V�deo: Fila do aux�lio emergencial em Ribeir�o das Neves tem colch�o, cobertor e mais de 12h de espera
Segundo moradores da cidade da RMBH, aglomera��o come�ou a se formar na tarde de segunda (27); renda b�sica emergencial � a principal demanda do p�blico
postado em 28/04/2020 09:07 / atualizado em 12/05/2020 11:45
Corrida pelo aux�lio emergencial: fila na porta da ag�ncia da Caixa de Ribeir�o das Neves, Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, j� reunia 140 pessoas �s 5h30 desta ter�a. O primeiro da fila diz ter chegado �s 17h30 do dia anterior. (foto: Leandro Couri/EM D.A. Press)
Quase todo o Brasil cabe na simb�lica fila de 140 pessoas formada �s 5h30 desta ter�a-feira (28) na porta da ag�ncia da Caixa Econ�mica Federal do Centro Ribeir�o das Neves, Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte.
A primeira a chegar foi Andreia Pimenta, de 39 anos. Munida de colch�o e cobertor, a dona de casa diz que est� no local desde 17h30 dessa segunda (27) para tentar resolver problemas no cadastro do aux�lio emergencial - ajuda do governo concedida a informais e trabalhadores de baixa renda durante a pandemia de coronav�rus. O marido, Deiber Hulik Pereira, de 28 anos, se juntou a ela pouco depois, �s 21h.
Com problemas renais cr�nicos, Andreia tem dimens�o do risco que corre ao se expor � aglomera��o em pleno surto global, mas afirma n�o ter escolha. “Eu tenho uma filha, estou desempregada e meu marido tamb�m. Ent�o, a necessidade da gente pegar esses R$ 600 � enorme”, diz a mo�a. � a segunda vez que o casal vem � Caixa em busca do benef�cio. “Semana passada, chegamos aqui �s 21h. Ficamos at� as 9h da manh� (do dia seguinte). Sa�mos sem informa��o, sem nada. As senhas distribu�das no dia acabam r�pido”, relata.
Ver galeria . 10 FotosMarlos Goncalves dos Santos, padeiro, 45 anos. Ele conta que chegou � fila na porta da ag�ncia da Caixa Econ�mica Federal do Centro de Ribeir�o das Neves �s 22h30 do dia anterior. '� a terceira vez que eu venho'. Demitido, o profissional diz que veio tentar receber o seguro-desemprego
(foto: Leandro Couri/ EM D.A.Press )
Na multid�o que come�a na Rua Ari Teixeira da Costa e dobra a esquina da Rua Divino Messias dos Santos, onde segue por mais de 500 metros, h� in�meras hist�rias semelhantes. A da diarista M.M.,que n�o quis se identificar, envolve outro v�rus al�m do causador da COVID-19. Diagnosticada com HIV, a trabalhadora chegou ao banco �s 5h40. Era uma das �ltimas da fila. Chegou a abordar equipe do Estado de Minas, pensando que os rep�rteres fossem funcion�rios da Caixa. Constrangida, explicou sua situa��o e pediu ajuda para escapar do tumulto.
“O medicamento que eu tomo � muito forte, queria ver se dava para me atender antes do pessoal. Preciso receber o aux�lio emergencial, mas n�o tenho como mexer no aplicativo. Meu celular foi roubado e eu n�o confio em ningu�m para resolver isso por mim. Tem como fazer alguma coisa para me ajudar?”, perguntou, fazendo men��o de retirar da bolsa exames e documentos que comprovam a sua condi��o, incluindo o boletim de ocorr�ncia do roubo do smartphone.
Maria Efig�nia e Alaor Silva, de 73 e 72 anos, respectivamente. Idosos enfrentam maratona de mais de 12h para tentar receber o aux�lio emergencial do filho, que tem defici�ncia intelectual (foto: Leandro Couri/EM D.A. Press)
Frio e apreens�o
Para matar o t�dio da longa espera, um grupo de homens improvisava uma partida de truco sobre uma caixa de isopor. Aguardavam atr�s de quase duas dezenas de pessoas, j� na virada do quarteir�o. Diziam ter chegado � ag�ncia por volta das 20h de ontem. Resignados, demonstravam bom humor. 'Quem quer entrar (no jogo)? Ajuda a espantar o frio', brincaram.
Larissa Moreira Franca, de 28 anos, n�o aparentava estar no mesmo clima. A aut�noma temia ficar sem atendimento mais uma vez - ela esteve em outras duas ocasi�es na porta da unidade da Caixa. A jovem chegou � fila �s 23h40 de segunda. Ela conta que n�o consegue concluir o cadastro na ajuda emergencial do governo de forma remota, embora tenha feito v�rias tentativas, por isso recorre ao atendimento presencial do banco. "Da primeira vez, vim de manh�, n�o consegui. Depois, apareci de madrugada, tamb�m n�o deu certo. Da�, ontem, eu vim para dormir. Espero que eu consiga".
M�e de dois filhos, a mo�a sobrevive da venda de doces e bolos. Com a crise do coronav�rus, viu sua renda ser drasticamente reduzida. "A minha vida parou depois dessa pandemia. Eu preciso desses R$ 600 para inteirar meu aluguel e at� mesmo fazer uma compra em casa. Recebemos uma cesta b�sica, mas as crian�as n�o precisam s� de arroz e feij�o. Tenho que comprar uma fruta, um iogurte...", narra.
Maria Efig�nia Silva, de 73 anos, diz que tentou seguir � risca as orienta�oes da Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) aos idosos, de n�o sair de casa durante a pandemia. Nesta ter�a (23), foi obrigada a encarar a maratona de 12 horas na porta da Caixa ao lado do marido, Alair Silva, de 72. Sem intimidade com a tecnologia, o casal de aposentados veio � ag�ncia tentar receber o aux�lio emergencial depositado para o filho, de 41 anos, que tem defici�ncia intelectual. Alair conta que tentou buscar informa��es sozinho em outros dias, sem sucesso. ''Tentei poupar minha esposa, mas ela tem que vir de qualquer jeito, porque ela � que responde por ele. A gente precisa transferir o dinheiro da conta do meu filho para a dela. Da primeira vez que vim aqui, cheguei de madrugada, mas as fichas (de atendimento) acabaram logo. N�o resolvi nada. Dessa vez, chegamos �s 20h de ontem. Vamos ver se conseguimos", relata o senhor.
Outro lado
O Estado de Minas procurou a Caixa Econ�mica Federal e a prefeitura de Ribeir�o das Neves questionando sobre poss�veis provid�ncias dessas institui��es para mudar o cen�rio enfrentado pelos moradores da regi�o que se exp�em em longas filas para resolver quest�es relacionadas ao aux�lio emergencial e servi�os correlatos.
O banco ressaltou que tem empenhado esfor�os para otimizar o movimento em seus canais f�sicos e digitais. Entre eles, citou aloca��o de 2.800 novos vigilantes em todo o Brasil e o aumento o n�mero de recepcionistas para refor�ar a orienta��o ao p�blico e manter os protocolos de preserva��o da sa�de recomendados pelas autoridades sanit�rias.
Segundo a Caixa, todo o atendimento presencial da rede est� mobilizado exclusivamente para os clientes que buscam os servi�os essenciais - saque do FGTS, seguro desemprego, Bolsa Fam�lia, desbloqueio de senhas, entre outros programas -, al�m dos benefici�rios do saque escalonado em esp�cie do aux�lio emergencial.
A empresa alega, no entanto, que v�rias de suas unidades t�m recebido grande volume de pessoas que n�o fazem parte desses p�blicos - o que n�o parece ser o caso da ag�ncia visitada esta manh� pela reportagem.
Outro argumento da estatal � de que muitos cidad�os reivindicam os saques dos R$ 600 antes da data prevista no cronograma da opera��o de pagamento, configurado por data de nascimento. “Levantamento da Caixa aponta que apenas uma pessoa a cada cinco que buscaram presencialmente o banco nessa segunda-feira (27) tinha direito ao saque na referida data”, detalha o comunicado enviado pela empresa.
A prefeitura de Ribeir�o das Neves, por sua vez, esclareceu que cabe �s empresas da cidade o controle de filas internas e externas formadas em seus estabelecimentos, assim como a garantia de "dist�ncia de seguran�a entre os clientes, uso de m�scara e �lcool em gel".
De acordo com o munic�pio, essa responsabilidade est� descrita no Decreto 047/2020, editado pelo prefeito Moacir Martins da Costa J�nior (PSC) em 22 de abril deste ano, que determinou a reabertura gradual do com�rcio em Ribeir�o das Neves.
"Para garantir o cumprimento do Decreto, foi formado um verdadeiro batalh�o de fiscais, com a participa��o de cerca de cem servidores municipais, que est�o permanentemente nas ruas com a��es educativas, diz a nota enviada pela prefeitura.
A reportagem n�o verificou a presen�a desses agentes entre 5h30 e 7h desta ter�a-feira (28) per�odo em que esteve nas imedia��es da ag�ncia da Caixa Econ�mica Federal situada na rua Ari Teixeira da Costa.
Segundo o �ltimo boletim epidemiol�gico da Secretaria de Estado de Sa�de de Minas Gerais (SES-MG), a cidade da Regi�o Metropolitana ainda n�o registra �bitos causados pela COVID-19. H�, at� o momento, seis infectados pela doen�a e 893 casos suspeitos.