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Estado de Minas ESPECIAL

Os �nibus el�tricos que BH deixou para tr�s

O governo estadual comprou tr�lebus para a capital na d�cada de 1980, mas, ap�s anos de impasses pol�ticos, ve�culos foram parar em S�o Paulo e na Argentina


29/10/2023 04:00 - atualizado 29/10/2023 09:07
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Do lado de fora, os tr�lebus de S�o Bernardo do Campo (SP), um tipo de �nibus el�trico que opera ligado � rede a�rea de energia, sem baterias, chamam a aten��o por uma caracter�stica pouco comum no tr�nsito das grandes cidades: o sil�ncio. Fabricados h� 35 anos, os poucos sinais de uso ap�s tanto tempo em funcionamento, como corros�o nas ferragens das janelas e portas e alguns bancos n�o fixados corretamente, pouco incomodariam passageiros de outras cidades, como Belo Horizonte.

Curiosamente, estes �nibus que circulam na cidade paulista foram comprados pelo governo de Minas Gerais, na d�cada de 1980, para integrar um sistema de tr�lebus planejado para funcionar em BH. Parte da infraestrutura vi�ria para receber os ve�culos foi constru�da, os �nibus foram encomendados e pagos, mas nunca chegaram a rodar na capital mineira, devido a circunst�ncias que envolveram problemas pol�ticos e administrativos.

  • Passageiros de BH aprovam �nibus el�trico em testes

O Estado de Minas viajou a S�o Bernardo do Campo para mostrar como est�o os tr�lebus que poderiam hoje fazer parte da frota de transporte p�blico da capital mineira, que atualmente testa outros modelos de �nibus el�tricos – estes movidos a bateria interna – como uma op��o para modernizar o servi�o e reduzir a emiss�o de g�s carb�nico na atmosfera.

Vale lembrar que na d�cada de 1980 os estados eram respons�veis pelo transporte p�blico das cidades. Por isso que na �poca o projeto do tr�lebus foi conduzido pelo governo de Minas. A municipaliza��o desse tipo de servi�o s� ocorreu ap�s a Constitui��o de 1988, quando as prefeituras assumiram a fun��o.

BH j� foi pioneira


Em 1953, BH foi a segunda cidade brasileira a implantar um sistema de tr�lebus. As primeiras linhas partiam do Centro e seguiam para os bairros de Lourdes, Cora��o de Jesus, Santa L�cia e Santo Ant�nio. Os tr�lebus s�o �nibus el�tricos sem baterias. No teto, hastes se ligam � rede a�rea de energia e alimentam o motor el�trico, num sistema parecido com o metr�.

Ver galeria . 7 Fotos Aspecto dos trólebus que serviam as linhas de Belo HorizonteArquivo EM - 30/8/1963
Aspecto dos tr�lebus que serviam as linhas de Belo Horizonte (foto: Arquivo EM - 30/8/1963 )


Nesta primeira experi�ncia, Belo Horizonte chegou a ter uma frota de 50 tr�lebus. Hoje, a cidade testa um �nico �nibus el�trico em meio � frota de 2.543 ve�culos a diesel. Outras capitais j� contam com modelos el�tricos no transporte p�blico, como S�o Paulo, Salvador (BA), Bras�lia (DF), Vit�ria (ES) e Manaus (AM). Al�m das quest�es ambientais, o interesse crescente por esses modelos t�m uma justificativa econ�mica.

Apesar de um �nibus el�trico a bateria custar cerca de R$ 1,4 milh�o, o gasto estimado em energia para fazer com que ele rode cerca de 25o quil�metros � de, aproximadamente, R$ 38. Enquanto isso, os modelos a diesel s�o comprados por cerca de R$ 667 mil, mas gastam R$ 600 em combust�vel para percorrer a mesma dist�ncia. A longo prazo, o investimento para empresas e a cidade compensa, segundo especialistas do setor.
O ve�culo el�trico tem uma vida �til maior do que a dos ve�culos a combust�o. � um carro com rodagem mais suave, que roda em velocidades mais constantes e com freadas n�o t�o bruscas”, explica Rodrigo Lopes, gerente de manuten��o da Next Mobilidade, empresa que opera os tr�lebus de S�o Bernardo do Campo.  
 
 
praça raul soares: Entre 1953 e 1959, o sistema trólebus transportou cerca de 3,5 milhões de passageiros por ano em Belo Horizonte
Pra�a raul soares: Entre 1953 e 1959, o sistema tr�lebus transportou cerca de 3,5 milh�es de passageiros por ano em Belo Horizonte (foto: Arquivo EM - 31/5/1953 )
 

Fora do ponto


A primeira tentativa do governo estadual de consolidar um transporte de tr�lebus em BH ocorreu alguns anos antes da compra da frota que atualmente roda nas ruas de S�o Bernardo do Campo. Em 1957, foram importados dos Estados Unidos 50 �nibus que, por falta de verba para pagar o frete e taxas alfandeg�rias, ficaram retidos no porto do Rio de Janeiro. Metade dos ve�culos foi liberada em 1959, e o restante no ano seguinte, mas j� danificados pela a��o do tempo e da maresia.
Entre 1953 e 1959, o sistema tr�lebus transportou em Belo Horizonte 3,5 milh�es de passageiros por ano. Em 1961, este n�mero saltou para 25 milh�es. Os tr�lebus eram um sucesso e os passageiros consideravam eles mais confort�veis e confi�veis do que os �nibus convencionais, mas isso n�o impediu que o governo mineiro decidisse encerrar o servi�o.
Um dos argumentos usado na �poca era de que a energia el�trica em Belo Horizonte era muito cara, o que tornava mais vantajoso o uso de �nibus a diesel. Em 1967, a maior parte dos tr�lebus da capital mineira, ent�o, foi vendida para Recife (PE), onde circularam at� 2001.


Anos 1980 e a quase volta dos tr�lebus

São Bernardo do Campo (SP) usa ônibus elétricos que foram comprados há quatro décadas para BH, mas nunca rodaram na capital mineira
S�o Bernardo do Campo (SP) usa �nibus el�tricos que foram comprados h� quatro d�cadas para BH, mas nunca rodaram na capital mineira (foto: Denys Lacerda/EM/D.A Press)
 
Os anos 1970 foram marcados na economia mundial pelo aumento do pre�o do petr�leo, com o barril saltando US$ 10 no come�o da d�cada para quase US$ 60. A maior parte do �leo consumido no Brasil era importado, o que afetou a economia brasileira.

Em 1979, o governo federal criou o Programa de Mobiliza��o Energ�tica, que tinha, entre v�rios objetivos, substituir parte do consumo de combust�veis f�sseis pela energia el�trica. Uma das linhas defendidas pelo projeto era a implanta��o do servi�o de tr�lebus nas grandes cidades, o mesmo que havia sido extinto em BH 10 anos antes.

Em janeiro de 1986, foi aberta concorr�ncia para aquisi��o de 55 tr�lebus que fariam a liga��o entre Venda Nova e o Centro de BH, pela rec�m-inaugurada Avenida Cristiano Machado. A previs�o era de que o servi�o come�asse a operar em mar�o do ano seguinte, atendendo cerca de 120 mil passageiros por dia. No futuro, o projeto seria expandido para outras regi�es da cidade.

O custo total, incluindo ve�culos e toda a infraestrutura el�trica, estava or�ado em Cr$ 520 bilh�es (cerca de R$ 730 milh�es), financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES) com a participa��o do governo estadual. Em julho de 1987, quando postes para a rede el�trica dos tr�lebus eram instalados na avenida, as obras foram suspensas por falta de verbas.


CPI investiga os tr�lebus


Em fevereiro de 1989, foi instaurada uma Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) para investigar, entre outros assuntos, a suspens�o das obras do tr�lebus. Em declara��o � CPI, D�rio Rutier, ex-presidente da Metrobel, �rg�o que gerenciava o transporte coletivo na Grande BH, afirmou que 60% das obras estavam conclu�das, tendo sido gasto 75% do or�amento. Rutier atribuiu a interrup��o das obras a uma decis�o pol�tica, sem culpar diretamente o ent�o governador, Newton Cardoso (MDB).

Tr�lebus ou VLT?


Enquanto a CPI realizava seu trabalho, o governo estadual apresentou um projeto para implantar um sistema de ve�culo leve sobre trilhos (VLT), mas a iniciativa foi combatida pela oposi��o, que cobrava uma presta��o de contas relativas �s obras do tr�lebus.

A CPI concluiu que houve assinatura de contratos sem concorr�ncia, presta��o de servi�os sem o contrato equivalente e envolvimento de ex-integrantes do governo com empresas participantes das concorr�ncias. Depoimento de t�cnicos diziam que os VLT seriam insuficientes para a demanda prevista na Regi�o Norte e que a solu��o mais vi�vel seria estender o metr� at� Venda Nova, o que s� foi feito em 2002.

Os dois trólebus entregues em BH ficaram jogados em um pátio do DER até serem vendidos em um leilão, em 2021
Os dois tr�lebus entregues em BH ficaram jogados em um p�tio do DER at� serem vendidos em um leil�o, em 2021 (foto: Eduardo Vasconcelos/Arquivo Pessoal)

Uma longa viagem


Da encomenda original de 55 ve�culos para o servi�o de tr�lebus dos anos 1980, 44 foram fabricados. Dois deles foram entregues a BH em 1989 e ficaram, por muitos anos, em um p�tio do DER no Bairro Horto, at� serem vendidos como sucata em leil�o ocorrido em 2021.

Os outros 42 tr�lebus ficaram parados na f�brica da Marcopolo, em Caxias do Sul (RS), at� que, em 1993, 20 unidades foram vendidas para a cidade de Ros�rio, na Argentina. Passaram por reformas ao longo dos anos e continuam a atender os moradores.

A frota restante, de 22 tr�lebus, foi vendida para a Eletrobus, de S�o Paulo (SP), em 1996. Pouco tempo depois, repassada para a Metra (atual Next Mobilidade), operadora do Corredor ABD, que atende cinco cidades da Regi�o Metropolitana de S�o Paulo.

O gerente de manuten��o da empresa, Rodrigo Lopes, afirma que os tr�lebus recebem um carinho especial, com equipes focadas nos sistemas mais sens�veis. “Como n�s temos corredores exclusivos, facilita pra gente operar com este tipo de ve�culo. Al�m disso, o custo por quil�metro dele � muito abaixo do que do ve�culo a diesel.”

Estes ve�culos foram reformados entre 2014 e 2015 para melhorar o conforto e a seguran�a. A empresa n�o pretende acabar com o sistema tr�lebus, garante Lopes. Al�m da quest�o financeira, os ve�culos s�o aprovados pelos passageiros por serem silenciosos. “Eles v�o continuar em opera��o, provavelmente, at� 2026, que � quando termina o prazo de vida �til estimado deles, de 30 anos”.

O �nibus do futuro


Um �nibus el�trico movido a baterias chegou em BH no come�o de outubro para testes e tem chamado a aten��o dos passageiros pelo conforto e sil�ncio. O Estado de Minas embarcou em uma viagem no ve�culo para acompanhar o desempenho do �nibus e conversar com passageiros e motoristas sobre essa novidade no transporte p�blico de BH.

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