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Estado de Minas

Coronav�rus derruba turismo das cidades hist�ricas de Minas �s v�speras da semana santa

Medidas de isolamento social levam ao fechamento de lojas e museus e j� provocam retra��o na economia de Ouro Preto, Mariana, Tiradentes, Diamantina e Serro


postado em 28/03/2020 04:00 / atualizado em 27/03/2020 22:55

Habitualmente lotada, a Praça Tiradentes, em Ouro Preto, virou um campo aberto. Na porta do museu (detalhe), somente o segurança de máscara e um aviso sobre o fechamento(foto: Fotos: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Habitualmente lotada, a Pra�a Tiradentes, em Ouro Preto, virou um campo aberto. Na porta do museu (detalhe), somente o seguran�a de m�scara e um aviso sobre o fechamento (foto: Fotos: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Nas ruas cal�adas de pedra, s� se ouve o badalar dos sinos das igrejas barrocas marcando as horas. As lojas est�o fechadas, os museus, com avisos na fachada, e os moradores, em suas casas, dentro do isolamento social. Turistas, nenhum, neste ano de comemora��o do tricenten�rio da Capitania de Minas.

 
A poucos dias das cerim�nias da semana santa, Ouro Preto e Mariana, na Regi�o Central, Tiradentes, no Campo das Vertentes, Diamantina e Serro, no Vale do Jequitinhonha, junto a outras cidades coloniais mineiras, vivem um tempo �nico em sua hist�ria devido � pandemia do novo coronav�rus, que provoca a COVID -19: cancelamento das prociss�es, missas solenes e das encena��es da paix�o de Cristo e dos ritos em latim, que atraem multid�es.
 
A esplêndida Basílica de Nossa Senhora do Pilar, onde seriam realizadas as cerimônias da semana santa santa, está de portas cerradass
A espl�ndida Bas�lica de Nossa Senhora do Pilar, onde seriam realizadas as cerim�nias da semana santa santa, est� de portas cerradass

"No setor tur�stico, este � o segundo momento mais importante no calend�rio dos munic�pios, sendo o primeiro o carnaval, que, em 2020, foi o melhor em d�cadas. Esper�vamos muitos visitantes agora", diz o presidente da Associa��o das Cidades Hist�ricas, Jos� Fernando Aparecido de Oliveira, prefeito de Concei��o do Mato Dentro, na Regi�o Central do estado.
 
Na falta das celebra��es centen�rias, os munic�pios se antecipam para atender os poss�veis casos de COVID-19. � o caso de Ouro Preto, que implanta um hospital de campanha no pr�dio de f�brica de tecidos do s�culo 19, restaurada para ser uma �rea de eventos. "O patrim�nio n�o faz sentido sem a vida humana", destaca o secret�rio municipal de Cultura e Patrim�nio, Zaqueu Astoni Moreira.
Carro de polícia convida a população a ficar em casa em rua da antiga capital de Minas Gustavo Werneck, Leandro Couri, Luiz Ribeiro e Roger Dias
Carro de pol�cia convida a popula��o a ficar em casa em rua da antiga capital de Minas Gustavo Werneck, Leandro Couri, Luiz Ribeiro e Roger Dias

Em Tiradentes, um decreto do prefeito Z� Ant�nio do Pacu (PSDB) restringiu a circula��o de pessoas na cidade e eventos famosos foram suspensos. Fortemente dependente do turismo, a cidade sente os efeitos do esvaziamento, mas donos de neg�cios entendem que o isolamento � necess�rio. Para impedir a quebradeira, entretanto, j� reivindicam subs�dios dos governos municipal, estadual e federal para os pequenos neg�cios.

Diamantina tamb�m est� em compasso de espera. A vesperata, evento que ocorre em abril, maio e junho e e movimenta o turismo da cidade, est� suspensa at� segunda ordem. As ruas est�o desertas e a expectativa de retomada da economia depois do fechamento de garimpos teve que se adiada.

Agenda cheia e d�vidas

Com 72 mil habitantes, popula��o flutuante que cresce muito devido � universidade federal (Ufop) e outras tradicionais unidades de ensino, Ouro Preto tem na semana santa um orgulho para os moradores e um chamariz para o turismo. "Nossas prociss�es s�o famosas no mundo inteiro e atravessam os s�culos, mantendo a ess�ncia", conta o secret�rio Zaqueu.
 
Neste ano, a agenda de atividades c�vicas e culturais em Ouro Preto est� cheia. A primeira, ainda indefinida pelo governo do estado, se refere ao 21 de Abril, com as homenagens � Inconfid�ncia Mineira. As demais ser�o a partir de junho, quando, espera-se, a pandemia ter� arrefecido: 250 anos da Casa da �pera (junho), 300 anos da Sedi��o de Vila Rica (julho), 300 da Capitania de Minas (dezembro) e quatro d�cadas da conquista do t�tulo de Cidade Patrim�nio da Humanidade, o primeiro no pa�s concedido pela Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, Ci�ncia e Cultura (Unesco). Essa festa ser� em setembro.

Com a �rea central tombada pelo Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), Ouro Preto tem o Museu da Inconfid�ncia, na Pra�a Tiradentes, entre os mais visitados do pa�s, considerando-se os vinculados ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Agora, quem chega ao monumento para conhecer mais sobre a hist�ria do Brasil, em particular de Minas, encontra o aviso de que est� fechado devido � pandemia.
 
A espl�ndida Bas�lica de Nossa Senhora do Pilar, onde seriam realizadas as cerim�nias da semana santa – em Ouro Preto, h� um revezamento com a Matriz de Nossa Senhora da Concei��o, de Antonio Dias – tamb�m est� de portas cerradas. "Nesta semana, ter�amos a pen�ltima parte do Seten�rio das Dores", conta o diretor do Museu de Arte Sacra de Ouro Preto, vinculado � Par�quia do Pilar, Carlos Jos� Aparecido de Oliveira, conhecido com Caju.
  
O Seten�rio, sobre Nossa Senhora das Dores, tem origens no s�culo 18, com ora��es em latim sobre as "sete dores de Maria" e acompanhamento de orquestra. "Seguimos todo o original", afirma Caju. Ponto de visita��o obrigat�rio, a Bas�lica do Pilar � uma das mais ricas do pa�s, com imagin�ria e ret�bulos artisticamente trabalhados em ouro.
 
No momento, apenas o p�roco Marcelo Moreira Santiago vai ao templo barroco, que, mesmo durante a pandemia, continua no centro das aten��es. H� duas semanas, apareceram por l�es, com cinco alem� guia, todos com m�scara cir�rgica, querendo ver o interior da igreja tricenten�ria. "Fiquei surpreso", contou Caju.
 
HOSPITAL Enquanto espera para ajustar sua agenda para os pr�ximos meses, Ouro Preto se prepara para enfrentar o coronav�rus e preservar a sa�de de seus moradores. Uma f�brica de tecidos, fora do Centro Hist�rico de Ouro Preto, a 95 quil�metros de Belo Horizonte, na Regi�o Central, se transforma em hospital de campanha para atender os necessitados de socorro durante o tempo que durar a pandemia do novo coronav�rus.
 
O projeto do prefeito J�lio Pimenta transformou o local em �rea de eventos, inaugurada no ano passado, mas, diante da gravidade da situa��o, a constru��o do s�culo 19 ser� o Centro Avan�ado de Combate ao Corinav�rus.
 
O hospital de campanha contar� com 50 leitos e 12 respiradores. O local est� sendo adaptado dentro das normas para o quadro de emerg�ncia, com revestimento de gesso cartonado na parede de tijolinhos original, tudo com recursos municipais. (GW)

Perdas que se repetem

A professora Hebe R�la nunca imaginou que, aos 89 anos, ficaria sem participar das cerim�nias da semana santa em Mariana, a Primaz de Minas – primeira vila, cidade, diocese e capital do estado."D� muita tristeza, pois s�o atos religiosos de grande beleza c�nica e de tradi��o", afirma a moradora do Centro Hist�rico e professora em�rita, de letras, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).
 
Sem sair de casa, a exemplo de todos em isolamento social e mais ainda por ordem m�dica, Hebe destaca a Prociss�o das Almas, que sai �s ruas de Mariana, � meia-noite da sexta-feira da paix�o, como um dos momentos solenes. "O povo gosta muito, e acredito que tudo merece reflex�o."
 
Quem caminha pela Rua Direita, passa pela Pra�a da S�, onde fica o pelourinho, e depois vai � Pra�a Minas Gerais, sente que o clima mudou. Sobrados fechados, avisos nas portas, monumentos trancados. O guia de turismo Paulo Gomes da Silva, de 46, est� desolado com a situa��o. "As pessoas n�o saem de casa, os turistas n�o v�m mais. Esper�vamos um movimento maior na semana santa, mas as cerim�nias foram canceladas. Est� dif�cil com o coronav�rus. Temos que esperar por uma vacina, n�?", lamenta o guia e ajudante em obra civil.

PERTENCIMENTO Ainda amargando os efeitos do rompimento, em 2015, de uma barragem de rejeitos de min�rio da Samarco, que deixou mortos e devasta��o ambiental, Mariana dever� ter novas perdas. "E sem recupera��o, pois esta �poca � muito importante para o turismo e a cultura. Ficar� uma mancha na nossa hist�ria, pois as pessoas t�m uma rela��o de pertencimento com a semana santa", diz o prefeito Duarte J�nior.
 
Com dois casos confirmados de COVID-19 - "importados e identificados", informa Duarte J�nior, e outros em investiga��o, a prefeitura de Mariana mant�m, nas vias de acesso � cidade, barreiras educativas. O prefeito esclarece que trabalho n�o � para impedir a circula��o das pessoas, mas para orientar.

PREJU�ZOS O turismo religioso cresce no mundo e tem, em Minas Gerais, um destino poderoso. O presidente da Associa��o das Cidades e Hist�ricas de Minas Gerais e prefeito de Concei��o do Mato Dentro, Jos� Fernando Aparecido de Oliveira ressalta que as cidades mineiras nascidas nos tempos coloniais s�o essencialmente tur�sticas, com grande fluxo de visitantes de todo o Brasil e do mundo, o ano inteiro. "Ent�o, o impacto neste momento � muito grande em todas elas. Basta ver a extens�o da cadeia produtiva do turismo, que vai das pequenas f�bricas de doces e artesanatos aos grandes hot�is, pousadas e restaurantes". E mais: "Essa extensa cadeia produtiva, muitas vezes �nica fonte de renda para fam�lias inteiras, est� sendo afetada agora.
 
Este momento � um grande desafio para todas as administra��es municipais dessas cidades mineiras, e estamos em permanente di�logo, buscando solu��es dentro da capacidade e do potencial de cada uma, tamb�m de forma conjunta".Jos� Fernando cita como exemplos S�o Thom� das Letras, na Regi�o Sul do estado, que pela proximidade com a capital paulista, onde foram relatados os primeiros casos de corona v�rus no Brasil, "foi uma das primeiras cidades a tomar a decis�o, e uma decis�o dr�stica, de restringir a visita��o". E tamb�m Concei��o do Mato Dentro, "onde temos um turismo religioso muito forte e uma das maiores romarias do Brasil, com seus mais de 220 anos, que � do Bom Jesus de Matosinhos". (GW)


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