



Ruas do Centro vazias; transporte coletivo com lugares de sobra; restaurantes com mesas � vontade em pleno hor�rio de almo�o; lojas ainda com vendedores, mas sem clientes; vagas de estacionamento para quem quisesse em frente a escolas, mesmo na hora de pico... O primeiro dia de suspens�o das aulas, com poder p�blico e empresas se esfor�ando para colocar funcion�rios em trabalho remoto, deu a Belo Horizonte um ar de feriado, e aos comerciantes da cidade amostra de dias que podem ser de desespero.
A crise provocada pelo novo coronav�rus, que tem 703 casos em investiga��o no estado e 19 pessoas comprovadamente infectadas, entre elas 10 em Belo Horizonte, mudou a rotina da cidade e j� atingiu de forma arrasadora a rotina urbana e o com�rcio. Nas ruas quase vazias, o movimento de pessoas e autom�veis ontem era t�pico de um fim de semana. Na Pra�a Sete, onde pulsa o sistema nervoso da capital, ainda houve momentos de movimento intenso, mas bem menor que em um dia de semana “normal”. Mesma situa��o observada no servi�o de �nibus e metr�, embora as concession�rias do setor ainda n�o dispusessem, ontem, de n�meros.
N�o por coincid�ncia, o dia foi de vendedores nas portas de lojas tentando desesperadamente atrair os poucos pedestres que caminhavam pelo Centro. Situa��o ainda mais grave para estabelecimentos dentro de galerias, onde o fluxo � menor.
Se os donos de lojas receberam com afli��o uma pr�via do que a cidade ainda vai enfrentar com o avan�o dos cont�gios pela COVID-19, os comerci�rios est�o desolados diante da possibilidade de serem dispensados. “Mesmo continuando empregados, n�o estamos vendendo nada, e o sal�rio � complementado pela comiss�o sobre as vendas”, reclamou Elizabete Mendes, que trabalha em uma loja atacadista no Barro Preto, polo de moda na Regi�o Centro-Sul da capital.
Na principal avenida da Savassi, a Get�lio Vargas, o cen�rio n�o variava muito e as lojas estavam �s moscas em pleno hor�rio de almo�o. Funcion�rios desolados conversavam nas portas dos estabelecimentos, temendo pelo fu- turo. Eliane Maria da Silva, que trabalha h� 10 anos em uma loja das proximidades, disse que os cinco empregados aguardam o que ser� decidido pelos patr�es nos pr�ximos dias.
Gr�vida, Eliane diz que se preocupa tamb�m em se contaminar. “Todos corremos riscos, transitamos no transporte p�blico cheio de gente, cruzamos com diversas pessoas no trajeto de casa. Estou muito assustada”, resumiu. “Nem na greve dos caminhoneiros, quando as cidades ficaram paralisadas, o movimento foi t�o afetado”, comparou. A loja onde ela trabalha, com 55 anos de exist�ncia, aposta nas vendas virtuais para se manter.
A comerciante Julieta Rosa de Souza, de uma loja de artigos masculinos no Barro Preto, disse que o movimento caiu 100%. Em 21 anos, foi a primeira vez que isso aconteceu, ela conta. “De s�bado para c�, vendemos um terno apenas.” Ela pensa em fechar nos pr�ximos dias, por precau��o. “Temos que ter consci�ncia de que tamb�m a conviv�ncia com o p�blico � um grande risco”, disse.
Sandra Eline, propriet�ria de duas lojas no Barro Preto, disse que fechar� uma delas. “Vou conversar com o propriet�rio, j� que ambas s�o alugadas, e tentar suspender temporariamente o aluguel ou negociar alguma outra forma”, contou. Dos oito funcion�rios, apenas tr�s t�m trabalhado, e uma foi demitida anteontem, ao voltar de f�rias. “N�o tenho como pag�-los”, resumiu. “N�o vejo motivos para manter as portas aberas, porque n�o tem cliente e ningu�m vai sair de casa para comprar roupas. Todos os eventos sociais est�o suspensos, ningu�m vai gastar nesse mo- mento.”
� procura
de receitas
Nas cozinhas de restaurantes da capital, diante da queda vertiginosa de clientes, em vez de receitas em s�rie, donos e gerentes preparam planos para enfrentar a entressafra enquanto durar a pandemia do coronav�rus. Segundo comerciantes, desde a segunda-feira o movimento come�ou a cair e ontem alguns estabelecimentos j� amargavam movimento at� 70% menor que a m�dia durante a semana. Alguns propriet�rios pensam em f�rias coletivas, antecipa��o de folgas e at� demiss�es.
Visivelmente preocupado, Marcos Afonso de Ara�jo, propriet�rio de um restaurante na Avenida Get�lio Vargas, disse que ontem contabilizou apenas 40% do volume de clientes no hor�rio de almo�o, o que for�ou a redu��o do volume de alimentos � disposi��o. Ap�s 26 anos � frente do neg�cio, ele disse que nunca enfrentou crise t�o intensa, e que ainda n�o sabe o que far� com os 13 funcion�rios. “Talvez antecipar f�rias”, considerou. “Quem vai pagar minhas contas? Acho que est� havendo um pouco de exagero, j� tomamos todas as medidas de precau��o recomendadas pelos servi�os de sa�de”, disse ele, elencando provid�ncias como a distribui��o por todas as depend�ncias de �lcool em gel.
A queda de clientes tamb�m foi sentida em restaurantes da Savassi. De acordo com o gerente de um deles, Gustavo Dahas, na segunda-feira caiu em 30% a m�dia de clientes. “Na ter�a, a queda foi de 50% e hoje (quarta-feira), se acentuou, com n�mero de clientes 70% menor”, contou, prenunciando crise jamais vista no estabelecimento. Tanto que a partir de hoje cinco funcion�rios j� entram em f�rias antecipadas.
“A situa��o � imprevis�vel. Os col�gios pr�ximos suspenderam as aulas e muitos escrit�rios est�o fechados, o que nos tem afetado em cheio.” Caso a situa��o se agrave, e se houver determina��o de fechamento de bares e restaurantes, a ideia � partir para atendimento em sistema de entregas.
BH Resolve para; metr� continua
A Prefeitura de Belo Horizonte suspendeu ontem o atendimento presencial da central BH Resolve, no Centro da capital, como parte das medidas para conter o avan�o da COVID-19 na cidade. A unidade recebia mais de 10 mil pessoas diariamente, entre usu�rios que solicitam servi�os e cidad�os em geral que transitam pelo espa�o.
Os atendimentos mais demandados podem ser solicitados on-line, segundo a prefeitura. Dos 778 servi�os dispon�veis, 300 podem ser solicitados pela internet e 40 pelo PBH APP, aplicativo da prefeitura.
No transporte coletivo, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) informou ontem que o metr� de Belo Horizonte segue funcionando normalmente, afastando rumores de que o sistema seria paralisado. Em nota, a concession�ria afirmou que “segue cumprindo a grade habitual de viagens, enquanto acompanha de perto a situa��o da doen�a em Belo Horizonte e regi�o metropolitana”.
A companhia ressaltou que foi criada a Comiss�o de Higiene e Preven��o, que acompanha de perto as situa��es nos trens e esta��es, seguindo orienta��es dos �rg�os de sa�de. Quanto � lota��o nas composi��es, informou que monitora o fluxo de passageiros nas esta��es e que posicionou trens em locais estrat�gicos para serem lan�ados no sistema em casos de aumento de demanda, visando diminuir a lota��o no interior dos vag�es. A redu��o de viagens, conforme a CBTU, se dar� apenas se for registrada queda no n�mero de passageiros ou para preservar os pr�prios funcion�rios do sistema.
Consultada, a BHTrans tamb�m informou que ainda n�o h� previs�o para altera��o dos quadros de hor�rios dos �nibus na capital.
Fa�o o trajeto de casa para a reda��o geralmente usando o servi�o p�blico de transporte. Hoje, cheguei ao ponto e j� notei que algo estava estranho, diferente. Em alguns minutos, passa o Circular 02 todo fechado, �nibus com ar-condicionado. Geralmente, nesse hor�rio, come�o da tarde, o coletivo sempre tem os assentos todos ocupados. Subo e vejo cadeiras vazias. Dois desceram. Ficamos eu e o motorista. Passamos por duas paradas, ningu�m subiu. J� no ponto principal, na Pra�a da Savassi, embarcaram apenas dois passageiros. Sil�ncio total... sem estudantes, sem trabalhadores. Foi assim at� meu ponto de descida. Desembarquei sentindo que a cidade est� se recolhendo.
Depoimento
Alexandre Guzanshe
Rep�rter Fotogr�fico
Fa�o o trajeto de casa para a reda��o geralmente usando o servi�o p�blico de transporte. Hoje, cheguei ao ponto e j� notei que algo estava estranho, diferente. Em alguns minutos, passa o Circular 02 todo fechado, �nibus com ar-condicionado. Geralmente, nesse hor�rio, come�o da tarde, o coletivo sempre tem os assentos todos ocupados. Subo e vejo cadeiras vazias. Dois desceram. Ficamos eu e o motorista. Passamos por duas paradas, ningu�m subiu. J� no ponto principal, na Pra�a da Savassi, embarcaram apenas dois passageiros. Sil�ncio total... sem estudantes, sem trabalhadores. Foi assim at� meu ponto de descida. Desembarquei sentindo que a cidade est� se recolhendo.