O CASO BACKER // A HIST�RIA COMO VOC� AINDA N�O OUVIU
Caso Backer: necr�psias de 3 corpos apontam intoxica��o; PC vai apurar casos suspeitos at� 2018
Consumidores de cerveja que relataram intoxica��o antes do per�odo at� agora investigado, como antecipou o EM, ter�o diagn�sticos revisados. Chegada de reagente deve acelerar trabalhos
postado em 15/02/2020 06:00 / atualizado em 15/02/2020 07:58
O superintendente de Per�cia T�cnica e Cient�fica, Thalles Bittencourt (E), e o delegado Fl�vio Grossi anunciam que m�todo de detec��o de contaminantes ser� aprimorado (foto: T�lio Santos/Em/D.a press)
A identifica��o de pacientes que apresentaram quadro semelhante ao da intoxica��o por dietilenoglicol, mas que ficaram sem diagn�stico preciso, leva a Pol�cia Civil a estender para 2018 a investiga��o sobre a contamina��o das cervejas da Backer. At� agora, o inqu�rito policial apura 34 casos suspeitos – sendo seis mortes –, todos a partir de outubro de 2019. Tr�s necr�psias de corpos de supostas v�timas apresentaram resultados compat�veis com a presen�a da subst�ncia t�xica no organismo e quatro exames de sangue confirmam o agente qu�mico no sangue de pacientes. O an�ncio de amplia��o das apura��es coincide com decis�o do Tribunal de Justi�a de Minas Gerais, que deferiu pedido do Minist�rio P�blico estadual e bloqueou bens da empresa.
Em 18 de janeiro, o Estado de Minas revelou que, a partir da contamina��o identificada em cervejas da Backer, m�dicos iriam revisar casos antigos que ficaram inicialemnte sem esclarecimento. Ontem, no �ltimo epis�dio da s�rie em podcast O caso Backer, o EM contou hist�rias de tr�s pacientes, um deles morto em abril de 2019, que apontavam que a janela de contamina��o poderia ser bem anterior a outubro.
“As pessoas que indicaram os sintomas, o hist�rico de consumo de cerveja em 2018 e datas anteriores a 2019, somados a outros elementos investigativos, nos fizeram acionar os �rg�os sanit�rios para tomar outras provid�ncias para an�lises dessas v�timas anteriores”, afirmou o delegado respons�vel pelo caso, Fl�vio Grossi. Em mais de 40 dias de inqu�rito policial, a corpora��o colheu 39 depoimentos.
Segundo o delegado, a amplia��o vai ocorrer a partir de notifica��o � Secretaria de Estado da Sa�de, que tamb�m comp�e a for�a-tarefa que investiga a intoxica��o de consumidores de cerveja por dietilenoglicol. Apesar disso, a pasta informou, em nota, que a defini��o de caso suspeito, por ora, inclui apenas casos a partir de outubro de 2019. Entretanto, isso n�o impede que policiais deem andamento � investiga��o criminal.
Durante entrevista coletiva, a Pol�cia Civil tamb�m informou que parte dos reagentes para fazer o exame de dietilenoglicol, que estavam em falta no IML, chegou. Segundo a corpora��o, a novidade � que, al�m do dietilenoglicol, ser�o feitos exames que detectar�o a presen�a do monoetilenoglicol tanto nas amostras de cervejas quanto no sangue dos pacientes. A expectativa � de que os exames fiquem prontos nos pr�ximos 15 dias. As duas subst�ncias s�o usadas no processo de fabrica��o da cerveja, mas n�o podem ter contato com o produto.
Agentes da Pol�cia Civil no P�tio Cervejeiro da Backer: at� agora, investiga��es se concentravam em casos registrados a partir de outubro de 2019 (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press %u2013 14/1/20)
Na quarta-feira, o EM denunciou que a falta de reagentes estava atrasando a per�cia. Em mais de 40 dias de inqu�rito policial e com 34 v�timas sob suspeita, a corpora��o havia divulgado resultados de somente quatro exames. “Est�vamos esperando chegar mais reagentes para o monoetilenoglicol. Estamos validando a tecnologia para o monoetilenoglicol e acredito que no prazo de 15 dias tenhamos novos resultados, tanto nos lotes de cerveja quanto nas amostras de sangue dos pacientes”, afirmou o superintendente de Per�cia T�cnica e Cient�fica, Thalles Bittencourt.
Ele justificou que as intoxica��es por dietilenoglicol e monoetilenoglicol s�o muito raras e que, por isso, os laborat�rios n�o tinham os reagentes em estoque. Apesar do receio das fam�lias de v�timas, de que a demora impe�a autoridades de detectar as subst�ncias t�xicas no organismo, Bittencourt afirmou que n�o existe um per�odo determinado para que os agentes qu�micos deixem de ser encontrados no corpo.
Sobre o n�mero reduzido de exames de sangue prontos, Bittencourt explicou que a per�cia optou por esperar a chegada dos reagentes para monoetilenoglicol, para que a dosagem fosse feita para as duas subst�ncias. “Desde o dia 10, especificamos o produto. No dia 13, iniciamos o processo de compra, mas h� um tempo (para a aquisi��o) e tamb�m de entrega. S�o produtos importados e controlados, que n�o ficam em estoque”, disse.
Exame de sangue n�o ser� determinante
Os representantes da Pol�cia Civil destacaram que o exame de sangue n�o ser� imprescind�vel nas investiga��es. “Inicialmente, h� uma investiga��o epidemiol�gica. Se aquele paciente fez ou n�o uso da cerveja, se aquele lote estava ou n�o contaminado pela subst�ncia, qual o quadro cl�nico que a pessoa desenvolveu e, em caso de �bito, qual o resultado da necr�psia”, diz Bittencourt.
Com diagn�stico impreciso, de um tipo raro da doen�a autoimune Guillan-Barr�, revisto pelos m�dicos assim que as investiga��es relacionadas a cervejas contaminadas da Backer vieram � tona, o engenheiro de redes Vanderlei de Paula Oliveira, de 37 anos, tem esperan�a renovada com a not�cia de amplia��o do per�odo de investiga��o. “� o que faz mais sentido. Como n�o h� mais a oportunidade de dosar o dietilenoglicol em nosso sangue, o mais correto � reavaliar os prontu�rios m�dicos desses pacientes, que at� hoje n�o t�m um diagn�stico compat�vel com suas enfermidades”, disse. Ele ficou internado de fevereiro a julho de 2019, com sintomas semelhantes aos dos pacientes investigados.
A Pol�cia Civil tamb�m divulgou que, das quatro necr�psias de corpos de v�timas da intoxica��o por dietilenoglicol, tr�s s�o compat�veis com a presen�a da subst�ncia t�xica no organismo. A pol�cia aguarda a libera��o do pedido de exuma��o de corpos. At� agora, foram colhidos 39 depoimentos.
Com mais de um m�s de investiga��o, que come�ou em 9 de janeiro, e muitas perguntas em aberto, a principal delas sobre como as subst�ncias proibidas foram parar na cerveja, Grossi diz que os trabalhos n�o t�m prazo para conclus�o. “H� um trabalho intenso da parte pericial de engenharia e qu�mica para entender primeiro o processo fabril da cerveja e, depois, entender onde ele � falho. � um processo complexo, que n�o � comum � atividade policial”, explica.
BLOQUEIO Ontem, a Justi�a bloqueou bens da cervejaria mineira, em a��o que atende a pedido do MP, sustentando que a Backer n�o cumpriu medidas de acordo extrajudicial. Segundo o processo, a companhia de bebidas negou “apoio aos consumidores que ingeriram as cervejas colocadas no mercado de consumo”.
T�cnicos do Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento (Mapa) tamb�m estiveram na empresa, ontem, com o objetivo de colher informa��es para auxiliar a apura��o do processo administrativo. Em nota, a Backer informou que a argumenta��o do MP n�o procede. “Diferentemente do alegado, (o acordo) foi integralmente cumprido pela Backer”, sustenta a cervejaria, que informou estar tomando provid�ncias para que prevale�a “a verdade dos fatos”. (Com Gabriel Ronan)
Como noticiou o EM
Em 18 de janeiro, o Estado de Minas revelou que, depois da identifica��o de contaminante em cervejas da Backer e em amostras de pacientes, m�dicos revisariam casos antigos, com quadros compat�veis, que � �poca ficaram sem esclarecimento. Na edi��o de ontem, o EM contou as hist�rias de alguns desses pacientes, que podem fazer a investiga��o recuar at� 2018. J� a edi��o de quinta-feira denunciou o atraso nas apura��es, devido � falta de reagente para identificar o dietilenoglicol em amostras.