Inpe detecta 77% mais focos de fogo em Minas e bombeiros preveem: vai piorar
Sat�lites registram disparo em n�mero de queimadas no estado em rela��o a 2018, ocorr�ncias atendidas j� beiram 9 mil e oficial alerta: 'Grandes inc�ndios ainda n�o come�aram'
postado em 23/08/2019 06:00 / atualizado em 23/08/2019 07:38
Bombeiros combatem chamas na Grande BH, regi�o de Minas que concentra o maior n�mero de focos (foto: Marcos Vieira/EM/DA Press - 31/7/19)
Imagens de sat�lite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram Minas Gerais em chamas – e, segundo especialistas, a situa��o tende a piorar. A s�rie hist�rica indica eleva��o de 77% no n�mero de focos de calor em todo o estado, em compara��o com o mesmo per�odo do ano passado. Entre 1º de janeiro e o �ltimo dia 20, foram detectados 2.699 pontos no estado, contra 1.523 no mesmo per�odo de 2018. O aumento de queimadas em Minas espelha cen�rio parecido em todo o Brasil, com 74.155 focos nestes pouco menos de oito meses, varia��o de 84,7% em rela��o a per�odo id�ntico do ano passado. Os dados foram extra�dos do acompanhamento anual feito pelo Inpe. Realizado desde 1994, o monitoramento capta imagens de baixa (30 metros a 1 quil�metro) e m�dia (10 a 50 metros) resolu��o espacial para estimar a superf�cie queimada no pa�s.
Quando considerado levantamento do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, a situa��o � ainda mais preocupante. Embora o aumento percentual com base em dados dos militares seja menor, em n�meros absolutos a quantidade de ocorr�ncias explode, confirmando a tend�ncia apontada pelo Inpe. Em Minas, a corpora��o registrou nada menos que 8.928 inc�ndios em vegeta��o de janeiro a julho, um aumento de 31,18% em rela��o ao mesmo per�odo do ano passado.
Desse total, 1.891 atendimentos ocorreram na Grande BH e 818 no territ�rio da capital. Em compara��o com o ano passado, o aumento verificado nos n�meros da regi�o metropolitana foi de 23,19%, sobre os 1.536 casos de 2018. “A Grande Belo Horizonte � o ponto de Minas em que mais se registram inc�ndios florestais. A Serra do Rola-Mo�a � onde mais acontece, devido � extens�o, que abrange muitas cidades. S�o 4 mil hectares”, informou o segundo-tenente Leonan Soares Pereira, comandante do Pelot�o de Combate a Inc�ndios Florestais dos Bombeiros. Queimadas na �rea do aglomerado metropolitano corresponderam a 30% do total registrado entre janeiro e julho.
A grande diferen�a entre os n�meros do Inpe e os do Corpo de Bombeiros se deve ao fato de o sat�lite ser sens�vel a �reas superiores a 30 metros por 1 metro e a partir de temperaturas de 47 graus Celsius. O oficial explica que o n�mero maior de registros dos militares deve-se ao fato de os bombeiros combaterem inc�ndio em �reas que, provavelmente, n�o s�o capazes de sensibilizar o sat�lite.
O pior pode estar por vir
Neste ano, os bombeiros trabalham com a probabilidade de o prolongamento do per�odo chuvoso no inverno mudar a din�mica dos inc�ndios na Grande Belo Horizonte, a regi�o de Minas que mais sofre com queimadas. E estamos exatamente no per�odo mais cr�tico para isso, que come�a em agosto e se estende pelo m�s de setembro. “Houve atraso no per�odo de estiagem. Tivemos chuvas at� julho e baixa temperatura. Agora come�a o calor, em que ainda temos um friozinho. Os grandes inc�ndios ainda n�o come�aram”, afirma o segundo-tenente Leonan Soares Pereira. As condi��es meteorol�gicas podem fazer com que as ocorr�ncias de fogo em matas sejam menos frequentes, mas com a possibilidade de as chamas tomarem conta de �reas mais extensas.
O Pelot�o de Combate a Inc�ndios Florestais dos Bombeiros pode atuar, ao mesmo tempo, para debelar at� 10 pontos de inc�ndios de grandes propor��es na vegeta��o, em �reas como as serras do Rola-Mo�a, da Moeda e do Parque Estadual do Serra Verde, todos na Grande BH. O grupo conta com 30 militares � disposi��o para atuar especificamente nessa linha de frente.
Al�m do pelot�o, batalh�es contam com guarni��es de socorro equipadas com caminh�es de combate a inc�ndios, e guarni��es de salvamento, com abafadores e bombas costais. “Contamos com v�rias equipes em pontos diferentes. Cada uma tem capacidade de discernir se precisa de apoio ou n�o”, diz o comandante do grupo. De maneira preventiva, uma equipe foi deslocada para o munic�pio de Brumadinho para ficar mais pr�xima ao Parque do Rola-Mo�a, considerado o ponto mais sens�vel para o risco de grandes inc�ndios.
(foto: Arte EM)
Sobrecarga
Em �reas como a de Uberaba, no Tri�ngulo Mineiro, o n�mero de inc�ndios florestais � tamanho que, at� o m�s passado, o Corpo de Bombeiros ficou impossibilitado de atender a 395 outras ocorr�ncias simult�neas a chamados para combate a focos em vegeta��o. De acordo com o comandante da corpora��o na cidade, o tenente-coronel Nivaldo Machado, muita gente tende a subestimar os riscos do fogo. “De forma proposital ou n�o intencionalmente, as pessoas fazem fogo e tendem a achar que � um foguinho inofensivo, mas as fagulhas e brasas podem fazer ele se alastrar rapidamente. �s vezes, as pessoas v�o limpar o terreno, colocam fogo e, por descuido, perdem o controle e aquilo se alastra de forma n�o intencional”, explica. Os dados da sobrecarga sobre os militares se referem aos seis primeiros meses deste ano, e podem subir ainda mais, j� que o per�odo cr�tico vai at� a setembro.
A corpora��o informa que tem pelot�es especializados de combate a inc�ndio e um planejamento que prev� a��es pertinentes ao per�odo de estiagem. “Quando h� um grande n�mero de ocorr�ncias ao mesmo tempo, existe tamb�m uma prioriza��o das demandas consideradas mais graves. No entanto, n�o se pode falar em preju�zo ou impedimento a outras ocorr�ncias, considerando que esse cen�rio � muito din�mico”, informou o Corpo de Bombeiros, em nota.
Entre os principais fatores de risco para inc�ndios florestais est�o baixa umidade relativa do ar, vegeta��o ressecada, ventos fortes e altas temperaturas. Apesar das condi��es naturais prop�cias, a maior parte dos inc�ndios ocorre por interfer�ncia do homem. “Nessa �poca do ano, � praticamente imposs�vel que o fogo seja causado por raio, a �nica causa natural. De agosto a setembro, os inc�ndios s�o causados pelo homem: por limpeza de pasto, incinera��o do lixo, neglig�ncia no uso de fogueira e fogos de artif�cios e fia��o el�trica clandestina em ch�caras na zona rural. Muitas vezes, o 'gato' (liga��o clandestina) cai e coloca fogo na vegeta��o”, afirma o segundo-tenente Leonan.
Combate
Segundo a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent�vel, o Instituto Estadual de Florestas (IEF) conta com 278 brigadistas, que podem atuar em unidades de conserva��o de todo o territ�rio mineiro. Assim, as �reas de preserva��o mais pr�ximas a pontos em chamas enviam brigadistas para a conten��o de focos, como � o caso das unidades de Ouro Preto, Ouro Branco e Moeda, na Regi�o Central, Belo Horizonte, S�o Jos� da Lapa e Nova Lima, na Grande BH.
O IEF tem ainda brigadas que s�o parcerias, contratadas e tamb�m volunt�rias para apoiar unidades de conserva��o em Conselheiro Pena, Ouro Preto, Belo Horizonte, Montes Claros, S�o Jo�o del-Rei, Moeda, Bar�o de Cocais e Itabirito. “Somam-se ainda a esses os efetivos do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais nos munic�pios onde h� representa��o da institui��o, que tamb�m pode, de acordo com a complexidade dos inc�ndios, deslocar efetivos de regi�es diversas”, acrescenta a secretaria. *Estagi�ria sob supervis�o do editor Roney Garcia