(none) || (none)
UAI

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas SUSTENTABILIDADE

As alquimistas: mulheres transformam o bambu em joias e elas, em vida nova

Bambuzeiras encontram na produ��o de biojoias n�o s� fonte de renda, como ponto de equil�brio para superar situa��es de vulnerabilidade


postado em 21/11/2019 06:00 / atualizado em 21/11/2019 09:01

(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)


Ao calor do ma�arico, os bambus ganham forma, transformam-se em joias e mudam a vida de sete mulheres no ateli� Cerbambu em Ravena, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. As hastes ganham curvas e contornos tais quais as trajet�rias de Ana Cristina da Silva, de 39 anos; Cristiane Vir�ssimo, de 33; Ludmila de Oliveira Veiga Romualdo, de 30; Ros�ngela Val�ria, de 47; S�nia Helenita da Silva Pinto, de 40; Rom�ncia M�rcia do Nascimento, de 36 anos; e Marlene Gon�alves de Oliveira, de 53.

As bambuzeiras encontram na produ��o das joias fonte de renda, ponto de equil�brio para o dia a dia e a possibilidade de superar situa��es de vulnerabilidade. “Percebi que tinham talento e toparam essa ideia de fazer mudan�a na vida. Elas est�o trocando a profiss�o de faxineiras por donas de f�brica de biojoias. D�o um banho de design e sustentabilidade quando elegem o bambu, recurso renov�vel, como mat�ria principal das biojoias”, afirma o artista L�cio Ventania.

Al�m de produzir as joias, as mulheres foram as modelos que as apresentaram em desfile na ter�a-feira, v�spera do Dia da Consci�ncia Negra, celebrado ontem. Os cabelos ganharam tran�as – preparados por profissionais da NewDread Studio Afro – e os modelitos que vestiram foram idealizados pelo estilista Luciano Castro. “Quebramos o padr�o. N�o tem que ser magra para ser modelo. Somos n�s mesmas”, conta Ana Cristina.

As m�os dessas sete mulheres criam biojoias com design �nicos e exclusivos. Transformam o material retirado de forma sustent�vel da natureza em pe�as que ornamentam pesco�os, orelhas e bra�os. As bambuzeiras de Ravena, como se autorreferenciam, nomearam as joias de bans e, pela primeira vez, fazem a exposi��o e a comercializa��o delas no espa�o Oj� do Festival de Arte Negra (FAN), instalado no Centro e Quatro, na Pra�a da Esta��o.

Arquitetura na periferia


Elas se conheceram no curso de arquitetura para periferia, quando aprenderam alvenaria e tamb�m como trabalhar com material sustent�vel para criar m�veis e outros objetos, em oficina ministrada por L�cio Ventania. Perceberam que os peda�os que sobravam poderiam virar brincos, colares e braceletes. Mesmo diante das dificuldades econ�micas, essas mulheres buscam formas de manter a autoestima em dia, por isso enxergaram em retalhos de bambu material para confeccionar enfeites para o corpo. “A gente tem altos e baixos, mas sempre gostei da andar arrumada. � o que me levanta, gosto de fazer as sobrancelhas, passar batom e esmalte”, diz Ana Cristina.

"Levo menino pra escola de manh�. Levo a filha da vizinha para a creche, para ganhar uma gorjeta. Volto para casa e mexo com as bijuterias. Quando n�o tem uma obra para terminar, procuro um bico" - Cristiane Vir�ssimo, que al�m de se dedicar � produ��o das joias de bambu, trabalha como pedreira e faz bicos para complementar a renda (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)


O curso arquitetura na periferia, idealizado por Carina Guedes, objetivava dar, �s mulheres, ferramentas de melhoria das habita��es pelas pr�prias m�os. Por�m, os materiais usados na constru��o, como cimento, tijolo, concreto e ferro, nem sempre s�o sustent�veis. Por isso, a tarefa de L�cio foi inserir o material ecol�gico. “Fizeram portas, m�veis, mas come�aram a usar os retalhos de bambu para fazerem brincos e pulseiras”, disse. Depois do curso, as mulheres foram selecionadas em edital e conseguiram R$ 5 mil para continuar se encontrando no Centro de Refer�ncia do Bambu e das Tecnologias Sociais, o CerBambu Ravena. No local, L�cio, junto �s atividades art�sticas, dedica o trabalho social � forma��o de mulheres negras. “Dou aten��o especial a elas n�o s� aqui em Minas como em todo o Brasil”, diz.

No Oj�, no Centro e Quatro, quem se aproxima do estande para ver as pe�as, al�m da plasticidade e da sofistica��o das bans, tem oportunidade de conhecer a hist�ria das sete mulheres com trajet�rias distintas, mas que t�m em comum as restri��es financeiras causadas pelo desemprego ou pelas dificuldades de inser��o no mercado de trabalho que, muitas vezes, limitaram a busca por sonhos.

Sonhos 


No horizonte de Ana Cristina est� a possibilidade de dar estudos e, consequentemente, uma vida melhor para os tr�s filhos, mas n�o tem sido f�cil. “Criar tr�s filhos sozinha, sem ajuda dos pais, � complicado. Mas temos que correr atr�s dos sonhos”, afirma Ana, que trabalhou como dom�stica, mas, na atualidade, quando perguntada sobre sua profiss�o, diz com orgulho: “Bambuzeira”. Criar joias a valoriza como artista e se mostra caminho promissor para gerar renda. “� uma experi�ncia bem nova para mim, ensina os contornos que a gente d� na vida”, afirma.

"� uma experi�ncia bem nova para mim, ensina os contornos que a gente d� na vida" - Ana Cristina da Silva, que j� trabalhou como dom�stica, mas hoje diz que sua profiss�o � bambuzeira (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)


Ana � moradora da Ocupa��o Paulo Freire e fez curso de confec��o de m�veis com bambu a fim de encontrar trabalho. “S�o v�rios os contornos pelos quais passei. Tive fases bem prec�rias. J� passei fome com meus filhos. Deu uma melhoradinha e agora os caminhos est�o se abrindo”, diz a m�e de Cristiane Pierre, de 18; Wesley Pierre, de 16; e Emily Louiza, de 12. Ficou para tr�s o tempo em que, quando n�o tinha nada o que dar de comer aos filhos, precisava contar com a solidariedade dos vizinhos.

Para fazer as biojoias, as mulheres buscam inspira��o nas pr�prias trajet�rias. Cristiane conta que fez o curso de capacita��o para atuar como pedreira e orgulha-se de ter erguido o quarto de dormir, que sempre foi um sonho, com as pr�prias m�os. Apesar da qualifica��o, muitas vezes, ela enfrenta o preconceito de ser mulher e atuar numa profiss�o associada aos homens. “Tem o machismo. �s vezes, a pessoa n�o tem confian�a. Dizem que n�o � para mulher. O cara chega perto de mim e diz: 'cisma que � pedreira'”, afirma.

A produ��o das biojoias tem contribu�do para a sa�de mental de Cristiane, que j� sofreu com depress�o. Ela diz que procura ocupar a cabe�a para n�o reviver lembran�as negativas de quando foi moradora de rua. Mesmo com toda a dificuldade do dia a dia, o sonho de Cristiane n�o � algo para ela – o que mais quer � ter um espa�o em que possa ensinar para outras mulheres, principalmente m�es solteiras, a trabalhar com bijuterias.

O design das bans vem de forma intuitiva e as mulheres garantem s� ser poss�vel confeccionar as biojoias quando est�o emocionalmente bem. “O bambu sente, reflete o que a gente est� sentido. Se estamos nervosas e ansiosas, vai transparecer. Parece que o bambu pega a energia da gente”, diz Ludmila, que � moradora de Ravena. Quando est� tensa, ela n�o modela o bambu com o ma�arico, fica com a tarefa de fazer a montagem e acabamento at� se acalmar.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)