'Leitura da senten�a de Tiradentes' vira atra��o em Ouro Preto

Bodas de brilhante na terra do ouro. O Museu da Inconfid�ncia completa 75 anos no pr�ximo domingo, com programa��o especial (ver quadro) que come�a na sexta-feira e tem um presente especial, nesse dia, para os milhares de visitantes do equipamento cultural vinculado ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) – s� em julho, foram 32 mil pessoas. Em cerim�nia no imponente pr�dio da Pra�a Tiradentes, em Ouro Preto, na Regi�o Central de Minas, ser� inaugurada a nova instala��o da tela Leitura da senten�a de Tiradentes, de Leopoldino de Faria (1836-1911), pintor oficial da Academia Imperial do Rio de Janeiro. O quadro com 3,25 metros de largura e 2,45m de altura, foi cedido pelo Legislativo municipal ao museu em sistema de comodato por 60 meses (cess�o n�o onerosa de bem cultural), com renova��o em 2024, informa a diretora interina do Inconfid�ncia, Margareth Monteiro. A festividade celebra tamb�m os 230 anos da Inconfid�ncia Mineira.

 

Na tarde de ontem, com o �leo sobre tela ainda no anexo do museu, Margareth, historiadora, explicou que a obra ficar� exposta na Sala da Inconfid�ncia Mineira, no t�rreo do museu, de frente para forca do supl�cio de Joaquim Jos� da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), expoente do movimento nas Gerais, em 1788-89, contra a Coroa portuguesa. E ressaltou que a tela de grandes propor��es foi restaurada com patroc�nio da Grande Loja Ma��nica de Minas Gerais, respons�vel tamb�m por uma r�plica fac-s�mile, em menor escala, colocada na parede do gabinete, na qual ficava a original, da C�mara Municipal de Ouro Preto. A transfer�ncia do quadro para o museu foi aprovada pelos vereadores em reuni�o plen�ria, j� que poderia ter mais visibilidade.

 

Ao longo do tempo, a tela passou por quatro interven��es de restauro, sendo a primeira a cargo do pintor Hon�rio Esteves, em 1900. A �ltima esteve nas m�os do restaurador Aldo Ara�jo, que, em 2016, fez uma limpeza na obra. Na sua interven��o, Ara�jo recuperou �reas com perda de pigmenta��o e outras com craquel�s (rachaduras) avan�ados, resultado, entre outros fatores, de oscila��es bruscas de temperatura e umidade. H� nove anos, conforme registrou o Estado de Minas, a sala da presid�ncia da C�mara, ent�o com o atual prefeito J�lio Pimenta � frente, se transformou em ateli� de forma a impedir que o quadro sa�sse do local. Com o resultado de agora, afirma a diretora interina, vieram � tona detalhes da pintura encobertos e efeitos de luz e sombra criados pelo pintor.

 

“A atual interven��o foi feita dentro das normas e princ�pios da conserva��o e restaura��o restabelecendo a unidade est�tica do quadro e garantindo, para as futuras gera��es, a perman�ncia de uma obra imponente e importante para todos os brasileiros”, explicou Margareth, lembrando que, antes de ir para a C�mara, o quadro pertencia � Assembleia Provincial de Minas, quando Ouro Preto era capital. Segundo museu do Ibram mais visitado no pa�s – o primeiro � o Imperial de Petr�polis (RJ) – o Inconfid�ncia recebe cerca de 210 mil pessoas por ano, entre brasileiros e estrangeiros. Ela chama a aten��o para a moldura de pinho de Riga talhada com finaliza��o em gesso e simbolizando o caf�, tendo ainda um coroamento ladeado por dois anjos em estilo barraco e a frase: Homenagem aos M�rtires da Independ�ncia – 1792. “A frase faz refer�ncia � independ�ncia do Brasil”, diz a historiadora.

Caminhos da hist�ria

A hist�ria do Brasil passa, necessariamente, pela Pra�a Tiradentes, no Centro da antiga Vila Rica. No edif�cio erguido em 1785 pelo governador da Capitania de Minas, Lu�s da Cunha Meneses, para ser Casa de C�mara de Cadeia, est� o Museu da Inconfid�ncia de portas e janelas coloniais abertas para contar a trajet�ria de Tiradentes e conjurados que lutaram pela liberdade; os caminhos do Ciclo do Ouro nas Gerais; e maravilhas do barroco, incluindo pe�as de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814) e partituras musicais. Com esse patrim�nio, o Museu da Inconfid�ncia completa 75 anos de conhecimento, mem�ria e arte.

 

Logo em frente do Inconfid�ncia, pode-se admirar um dos cart�es-postais mais conhecidos do pa�s: o Monumento a Tiradentes, escultura em bronze feita em 1894 por Virg�lio Cestari e localizada de costas para o antigo Pal�cio do Governador, atual Escola de Minas. Depois desse primeiro impacto visual, � hora de subir a escadaria de pedra, visitar salas e colar os olhos nas vitrines do museu para um exerc�cio fascinante: agu�ar os sentidos e mergulhar numa longa hist�ria. A diretora interina Margareth Monteiro adianta que est� em fase final, conforme determina��o do Minist�rio P�blico de Minas Gerais, o plano de gerenciamento de risco, de forma a garantir seguran�a para funcion�rios, visitantes e acervo com aproximadamente 60 mil itens.

 

No acervo est�o documentos dos tempos da Conjura��o Mineira (1788/89), como o s�timo volume dos Autos da Devassa e a edi��o clandestina de 1778 da Constitui��o dos Estados Unidos – em franc�s, Recueil des loix Constitutives des �tats-Unis; pe�as da forca usadas no supl�cio de Tiradentes, no Campo da Lampadosa, no Rio de Janeiro; rel�gio do alferes e depois m�rtir do movimento, de fabrica��o inglesa, adquirido pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek das m�os de particulares, em 1953; mobili�rio dos s�culos 18 e 19; pe�as sacras; biblioteca; livros de cart�rio, entre uma s�rie de preciosidades. Merecem destaque os manuscritos musicais reunidos pelo pesquisador alem�o Francisco Curt Lange (1903-1997), que salvou da destrui��o centenas de partituras da m�sica colonial mineira.

 

O museu foi criado no governo de Get�lio Vargas para receber os despojos dos conjurados mineiros mortos no ex�lio na �frica e repatriados em 1936 – a iniciativa coincidiu com a passagem dos 150 anos da senten�a proferida em 1792 contra os r�us da Inconfid�ncia. Em 1942, havia apenas o Pante�o com as l�pides dos her�is e dois anos depois o museu ganhou forma sob a dire��o do historiador Raymundo Trindade. Nesse caso, a data comemorava o bicenten�rio de nascimento do poeta inconfidente Tom�s Ant�nio Gonzaga.

 

O primeiro acervo foi doado pela C�ria Metropolitana de Mariana. Na sequ�ncia foram compradas pe�as do antigo Instituto Hist�rico e Geogr�fico de Ouro Preto e depois acrescentados os autos da devassa (processos) referentes aos r�us eclesi�sticos envolvidos na Conjura��o Mineira. Outra grande aquisi��o foi o acervo musical de Lange.

 

Em 2011, a Inconfid�ncia Mineira ganhou finalmente um rosto – na verdade o �nico conhecido at� hoje de um integrante do movimento. � do conjurado Jos� Resende Costa (1728-1798), que viveu na Regi�o dos Campos das Vertentes e morreu no degredo na Guin�-Bissau, �frica. A identifica��o dele, de Domingos Vidal de Barbosa Laje, morto aos 32 anos, e Jo�o Dias da Motta, aos 59, igualmente no degredo, se arrastava havia d�cadas. A pedido da dire��o do museu, pesquisas e reconstitui��o facial foram feitos na Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) pela equipe do professor Eduardo Daruge. No Pante�o, no primeiro andar, os tr�s t�m sua l�pide ao lado das de Alvarenga Peixoto, Tom�s Ant�nio Gonzaga, Jo�o da Costa Rodrigues, Francisco Ant�nio de Oliveira Lopes, Salvador Carvalho do Amaral Gurgel, Vitoriano Gon�alves Veloso, �lvares Maciel, Francisco de Paula Freire de Andrada, Domingos de Abreu Vieira, Luiz Vaz de Toledo Piza, Jos� Aires Gomes, Ant�nio de Oliveira Lopes e Vicente Oliveira da Mota. O Museu da Inconfid�ncia foi o primeiro do pa�s instalado fora da faixa litor�nea, rompendo tradi��o que vinha dos tempos do reinado brasileiro de dom Jo�o VI.

Em 12 de agosto de 2010, o Estado de Minas publicou uma reportagem sobre a tela Leitura da Senten�a de Tiradentes, que, na �poca, estava sendo restaurada pelo especialista S�lvio Luiz Rocha Vianna de Oliveira (foto). A fim de evitar que o quadro fosse retirado da sede do Legislativo, foi montado um ateli� no gabinete do ent�o presidente da C�mara e hoje prefeito, J�lio Pimenta. Para delimitar os espa�os, foi pendurada uma cortina de voal branco, tecido leve e fino, e, dessa forma, moradores e visitantes tiveram a oportunidade de presenciar o restauro. “Trata-se de uma obra de grandes propor��es e muito delicada, ent�o decidimos recuper�-la aqui mesmo, e n�o transport�-la para um ateli�”, disse o prefeito sobre o �leo sobre tela, datado do fim do imp�rio e de autoria de Leopoldino de Faria (1836-1911), pintor oficial da Academia Imperial do Rio de Janeiro (RJ). 

» 10h – Inaugura��o da nova instala��o da tela Leitura da Senten�a de Tiradentes, de Leopoldino de Faria (1836-1911), no interior do Museu da Inconfid�ncia

» Lan�amento do selo comemorativo

» Apresenta��o da Orquestra da Escola de M�sica Padre Sim�es

» Tamb�m no interior do museu, haver� a oficina de bordados antigos, Descobrindo as volutas barrocas, a cargo da Associa��o das Senhoras Artes�s de Ouro Preto (Asa) e Movimento Renovador de Mariana

» 18h – Audit�rio, anexo 1 – Cinema com pipocas – Mostra de filmes sobre Ouro Preto e a Inconfid�ncia Mineira

» Sexta-feira – Joaquim (2018), dire��o de Marcelo Gomes

» S�bado – Tiradentes (1999), dire��o de Oswaldo Caldeira

» Domingo – Os Inconfidentes (1972), dire��o de Joaquim Pedro de Andrade

» 14h – Na frente do Museu da Inconfid�ncia – Apresenta��o de corpora��es musicais

» 1785 – Em 1º de junho, o governador da Capitania de Minas, Lu�s da Cunha Meneses, come�a a constru��o da Casa de C�mara e Cadeia de Vila Rica, atual Ouro Preto

» 1862 –A Casa de C�mara e Cadeia deixa definitivamente o pr�dio, que passa a funcionar apenas como pris�o

» 1907 –Pr�dio sofre adapta��es para se transformar em penitenci�ria estadual

» 1938 – Doa��o do edif�cio � Uni�o, ato formalizado pelo Decreto-Lei 144, de 212/1938. Em 20 de dezembro, � criado o Museu da Inconfid�ncia pelo Decreto-Lei 965 do presidente Get�lio Vargas

» 1942 – Em 21 de abril, � inaugurado o Pante�o, para o qual s�o transferidos os despojos dos inconfidentes mortos no ex�lio na �frica e repatriados em dezembro de 1936

» 1944 – Em 11 de agosto, Museu da Inconfid�ncia abre as portas sob a dire��o do c�nego Raymundo Trindade. Data lembra o bicenten�rio de nascimento do poeta inconfidente Tom�s Ant�nio Gonzaga

» 2006 – Museu � reaberto com novos projetos museol�gico, feito pelo ex-diretor Rui Mour�o, que ficou 43 anos no cargo, e museogr�fico, a cargo do franc�s Pierre Catel

» 2009 – Museu da Inconfid�ncia, at� ent�o vinculado ao Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), passa a ser ligado ao rec�m-criado Instituto Brasileiro de Museus (Ibram)

» 2017 – Na gest�o da arquiteta Deise Lustosa, o museu ganha bilheteria e recep��o com atendimento bil�ngue

» 2019 – Em maio, na gest�o da diretora interina Margareth Monteiro, o quadro Leitura da Senten�a de Tiradentes chega ao Museu da Inconfid�ncia para exposi��o celebrativa dos 230 anos da Inconfid�ncia Mineira, com a curadoria de Margareth e Janine Ojeda