
Um conjunto de 60 pe�as arqueol�gicas que remontam � batalha travada em 20 de agosto de 1842 em Santa Luzia, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, foi apreendido, ontem, na Opera��o Luzias, deflagrada pelo Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG) e a Pol�cia Militar de Meio Ambiente. O material encontrado no Bairro Camargos, na Regi�o Noroeste da capital, inclui moedas do per�odo imperial, bot�es, fragmentos de armas de fogo, quatro proj�teis de artilharia, cravos, fivelas, espelhos de fechaduras e alguns artefatos de uso ainda desconhecido. De acordo com o MPMG, tr�s pessoas s�o investigadas por crimes contra o patrim�nio cultural, mas os nomes s�o mantidos em sigilo.
Conforme a 6ª Promotoria de Justi�a de Santa Luzia, as investiga��es tiveram in�cio ap�s instaura��o de um procedimento criminal em setembro e, em nota, a institui��o informa que “o MPMG recebeu den�ncias sobre a ocorr�ncia de saques, flagrados por detectores de metais, no local da Batalha de Santa Luzia, a �ltima da Revolu��o Liberal de 1842”. A ordem judicial para apreens�o das pe�as foi expedida pelo Poder Judici�rio do munic�pio e o material apreendido ser� periciado por especialistas em hist�ria e arqueologia. Ainda de acordo com o Minist�rio P�blico, “as pe�as podem contribuir para esclarecer detalhes batalha”.
MEM�RIA O presidente da Associa��o Cultural Comunit�ria de Santa Luzia, Adalberto Mateus, considera a recupera��o do material muito importante. “Em um contexto de perda de parte da mem�ria nacional, a apreens�o dos artefatos relacionados � Batalha de Santa Luzia pode refor�ar duas a��es na comunidade luziense: a reabertura do Museu Hist�rico Aur�lio Dolabella – Casa da Cultura, que re�ne o acervo relacionado ao epis�dio, e a necessidade de realiza��o de pesquisas arqueol�gicas na �rea em que ocorreram os embates. Ainda n�o conhecemos boa parte dessa hist�ria porque ainda n�o tivemos um compromisso s�rio com os vest�gios de uma guerra que aconteceu em Minas no s�culo 19”.
Para entender melhor a relev�ncia da apreens�o das pe�as, � preciso compreender a import�ncia da Batalha de Santa Luzia. De um lado, estavam as tropas imperiais comandadas pelo ent�o bar�o Luis Alves de Lima e Silva (1803-1880), de 39 anos, futuro Duque de Caxias. Do outro, as for�as chefiadas pelo mineiro Te�filo Otoni (1807-1869), E, no meio, a defesa dos princ�pios constitucionais e da liberdade. Em 20 de agosto, os luzienses lembraram, com a tradicional cerim�nia c�vica, os 176 anos do fim da Revolu��o Liberal de 1842, cuja �ltima batalha se deu em Santa Luzia.
Quem explica melhor o epis�dio que ainda ecoa em S�o Paulo e Minas � o desembargador e integrante do Instituto Hist�rico e Geogr�fico de Minas Gerais, Marcos Henrique Caldeira Brant, desde 2003 imerso em pesquisas sobre o tema: “Fazemos um resgate dessa p�gina da Hist�ria do Brasil, que envolveu, nos campos de batalha, 5.460 homens, sendo 2.460 do Ex�rcito e 3 mil liberais”.
A Revolu��o de 1842, diz Caldeira Brant, foi um movimento armado que ocorreu de forma simult�nea nas duas mais importantes prov�ncias do imp�rio – S�o Paulo e Minas. “Ela resultou das paix�es exaltadas e das diverg�ncias dos dois �nicos partidos pol�ticos existentes, o Conservador e o Liberal, tendo como causa maior a defesa da Constitui��o de 1824, que tinha princ�pios violados pelos dirigentes do Partido Conservador no poder administrativo do imp�rio, por meio de edi��es de leis reacion�rias”, diz o desembargador. “Na verdade, os dois partidos pol�ticos pouco diferenciavam quanto aos m�todos e processos de fazer pol�tica.”
Em Minas, “terra do culto � liberdade e com voca��o para as tradi��es”, a Revolu��o Liberal pode ser considerada como acontecimento pol�tico e hist�rico mais significativo do per�odo imperial (1822 a 1889), devido “� sua forte consist�ncia e expans�o por todo o territ�rio mineiro e caracterizado pela grande participa��o das elites dominantes polarizadas”, afirma Caldeira Brant, lamentando que o assunto ainda seja pouco explorado nos livros did�ticos.