
Segundo o Conselho Deliberativo do Patrim�nio Cultural (CDPCM-BH), a Feira Hippie come�ou na capital mineira em novembro de 1969, quando alguns cr�ticos de arte, estudantes e professores ligados �s artes pl�sticas tiveram a ideia de expor seus trabalhos na Pra�a da Liberdade. O objetivo principal desse grupo era movimentar o ambiente art�stico da capital, levando arte � popula��o.
A feira foi muito bem recebida pelo p�blico que ia at� a Pra�a da Liberdade para ver os quadros, encontrar os amigos, comprar artesanato e outros produtos. Em 1971, devido ao sucesso, o governo estadual decidiu transformar o evento em uma feira permanente e semanal.
Com o passar dos anos, a Feira Hippie foi crescendo e ganhando outros significados em meio � din�mica da capital. Com a populariza��o do evento, artistas j� consagrados foram deixando a feira e, ao mesmo tempo, outras pessoas reivindicavam o direito de expor seus produtos e o artesanato passou a ocupar um lugar maior no evento.

De acordo com o decreto de cria��o oficial da Feira, ela teria dois objetivos b�sicos: "a prote��o do patrim�nio art�stico e cultural" da cidade e o desenvolvimento econ�mico, baseado na "possibilidade dos artistas e artes�os explorarem e comercializarem suas obras e produ��es".
Fonte de renda
Al�m de ser um ponto de encontro e de lazer para a popula��o, a Feira � uma importante fonte de renda para muitas fam�lias. A PBH estima que o evento possui cerca de 1.800 expositores, sendo que 80% prestam servi�os h� mais de 10 anos.
� o caso do vendedor de cocada e doces Gismar Jos� Gomes, de 48 anos. A fam�lia dele exp�e na feira h� 45 anos e o plano dele � continuar com a barraca pelas pr�ximas gera��es.
“A feira sustenta a fam�lia. Passamos a semana toda nos preparando para estar na Afonso Pena aos domingos”.

“Me orgulho muito da feira. N�o abandono nunca, s� quando for para o c�u. O sustento da fam�lia � todo da feira, toda a vida foi assim. A feira ajuda a gente at� hoje. Mesmo eu n�o vendendo, a feira no domingo faz diferen�a para mim. Se eu ficar em casa no domingo, eu sei que est� faltando alguma coisa”.
A Feira � mais que o com�rcio para Joel dos Santos, de 70 anos, que vai � Feira Hippie para conversar e ver velhos amigos. H� 40 anos, ele exp�e colares feitos a m�o todo domingo, mesmo n�o dependendo mais do dinheiro das vendas.
Leia mais: Imprensa Oficial: 126 anos de impon�ncia neocl�ssica
“Hoje em dia, a minha produ��o artesanal � para presentear em ocasi�es especiais e para n�o perder a habilidade. H� muito tempo que eu n�o fa�o artesanato para vender na feira. Venho e virei � feira at� o �ltimo momento pela conviv�ncia. Estou aqui desde 1983. N�o vou parar de conviver com pessoas que eu conhe�o desde 1983 s� porque eu n�o preciso mais do dinheiro que eu ganho aqui”.
Novo formato
O prefeito da capital, Fuad Noman, visitou a feira na manh� de hoje para comemorar os 50 anos do evento. Em entrevista, Noman disse que a mudan�a recente do layout da feira j� est� mostrando resultados.

“Estou muito feliz de ver a feira totalmente remodelada. Estou vendo as pessoas trabalhando felizes, mostrando que est�o vendendo mais, estou vendo muitos turistas. Isso que precisamos em Belo Horizonte, trazer mais pessoas para o centro. O projeto ‘Centro de Todo Mundo’ � exatamente isso, atrair pessoas para o centro”.
Fuad ainda enfatizou os principais objetivos da feira e afirmou que o evento est� cumprindo muito bem com o papel. “As pessoas est�o aqui para comprar, se divertir, passear. Quem n�o conhece a feira de Belo Horizonte precisa vir conhecer a feira totalmente remodelada”.
A mudan�a de layout foi aprovada pela turista Vilma Nascimento, 51 anos. Natural do Par�, ela vem para Belo Horizonte ao menos tr�s vezes por ano para visitar a fam�lia e, sempre que poss�vel, vai para a Feira Hippie. Na manh� deste domingo, Vilma aproveitou o calor com a irm� e os dois filhos nas barraquinhas de alimenta��o.
No in�cio de outubro, a feira passou a ter cadeiras e mesas na �rea reservada para alimenta��o. A secret�ria adjunta da Secretaria Municipal de Pol�tica Urbana, L�via Monteiro, destacou a import�ncia da mudan�a. “Com esta altera��o, a �rea de alimenta��o se torna mais especial, trazendo mais conforto aos usu�rios e proporcionando mais uma alternativa de encontro dos belo-horizontinos e visitantes nesta feira t�o diversa”, aponta.
Mudan�as
Em 1991, a feira foi transferida definitivamente para a Avenida Afonso Pena, no Centro da capital. A mudan�a de ponto foi necess�ria devido � quantidade de visitantes. A Pra�a da Liberdade ficou pequena para o p�blico, al�m do risco de degrada��o ambiental.

Para Joel, a mudan�a foi muito al�m do local. O vendedor apontou que a pr�pria clientela deixou de consumir material 100% artesanal. “O consumidor passou a aceitar o material misto. A produ��o do material 100% artesanal � mais lenta e, �s vezes, a pessoa pede a mudan�a de algum acabamento. Para mim, a principal mudan�a, para melhor, foi essa aceita��o”.
De acordo com o CDPCM, a feira � frequentemente tema de debate e preocupa��o entre os feirantes devido ao aumento de venda de produtos industrializados, principalmente de origem chinesa, o que descaracteriza a voca��o cultural do evento, al�m de gerar uma concorr�ncia desleal. H� registro de reclama��es e den�ncias sobre o tema desde a d�cada de 1990.
O vendedor de colares Edmilson Luciano de Oliveira, de 47 anos, acha que h� espa�o para todos na feira. Segundo ele, a venda de produtos chineses na feira � algo normal em 2023, devido � globaliza��o.
“A feira tem 50 anos. Se a fiscaliza��o for atuar visando a feira de 30 anos atr�s, muita coisa estar� diferente. Se for colocar apenas artesanato, a feira acaba. A presen�a de produtos industrializados � algo que precisa ser mais aceito e incorporado ao evento”.

“A Feira Hippie � conhecida mundialmente como uma feira de artesanato. Estamos trabalhando junto aos feirantes para que ela seja cada vez mais reconhecida pelo artesanato e aqueles que n�o se adaptarem v�o ser retirados para que a gente tenha o artesanato como o foco principal”.
A feira

Atualmente a Feira Hippie ocupa uma �rea de aproximadamente 45 mil metros quadrados e recebe em m�dia 60 mil visitantes a cada domingo, tendo um p�blico estimado de 10 mil visitantes em hor�rio pico. O evento � uma refer�ncia tur�stica da capital, espa�o de manifesta��es art�sticas e culturais. Al�m disso, � uma das maiores feiras livres em �rea aberta da Am�rica Latina.