O sil�ncio de 34 anos foi quebrado, o objeto de f� j� est� no altar, mas o mist�rio sobre o furto n�o tem fim. Moradores de Aiuruoca, na Regi�o Sul de Minas, a 370 quil�metros de Belo Horizonte, ainda festejam a volta da imagem de Santana Mestra, do fim do s�culo 17, levada, em abril de 1985, da Capela Senhora Santana da Guapiara, no bairro rural de Guapiara, a 15 quil�metros da sede municipal.

 

Mas devido ao “sigilo de confiss�o”, um sacramento da Igreja Cat�lica, o titular da Par�quia Nossa Senhora da Concei��o, padre Marco Ant�nio Iabrudi Filho, n�o pode dar muitos detalhes sobre a devolu��o espont�nea da imagem, com 80 cent�metros de altura, de madeira, totalmente restaurada com recursos da Par�quia Nossa Senhora da Concei��o, vinculada � Diocese de Campanha.

 

Por quest�o de seguran�a, a pe�a foi entronizada na Matriz Nossa Senhora da Concei��o, no Centro de Aiuruoca. Na capela primitiva, h� uma de gesso. O p�roco diz que a pe�a sacra foi entregue por uma pessoa de identidade n�o revelada, embora tenha passado de m�o em m�o durante mais de tr�s d�cadas. “Pelo que sabemos, foram muitas pessoas”, observa.

 

Enquanto isso, no munic�pio vizinho de Serranos, os moradores n�o perdem a esperan�a de ter de volta a imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso, furtada h� 25 anos, em 14 de julho de 1994. “Estamos sempre esperando pela pe�a sacra portuguesa, de 1,20 metro de altura, do s�culo 18, esculpida em cedro e toda filetada a ouro. Todo 8 de setembro, dia da padroeira, h� festa na cidade e pedimos pelo retorno e por provid�ncias”, afirma a professora aposentada de Serranos Maria do Carmo Vilela Bastos,  residente em Belo Horizonte. No altar, est� hoje uma r�plica da imagem feita em S�o Jo�o del-Rei, na Regi�o do Campo das Vertentes.

Levantamento do Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG) mostra que 734 pe�as sacras desaparecidos ao longo de d�cadas s�o procuradas pelas autoridades mineiras. Como resultado das a��es desenvolvidas em conjunto por diversas institui��es, 269 pe�as j� foram devolvidas (o n�mero n�o inclui a de Aiuruoca) � sociedade, com retorno a igrejas, capelas e museus, e 250 objetos de devo��o, principalmente imagens de santos, est�o sub judice, portanto aguardando decis�o judicial quanto a seus destinos.

O sumi�o da Santana Mestra de Aiuruoca ainda se encontra nebuloso, mas tem como base uma lenda, conta o p�roco depois de quatro anos ocupando o cargo na cidade. “Diziam que a imagem estava recheada de ouro, como naquelas hist�rias de santo do pau oco, o que n�o era verdade.” Na mesma �poca, foi furtada a imagem de S�o Joaquim, cujos dedos de madeira foram cortados. “Falavam que o santo tinha uma bengala de ouro”, acrescenta, explicando que o bem, depois de desaparecido durante muito tempo, possivelmente “escondido” em alguma resid�ncia para prote��o, foi restaurado e levado para a matriz. S�o Joaquim era casado com Santana (Santa Ana), pais da Virgem Maria e av�s de Jesus. Na imagem de Santana Mestra, ela ensina as primeiras letras � filha.

Na �poca do desaparecimento das imagens da capela em Guapiara n�o foi lavrado o boletim de ocorr�ncia policial, e havia poucas fotos da imagem de Santana Mestra. Passados 35 anos, alguns moradores se lembravam da hist�ria e da pe�a, o que facilitou a identifica��o, informa o padre Marco Ant�nio. Nos �ltimos anos, o caso do furto veio � tona, mobilizando a comunidade at� que uma pessoa, “que n�o mora no munic�pio, mas em Minas”, decidiu entreg�-la.

 

Satisfeito com o desfecho do caso, o histori�grafo Gilberto Furriel conta que participou dos festejos da volta da imagem de Santana, protetora dos av�s, incluindo peregrina��o. “Tinha 6 anos quando ela foi furtada, minha fam�lia morava no bairro. Os mais velhos se recordam de tudo e reconheceram a pe�a como sendo a original.” Ele explica que a Par�quia Nossa Senhora da Concei��o nasceu em 1717 (a constru��o do templo primitivo � do fim do s�culo 17), sendo a “primaz”, ou mais antiga da diocese de Campanha. J� a Capela de Santana da Guapiara foi edificada em 1730 pela fam�lia Rego Barros, origin�ria de Pernambuco.

 

Estudioso da regi�o, Furriel explica que a palavra Guapiara vem do tupi-guarani e significa “ouro na serra” ou ainda “caminho para a enseada”, por meio da jun��o dos termos k�� (enseada) e piara (caminho para). Fundada no in�cio do s�culo 18, � o mais antigo bairro de Aiuruoca, “para onde aflu�ram os primeiros garimpeiros, principais povoadores daquela regi�o, fulgurando como o mais importante n�cleo hist�rico do munic�pio”. A imagem foi devolvida em 25 de julho, v�spera do Dia de Santana, e houve festa na cidade. “O povo ficou feliz demais”, lembra o padre Marco Ant�nio. Santana tem uma legi�o de devotos no estado, desde os tempos do auge da minera��o de ouro.

 

No dia do furto da imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso, em 14 de julho de 1994, em Serranos, no Sul de Minas, foi visto um ve�culo Gol, preto, com placa de S�o Paulo (SP), no qual estava um casal de forasteiros. Conforme depoimentos � pol�cia, os dois conversaram com o sacrist�o da Igreja Matriz, procurando sutilmente dados da igreja e suas pe�as. Um rapaz at� forneceu detalhes. “No dia seguinte, o trono de nossa padroeira estava vazio e a porta da igreja, arrombada”, disse, em entrevista ao Estado de Minas, a professora aposentada Maria do Carmo Vilela Bastos, que guarda um verdadeiro dossi� sobre o desaparecimento da escultura, incluindo reportagens de jornais, fotos e outros documentos de �poca.

Canais para quem tiver informa��es sobre pe�as desaparecidas e quiser fazer den�ncias:

E-mail: [email protected] e telefone (31) 3250-4620. Pode-se tamb�m enviar correspond�ncia para Rua Timbiras, 2.941, Bairro Barro Preto, Belo Horizonte – CEP 30.140-062. Tamb�m est� dispon�vel o blog patrimoniocultural.blog.br.mpmg

Para obter ou dar informa��es, basta acessar o site www.iphan.gov.br e verificar o banco de dados de pe�as desaparecidas. Den�ncias an�nimas podem ser feitas pelos telefones (61) 2024-6342/2024-6355/2024-6370, do Departamento de Patrim�nio Material e Fiscaliza��o (Depam), e pelo e-mail [email protected]

Pelo site www.iepha.mg.gov.br ou pelo telefone (31) 3235-2812 ou 2813