
Hoje tem anivers�rio na casa da fam�lia. Uma festa promovida pelos vizinhos em comemora��o aos 6 anos das trig�meas, completados na sexta-feira. Mas esta n�o � a hist�ria de uma superm�e que enfrenta as adversidades e ainda celebra. Tatiana admite: “Estou cansada. � muito pesado. Tive at� um estafa”. A �ltima batalha, ainda sem desfecho, � para conseguir uma cirurgia ortop�dica para Vit�ria, que parou de andar por causa dos p�s tortos. Desde que a menina deixou de caminhar, h� um ano, Tatiana carrega a filha – que pesa 30 quilos – no colo para baixo e para cima. A resid�ncia tem dois pavimentos e a rua onde moram � �ngreme e cal�ada, o que tamb�m dificulta a mobilidade com cadeira de rodas, usada por duas das trig�meas.
Em agosto, Vit�ria, que tem paralisia cerebral e somente 20% de vis�o, estava dentro do Hospital da Baleia, em BH, para fazer a cirurgia de corre��o dos p�s, que seria bancada por uma institui��o filantr�pica, quando a fam�lia foi informada que a opera��o n�o poderia ser realizada. Por causa do quadro delicado de sa�de dela, o risco cir�rgico indicou a necessidade de que o p�s-operat�rio fosse no Centro de Terapia Intensiva (CTI), extrapolando os gastos previstos para o procedimento pela Associa��o Mineira de Reabilita��o (AMR), onde a crian�a e a irm� Ana fazem acompanhamento.
O gerente cl�nico da AMR, o ortopedista pedi�trico Leonardo Cury, explica que todas as cirurgias para as crian�as atendidas pela institui��o s�o pagas com doa��es e que os recursos n�o s�o suficientes para arcar com o CTI. “Continuamos a oferecer todo o tratamento cl�nico, mas, nesse caso, � necess�rio o apoio do Sistema �nico de Sa�de (SUS)”, afirma. Do mesmo jeito que chegaram ao hospital, m�e e filha voltaram para a casa, com laudo indicando a necessidade de a paciente ser encaminhada para o SUS.
“(A paciente) vem piorando com o tempo, a ponto de n�o ser mais poss�vel a utiliza��o de �rteses e impedindo de coloc�-la de p�, prejudicando a funcionalidade e qualidade de vida”, apontou o ortopedista da AMR Lucas Henrique Ara�jo de Oliveira no documento que Tatiana tira de uma ecobag lotada de pap�is e exames das filhas. “Quero ver minha filha andando de novo. Fui com o laudo ao posto de sa�de e � Secretaria Municipal de Sa�de. Eles n�o autorizam com o papel do m�dico da AMR, porque falam que � particular”, afirma a m�e.
Dupla gravidez

A gravidez das trig�meas Ana, Rute e Vit�ria foi um susto triplo para a fam�lia. Na periferia da Grande BH, a casa ainda estava em constru��o quando Tatiana engravidou naturalmente, tomando anticoncepcional e numa gesta��o rar�ssima classificada como dupla. J� estava esperando g�meas univitelinas – de um �nico �vulo –, quando ficou gr�vida novamente. M�dicos estimaram a diferen�a de uma semana entre as duas fecunda��es.
Foi uma gravidez conturbada e as trig�meas nasceram prematuras de cinco meses. Depois do parto, a fam�lia enfrentou saga de nove meses com as meninas internadas. Para cuidar das crian�as, Tatiana precisou abandonar a profiss�o de empregada dom�stica. Mas faltam bra�os para ela dar conta da responsabilidade e s�o os filhos mais velhos, Pedro, de 13, e Luiz, de 9, que d�o suporte nos cuidados com as irm�s. Eles inventam brincadeiras com as cadeiras de rodas, ajudam a trocar fralda e a dar comida. “A Rute sabe contar at� 100”, orgulha-se Luiz.
O marido de Tatiana, Cristiano, pai das cinco crian�as, fica noite e dia fora, pois, al�m da atividade como vigilante, pega bicos para garantir o sustento da fam�lia, que teve a despesa multiplicada. As meninas recebem, cada uma, um sal�rio m�nimo como benef�cio da Lei Org�nica da Assist�ncia Social (Loas), mas o dinheiro n�o cobre as despesas, que incluem medicamentos, fraldas e suplemento nutricional. Como n�o consegue engolir, Vit�ria usa sonda g�strica e tem alimenta��o especial.
A m�e se desdobra pra atender �s demandas de todos os filhos. “Ainda tenho que arrumar uma professora de braile para a Rute, que no ano que vem vai ser alfabetizada. O col�gio j� falou que n�o tem”, lista Tatiana. Todas est�o matriculadas na Escola Municipal Francisco C�ndido da Silva, no bairro onde a fam�lia mora. Uma vez por semana, Rute frequenta projeto no Instituto S�o Rafael, em Belo Horizonte. Com tantas atribui��es e necessidades, a fam�lia arruma tempo para comemorar e agradecer. “Domingo vai ter festa”, avisa �s filhas.
SEM RESTRI��ES
Questionada pela reportagem, a Prefeitura de Ribeir�o das Neves, por meio da Secretaria Municipal de Sa�de, informou que a paciente Vit�ria Pac�fico de Souza Rocha n�o consta no sistema de protocolo de laudo ou solicita��o de cirurgia referente a ela. Ao contr�rio da informa��o que Tatiana recebeu, a assessoria de imprensa informou � reportagem que a AMR � parceira da secretaria e seus laudos m�dicos s�o aceitos sem restri��es. Tamb�m disse que a respons�vel pela menor deve comparecer ao setor de protocolo da Secretaria Municipal de Sa�de, com a toda a documenta��o.
O Hospital da Baleia reiterou que se prontifica a dar a assist�ncia, caso a paciente seja cadastrada e encaminhada pela Prefeitura de Ribeir�o das Neves para o atendimento pelo SUS. “O caso de Vit�ria veio na modalidade particular e, como o Hospital da Baleia n�o possui atendimento prim�rio, n�o conseguimos cadastr�-la na fila do SUS”, informa a nota. A prefeitura de Neves n�o deu retorno a respeito do acompanhamento escolar para crian�as cegas na educa��o infantil.