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Estado de Minas PATRIM�NIO

Arqueologia urbana: resgatada em por�o, obra de arte deve voltar � vitrine em BH

Pain�is que durante d�cadas ornamentaram a rodovi�ria de BH encontrados em estado de abandono s�o restaurados para retornar ao local de origem


postado em 18/11/2019 04:00 / atualizado em 18/11/2019 09:00



O artista pl�stico Heleno Nunes lembra bem do tempo em que trabalhou no terminal rodovi�rio de Belo Horizonte. Sobre andaimes, alheio ao burburinho das partidas e chegadas, ele pintou os pain�is Her�is brasileiros, de 7m x 1,50m, e O lado alegre da vida, dividido em quatro partes, cada uma com 3,80m x 1,50m. “Fiquei l� durante dois meses. Muitas vezes, a inspira��o vinha das ruas, do Centro da cidade. Quando descia da estrutura montada no sagu�o, a cerca de 3 metros do piso, os passageiros conversavam comigo, queriam saber do que se tratava, enfim, batiam papo. Muitos se identificavam com os personagens retratados”, conta o hoje residente na terra natal, Lagoa da Prata, na Regi�o Centro-Oeste de Minas.

Bethania Veloso, diretora do Cecor, avalia as telas com o arquiteto Ronaldo Goodson, do DEER: com recuperação viabilizada, mais provável é que painéis voltem ao local de origem(foto: JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS )
Bethania Veloso, diretora do Cecor, avalia as telas com o arquiteto Ronaldo Goodson, do DEER: com recupera��o viabilizada, mais prov�vel � que pain�is voltem ao local de origem (foto: JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS )


Passados 35 anos, e com v�rias camadas de acontecimentos nessa hist�ria – condi��es inadequadas, situa��o de abandono, deteriora��o, enfim, telas gigantescas relegadas a segundo plano –, o acervo pede restaura��o urgente, enquanto a dire��o do Departamento Estadual de Edifica��es e Estradas de Rodagem (DEER-MG), respons�vel pelas obras, aguarda a conclus�o de or�amento para busca de recursos via lei de incentivo � cultura.

No laborat�rio do Centro de Conserva��o e Restaura��o de Bens Culturais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (Cecor/EBA/UFMG), a diretora, Bethania Veloso, mostra a situa��o das telas que apresentam rasgos, sujeira e marcas causadas principalmente por insetos, suporte quebrado e outros problemas. O objetivo � fazer diagn�stico e or�amento para recupera��o da obra. “Trata-se de uma obra de qualidade, que fala essencialmente dos mineiros”, disse a diretora do Cecor, de posse de um equipamento capaz de verificar se as telas sofreram interven��o anterior de restauro e se h� presen�a de verniz ou outros materiais agregados diferentes do original.

Acompanhando a avalia��o, o gerente de Projetos da �rea de Sa�de do DEER-MG, arquiteto Ronaldo Goodson, conhecido como Dinho, explica que o diretor do �rg�o estadual, Fabr�cio Torres Sampaio, � grande admirador de obras de arte e quer ver os pain�is restaurados. “As telas estavam havia dois anos em um galp�o na Avenida dos Andradas, no Centro de BH. Em 2017, recebemos um laudo da Secretaria Municipal de Cultura relatando a degrada��o dos quadros. Depois de restaurados, o mais certo � que retornem � rodovi�ria”, diz o arquiteto. O documento, acrescenta, foi elaborado a pedido do DEER como forma de seguran�a para o acervo e registro de recebimento.

Para entender melhor a hist�ria, vale ressaltar que o pr�dio do Terminal Rodovi�rio Governador Israel Pinheiro (Tergip), inaugurado em 1971, pertence ao DEER-MG, sendo administrado por meio de conv�nio, desde 1º de mar�o de 2016, pela Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge). No per�odo anterior, a partir de julho de 2003, a gest�o estava a cargo da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). “O mais importante agora � que sejam restaurados”, afirma Ronaldo, um entusiasta da conserva��o do bem p�blico.

O artista plástico Heleno Nunes em andaimes no terminal rodoviário: inspiração vinda das ruas(foto: Acervo Em %u2013 1984)
O artista pl�stico Heleno Nunes em andaimes no terminal rodovi�rio: inspira��o vinda das ruas (foto: Acervo Em %u2013 1984)


Brava gente

No laborat�rio do Cecor, no c�mpus da UFMG na Pampulha, os olhos curiosos dos rep�rteres buscam a riqueza de detalhes nos pain�is que Heleno Nunes, hoje com 67 anos, pintou em 1984. Em Her�is brasileiros, est� a figura de Joaquim Jos� da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), seguindo-se bombeiros, pedreiros e gente com enxada trabalhando a terra. H� ainda santos, uma f�brica e tipos de alimenta��o. J� no painel O lado alegre da vida est�o as crian�as, o poeta e escritor de Itabira Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) com um livro �s m�os, como se contasse hist�ria � garotada, um menino jogando bolinha de gude. “� uma obra moderna, contempor�nea”, resume Bethania.

Os danos vis�veis nos pain�is n�o tiram o impacto causado pela profus�o de cores, imagens e formas. “Trabalhava ali mesmo, ent�o, a inspira��o vinha da cidade. Uma vez, passando pela Avenida Afonso Pena, quando ia para a rodovi�ria, ouvi algu�m cantando um trecho de m�sica '...Que saudade da professorinha (…) no meu pequenino Mira� (… eu era feliz e n�o sabia)”, recorda-se Heleno Nunes, numa refer�ncia a Meus tempos de crian�a, do compositor mineiro Ataulfo Alves (1909-1969). “Sempre desenhei muito r�pido. Naquele dia, risquei um dos pain�is em 40 minutos”, conta o artista, que trabalhou no Estado de Minas como ilustrador e cita de forma muito carinhosa o suplemento infantil Guril�ndia. j� extinto.

Ao saber da inten��o de restaurar os pain�is, o artista pl�stico afirma, com espontaneidade: “Seria legal pra caramba! Deu saudade daquele tempos e das obras”. Ele lembra que, h� muitos anos, esteve na rodovi�ria, notando uma das telas rasgada. “Mas, a partir do momento em que criamos uma obra, ela n�o nos pertence mais, pertence �s pessoas”, afirma Heleno Nunes, certo de que ficar� muito feliz em visitar o laborat�rio da EBA/UFMG, caso o or�amento seja aprovado pelo DEER. Com mais de 40 anos de experi�ncia, o Cecor tem reconhecimento internacional e foi o respons�vel pelo recente restauro dos 14 quadros da via-sacra de C�ndido Portinari (1902-1987), destaque na Igreja S�o Francisco de Assis, na Pampulha, templo que pertence � Arquidiocese de BH.

Laudos

Documentos arquivados no DEER contam um pouco da hist�ria dos pain�is. Em 5 de setembro de 2017, quando as obras chegaram ao departamento estadual, especialistas da Superintend�ncia de Museus e Artes Visuais da Secretaria de Estado de Cultura fizeram um relat�rio. Conforme a equipe, “n�o foram encontrados registros de quando foram removidos do sagu�o e ficaram guardados nas depend�ncias da rodovi�ria”. Relat�rio datado de 11 de setembro, considerava “p�ssimo” o estado de conserva��o geral, havendo “grandes rasgos, grandes �reas com perdas de suporte, abras�es, �reas de craquel� e perdas da camada pict�rica, sujidades generalizadas, manchas de umidade, rachaduras nos chassis”. E mais: “Um dos pain�is est� sem o chassi”.

O documento indicava um caminho, devido � import�ncia do acervo: “Assim que poss�vel, as obras devem ser acondicionadas em local adequado para sua preserva��o, em ambiente sem entrada de luz solar direta, e arejado. As obras devem ser apoiadas sobre espumas e n�o diretamente sobre o ch�o. Reiteramos a necessidade de pesquisas mais aprofundadas sobre o hist�rico das obras. Al�m disso, os pain�is devem ser restaurados a fim de evitar novos danos e a intensifica��o das deteriora��es j� existentes”.

Gerente do terminal rodovi�rio entre julho de 2003 e julho de 2015, quando a prefeitura era gestora, o administrador Ricardo Coutinho, hoje na Secretaria Municipal de Pol�ticas Urbanas, conta que, durante o per�odo, os pain�is estavam no hall. “Os pain�is mudaram de lugar algumas vezes; numa �poca, ficaram numa parte mais baixa”. O sucessor, Ricardo Boardman, que ficou no cargo por oito meses, j� n�o encontrou as obras nas paredes ao assumir, embora se recorde de que, ao deixar o local, tomou conhecimento de que acervo estava em um dep�sito do terminal.

Heleno Nunes conta que, por quatro vezes, em per�odo diferentes, foi convidado a visitar o terminal para avaliar a possibilidade de restaura��o dos pain�is, o que acabou n�o acontecendo. Segundo o arquiteto Dinho Goodson, as obras do artista foram encontradas, h� dois anos, em condi��es inadequadas de acondicionamento.


RETRATOS DA VIDA


» Obras
Pain�is Her�is brasileiros, de 7m x 1,50m, e O lado alegre da vida (foto), dividido em quatro partes, cada uma com 3,80m x 1,50m

» Autoria
Artista pl�stico Heleno Nunes, de 67 anos, morador de Lagoa da Prata, na Regi�o Centro-Oeste de Minas

» Ano de cria��o 
1984

» Local de origem
Terminal rodovi�rio de Belo Horizonte, no Centro da capital. Os pain�is foram pintados no local, durante dois meses

» Propriedade
Departamento Estadual de Edifica��es e Estradas de Rodagem (DEER-MG), que busca recursos para a restaura��o

» Danos
As obras est�o com partes rasgadas, perdas de suporte, sujeira causada por insetos e outros


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