
O labirinto de vias de desenhos provis�rios com balizas, cavaletes, placas e cones direcionando os ve�culos por uma sucess�o de pavimentos diferentes, do asfalto antigo ao concreto rec�m-constru�do, tornaram ainda mais perigoso o tr�fego pela Rodovia da Morte. Nessa mistura de maquin�rio de constru��o, oper�rios e tr�nsito intenso, a aten��o e o respeito � sinaliza��o n�o t�m bastado para garantir a seguran�a no segmento de 100 quil�metros entre Belo Horizonte e Jo�o Monlevade, como mostra a reportagem do Estado de Minas, que percorreu o trajeto ao lado do especialista em transporte e tr�nsito Ant�nio Prata.
As obras, que desde 2014 se espalham por longos trechos, deixaram o pavimento mais estreito, com sinaliza��o confusa e muitas vezes equivocada, chegando ao ponto de induzir os condutores a ingressar na contram�o. Desafio a mais para a rodovia que tem um t�tulo t�o medonho e responde por 45 (26%) dos 171 mortos em todos os 950 quil�metros da BR-381 em Minas Gerais em 2018. A rodovia passa por um processo de duplica��o que demanda a abertura de canteiros de obras, interrup��o de tr�fego em pare e siga para que interven��es sejam feitas e a todo tempo o desenho provis�rio � remodelado.
“Isso, por si s�, j� demandaria uma grande aten��o dos motoristas. Mas o que observamos � que os motoristas enxergam uma pista j� duplicada, quando na verdade ainda est� em obras. Com esse sentimento, tentam render acelerando seus ve�culos e acabam ultrapassando em faixas cont�nuas e em locais perigosos. A sinaliza��o est� bem abaixo da minimamente necess�ria e isso amplia o perigo”, observou Ant�nio Prata, que pertencia ao departamento de Engenharia de Transportes do Cefet e � doutor em engenharia com tese em mobilidade urbana.
Essa confus�o observada pelo professor do Cefet se traduz em v�rios acidentes. Na quinta-feira (5), uma carreta que usava a pista �nica na altura do KM 438, em Bom Jesus do Amparo, acabou por fechar a passagem do caminh�o carregado de recicl�veis conduzido Frederico de Oliveira, de 30 anos.
“Est� muita confus�o nessa estrada e junta isso com a imprud�ncia, a gente sofre ainda mais. Fluxo muito lento, muitas placas enganadas jogando a gente para a contram�o. J� tem mais de seis anos que essa estrada ficou ainda mais perigosa por causa das obras. Quando duplicar, muitas vidas ser�o salvas, mas o pre�o ainda estamos pagando”, afirmou o caminhoneiro, que viajava de Itaguara para Contagem, na Grande BH.

No KM 409, em Nova Uni�o, a sinaliza��o engana os motoristas. Uma placa alertando para ficar � direita foi esquecida num trecho de pista simples e sem acostamento, enquanto que no sentido oposto, a falta de uma placa com esse alerta deixa para o julgamento pr�prio do motorista ver que a pista de repente vai para a direita e que a dire��o que essa pessoa segue se torna contram�o. Nesse trecho, essa placa est� contribuindo para provocar acidentes, porque manda entrar para a direita, mas n�o h� essa op��o, enquanto que o lado oposto necessitaria urgente de uma indica��o como essa”, aponta o professor.

Mais adiante, no KM 400, em Bom Jesus do Amparo uma sequ�ncia de curvas fechadas em terreno com obras intensas tem apenas balizadores (pequenos postes de pl�stico branco) para demarcar a pista e a separar do canteiro de obras. “Isso a gente v� em v�rios pontos da BR-381 com as obras. Uma sinaliza��o muito deficit�ria que poderia e deveria ser complementada”, observa o especialista em transportes e tr�nsito.
Um dos pontos mais confusos � o trevo de Itabira, na altura do KM 400. Uma rotat�ria provis�ria foi formada com segmentos de muretas, cavaletes e balizadores, permitindo at� cinco movimentos para quem segue nos dois sentidos da via, deseja ir a Itabira ou vem de l� para um dos dois sentidos. “Era priorit�rio que se terminasse o trevo novo de Itabira, para que esse que � provis�rio fosse desativado. � muito pequeno, tinha de ser pelo menos alargado, pois quem entra para Itabira acaba fechando a pista normal, levando muitas pessoas a desviar e outras a parar”, afirma Prata.
Imprud�ncia na BR-381
A falta de fiscaliza��o n�o permite apenas que motoristas imprudentes fa�am ultrapassagens em pontos proibidos e ajam com irresponsabilidade em trechos perigosos. Muitos se aproveitam de longos segmentos praticamente terminados, mas ainda n�o abertos para o tr�fego e fazem desses pontos atalhos, apesar de placas indicarem que isso � proibido e sujeito a multa. “S�o segmentos que ainda n�o est�o prontos e que quem ingressa neles pode encontrar um outro carro vindo em sentido oposto, uma m�quina trabalhando, um oper�rio que n�o espera tr�fego ali, sem falar que podem haver interrup��es, buracos e obst�culos, pois, mais uma vez, a via n�o est� pronta”, frisa o professor Ant�nio Prata.
As obras de constru��o dos lotes 3.1 e 7 da BR-381 est�o dentro do cronograma f�sico-financeiro de execu��o, de acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit). A previs�o de conclus�o dos dois trechos com cerca de 60 quil�metros � o final de 2020, afirma o departamento. “At� o momento foram investidos cerca de R$ 350 milh�es no lote 3.1, e R$ 565 milh�es no lote 7”, afirma o Dnit. Os demais nove lotes foram abandonados ao longo dos anos e precisariam ser reativados para que a rodovia seja realmente duplicada.

“Se apenas alguns trechos forem duplicados, corremos o risco de em vez de oferecer uma estrada mais segura por ser duplicada, ofertarmos um trecho de imprud�ncia e de alta velocidade”, alerta o engenheiro Ant�nio Prata, que pertencia ao departamento de Engenharia de Transportes do Cefet e � doutor em engenharia com tese em mobilidade urbana.
A Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF) reconhece que o trecho em obras traz ainda mais dificuldades e por isso inspira cuidados dos condutores. “Quando transitar por um trecho em obras os motoristas devem redobrar a aten��o, diminuir a velocidade e respeitar a sinaliza��o”, recomenda o porta-voz da PRF, inspetor Aristides Amaral J�nior.