postado em 26/11/2019 06:00 / atualizado em 26/11/2019 07:33
Casario no centro hist�rico � um dos principais atrativos para quem visita a cidade
(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A PRESS
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A terra de Chica da Silva e Juscelino Kubitschek comemora este ano duas d�cadas como Patrim�nio da Humanidade, e, com programa��o especial at� dezembro, fica de olho em mais dois destaques internacionais com sabor de t�tulo e premia��o e divulgados ainda em 2019. Diamantina, candidata a integrar a Rede de Cidades Criativas da Unesco (Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura), na categoria m�sica, quer se integrar com outros munic�pios da regi�o, ao programa Sistemas Importantes do Patrim�nio Agr�cola Mundial (Sipam), concedido pela Organiza��o das Na��es Unidas para a Alimenta��o e a Agricultura (FAO). Nesse segundo aspecto, entram em cena as fam�lias apanhadoras de sempre-vivas e personagens t�picos da Serra do Espinha�o, cuja parte mineira se tornou Reserva da Biosfera. Se tudo der certo, ser� a primeira experi�ncia com tal certifica��o no pa�s.
Os dias est�o quentes, as noites trazem as mudan�as da esta��o e nada apaga o entusiasmo na cidade que conquistou o t�tulo da Unesco em 1º de dezembro de 1999, numa decis�o do conselho da Unesco reunido em Marrakech, no Marrocos. Agora, a torcida � por maior valoriza��o dos sons e das plantas – e de quem lhe d� o sopro da vida –, para maior visibilidade al�m das montanhas. “Diamantina � totalmente musical”, diz a secret�ria municipal de Cultura, Turismo e Patrim�nio, M�rcia Bet�nia Oliveira Horta, explicando que, conforme uma pesquisa recente, h� sempre uma pessoa ligada � pr�tica dos instrumentos ou ao canto em mais de 70% das fam�lias do munic�pio. Quem n�o conhece a famosa Vesperata ou quer repetir a dose, pode se programar e curtir os m�sicos tocando na sacada dos casar�es do Centro Hist�rico (ver o quadro).
A secret�ria M�rcia Bet�nia cita como um ponto importante neste ano, em parceria com a Secretaria Municipal de Educa��o, o desenvolvimento de um programa nas escolas, o De olho no patrim�nio, a fim de fortalecer as a��es de educa��o patrimonial. As atividades v�o culminar na realiza��o do F�rum de Educa��o Patrimonial. “Vamos atender, ainda, �s demandas das comunidades. Com o t�tulo, Diamantina mostrou ao mundo seu valor universal e queremos que os moradores mantenham o sentimento de pertencimento.” A conex�o passa pela arquitetura e tamb�m pela gastronomia. O tradicional bolo de arroz, por exemplo, reconhecido como bem imaterial, ganha oficinas de culin�ria para perpetuar e disseminar o modo de fazer.
Casa de Juscelino, em Diamantina, ganhou programa��o cultural mensal (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Para o prefeito Juscelino Brasiliano Roque (MDB), a celebra��o dos 20 anos do t�tulo de Patrim�nio da Humanidade merece reflex�o sobre o futuro de Diamantina e de esperan�a para a preserva��o. “Temos uma cultura diferenciada, uma hist�ria rica, recursos naturais maravilhosos, por isso temos que viver a cultura, conhecer a n�s mesmos. Sei que ainda falta muito para melhorar e estamos no caminho.”
Ele cita como obras importantes a serem concretizadas a cria��o do Museu do Tropeiro, que funcionar� debaixo do Mercado Velho, a Escola de Arte e M�sica Francisco Nunes, num pr�dio a ser restaurado com recursos do PAC Cidades Hist�ricas, Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) e prefeitura local, a Biblioteca P�blica Municipal Helena Morley e outros. “Temos um polo vin�cola, queijeiro e agora de cerveja artesanal”, orgulha-se o chefe do Executivo. De acordo com o Iphan, O PAC tem 13 a��es selecionadas no munic�pio, com previs�o total de investimentos de R$ 29,2 milh�es.
No caminho dos escravos
Andar com tempo pelo Centro de Diamantina – al�m da sede, h� 11 distritos – mais parece um mergulho na hist�ria iniciada no Arraial do Tijuco e cristalizada nas constru��es de grande beleza, com a moldura da Serra dos Cristais e das pedras capistranas. Est�o l�, para encantamento dos visitantes: a Casa da Gl�ria, com o passadi�o, a Biblioteca Antonio Torres (Casa do Muxarabi�), o Mercado, a Casa de Chica da Silva (1732-1796, escrava alforriada, mulher do contratador de diamantes, Jo�o Fernandes), as igrejas Nossa Senhora do Carmo e S�o Francisco de Assis, o Museu do Diamante, a Catedral Metropolitana e outros, como o Caminho dos Escravos, que d�o mais beleza e charme � Trilha dos Diamantes da Estrada Real.
Mas nem tudo brilha como diamante. Causa tristeza ver o abandono do antigo Grande Hotel, na Rua da Quitanda, propriedade particular que deteriora e empobrece o Centro Hist�rico. Da mesma foram, d�i o cora��o ver fechada a Casa Juscelino, na qual morou dos 3 aos 19 anos o ex-prefeito da capital (1940-1945), governador de Minas (1951-1955) e presidente do Brasil (1956-1961), Juscelino Kubitschek. Para satisfa��o, o antigo Hotel Roberto, na esquina da Rua Direita com Vieira Couto, vai ser restaurado e se tornar� uma biblioteca municipal.
O comerciante Jos� Duarte destaca impulso dado ao turismo e � economia local nas �ltimas d�cadas (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A PRESS)
Comerciante nascido e criado em Diamantina, Geraldo Jos� Duarte, de 77 anos, acredita que o t�tulo de Patrim�nio da Humanidade “acrescentou muito”, principalmente para a cultura e o turismo. “Aqui sempre foi uma cidade estudantil, com col�gios importantes. Hoje, temos 23 cursos superiores. Os turistas, mesmo antes da conquista do t�tulo, nunca deixaram de vir a Diamantina, e isso faz a roda da economia girar”, afirma.
Cart�o de visita internacional
O presidente da Associa��o Comercial de Diamantina (Acid/CDL), C�ndido Aparecido Santos, concorda com a musicalidade nativa, e planeja a cria��o de uma associa��o de m�sicos dentro da entidade que preside. “Parece que a m�sica est� no sangue do povo. A todo lugar que a gente vai, v� e ouve algu�m tocando um instrumento. Meu filho de 5 anos gosta de percuss�o e minha filha, de 3, vive cantando”, afirma C�ndido. Para ele, os reconhecimentos internacionais s�o cart�es de visita fundamentais para alavancar o turismo e outros setores da economia. “Com as vesperatas, os hot�is ficam cheios”, conta.
Entre os mais jovens, reina a confian�a e amor pela terra natal. “Temos uma cidade bem tranquila para viver e crescer culturalmente sempre”, revela Gabriel Silva Bazzoni, de 25, que trabalha na Santa Casa e � formado em t�cnico de enfermagem. J� entre os turistas, impera a descontra��o. Num brinde � alegria e � hist�ria, celebra um grupo de nordestinas, que se intitulam, no maior bom humor, “as F�timas”.
� mesa de um restaurante da Rua da Quitanda, est�o as irm�s e professoras Bernadete F�tima da Costa e Arleide F�tima da Costa, de Recife (PE), Aparecida de F�tima, professora, de Itabaiana (PB), e F�tima Carlos, engenheira, de Natal (RN). “A paisagem � linda e a conserva��o dos pr�dios est� bem melhor do que na minha cidade”, contou Bernadete, bem impressionada com o artesanato, roupas e pe�as de bijuterias � venda. Aparecida gostou dos casar�es, certa de que um patrim�nio t�o preservado representa um tesouro, enquanto F�tima se sentiu muito acolhida: “As pessoas recebem muito bem”.