
Mariana – Quatro anos depois da trag�dia de Mariana, que deixou 19 mortos e um rastro de 600 quil�metros de impactos na Bacia do Rio Doce, um dos principais itens em atraso dentro da implanta��o das a��es ambientais de repara��o pelo rompimento da Barragem do Fund�o � a paralisa��o das a��es na Represa de Candonga, em Rio Doce. O reservat�rio recebeu cerca de 10 milh�es de metros c�bicos de rejeitos de min�rio de ferro ap�s a ruptura, naquela que ficou conhecida como a maior trag�dia socioambiental da hist�ria do pa�s, em 5 de novembro de 2015. Devido a um erro construtivo ou, pior, � realiza��o de obra usando material de qualidade inferior em interven��es na regi�o, a previs�o inicial de conclus�o pode ultrapassar tr�s anos, uma vez que a limpeza do local e sua correta destina��o deveriam ter terminado em 2018, mas dever�o passar de 2020.
O rompimento da barragem operada pela mineradora Samarco em Mariana liberou uma onda devastadora de 40 milh�es de metros c�bicos de rejeitos, arrasando a Bacia Hidrogr�fica do Rio Doce, entre Minas Gerais e o Esp�rito Santo, e arrastando parte do material at� o litoral brasileiro. Ao todo, 19 pessoas morreram, sendo que o corpo de uma das v�timas jamais foi encontrado. A devasta��o ambiental � a pior da hist�ria brasileira e a situa��o da Barragem de Candonga a mais cr�tica, pois o reservat�rio chegou a passar por perigo de rompimento.
Os dramas ambientais ocorrem paralelamente � ang�stia dos atingidos: 56% dos im�veis alugados vistoriados por consultoria do Minist�rio P�blico Federal (MPF) foram classificados como instalados em locais ou situa��es inadequados, como �reas de risco. Por outro lado, a constru��o de assentamentos sofre atrasos. O Novo Bento Rodrigues, por exemplo, que abrigar� a comunidade do povoado mais devastado, ainda n�o saiu do papel, mas j� custa 2,5 vezes o or�amento inicial, como revelou o EM ao longo desta semana, em que a trag�dia completa mais um ano.
Medo renovado
No caso de Candonga, al�m dos atrasos na previs�o de remo��o do material acumulado no fundo do barramento, a perman�ncia dos rejeitos dentro dos remansos do lago fazem com que, na pr�tica, os detritos ainda estejam depositados dentro do Rio Doce. O rompimento da estrutura que devia cont�-los na fazenda levou p�nico � comunidade de Santana do Deserto, abaixo da Represa de Candonga, que v� um drama do passado voltando � tona. A Funda��o Renova sustenta que ocorreu uma “falha geol�gica (trinca)” e por causa disso o planejamento do dique na Fazenda Floresta foi abandonado. A ideia, agora, � construir pequenas barragens para conter o material liberado h� quatro anos.
A Funda��o Renova admite que uma das �reas mais atingidas pelo rejeito � a regi�o da Usina Hidrel�trica Risoleta Neves. A limpeza do reservat�rio � uma opera��o complexa, que teve in�cio em 2016. Segundo a funda��o, foi retirado cerca de 1 milh�o de metros c�bicos de material que estavam depositados em um trecho de 400 metros do lago. Para a conten��o da lama de rejeito que ainda poderia chegar de Mariana, foram constru�dos tr�s barramentos met�licos dentro do reservat�rio da usina, que ficar�o submersos ap�s o enchimento do reservat�rio. A limpeza das tr�s turbinas da hidrel�trica foi conclu�da e envolveu a atua��o de mergulhadores para identificar e a retirar manualmente os detritos que comprometiam o funcionamento dos equipamentos.
Destino dos rejeitos removidos do lago, a Fazenda Floresta agora passa por uma s�rie de interven��es para receber parte dos rejeitos acumulados no reservat�rio. “O material proveniente da dragagem – uma polpa formada por 80% de �gua e 20% de rejeito – ser� depositado em pilhas de material seco, que passar� por an�lises e recupera��o ambiental. A �gua que sobra da dragagem ser� tratada e devolvida para o rio, atendendo a todas as normas vigentes. O t�rmino da obra est� previsto para 2020”, informa a Renova, que tamb�m executa obras de drenagem geral na regi�o. “As interven��es visam � conten��o de encostas no entorno do lago, para disciplinar as �guas pluviais e diminuir eros�o nos per�odos chuvosos”.
Recupera��o fora do cronograma
Ap�s seu primeiro ano de atua��o, em 2017, a Funda��o Renova, criada pela mineradora Samarco e suas controladoras – Vale e BHP Billiton – para lidar com os efeitos da trag�dia de Mariana, planejava reservar 2018 para indeniza��es e 2019 para a recupera��o ambiental, mas esse cronograma n�o se concretizou. No primeiro ano, a entidade se concentraria nas reformas de instala��es, obras de controle de eros�o, recupera��o de pastagens, caminhos e acessos, reconstitui��o de cercamentos e de sistemas de irriga��o, planta��o de forragens e perfura��o de po�os.
Isso foi feito, mas nos anos seguintes os objetivos n�o chegaram a ser alcan�ados, ap�s a Renova ter informado que, at� agosto, j� foram destinados R$ 6,68 bilh�es para as a��es de recupera��o e compensa��o socioambiental e socioecon�mica da Bacia do Rio Doce.
Em indeniza��es e aux�lios financeiros, cerca de R$ 1,84 bilh�o foi pago para mais de 320 mil pessoas, mas o n�mero de atingidos pode ultrapassar os 700 mil. Mais de 1.400 obras foram executadas ao longo de todo o territ�rio atingido, segundo a funda��o.
Uma das quest�es ambientais e diretamente ligada � sa�de dos atingidos foi a polui��o do Rio Doce, muito usado pela capta��o de �gua. “O Rio Doce � o mais monitorado do Brasil. S�o 80 par�metros f�sicos, qu�micos e biol�gicos estudados em 92 pontos, de Mariana � foz. Hoje, o Rio Doce � enquadrado na classe 2, e isso significa que a �gua pode ser consumida ap�s tratamento convencional e ser destinada � irriga��o. Al�m disso, foram recuperados 113 afluentes”, sustenta a Renova.
Outra a��o ambiental importante � o Programa de Recupera��o de Nascentes, em seu terceiro ano de execu��o, sendo considerado fundamental para revitaliza��o da bacia, com a recupera��o de outras 500 nascentes, acumulando um saldo de 1.035 restauradas em Minas Gerais e no Esp�rito Santo, segundo dados da entidade. O objetivo do programa � recuperar 5.000 nascentes em 10 anos.
A Renova informou que R$ 500 milh�es foram gastos em projetos de saneamento e que est�o sendo reflorestados 40 mil hectares de mata atl�ntica na Bacia do Rio Doce. “At� fevereiro de 2020, ser�o plantados 800 hectares. As mudas que ser�o usadas no projeto, cerca de 1 milh�o, foram produzidas em viveiros localizados na pr�pria regi�o. No total o investimento ser� de R$ 1,1 bilh�o no projeto, que ser� realizado nos pr�ximos 10 anos”, afirma a funda��o.