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Estado de Minas

Cartilha critica foli�o com 'fantasia de �ndio' e peruca black power em BH

Documento desaconselha uso de roupas e adere�os que desrespeitem povos nativos, negros e ciganos no carnaval de BH. Texto combate ainda atitudes machistas e LGBTQIf�bicas


postado em 13/02/2020 15:19 / atualizado em 17/02/2020 13:22

Ativista e rapper indígena Katú Mirim mobilizou no ano passado uma campanha para chamar a atenção contra o uso de roupas e adereços que desrespeitem povos nativos(foto: Katú Mirim/ Redes Sociais)
Ativista e rapper ind�gena Kat� Mirim mobilizou no ano passado uma campanha para chamar a aten��o contra o uso de roupas e adere�os que desrespeitem povos nativos (foto: Kat� Mirim/ Redes Sociais)
A Prefeitura de Belo Horizonte publicou nesta quinta-feira (13), no Di�rio Oficial do Munic�pio (DOM), uma cartilha com orienta��es aos foli�es com o objetivo de combater atitudes racistas, machistas e LGBTQIf�bicas durante o carnaval de BH. O texto desaconselha o uso de trajes e objetos que possam ferir a dignidade dessas pessoas e desrespeitar povos ind�genas, negros e ciganos.

A inten��o da cartilha desenvolvida pelo Conselho Municipal de Igualdade Racial � combater a pr�tica de usar elementos e vestimentas que fazem parte da cultura de diferentes povos, como cocar, penas, pintura corporal, al�m de perucas black power nos blocos de rua. A pr�tica tem mobilizado nos �ltimos anos campanhas em todo o pa�s de conscientiza��o e respeito � cultura dos povos nativos, negros e ciganos. 

Veja o que diz a cartilha:

Letra de marchinhas  

“‘O teu cabelo n�o nega, mulata. Porque �s mulata na cor’ – Chega de Ass�dio!: As marchinhas s�o tradi��o, por�m, algumas perpetuam o racismo velado em express�es de bestializa��o e hipersexualiza��o do corpo negro. ‘Teu Cabelo n�o nega’, ‘Mulata Bossa Nova’ e ‘Negra Maluca’ materializam o imagin�rio social pejorativo em estere�tipos como o da mulata (animal est�ril nascido do cruzamento de burro com �gua) e do neg�o do pau grande (King Kong). Fantasiar-se de mulher negra empregada dom�stica ou enfermeira sexy � conceber a mulher negra como objeto sexual. Basta! Basta de ass�dio a todas mulheres! Basta de ass�dio e hipersexualiza��o da mulher negra!” 

Combate ao racismo  

“Blackface n�o � fantasia!: Blackface � t�cnica teatral usada para pintar pessoas brancas de negras de maneira caricata. Destacou-se no filme ‘O Nascimento de uma Na��o’, o qual contribuiu no ressurgimento da Klu Klux Klan nos EUA. Os protagonistas brancos interpretavam negros como pouco inteligentes e sexualmente agressivos. Isso culminou em pr�ticas reais de linchamento e ado��o da Lei de Segrega��o Racial. O blackface carrega a simbologia do apartheid; e no Brasil n�o deve ser confundido com homenagem. Nosso cabelo e nossos s�mbolos sagrados n�o s�o adere�o de Carnaval!: O uso de perucas ‘blackpower’, ‘nega maluca’, ‘dreadlocks’, ‘touca com tran�as’ entre outras representativas das culturas africanas tem sido pr�tica corriqueira e desagrad�vel. Traduzem se como desrespeito aos s�mbolos da resist�ncia negra �s formas padronizadas de beleza e outras imposi��es aos corpos negros.”

Respeito � religiosidade

“Outra bola fora � usar roupas pr�prias das religi�es de matriz africana ou de orix�s, como Iemanj�, de forma descontextualizada. Exigimos respeito � nossa cultura e ao que nos � sagrado. As vestimentas e ornamentos ind�genas comp�em sua tradi��o e, por us�-las, ind�genas s�o frequentemente violentad@s: �nibus n�o param, estabelecimentos impedem sua entrada, sofrem deboche, e t�m que lidar ainda com atrocidades �s suas terras, �guas, bichos e plantas. Em muitas culturas o cocar � sagrado e pr�prio para ritos especiais. Usar objeto sagrado de maneira recreativa � reduzir a cultura ind�gena ao ex�tico; trata-se mais de um sinal de poder e domina��o e n�o de homenagem. N�o passe vergonha ao usar cocar pra curtir o bloco enquanto a popula��o ind�gena � v�tima de genoc�dio!” 

Estere�tipo cigano

“Cigan@ � legal s� no carnaval? Voc� conhece a cultura dos povos ciganos? Provavelmente muitas pessoas responder�o que n�o. O desconhecimento � um dos fatores da marginaliza��o dos povos ciganos, os quais lutam cotidianamente para ser tratados com dignidade. Ser maltratad@ na rua, lojas, bancos e servi�os p�blicos � algo constante em seu cotidiano. A maioria das pessoas se mant�m indiferente e at� favor�vel a tais situa��es. A goza��o com o uso bandana, lantejoulas douradas e outros elementos associados � cultura cigana fortalece estere�tipos racistas.” 

Machismo e LGBTQIf�bicas

“Trans-fake” - Homem vestido de mulher. Homens vestidos de mulher (e at� mesmo de noiva) est�o por todas as cidades do pa�s no Carnaval. Mas o que est� errado? Al�m de ser machista e desrespeitoso com as mulheres, uma vez que representa-se a imagem feminina sempre de maneira descompromissada e jocosa. Essa “moda” � preconceituosa contra as pessoas trans e apenas refor�a os estere�tipos de g�nero e rela��es de poder. E se ao contr�rio de se vestir como essas pessoas, voc� come�ar a se colocar no lugar delas, reconhecer seus direitos e contribuir com suas lutas? Respeito � popula��o LGBTQI negra: A popula��o negra LGBTQI convive e luta contra v�rias formas de preconceito e segrega��o. At� hoje mulheres e homens negros em sua diversidade de g�nero e orienta��o sexual convivem com o medo de sofrer o estupro dito “corretivo” muito recorrente na �poca de carnaval. Sendo assim, respeitar os direitos da popula��o negra LGBTQI vai ao encontro da importante percep��o desse povo como cidad�os que t�m suas contribui��es na sociedade. Toda forma de desrespeito e deprecia��o vai contra princ�pios dos direitos regidos pela Constitui��o e pelo Estatuto da Igualdade Racial.”

Criminaliza��o e viol�ncia

“N�o ao higienismo e sim ao direito � vida! A cultura e est�tica de origem negra e perif�rica � alvo constante de olhares depreciativos e a��es de controle por parte da sociedade e do Estado. No carnaval � poss�vel e urgente n�o se omitir diante de viol�ncias sofridas por jovens negros e pobres que tentam ter o direito de circular pela cidade. Nos casos de viol�ncia institucional e abordagens truculentas pelas for�as policiais, voc� tem o poder de acionar a ouvidoria e relatar a situa��o indicando dia, hora e local do ocorrido (a identifica��o do agente da viol�ncia tamb�m � importante). Jovens negros vistos como indesej�veis em espa�os historicamente ocupados por brancos s�o condenados ao estigma de suspeitos e perigosos, tornando-se alvo da criminaliza��o e controle de seus corpos. Embora o Estatuto da Juventude preconize que todos os jovens s�o sujeitos de direitos, estamos ainda numa realidade de valoriza��o exacerbada do patrim�nio em detrimento da vida. O Brasil � um dos pa�ses com maior n�mero de homic�dios de jovens negros, o que se traduz como genoc�dio da juventude negra e pobre. A supera��o dessa terr�vel e inaceit�vel realidade � de sua responsabilidade tamb�m!”


Campanha #�ndion�o�fantasia

Em 2018, a ativista e rapper ind�gena Kat� Mirim mobilizou uma campanha nacional com a hashtag �ndioN�o�Fantasia para chamar a aten��o contra a pr�tica de foli�es em v�rias cidades brasileiras usar vestimentas que fazem refer�ncia � cultura de diversos povos nativos.

(foto: Katú Mirim/ Redes Sociais)
(foto: Kat� Mirim/ Redes Sociais)
Na �poca, Kat� Mirim publicou um v�deo nas redes sociais explicando que o uso desses trajes � considerado racista e ofensivo por se apropriar da cultura dos povos ind�genas. "Usar fantasia de �ndio � racismo porque discrimina nossa ra�a, refor�a estere�tipos, a hipersexualiza��o da mulher ind�gena. O movimento ind�gena sempre sofreu com a invisibiliza��o. N�s n�o somos uma fantasia. Pessoas n�o s�o fantasia, nossa cultura n�o � fantasia. Ela existe, n�s existimos", afirmou.

Em 3 de fevereiro deste ano, Kat� Mirim publicou em seu perfil no Facebook uma foto que retoma a campanha para o carnaval deste ano, com a frase: "Valorize essa sua boquinha linda, nesse carnaval n�o beije aquelas pessoinhas que usam 'fantasia de �ndio' #indionaoefantasia".

*Estagi�ria sob supervis�o do subeditor Rafael Alves


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