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Estado de Minas VICIADOS EM �LCOOL

Global, social e barato, �lcool mata mais que o crack no Brasil e no mundo

S�o 3 milh�es de mortes por ano no mundo associadas ao consumo de bebidas et�licas, al�m de fam�lias destru�das e muita dor. Combate ao alcoolismo � longo e perp�tuo, mas d� para vencer a doen�a


postado em 10/11/2019 08:30 / atualizado em 11/11/2019 07:53



O rosto marcado pelo tempo esconde a real idade de quem descobriu o �lcool ainda muito cedo. “Comecei a misturar bebida no suco aos 8 anos. Aos 10, j� usava a bebida alco�lica pura”, diz Paulo, de 24 anos. A perna inquieta, que n�o para de mexer, denunciava o nervosismo em reviver feridas ainda abertas. “Eu me tornei morador de rua depois de vender tudo o que tinha a pre�o irris�rio para poder beber. Cheguei ao ponto de implorar �s pessoas R$ 1 para comprar bebida”, afirma Joaquim, de 53. Faltando pouco para receber alta da comunidade terap�utica onde est� internado, Geraldo, de 68, n�o sabe para onde ir�. “N�o fosse a bebida, teria ainda minha fam�lia, que ficou desgostosa a ponto de n�o me querer mais em casa”, relata. �s vezes, o fundo do po�o confronta a pr�pria vida. “At� veneno tomei. Tive quatro convuls�es e tentei o suic�dio quatro vezes”, conta Carlos, de 39.

"Me tornei morador de rua depois de vender tudo o que tinha para poder beber"

Joaquim (nome fict�cio), de 53 anos, dependente em processo de recupera��o



Os nomes s�o todos fict�cios, mas as hist�rias, bem reais. S�o trechos da vida de gente que � o retrato do uso nocivo de uma droga legalizada, socialmente aceita, cercada de publicidade e com ares de charme e poder. Em cada esquina, no bar, no boteco, padarias e supermercados, o �lcool est� l�, com destaque em g�ndolas e prateleiras: latas de cerveja, litros de cacha�a, garrafas de u�sque. No Brasil e no mundo, ele mata mais que o crack, conforme atesta levantamento da Funda��o Osvaldo Cruz (Fiocruz). Em Belo Horizonte, seu n�mero de dependentes � quase o dobro da soma de todos os entorpecentes il�citos (veja quadro), de acordo com estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mas, mais que um v�cio, o alcoolismo � uma doen�a, respons�vel ainda pela vitimiza��o de um n�mero sem fim de pessoas pr�ximas, os chamados codependentes. O Estado de Minas come�a hoje uma s�rie de reportagens mostrando os dramas do alcoolismo e como a droga de mais f�cil acesso desagrega fam�lias, arrasa a rela��o entre pais e filhos, destr�i relacionamentos e faz quem a consome abusivamente definhar.

Dados da Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) mostram que no mundo s�o registrados todos os anos 3 milh�es de mortes resultantes do uso nocivo de �lcool, o que representa 5,3% do total de �bitos. O consumo nocivo da bebida � fator causal de mais de 200 doen�as e les�es. E mais: 5,1% da carga mundial de doen�as e les�es � atribu�do ao consumo de �lcool, conforme calculado em termos de Anos de Vida Perdidos Ajustados por Incapacidade (Daly, sigla em ingl�s). As consequ�ncias aparecem cedo. Entre pessoas de 20 a 39 anos, cerca de 13,5% do total de mortes em todo o mundo s�o atribu�veis ao �lcool.

Consumo no Brasil

“� a grande droga social. �lcool mata muito mais que o crack, n�o tem compara��o”, sentencia o pesquisador do Instituto de Comunica��o e Informa��o em Sa�de da
Fiocruz (Icict/Fiocruz), Francisco In�cio Bastos. Essa certeza � fundamentada pelo 3° Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela Popula��o Brasileira, divulgado recentemente pela funda��o. Os resultados mostram que grande parte dos dados considerados mais alarmantes em rela��o ao uso de drogas no Brasil n�o est�o relacionados �s subst�ncias il�citas, mas, sim, ao �lcool. Mais da metade da popula��o brasileira de 12 a 65 anos declarou ter consumido bebida alco�lica alguma vez na vida. Cerca de 46 milh�es (30,1%) informaram ter consumido pelo menos uma dose nos 30 dias anteriores. E aproximadamente 2,3 milh�es de pessoas (1,5% desse grupo et�rio) apresentaram crit�rios para a depend�ncia de �lcool nos 12 meses que antecederam a pesquisa.

A percep��o do brasileiro quanto �s drogas atrela mais risco ao uso do crack do que ao �lcool: 44,5% acham que o primeiro � a droga associada ao maior n�mero de mortes no pa�s, enquanto apenas 26,7% colocariam o �lcool no topo do ranking. “Mas os principais estudos sobre o tema, como a pesquisa de cargas de doen�as da OMS, n�o deixam d�vidas: o �lcool � a subst�ncia mais associada, direta ou indiretamente, a danos � sa�de que levam � morte”, afirma Bastos, coordenador da pesquisa, que teve a parceria de v�rias outras institui��es, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), o Instituto Nacional de C�ncer (Inca) e a Universidade de Princeton, nos Estados Unidos.

(foto: Soraia Piva)
(foto: Soraia Piva)

USO DE �LCOOL NA VIDA ENTRE MORADORES DE BH (POR REGI�O)

Ver galeria . 9 Fotos Uso de álcool na vida entre moradores de BH (por região)Arte: Soraia Piva
Uso de �lcool na vida entre moradores de BH (por regi�o) (foto: Arte: Soraia Piva )


Facilidades

 

Global, social, barato e n�o sofre san��es restritivas, salvo em comportamentos espec�ficos, como beber e dirigir. Essas caracter�sticas fazem do �lcool uma droga de f�cil acesso, que durante muitos anos dividiu essa atribui��o com tabaco, malvisto especialmente pelas gera��es atuais. J� o �lcool, que ainda n�o se tornou alvo de campanhas que for�am novos h�bitos, como ocorreu com o cigarro, se mant�m em alta. “Se somados mortalidade e dados de comorbidade (problemas decorrentes da doen�a), o alcoolismo ganha disparado no mundo inteiro e por uma raz�o simples. Todas as outras drogas t�m caracter�sticas de consumo espec�ficas. J� o �lcool, com exce��o de alguns pa�ses isl�micos, � a �nica subst�ncia que pode ser encontrada globalmente. N�o depende de mercados locais, como a hero�na. Produto b�sico e muito barato”, diz In�cio.

A depend�ncia do �lcool � t�o forte que � considerada por especialistas, dependentes e ex-dependentes a droga mais dif�cil de deixar. A tal ponto de se tornar uma doen�a caracterizada por consumo cada vez mais intenso, com consequ�ncias nefastas. A pessoa fica com fissura, necessidade mesmo do uso e, para isso, come�a a agir para ter esse prazer de forma cont�nua, abrindo m�o de outras situa��es da vida para restringi-la � bebida. Acompanhado da depend�ncia, vem o isolamento e problemas no trabalho. E, ao longo do tempo, problemas de sa�de devido � intoxica��o pelo �lcool, al�m daqueles sociais e financeiros. “N�o h� um padr�o ou marco para definir um alco�latra, porque, dependendo do tamanho e da resist�ncia, a pessoa pode conseguir consumir mais ou menos �lcool. N�o � a quantidade, mas a repercuss�o a que isso leva”, explica o psiquiatra titular da Associa��o Mineira de Psiquiatria (AMP), Guilherme Rolim Freire Figueiredo.

Quando a bebida vira pris�o

Consumo frequente e excessivo indica escalada da depend�ncia. Depois, s� h� uma sa�da, refor�a especialista: abolir a droga para sempre, o que exige consci�ncia e determina��o

Enquanto o crack choca por escancarar o uso da droga ao ar livre, � luz do dia, por multid�es aglomeradas em torno do cachimbo, o �lcool dissemina seus tent�culos dissimulado de liberdade. � f�cil encontr�-lo e ningu�m � julgado por compr�-lo. Abarca uma parcela muito maior da popula��o e se torna uma subst�ncia potencialmente nociva em cada lar. Pesquisa Conhecer e cuidar, feita pelo Centro Regional de Refer�ncia (CRR) em Drogas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em conjunto com a Prefeitura de Belo Horizonte, revela a din�mica do abuso do �lcool na capital mineira. Enquanto 2,4% da popula��o (60 mil habitantes) era dependente de alguma droga il�cita, em rela��o ao �lcool o percentual alcan�ou 4% (100 mil).

Todo s�bado, todo domingo. O consumo de �lcool de forma excessiva e frequente pode configurar uma fase perigosa de escalada para a depend�ncia. � nesse abuso a maior chance de se tornar alco�latra,  esclarece o psiquiatra titular da Associa��o Mineira de Psiquiatria (AMP) Guilherme Rolim Freire Figueiredo, que tamb�m � s�cio da Cl�nica Mangabeiras e coordenador do Servi�o de Eletroconvulsoterapia (ECT) do Instituto Raul Soares, da Funda��o Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig). “Na fase de depend�ncia, o consumo � t�o frequente que o organismo perde resist�ncia. O alco�latra mais avan�ado bebe pouco. Fisicamente � que ele come�a a ficar mal”, diz.

Na Luz Divina, tratamento de recuperação dura 90 dias, usados para desintoxição, fortalecimento psicológico e reinserção social
Na Luz Divina, tratamento de recupera��o dura 90 dias, usados para desintoxi��o, fortalecimento psicol�gico e reinser��o social
N�o tem receita pronta. Entre o abuso e a depend�ncia alco�lica pode passar muito tempo. Mas, � fato: depois de ficar preso �s amarras da bebida, o dependente nunca mais conseguir� beber socialmente. “Funciona tanto para bebida quanto para droga. Vira oito ou 80. A pessoa tem que abolir a bebida. N�o consegue mais consumir de forma moderada. Ter� de enfrentar o fato de que deve abandonar o prazer tido com a bebida, o mais dif�cil de aceitar. N�o vai ficar no pouquinho.”

O m�dico lembra que 50% dos alco�latras t�m alguma patologia associada, como transtorno bipolar, ansiedade ou depress�o e esquizofrenia – o alcoolismo nasce a partir delas ou o contr�rio. “Se tratar a doen�a de base, �s vezes a pessoa consegue abandonar o v�cio. Quando � s� alcoolismo, � mais dif�cil de tratar”, diz. Ele acrescenta que � grande o risco de o dependente entrar em depress�o, por achar que n�o vai conseguir parar, chegando, muitas vezes, ao suic�dio. 

O processo n�o � f�cil e � perp�tuo. A maioria dos alco�latras chega ao consult�rio em estado cr�tico e s�o raros os que percebem sua perda de controle. A maioria chega ao fundo do po�o e a �nica sa�da � tentar se reerguer do zero. Fam�lias perdem esperan�as e as for�as em interna��es e tratamentos sucessivos. Guilherme destaca que reca�da � regra, e n�o exce��o. “O paciente n�o se interna uma vez e sai curado. Normalmente, s�o v�rias interna��es antes de conseguir parar, mediante muita insist�ncia”, afirma. Assim como n�o � t�o simples o processo de ficar sem o consumo da bebida. A abstin�ncia imediata costuma durar de uma semana a 15 dias, o que, em ambiente hospitalar, com medica��o, pode ser mais favor�vel. Mesmo assim, duas palavras s�o chave: consci�ncia e determina��o. “A pessoa tem que realmente querer parar, sen�o fica muito dif�cil tratar. Esse convencimento faz parte do tratamento. Do contr�rio, n�o ter� energia nem disposi��o para se abster.”

“A pessoa por muito tempo bebe socialmente e, por isso, acha que est� no controle. O v�cio � quando voc� perde sua liberdade para a depend�ncia. N�o h� mais esse dom�nio. N�o d� para parar na hora que quiser. � uma ilus�o. O doente n�o quer enxergar o �bvio. Pessoas s� tomam uma consci�ncia maior quando algo mais grave ocorre.”

Caso do funcion�rio p�blico Carlos*, de 39. “Comecei a beber aos 24 anos. Tomava vinho e fui aumentando as doses. Eu me dei conta de que sou alco�latra no dia em que tomei meio litro de veneno”, relata. Ele tentou o suic�dio quatro vezes e teve quatro convuls�es. Da �ltima vez, passou o dia bebendo e ingeriu a subst�ncia venenosa ao chegar em casa. Foi direto para o hospital e, de l�, para a interna��o em comunidade terap�utica. “Nunca faltei um dia de servi�o, acordava �s 6h e �s 7h estava l�. Mas todo dia tomava uma pinga antes de ir ao trabalho”, conta. Numa das crises de convuls�o, estava em cima da moto. O alerta m�dico para o risco de morte o fez repensar. Carlos ter� alta no dia do anivers�rio de 15 anos da filha, para quem prepara uma surpresa ao som de seu trompete. “� outra vida. Posso rir s�brio. Dizem que � dif�cil manter, mas terei de manipular a mim mesmo.”

Restri��o

O coordenador da pesquisa e do N�cleo de Vulnerabilidade � Sa�de da Faculdade de Medicina, Frederico Garcia, ressalta que as drogas il�citas causam mais depend�ncia se avaliadas as propor��es, mas em n�meros absolutos o �lcool dispara. “O �lcool tem v�rios mitos e um deles � o de que se aprender a beber em casa a pessoa n�o se tornar� dependente. Mas 85% dos alco�latras come�aram a beber em casa. Recomenda-se que se postergue o m�ximo poss�vel esse contato. A exposi��o precoce faz marca nos circuitos cerebrais, e quanto mais tarde menor o risco de se tornar dependente”, explica.

Para o m�dico, a restri��o deveria estar na pauta do dia. “Pesquisa mostra que uma dose pequena de �lcool pode reduzir o risco de infarto, mas aumenta a chance de c�ncer de intestino, de mama, de boca, o risco de doen�as hep�ticas, de dem�ncia, de depress�o, de suic�dio. A ind�stria pressiona para acharmos que � benef�cio, mas um fator apenas n�o vale o efeito negativo de v�rios outros.”

Depoimentos

(foto: Foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
(foto: Foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
“Vim para a Luz Divina no dia 11 de junho. Quando pus o p� no port�o, vi que tinha chegado ao encontro da paz. Entrei para o grupo do A.A. e sou sempre convidado a participar das reuni�es deles. Deus me deu a chaNce de voltar a ser o Joaquim que eu era. Posso ser pai de novo. Um homem renovado, com bastante sabedoria para entender que o �lcool � uma ilus�o. Tenho uma oportunidade e uma folha em branco para escrever uma nova hist�ria.”


Joaquim*, de 53 anos, caminhoneiro

“Na minha primeira sa�da da comunidade, ao chegar ao meu rancho dei de cara com um litro de pinga em cima da mesa. Eu me lembrei do que aprendemos nas terapias e pensei: 'O inimigo � sujo mesmo'. Dei as costas e sa�. Tenho que ter sa�de para cuidar da fam�lia. Hoje, o que fa�o, fa�o s�brio. N�o tinha paci�ncia nem com meus dois netos, que s�o meu bem mais precioso.”

Carlos*, de 39 anos, funcion�rio p�blico

*Nomes fict�cios

Parada para conquistar a liberdade

Uma gesta��o para o renascimento. Sob essa filosofia, mais de 4 mil homens passaram por uma comunidade terap�utica em Concei��o do Par�, cidade do Centro-Oeste mineiro, para recuperar dignidade, ter um recome�o e reconstruir suas hist�rias. Na Luz Divina, grupo fundado e administrado por ex-dependentes de �lcool e outras drogas, a interna��o � de nove meses, com a ideia de que � preciso deixar para tr�s o que passou e nascer de novo para garantir outro futuro. S�o tr�s meses de desintoxica��o f�sica, tr�s para o fortalecimento psicol�gico e outros tr�s para a reinser��o social.

Atualmente, a fazenda conta com 95 homens, de 17 a 64 anos, de diversas regi�es de Minas e de todas as classes sociais, de desempregados a professor, estudante de direito e at� aquele empres�rio que perdeu todo o recurso financeiro para a droga. A maioria est� internada por causa da depend�ncia de crack, mas s�o os alco�latras a dar mais trabalho. “Eles t�m convuls�o, abstin�ncia fort�ssima, alucina��es e muitos sofrem consequ�ncias f�sicas. Tem gente que ficou sem andar devido a complica��es pelo uso de �lcool. A maioria dos alco�latras usa rem�dio para evitar isso, mas, a�, v�m outras consequ�ncias, como hipertens�o e diabetes”, explica o presidente da Luz Divina, Lu�s Carlos Ramos, ex-dependente de crack e �lcool.

Doze pessoas, entre ex-dependentes, pais de dependentes ou algu�m sensibilizado pela causa, fazem parte da diretoria. Na comunidade, o port�o nunca � trancado, mas se sair, n�o volta mais. Retorno s� em caso de fim de tratamento e eventual reca�da. Cada pessoa em tratamento tem sua atividade e tudo � feito por todos – limpeza, jardinagem, comida, al�m de se encarregar da padaria, da biblioteca e da barbearia instaladas no local. Visita de familiares ocorre uma vez por m�s. Parentes podem ligar para ter not�cias, mas n�o falam com os internos. A comunica��o � exclusivamente por meio de cartas. Animais – c�es, patos, galinhas, gansos – ajudam a amansar os cora��es mais duros.

O m�ximo que se pode aproveitar da terra se aproveita. Nela, se planta mandioca, feij�o, banana e hortali�as. Doa��es s�o sempre bem-vindas, desde que os produtos sejam de qualidade. “Aqui n�o recebo alimentos em m�s condi��es”, avisa Lu�s. A escola montada no terreno recebe quem n�o aprendeu a ler nem a escrever. Reuni�es de alco�licos e de narc�ticos an�nimos, missas e cultos arrebanham gente de todas as cren�as e religi�es. “Sou de fam�lia boa, tinha um bom emprego, estudei. Entrei na droga por curiosidade e andei at� descal�o na rua quando fui ao fundo do po�o. Isso aqui para mim � um prop�sito.”

Respeito � palavra de ordem. Assim como o amor. “Estamos aqui para acolher e dar amor. Com isso, mudamos a hist�ria das pessoas. Que adianta trazer para c� essas pessoas que j� foram exclu�das, humilhadas, se n�o for para dar amor?”

O tratamento para essa doen�a cr�nica chamada alcoolismo n�o se conclui da noite para o dia. O psiquiatra Guilherme Rolim Freire Figueiredo explica que, na maioria das vezes, interna��o � a indica��o para o dependente mais grave conseguir superar a abstin�ncia sem riscos associados, como convuls�es, em ambiente hospitalar ou em comunidades terap�uticas, no caso de isolamentos mais prolongados. No segundo momento, o tratamento indicado � terapia ambulatorial e medicamento de forma continuada, consultas com psic�logo, psiquiatra e tamb�m grupos de ajuda m�tua, como o Alco�licos An�nimos. “Tem que insistir at� conseguir. � um tratamento dif�cil, que exige muito esfor�o da fam�lia, mas � poss�vel se libertar da bebida.”

As repercuss�es podem levar ao fundo do po�o, como ocorreu com o caminhoneiro Joaquim, de 53. Ele conta que come�ou a beber aos 8 anos escondido do pai, mas sempre seguindo seu exemplo, pois achava “bonito”. “Anos se passaram, mas dava conta de segurar minhas responsabilidades com a fam�lia e o caminh�o”, diz. De uns anos para c�, come�ou a n�o segurar mais a onda. A morte da m�e, h� tr�s anos, foi o pontap� para dias ainda mais tenebrosos. “Eu me tornei morador de rua depois de vender tudo o que tinha a pre�o irris�rio para poder beber. Cheguei ao ponto de implorar a pessoas R$ 1 para comprar bebida”, relata.

Ele conseguiu esconder a situa��o dos quatro filhos, at� o dia em que abordou uma fam�lia numa pra�a da Regi�o da Pampulha, em Belo Horizonte, por estar com muita vontade de comer um alimento salgado. Ele n�o reconheceu o rapaz, um amigo que n�o via havia 30 anos. “N�o tinha mem�ria para nada. N�o me lembrava do que ocorria duas horas atr�s”, afirma. “Ele me pagou um macarr�o e me levou para o barraco onde eu ficava. Num domingo, meu filho me chamou, me mostrou fotos da Luz Divina (comunidade terap�utica em Concei��o do Par�, na Regi�o Centro-Oeste de Minas) e disse que eu ia me recuperar e ser um homem novo.”


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