ser artista para entrar no movimento


postado em 22/06/2019 07:50 / atualizado em 22/06/2019 08:06

(foto: Reprodução/ Urban Sketchers)
(foto: Reprodu��o/ Urban Sketchers)

Sotaques diversos e desenhistas solit�rios observando e reproduzindo algum monumento s�o algumas das situa��es t�picas encontradas em Ouro Preto, na Regi�o Central do estado. Mas tudo isso vem em bando, n�o tem como passar despercebido. Quem circular pela cidade neste feriad�o certamente vai esbarrar com centenas de pessoas dos mais variados lugares do Brasil sentadas no meio-fio ou em cadeirinhas espalhadas nas cal�adas afora e concentradas, olhando alternadamente para dois pontos: o bloco de papel e um lugar na paisagem. M�os firmes tra�am, colorem, d�o forma e vida. S�o os urban sketchers, que est�o reunidos na cidade amanh�. Da tradu��o livre para a natureza do trabalho: rabiscos urbanos que traduzem a ess�ncia de uma cena, postas no papel.

Alejandra Munõz(foto: Reprodução)
Alejandra Mun�z (foto: Reprodu��o)

A cidade hist�rica sedia o 4º encontro nacional do grupo, um movimento internacional criado por arquitetos, desenhistas, ilustradores e outros interessados, que se re�nem para a pr�tica do desenho de observa��o. Trabalham-se tanto as paisagens urbanas quanto as naturais, em ambientes internos ou externos. “Quando viajamos, a primeira atitude � entrar em contato com o grupo daquela cidade para desenhar juntos”, conta o coordenador nacional da comunidade brasileira, Simon Taylor, de Curitiba (PR). As edi��es anteriores ocorreram em Curitiba, S�o Paulo e Salvador. Com uma rela��o virtual, uma vez que os desenhos s�o compartilhados em redes sociais, os encontros s�o oportunidade para os integrantes desse movimento se conhecerem. Nas cidades, os desenhistas tamb�m se re�nem. “N�o precisa ter curso para participar. � o evento mais aberto e inclusivo. A �nica demanda � estar no lugar.”

Marco Túlio e Cristiane Cordeiro(foto: Reprodução)
Marco T�lio e Cristiane Cordeiro (foto: Reprodu��o)

Com prancheta, bloco, caneta, l�pis e pinc�is, os desenhistas olham cada detalhe, apreciam, observam. Aprendem, assim, a gostar da cidade e a conhec�-la. Taylor garante tamb�m que n�o precisa saber desenhar. “Dom ajuda, mas representa 5% a 10%. O neg�cio � desenhar sempre”, diz. “Al�m disso, aqui n�o tem press�o, n�o tem competi��o. N�o h� outro interesse que n�o seja desenhar e fazer amizade”, ressalta. A estimativa � de que 350 pessoas de todo o pa�s estejam em Ouro Preto para o encontro. No meio deles, gente do Chile, Argentina e B�lgica, estrangeiros que vivem no pa�s, tamb�m marcam presen�a.

Quarto encontro nacional do movimento urban sketchers, que surgiu nos EUA, o evento na cidade histórica mineira reúne cerca de 350 pessoas e termina amanhã(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Quarto encontro nacional do movimento urban sketchers, que surgiu nos EUA, o evento na cidade hist�rica mineira re�ne cerca de 350 pessoas e termina amanh� (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

Professora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a uruguaia Alejandra Mu�oz, de 52 anos, 27 deles no Brasil, lembra que o desenho de rua considera o contexto geogr�fico, a religiosidade, a cultura popular. “Tudo isso nos interessa. A maioria dos desenhistas se concentra na parte arquitet�nica, mas muitos se voltam para pessoas. O contexto em geral da rua � muito interessante”, afirma. O arquiteto Fernando Simon, de 65, de Goi�nia (GO), diz que, por ser acad�mico, toma cuidado para o desenho n�o ficar muito duro. “Busco a s�ntese: menos � mais neste caso. N�o tenho paci�ncia para muitos detalhes, por isso, num lugar como esse, resumo na hora de desenhar. N�o � uma partitura que voc� toca ipsis litteris. � mais um jazz, que toca de acordo com nossa m�sica.”

A pequena Maria Rita interrompeu o passeio pela cidade para participar do evento.
A pequena Maria Rita interrompeu o passeio pela cidade para participar do evento. "Sou louca por desenho", contou (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

Casa da �pera, Morro da Forca, Igreja do Pilar. S�o v�rios os pontos a serem explorados. Quem n�o fez inscri��o para o encontro, mas ficou com vontade, n�o se preocupe. Basta levar o material e se juntar ao grupo, que re�ne gente de todas as idades e profiss�es. Sentada no meio da pra�a, no monumento em homenagem a Tiradentes, a mais jovem de todos chamava a aten��o: a menina Maria Rita de Aquino e Andrade, de apenas 8 anos.

Moradora de Belo Horizonte, viajou para Ouro Preto na quarta-feira � noite com os pais, o perito criminal Hadson Rodrigues de Andrade, de 51, e a professora Elizabete Aquino Andrade, de 48, para as celebra��es de Corpus Christi. Entre um passeio e outro, ela soube da presen�a do grupo quando fazia um tapete de serragem. “Sou louca por desenho”, conta. Segundo a m�e, o dom se manifestou assim que a garotinha conseguiu segurar um l�pis pela primeira vez. Sem imaginar que isso pudesse ocorrer, n�o levou nenhum de seus materiais, que lhe foram gentilmente emprestados por um outro participante. Maria Rita desenhava em grafite a esquina das ruas Tiradentes e Direita, com detalhes arquitet�nicos e de ilumina��o e tra�ado perfeito. “Gosto de desenhar, principalmente, personagens no estilo mang�. J� fiz at� telas.”
 
Da internet para as ruas

O Urban Sketchers foi criado em novembro de 2007 por Gabi Campanario, ilustrador e jornalista espanhol residente em Seatle (EUA). Inspirado por artistas que compartilhavam seus desenhos de loca��o (feitos ao ar livre) na internet, ele criou um grupo no Flickr para mostrar o trabalho deles. No ano seguinte, foi criado um blog com 100 “correspondentes” do mundo inteiro. Mas eles quiseram sair das plataformas virtuais apenas para se conhecer e deram origem a simp�sios internacionais. Em 2018, 800 participantes de 46 pa�ses se reuniram em Porto (Portugal). Hoje, s�o mais de 200 grupos regionais oficiais, que mant�m as mais diversas atividades regulares envolvendo a pr�tica e a divulga��o do desenho de rua. O grupo conta ainda com 60 mil membros no Facebook, 150 mil pageviews e 2,5 milh�es de visitas ao blog internacional, desde sua cria��o. A vers�o nacional oficial brasileira foi criada em 2011. A p�gina conta com mais de 8 mil membros.

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(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
 
“Esse � o primeiro encontro nacional de que participo. Vim a Ouro Preto seis vezes, mas, desde a �ltima, se passaram 19 anos. Qualquer um pode entrar para o movimento, desde que se proponha a desenhar em campo e participar do grupo. Estou desenhando o Museu da Inconfid�ncia. Grafito, aquarelo e depois passo nanquim. Muitas t�cnicas podem ser usadas.”

Elaine Lima, de 52 anos, designer de interiores, de S�o Jos� do Rio Preto (SP)
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(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

“Sempre desenhei, desde crian�a, e queria fazer desenho industrial. Fui para outra �rea, mas tive a oportunidade de cursar a faculdade. Embora n�o atue na �rea, foi l� que um professor de ilustra��o, que fazia parte do grupo de desenho, convidou. Tenho forma��o em geografia tamb�m, ent�o, tenho o vi�s de observa��o do social e de paisagens e movimentos urbanos. O lado art�stico me traz dificuldade, por isso fa�o esbo�o geral. Numa cidade com tantos detalhes, como Ouro Preto, n�o tenho como me ater a uma coisa s�, ent�o, escolho o todo.”

Alexandre Jungles Carpes, de 35 anos, guarda municipal, Curitiba
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(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
 
“N�o uso estilo arquitet�nico. Quero algo mais livre, mais art�stico e l�dico, aqui posso manchar, posso borrar. N�o venho para desenhar com medida, aqui trabalho com os sentimentos.”

Isabel Lima e Silva, de 60 anos, arquiteta, Belo Horizonte
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(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
 
“Tudo isso n�o se resume a s� isso. Tem muito mais. Entrosamento, amizade, humanidade � o que a gente faz no fim de cada desenho. N�o importa se o cara desenha muito ou n�o. O que importa � a uni�o.”

Nelson Polzin, de 70 anos, arquiteto, Rio de Janeiro 


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