Barbacena inaugura roteiro tur�stico e gastron�mico na Serra da Mantiqueira

Barbacena – Colher a ma�� madura no p�, ver a produ��o de um queijo premiado, sentir o aroma da galinhada preparada na hora, ouvir o balido da ovelha e provar o doce de leite na rapa do tacho. Todos os sentidos afloram ao longo da Serra da Mantiqueira, entre Minas, Rio de Janeiro e S�o Paulo, celeiro da diversidade de sabores e palco natural de grandes atrativos para aplauso dos visitantes.

A fim de valorizar esse tesouro, ainda pouco conhecido dos brasileiros, estar� � disposi��o, a partir de amanh�, o roteiro Serras Alterosas da Mantiqueira, uma experi�ncia sensorial contemplando, de in�cio, Barbacena, na Regi�o do Campo das Vertentes. � frente da iniciativa, est� o Servi�o Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), que levou um grupo de convidados e parceiros ao passeio inaugural por propriedade rurais do munic�pio, com degusta��o das del�cias da agricultura, sem deixar de lado os monumentos hist�ricos da cidade de 229 anos.

O roteiro (veja o servi�o) faz parte da comemora��o dos 300 anos de Minas (a partir da separa��o da Capitania de S�o Paulo, em 1720), e tamb�m do tricenten�rio da gastronomia mineira, ressalta a consultora t�cnica de pesquisa em gastronomia do Senac Minas, Vani Pedrosa. “Somos seres das serras, precisamos fortalecer sempre essa identidade, sendo o melhor caminho, sem d�vida, o que passa pelas comidas. Nossa culin�ria tem caracter�sticas muito pr�prias e conquista paladares. Por isso, em 2020, vamos focar nas quatro regi�es cardeais: Norte, Sul, Leste e Oeste e mostrar o potencial de cada uma”, afirma Vani.

 

No passeio inaugural, com partida no Hotel Grogot� e dura��o de dois dias, a consultora teve ao lado o chef de cozinha executivo do hotel escola Senac, Ronie Peterson Costa, filho da regi�o e conhecedor das fazendas e s�tios. “Formamos um time para proporcionar aos interessados a descoberta ou a redescoberta do estado.” At� dia 14 (amanh�), o roteiro ser� encaminhado ao Minist�rio do Turismo para avalia��o e poss�vel inclus�o num programa maior abrangendo os tr�s estados do Sudeste do pa�s.

A raiz do roteiro est� no projeto Prim�rdios da Cozinha Mineira – Da hist�ria � mesa, criado por Vani Pedrosa h� 10 anos e em pr�tica no Entre Serras, ligando a Serra da Piedade, em Caet�, na Grande BH, ao Santu�rio do Cara�a, entre Catas Altas e Santa B�rbara, na Regi�o Central. Em 2015, o projeto virou programa, foi adotado pelo Senac Minas, e por meio da Faculdade de Gest�o do Senac Contagem, os professores Samir Haddad e Sandra Souto elaboraram o atual roteiro.

O Prim�rdios se sustenta em nove pilares – e s�o eles que norteiam o roteiro Serras Alterosas da Mantiqueira: carnes, t�cnicas (assar, cozinhar etc.), do�aria, farinhas, bebidas fermentadas, leite e derivados, queijaria, horticultura e gr�os. “Barbacena foi o munic�pio escolhido por representar o primeiro pilar do programa, que � a t�cnica de produ��o da gastronomia, e ainda dispor de quatro tipos de leite (vaca, cabra, ovelha e b�fala), de t�cnicas de cozinha avan�ada, no Grogot�, e produ��o agr�cola com frutas e legumes”, esclarece Vani.

 

Depois de uma palestra do professor e pesquisador, Edson Barros, e visita a locais hist�ricos de destaque, como a Bas�lica de S�o Jos� Oper�rio, Matriz Nossa Senhora da Piedade e Igreja da Assun��o (Boa Morte), o grupo fez, na ter�a-feira, a primeira parada no Latic�nio Nosso, produtor do queijo do reino Millano. � ali que Moacir Lucas Vidal, na companhia dos filhos, Igor de Lucas Morais, t�cnico em latic�nios, e Yuri de Lucas Morais, engenheiro de produ��o, abre as portas para o conhecimento da atividade conduzida h� 28 anos e com produ��o dirigida, em 95%, ao Nordeste do Brasil. A explica��o vem de longe, do per�odo em que a regi�o esteve sob dom�nio dos holandeses, no s�culo 17. “Os nordestinos apreciam nas festas natalinas e juninas”, conta o pai.

A cada parada, portanto, o visitante vai perceber que o melhor do passeio � unir v�rios lados culturais, entre eles hist�ria e sabor. Inspirado no queijo holand�s edam e preferido da corte portuguesa, o reino ganhou esse nome depois de dom Jo�o VI aportar no Rio de Janeiro, em 1808, fugindo das tropas de Napole�o Bonaparte, e n�o ter mais a facilidade de mandar buscar o queijo na Holanda. Moacir e os filhos trazem essa p�gina na ponta da l�ngua e, com o roteiro, acreditam na qualidade e hist�ria do seu queijo, que, nos meses de maior produ��o, atinge 4 toneladas/dia. “Acredito que muita gente tem curiosidade em ver o processo”, diz Yuri, enquanto o irm�o Igor est� certo da valoriza��o da atividade.

 

Antes de seguir caminho, � bom fazer um alerta aos viajantes: esque�a a dieta e caia sem susto na comilan�a, afinal, o roteiro inclui muita andan�a pelas propriedades – e vale muito cal�ar botas e pisar no barro sem perder o charme. A hora da degusta��o agu�a ainda mais os sentidos. E quem n�o quer passar doses generosas do doce de leite fabricado no latic�nio sobre lascas do queijo do reino? “Estamos com a faca e o queijo na m�o”, brinca Moacir, na cozinha da casa, ao posar para a foto com os filhos.

O dia vai ser longo, mas vencido com muito apetite. Na Ch�cara da Mantiqueira, o propriet�rio Luiz Gava se orgulha em produzir 14 tipos de frutas (ma��, p�ssego, nectarina, ameixa, atemoia, caqui, goiaba e outras) plantadas num pomar de 630 hectares, com produ��o de 3,5 mil toneladas/ano. “Meu pai adquiriu este terreno em 1927”, revela o propriet�rio, que administra o empreendimento com o irm�o, dois filhos, dois sobrinhos, entre elas Stela Gava, de 17 anos. A jovem de conhecimento e traquejo acolhe bem os visitantes. Depois, vem o melhor: visitar o pomar e colher a ma�� madura no p�, um dos momentos inesquec�veis do passeio.

A tarde reserva muitas surpresas, como provar – e comprar para levar para casa, certamente – o doce de leite Blu, na Fazenda Maracuj�, de Arthur Patrus de Campos Bello. Ressaltando a ancestralidade da terra, que pertenceu ao bisav�, nascido em 1868, Arthur, formado em zootecnia, esmera na qualidade do leite e do doce “sem conservantes, sem aditivos e totalmente natural”. Com conhecimento t�cnico e afei��o expl�cita pelo doce, tamb�m nas vers�es zero a��car e zero lactose, o propriet�rio diz estar sempre em busca da excel�ncia dos produtos e da sustentabilidade do neg�cio. O leite para o doce � do gado girolando. Como h� cria��o de b�falos na fazenda, o passeio pode se completar, dependendo da vontade do visitante, com uma visita curral, sobre o reprodutor Jack – que n�o tem cara de mau.

O dia vai se completar com a visita � Fazenda Graminha, de produ��o de ovelhas. Trata-se de um momento oportuno para ouvir as explica��es do zootecnista com doutorado em produ��o animal Pedro Silva de Oliveira, respons�vel t�cnico pelo manejo do rebanho, e conhecer os animais criados em sistema semi-intensivo para corte. A intera��o com os bichos se torna obrigat�ria, principalmente para moradores de grandes centros urbanos e sem oportunidade de visitar locais de produ��o animal. No melhor turismo de experi�ncia, pode-se pegar o carneiro no colo e acarici�-lo. O celular deve estar no jeito para selfies. J� no Grogot�, o destaque vai para a galinha preparada ao vivo e em cores pelo chefe de cozinha do Senac, Mauro C�sar de Paula.

 

 

A quarta-feira come�ou cedo com a visita ao Capril Rancho das Vertentes, de Edson da Costa Cardoso e Elo�sio Francisco. O local se tornou refer�ncia internacional, quando, em 3 de junho, ganhou medalha de ouro com o queijo N�voa Valen�uai, no Mondial du Fromage 2019, na Fran�a – foi o primeiro queijo de cabra brasileiro a merecer tal destaque. Engenheiro de computa��o, carioca, casado com matem�tica especialista em estat�stica Sandra Cantona Cardoso, mineira, Edson mostrou as depend�ncias e apresentou o reprodutor e dono do peda�o, Wolverine, que posou para foto certo de que � um astro no Capril.

Na degusta��o, al�m do queijo premiado de um cheese-cake com cobertura de morango, criado por Sandra, os visitantes provaram tamb�m de queijos cremosos, iogurte, doce de leite de cabra e outros queijos de massa dura e semidura. Nem � preciso dizer que foi um festim ao ar livre, com sabor de quero mais. “Foi plantada uma semente para gerar frutos sociais. H� o prazer do passeio, mas tamb�m a movimenta��o da economia, gerando renda e aumentando a autoestima da popula��o”, acredita o cozinheiro de Belo Horizonte e um dos fundadores da Frente de Gastronomia Mineira, Fl�vio Dornas. J� o agente de viagens de Barbacena, Nei Armstrong do Nascimento, v� progresso para toda a cadeia produtiva local, especialmente o setor de turismo. “Escolhendo as localidades e produtos certos, � um avan�o para a economia. S� temos a ganhar”.