
A viol�ncia que assusta a sociedade em forma de homic�dios por agress�es, facadas, tiros ou por outras maneiras produz em m�dia 9,6 assassinatos todos os dias em Minas Gerais com base nos n�meros dos dois �ltimos anos fechados no estado. Dados da Secretaria de Estado de Justi�a e Seguran�a P�blica (Sejusp) apontam que em 2017 e 2018 houve 7.061 homic�dios em Minas. Mas a falta de seguran�a que assusta a popula��o em seu dia a dia n�o � diferente de outra epidemia que anda bem pr�xima dos assassinatos e n�o provoca o mesmo espanto que uma morte a tiros em plena luz do dia, por exemplo. Dados da Seguradora L�der, que administra o Seguro de Danos Pessoais Causados por Ve�culos Automotores de Vias Terrestres (Dpvat), mostram que nos mesmos dois �ltimos anos fechados, 6.649 fam�lias foram indenizadas pela morte de seus parentes no tr�nsito em Minas Gerais. Isso significa que, nos �ltimos dois anos, enquanto 9,6 pessoas perderam a vida assassinadas, em m�dia, todos os dias, 9,1 foram dizimadas diariamente na viol�ncia do tr�nsito em ruas, avenidas e estradas dos 853 munic�pios mineiros. E esse n�mero pode ser ainda maior, j� que considera apenas as mortes vinculadas �s indeniza��es pagas pelo Dpvat. Os pagamentos podem ser solicitados at� tr�s anos depois do acidente.
O que mais chama a aten��o � que tanto no tr�nsito quanto nos homic�dios o p�blico mais dizimado � o dos jovens. Dados do Dpvat mostram que entre as 6.649 indeniza��es por morte em dois anos, 2.434 foram para benefici�rios de v�timas entre 18 e 34 anos, o que equivale a 36,6%. No caso dos assassinatos esse percentual � ainda maior. Das pouco mais de 7 mil v�timas de homic�dios, 3.974 est�o na mesma faixa et�ria, entre 18 e 34 anos, mais da metade dos assassinados em dois anos em todo o estado (56,2%). Isso comprova que tanto nas mortes do tr�nsito quando da viol�ncia o p�blico jovem � o mais afetado.
Apesar de as mortes no tr�nsito e os assassinatos estarem praticamente no mesmo patamar, a carnificina em acidentes com carros, motos, �nibus e caminh�es n�o desperta a mesma repercuss�o dos assassinatos, na avalia��o da delegada Amanda de Menezes Curty, que � coordenadora de Educa��o de Tr�nsito do Departamento Estadual de Tr�nsito de Minas Gerais (Detran/MG). Segundo ela, h� uma quest�o cultural que trata os �bitos no tr�nsito como uma falha, algo que n�o foi praticado com inten��o. “Como as mortes s�o culposas e n�o houve a inten��o, as pessoas tendem a achar que foi fatalidade e geralmente tentam tirar a culpa, procurando alguma desculpa”, afirma a delegada. Esse cen�rio carece de uma mudan�a radical, segundo Amanda Curty. “As pessoas deveriam come�ar a se conscientizar que a morte no tr�nsito n�o � uma coisa fortuita. Ela acontece porque as pessoas t�m parcela de contribui��o sim, n�o pode ser tratada como uma coisa inesperada”, acrescenta.
CONSCIENTIZA��O
Para mudar esse quadro, a policial defende que a conscientiza��o deve ser for�ada pela atua��o preventiva, a partir de campanhas educativas. Um das possibilidades que est� sendo estudada nesse sentido pelo Departamento Nacional de Tr�nsito (Denatran) � a ado��o da educa��o para o tr�nsito como disciplina extracurricular inicialmente nos tr�s �ltimos anos do ensino m�dio. Mas o m�dico e diretor Assistencial da Funda��o Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), Marcelo Lopes Ribeiro, defende que o tema seja obrigat�rio nas escolas desde a educa��o infantil. “Quando o aluno chegar no fim do percurso escolar ele j� vai saber todas as normas e ter� outra cabe�a antes de tirar a carteira de motorista”, afirma.Al�m da quest�o preventiva, a delegada Amanda Curty tamb�m defende atua��o repressiva, a partir das fiscaliza��es de rua e puni��es administrativas, que acontecem na esfera dos Detrans em todo o pa�s. Ela considera que o atual formato de abertura de processos administrativos para suspens�o das carteiras para os crimes de tr�nsito e para os motoristas que estouram 20 pontos em multas � suficiente para for�ar mudan�as de comportamento. J� o m�dico da Fhemig Marcelo Lopes Ribeiro acredita que essa parte poderia ser mais pesada. “Acho que no momento da renova��o da carteira a gente deveria ter prova de legisla��o. De cinco em cinco anos fazer de novo a prova em vez de apenas passar por um exame m�dico. E tamb�m quando o motorista atingir os pontos na carteira, fazer um novo exame de dire��o. A pessoa ia ficar muito mais atenta nesse sentido”, diz o m�dico.
SENSA��O DE IMPUNIDADE
A aproxima��o dos dados de homic�dios e mortes no tr�nsito indenizadas pelo Dpvat em Minas nos �ltimos dois anos deve ser analisada levando em considera��o um fator peculiar do estado, segundo a superintendente da Seguradora L�der, que administra o Dpvat, Maria Valins. Ela lembra que o estado tem a maior malha rodovi�ria do pa�s, com 272 mil quil�metros de rodovias. Desse total, 9 mil quil�metros s�o de rodovias federais, que pela posi��o do estado recebem fluxo do pa�s inteiro. O alto fluxo aliado �s condi��es muitas vezes prec�rias aumentam os �ndices de acidentes. Na compara��o entre assassinatos e acidentes, ela pontua que no primeiro grupo h� uma cadeia de repress�o que cobra as responsabilidades. “A falta de fiscaliza��o nas rodovias � um fator que demonstra displic�ncia e certa impunidade. Diferente de um crime de homic�dio, que leva a apura��o, investiga��o e puni��o, no acidente de tr�nsito a gente n�o observa o mesmo rigor da lei, gerando essa sensa��o de impunidade que faz com que nada aconte�a”, afirma.Para impor um novo cen�rio, a superintendente da L�der defende a ado��o de pol�ticas p�blicas que mudem a percep��o das mortes no tr�nsito. “N�s na seguradora n�o apuramos as causas dos acidentes, mas a gente sabe que grande parte � motivada por ingest�o de �lcool e excesso de velocidade. E no nosso pa�s as campanhas de educa��o de tr�nsito n�o focam tanto na preven��o. Quando acontece, o fato � caracterizado como acidente sem inten��o de matar. Ent�o, fica essa sensa��o de impunidade e as fam�lias das v�timas n�o se sentem reparadas”, completa Maria Valins.