Na manh� de 5 de outubro de 2017, o vigia Dami�o Soares dos Santos, de 50 anos, invadiu o centro municipal de educa��o infantil (Cemei) e, com o uso de combust�vel, ateou fogo na unidade, matando a si pr�prio e provocando as mortes de 13 v�timas, entre elas 10 crian�as, duas professoras e uma servidora. Mais de 50 ficaram feridas. A trag�dia em Jana�ba teve repercuss�o internacional. Depois, investiga��o policial constatou que Dami�o sofria de transtorno mental.
O pr�dio incendiado foi demolido. No lugar, foi erguida outra creche, constru�da por um grupo de empres�rios e inaugurada em mar�o de 2018, recebendo o nome da professora Heley Abreu, que morreu como hero�na na trag�dia, tentando salvar seus alunos, ap�s entrar em luta corporal com o vigia. A nova creche conta com 45 crian�as, de 1 ano e sete meses a 5 anos.
Ap�s uma missa celebrada na Igreja de Santa Rita de C�ssia, no Bairro Barbosa, as m�es das v�timas soltaram bal�es com os nomes das crian�as e servidores que perderam a vida no inc�ndio criminoso. Na sequ�ncia, no evento no Clube Serrano, houve distribui��o de presentes, lanche e brincadeiras para as crian�as sobreviventes da trag�dia e seus familiares.
Passados dois anos da trag�dia, as fam�lias das v�timas do inc�ndio na creche ainda sofrem. A dona de casa Daniele Oliveira Barros perdeu a filha Talita Vitoria Bispo, de 4 anos. “As pessoas acham que, como perdemos nossos filhos, n�o precisamos de nada. Eu e meu marido adoecemos. A gente precisa de rem�dios e as pessoas acham que n�o precisamos de nada”, lamenta, se referindo � falta de doa��es.
Uma dor que n�o termina
"Neste dia, � como se revivesse tudo de novo, o cora��o aperta como se estivesse esperando seu corpinho para velar ou se tivesse acabado de enterrar ele ou mesmo aquela mesma ang�stia de quando ouvi o m�dico dizendo que meu Renan havia partido", declarou a dom�stica Juscimara Silva Souza, m�e Renan Nicolas Santos, de 4, outra v�tima do inc�ndio.
"Pra mim, foi um dia muito, muito dif�cil, cinzento, meio escuro, mas ao mesmo tempo um dia de renova��o, de esperan�a e de aceita��o. N�o tenho palavras para resumir esta data", declarou a balconista Valdirene dos Santos Borges, m�e de Mateus Felipe Rocha Santos, de 5 anos, que teve 90% do corpo queimado no inc�ndio e tamb�m morreu no Hospital Jo�o XXIII, em BH, depois de permanecer quatro dias internado.
Falta de estrutura e de seguran�a continuam
O pr�dio da antiga Creche Gente, situado no Bairro Rio Novo, n�o tinha extintor de inc�ndio nem sa�da de emerg�ncia, contando com forro de PVC (material altamente inflam�vel) e grades nas janelas, o que aumentou as consequ�ncias do inc�ndio. Passados dois anos, unidades de educa��o infantil no munic�pio de Jana�ba continuam na mesma situa��o de inseguran�a e falta de infraestrutura, denuncia o vereador Alexandre Ramon Alexandre (MDB).
O vereador afirma que recentemente visitou todas as escolas municipais de Jana�ba e que 17 delas necessitam de reformas ou reparos. Ele aponta problemas em sete unidades de ensino infantil do munic�pio, citando defeitos na rede el�trica, a rachaduras nas paredes e a falta de prote��o contra inc�ndio.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Jana�ba rebateu as den�ncias do vereador. Por meio de nota, a administra��o informou que “todos os projetos de reforma das escolas municipais j� foram feitos pela equipe de engenharia do munic�pio, atendendo �s necessidades espec�ficas de cada pr�dio. O processo licitat�rio para contrata��o de empresa especializada para execu��o das reformas est� em tramita��o”. Anunciou ainda que “trabalha incessantemente” para come�ar as obras em janeiro, per�odo de f�rias escolares.
A��es por indeniza��es na Justi�a
Passados dois anos, fam�lias das v�timas ainda lutam na Justi�a, buscando indeniza��es. “A trag�dia deixou v�rias sequelas, sobretudo no que tange � sa�de f�sica e psicol�gica. Por isso, a situa��o � prec�ria, j� que demanda gastos financeiros”, afirmou o defensor p�blico Gustavo Dayrell, de Jana�ba, lembrando que as indeniza��es definitivas ainda est�o em fase de instru��o no Poder Judici�rio.
Tramitam na Justi�a uma a��o de indeniza��o coletiva e outras tr�s individuais. Algumas a��es relacionadas a medicamentos j� foram acatadas pela Justi�a.
Enquanto os processos ainda engatinham, aux�lios s�o pagos �s fam�lias. Os valores variam entre R$ 500 e R$ 1 mil, dependendo das fragilidades dos n�cleos com rela��o � sa�de. Segundo o Tribunal de Justi�a de Minas Gerais, o governo municipal pagaria esses aux�lios at� dezembro de 2018. Contudo, negocia��es estenderam o prazo para at� o fim deste ano.
Por sua vez, a Prefeitura de Jana�ba, por meio de sua procuradoria jur�dica, divulgou relat�rio na sexta-feira informando que j� pagou R$ 1,22 milh�o �s 80 fam�lias atingidas. A municipalidade assegura que desde o inc�ndio vem garantindo toda a assist�ncia m�dica �s v�timas, com diversos especialistas, contando, inclusive com apoio de equipe de Santa Maria (RS), que atendeu as v�timas de queimaduras da trag�dia Boate Kiss, em 27 de janeiro de 2016.