
Agir � bem melhor do que criticar – acredita piamente Warley de Oliveira Franco, de 25 anos, nascido e criado em Belo Horizonte e consciente de que “trabalho e honestidade” devem sustentar a sociedade, tanto em tempos de prosperidade como indefinidos, a exemplo de agora. Na noite do �ltimo domingo, depois de pedalar o dia inteiro como entregador de alimentos por aplicativo, o jovem morador do Bairro Alpes (Vila Leonina), na Regi�o Oeste da capital, se envolveu em um pequeno acidente e agora procura ansiosamente a “v�tima” para pedir desculpas e, se for necess�rio, pagar pelo reparo de eventuais danos. Em resumo, quer agir em nome do respeito e da verdade.
Com fome e sentindo muito frio, e doido para chegar em casa por volta das 21h30 do �ltimo domingo, Warley trafegava na Avenida M�rio Werneck, no Bairro Buritis, na mesma Regi�o Oeste, quando um carro o ultrapassou, deu seta e virou na Rua Henrique Furtado Portugal. “O motorista ou a motorista, n�o sei ao certo, fez tudo direitinho. O errado fui eu”, reconhece, com sinceridade. Na hora, o freio da bicicleta, em alta velocidade, traiu o condutor e ele acabou esbarrando na lateral do ve�culo. “Fiquei com raiva de mim mesmo e n�o parei nem para conversar com a pessoa, que n�o percebeu o ocorrido. Tamb�m n�o olhei para tr�s. Somente na manh� de segunda-feira � que refleti e coloquei uma mensagem nas redes sociais, perguntando se algu�m tinha reclamado da batida ou se conhecia um morador se queixando da bicicleta”, contou o rapaz. “N�o sei se quebrou a lanterna traseira, s� mesmo conversando para saber. Foi um esbarr�ozinho de leve em um carro cinza”, detalhou ele, ainda sem sucesso em sua busca.
“Quero muito encontrar a pessoa, acho isso importante demais”, conta o ex-estudante de administra��o em um centro universit�rio de Belo Horizonte, que foi obrigado a deixar o curso ainda no primeiro per�odo, por total falta de dinheiro. “Est� curto, s� d� mesmo para comprar comida e umas roupas”, resume. Brincando com o estado civil – “Solteiro sim, sozinho nunca”, o terceiro mais novo de uma fam�lia de oito irm�os se declara t�mido, e, mesmo sorrindo, n�o esconde no rosto uma sombra de tristeza. �rf�o de pai h� 20 anos, ele perdeu a m�e, Vera L�cia, de 58, em abril: “Hoje 'sou' eu e Deus. E tenho certeza de que Ele est� me guiando”.
DOA��O A conquista da bicicleta para trabalhar, h� tr�s semanas, trouxe a oportunidade de trabalho e abriu caminhos. Tamb�m usando uma rede social, Warley perguntou se algu�m poderia lhe alugar uma bike. “Apareceram duas, e o dono de uma fez a doa��o”, revela. Morando com quatro irm�os, o jovem cita as mudan�as na vida nos �ltimos anos, sempre norteada pelos ensinamentos de Vera L�cia: trabalhar e ser honesto. “Quando minha m�e ficou doente, eu trabalhava como auxiliar administrativo, mas tive que sair do emprego para cuidar dela. Morreu em consequ�ncia de um aneurisma. Desde crian�a, eu a escutava dizer que o nome � muito importante para o cidad�o, e que devemos preserv�-lo sempre”, recorda. Por isso, aos pol�ticos e demais envolvidos em corrup��o pa�s afora, o menino da bicicleta indica a trilha: “Basta se espelhar nas pessoas de bem”.
Determinado a pautar os dias pela coragem e esperan�a, Warley diz que, a partir do momento em que passou a agir antes de criticar, “as coisas melhoraram”. Afinal, confessa, era daqueles internautas que comentam de tudo, o tempo todo, sem muita reflex�o. Nestes tempos de altas taxas de desemprego, o rapaz agora sonha em continuar os estudos, conseguir um trabalho e, no futuro, se casar e viver em sua casa. E, claro, encontrar a “v�tima” do acidente de domingo para ficar com a consci�ncia tranquila. “O mais dif�cil mesmo � dar o primeiro passo. Mas, com as li��es recebidas da minha m�e, aprendi a andar na linha”, define.