Carnaval de BH tem prova de fogo em nova fase do projeto que limita espa�os para eventos
Ap�s discuss�o acalorada em primeiro turno, vereadores incluem quatro emendas que, segundo eles, amenizam as restri��es numa tentativa de garantir o apoio do Executivo na pr�xima vota��o. Ideia � desviar aglomera��es das �reas onde h� igrejas e hospitais
postado em 08/07/2019 06:00 / atualizado em 08/07/2019 09:25
Percurso em risco: um dos maiores blocos do carnaval de Belo Horizonte, o Baianas Ozadas desfila diante da Igreja S�o Jos�, depois de cerim�nia depois de lavagem da escadaria do templo na folia deste ano (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Projeto que limita espa�os para a realiza��o de grandes eventos na capital enfrenta prova de fogo para passar em segundo turno. Depois da discuss�o acalorada que marcou a aprova��o no primeiro turno, quatro emendas pretendem acalmar os �nimos. Inicialmente, a proposta ia prejudicar ou at� impedir festas importantes do calend�rio belo-horizontino, como o carnaval. Na sexta-feira, vereadores que assinam a proposta apresentaram complementos deixando regras mais claras, que, segundo eles, flexibilizam a regulamenta��o como forma de conquistar o apoio do Executivo, garantindo dist�ncia de pelo menos 100 metros entre o local do evento e casas de repouso, templos religiosos e hospitais.
O projeto de Lei 515/2018 acrescenta dispositivos � Lei 9.063/2005, que regula procedimentos e exig�ncias para realiza��o de evento p�blico em BH. Na quinta-feira, ele foi aprovado em primeiro turno. Assinada por 20 vereadores, proposta impede eventos oficiais do calend�rio da capital a menos de 200m de hospitais, igrejas e outros templos religiosos. Desta forma, ela inviabilizaria qualquer festa, por exemplo, na Avenida Afonso Pena, por causa da proximidade com as igrejas da Boa Viagem e S�o Jos�, al�m de uma igreja evang�lica.
Na sexta-feira, uma das emendas acabou com o principal imbr�glio e enterrou a ideia de impedir deslocamento ou itiner�rio que n�o obedecesse a dist�ncia m�nima de 200 metros. “O carnaval pode passar na frente de qualquer igreja, o que n�o concordamos � fazer concentra��o em frente a ela. Se a pessoa n�o quer ir para a Marcha para Jesus, para o carnaval, para a parada gay, tem o direito tamb�m ao sossego e de ir e vir. Todos devem ser respeitados”, afirma o vereador Fernando Borja (Avante), um dos autores do projeto.
As emendas foram apresentadas pelos pr�prios autores do PL. A dist�ncia foi reduzida. A ideia � que, no segundo turno, seja negociado com o Executivo o distanciamento de 100 metros ou 150 metros, apenas em rela��o � concentra��o da multid�o, � dispers�o e � localiza��o das estruturas (como food trucks, barracas e banheiros qu�micos). “Ningu�m p�e palco ou caminh�o de som em frente a hospital. Mas queremos garantir essa dist�ncia m�nima. Com as emendas, o projeto ficou positivo. N�o atrapalha o turismo de ningu�m nem eventos culturais de empresa alguma”, afirma Fernando Borja.
(foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
A justificativa � de que os eventos oficiais concentram grandes multid�es, logo, estabelecer um ponto m�nimo para que as pessoas se concentrem evita confrontos, viol�ncia e depreda��es na porta desses locais. “A parada gay acaba na Pra�a Raul Soares, onde tem uma primeira Igreja Batista da cidade, um patrim�nio de BH. Havia tr�s carros de som em frente � igreja, urinaram no muro, jogaram camisinhas dentro dela. Ser� que podemos evitar a provoca��o? N�o poderia ter essa concentra��o de pessoas do outro lado da rua?” questiona.
Borja cita ainda caso da Igreja Presbiteriana da Pra�a ABC, no Bairro Funcion�rios, que no carnaval do ano passado tamb�m sofreu a��o de v�ndalos e este ano teve de ser revestida de tapumes – o local foi palco de concentra��o e de dispers�o de blocos. “� direito constitucional a liberdade oculta e ao culto, assim como o direito ao sossego, � seguran�a, � sa�de � preserva��o do patrim�nio hist�rico. Cremos que o carnaval n�o ser� afetado. � s� ter bom senso.”
Outra mudan�a � que a Prefeitura poder� atribuir car�ter de exce��o a espa�os p�blicos que tradicionalmente j� s�o de grande concentra��o popular. Assim, mesmo se pr�ximo � Pra�a da Esta��o houvesse um tempo religioso, ela poderia ser exclu�da da lei. O mesmo vale para a Pra�a de Santa Teresa, na Regi�o Leste, por exemplo, se a Prefeitura der o aval. Ela abriga uma igreja cat�lica e � palco de v�rios eventos.
CONTR�RIOS Os autores do projeto ter�o que convencer outros vereadores para conseguir a aprova��o. Durante a discuss�o do projeto na quinta-feira houve rea��o de opositores. Pedro Patrus (PT), Arnaldo Godoy (PT) e Bella Gon�alves (Psol) consideraram que a medida vai tolher manifesta��es culturais populares e tradicionais na cidade, promovidas inclusive pelas pr�prias igrejas, e sugeriram a suspens�o da mat�ria para possibilitar mais di�logo entre as partes envolvidas.
Gabriel (PHS) afirmou que o projeto � inconstitucional e delega muito poder ao Executivo, que ficar� respons�vel por definir os locais que poder�o receber os eventos. Preto (DEM) e L�o Burgu�s de Castro (PSL) tamb�m se posicionaram contra a medida, que, segundo eles, vai burocratizar e inibir ainda mais a realiza��o de eventos culturais e sociais em Belo Horizonte, que atraem turistas e proporcionam divers�o gratuita para a popula��o. Borja alegou, no entanto, que eventos promovidos por entes privados n�o ser�o afetados pela norma, que se aplica somente a eventos promovidos pelo poder p�blico. Procurada pela reportagem, a prefeitura disse que s� se manifestaria depois da publica��o das emendas.
Pelas regras da C�mara, depois de aprovado em primeiro turno, os projetos t�m dois dias para ir � plen�ria do segundo turno. Mas, como houve emendas, elas dever�o passar primeiro pela aprecia��o das quatro comiss�es por onde o PL 515 tramitou: Legisla��o e Justi�a, Meio Ambiente e Pol�tica Urbana; Direitos Humanos e Defesa do Consumidor, e Administra��o P�blica.
Folia embalada a quent�o
O m�s � julho, o ritmo ainda � da canjica e do quent�o, mas a batida j� � de carnaval. E ainda teve jogo do Brasil para completar a festa. Ontem, foi dia de aquecimento para a folia, num verdadeiro carnaval julino. Com alas abertas para novos participantes e veteranos, centenas de pessoas se juntaram ontem, no Bairro Prado, na Regi�o Oeste, para aul�es gratuitos de percuss�o e dan�a de dois blocos que arrastam multid�es em Belo Horizonte. No batuque do Baianas Ozadas e do Funk You, foi momento de aprender e de come�ar a se preparar para a farra de 2020.
A edi��o de S�o Jo�o do Batid�o Folia come�ou com aul�o das alas de dan�a do Baianas Ozadas e Funk You. Na sequ�ncia, teve aul�es das baterias, cada qual com sua forma��o de instrumentos. A do Baianas � voltada para samba-reggae e outros ritmos similares, com caixas, surdos e repiques. J� a do Funk You tem instrumenta��o de escolas de samba, com tamborins, chocalhos, repiques, caixas e surdos e transmiss�o da partida Brasil x Peru.
Baianas e Funk You contaram com participa��es de convidados surpresas e incrementaram aos repert�rios can��es voltadas para o S�o Jo�o, ritmos de forr� fundidos com ax� e funk, cada uma � sua maneira. Nos intervalos, DJs garantiram a festa. E no friozinho, op��es gastron�micas t�picas da �poca completaram o card�pio da divers�o. O Baianas Ozadas, que em fevereiro entra em seu nono carnaval, toca os ritmos da Bahia e misturam sucessos da ax� music com hits de sertanejo universit�rio, funk, forr�, pagode, de releituras � base da percuss�o baiana. Estourou no carnaval de BH em 2012. O Funk You surgiu em 2016 e, no ano seguinte, a turma de amigos que o compunha formou a primeira bateria e se empenhou para criar uma batida inovadora, com instrumentos de percuss�o de samba em ritmo de funk brasileiro.
Aul�es gratuitos de percuss�o e dan�a marcaram o aquecimento para o carnaval com participa��o de grupos que arrastam multid�es (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
Ontem foi o primeiro contato para planejar o carnaval do ano que vem e o in�cio dos trabalhos para fidelizar e gerir as alas. “Os dois blocos conversam h� muito tempo. Sa�ram este ano no mesmo dia e hor�rio, mas cada um tem como mensurar esse term�metro, de quem j� est� e novos adeptos. O carnaval tem se transformado e tem uma complexidade mut�vel a cada ano”, afirmou um dos fundadores do Baianas, G�o Cardoso. Indo para seu quarto carnaval, o Funk You, �nico a tocar o ritmo carioca, tem o desafio de formar uma ala de dan�a para a pr�xima folia. Este ano, o bloco ganhou o pr�mio de melhor ala de dan�a, mesmo sem t�-la oficialmente. “Fizemos um bloco inovador que chamou a aten��o, o que possibilitou criar um produto para o ano todo”, disse o fundador, Lucas Moraes.
A enfermeira Aline Guimar�es Ayala Silva, de 33 anos, estreou no repique, que pretende levar para a avenida ano que vem. O marido faz parte da bateria do Baianas e, agora ela resolveu n�o s� acompanh�-lo, mas tamb�m participar. “� uma energia muito boa”, afirmou. O mec�nico de aeronave Gabriel Bastos Ferreira Dutra, de 25, saiu este ano no bloco Quando Come se Lambuza e agora quer se 'profissionalizar”. Com o repique em m�os, j� se planeja para participar do maior n�mero de blocos poss�vel em 2020. “Sempre foi meu sonho tocar em bateria. Na hora do desfile, n�o tem explica��o. Voc� v� todo mundo dan�ando ao seu ritmo e depois se d� conta de que fez parte do carnaval de BH, um dos maiores do Brasil.”
As dan�arinas Fabiana Veloso, de 23, e Mariana Cardoso, de 21, est�o encarregadas de formar a ala de dan�a do Funk You. Elas j� sa�ram no bloco como foli�s e este ano foram convidadas para ser porta-estandartes. Ainda n�o se sabe quantas pessoas v�o compor a nova ala. As duas apostam no crescimento dos ensaios e da empolga��o dos foli�es. “Hoje a galera curtiu bastante. A tend�ncia � s� aumentar”, disse Fabiana.