
Em 2020, a tradicional missa dedicada ao 1º de maio em Contagem, na Grande BH, ganhou um formato diferente por conta da pandemia do coronav�rus. Em sua 44ª edi��o, a missa do trabalhador deixou a Pra�a da Cemig, na cidade, e foi transmitida ao vivo pela televis�o e redes sociais.
A missa � celebrada com a coordena��o da Arquidiocese de Belo Horizonte, por meio da Regi�o Episcopal Nossa Senhora Aparecida (Rensa). A homilia foi presidida pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de BH, Dom Vicente de Paula Ferreira, ao lado do padre Jean Aguiar, vig�rio episcopal da regi�o epsicopal Nossa Senhora Aparecida, e o padre Joel Maria dos Santos, vig�rio episcopal para a��o pastoral da Arquidiocese de BH.
O dia lembra S�o Jos� Oper�rio, quando milhares de trabalhadores pedem a intercess�o do santo, protetor dos oper�rios, e agradecem por gra�as obtidas, em um momento de f� e comunh�o. Marido de Maria, m�e de Jesus, S�o Jos� era carpinteiro. Com a data, a Igreja pede a todos que reconhe�am a dignidade do trabalho, solicitando que tamb�m o trabalhador seja respeitado como colaborador de Deus na obra da cria��o.

Todos os anos, a missa re�ne cerca de 5 mil pessoas na pra�a, que levam as carteiras de trabalho para serem aben�oadas, mas nesta sexta-feira teve que ser acompanhada � dist�ncia. A missa aconteceu na sede da C�ria Regional Nossa Senhora Aparecida, no Bairro Cidade Industrial, em Contagem, e foi assistida presencialmente apenas por colaborades da institui��o.
"Hoje seria um dia com muitas pessoas reunidas nessa festa, mas por causa do isolamento nos fazemos poucos e estamos unidos pelos meios de comunica��o. Apesar do distanciamento f�sico, agradecemos a Deus por termos os meios de comunica��o que permitem a proximidade espiritual. Uma forma de fazer com que a mensagem, em mem�ria a S�o Jos� Oper�rio, chegue ao cora��o das pessoas e comunidades", disse Dom Vicente. "Deus criou sua obra e a deixa aberta para que os homens colaborem e continuem aperfei�oando essa obra. E seu filho, Jesus, se colocou na fila dos trabalhadores, lembrando seu pai adotivo, S�o Jos�, carpinteiro", acrescentou.
Dom Vicente fez quest�o de pontuar o trabalho como uma gra�a que dignifica o homem e que n�o existe drama maior que ser privado do trabalho. Ele lembrou a desigualdade social no Brasil, que abre um fosso entre poucos que det�m muito e muitos que quase nada t�m. "Como comemorar essa data no contexto da pandemia? S� no Brasil, s�o 40 milh�es de pessoas na informalidade, 13 milh�es de desempregados, 4 milh�es de desalentados, essas �ltimas pessoas que n�o t�m mais for�a para procurar um emprego. Vemos a exclus�o social, a injusti�a, s�rias desigualdades, e at� o trabalho escravo. Poucas pessoas concentram muita coisa e muitos irm�os est�o na pobreza. � um abismo", ressaltou, criticando a l�gica do lucro.

O bispo lembrou ainda os jovens, que muitas vezes n�o t�m uma perspectiva futura de obter um bom posto no mercado formal de empregos. No 1º de maio, ele tamb�m convida a pensar sobre a realidade do trabalho. Para o religioso, � preciso ter esperan�a e superar desafios. Por outro lado, refor�ou que a crise com o coronav�rus n�o pode ser vencida por pessoas sozinhas.
"O v�rus nos deixou no escuro, e estampa nossas vulnerabilidades. Nos mostra que todos somos irm�os. � hora de superar algo que est� enraizado em nossa cultura - o ego�smo. S� passaremos por tudo isso se nos dermos as m�os. No planeta estamos todos interligados, � nossa casa comum", declarou. Para Dom Vicente, ao fim da pandemia, a volta ao normal deve chegar, no entando, dentro de um novo conceito do que se chama normal. "Precisamos dar novos passos, mais parecidos com a vontade de Deus. Se mantivermos o mesmo estilo de vida a Terra n�o vai mais dar conta de n�s."
Entre leituras do evangelho, hinos de louvor e as explana��es dos celebrantes, foram lembrados todos os trabalhadores, desempregados e desalentados, como � de costume nesse dia, mas agora tamb�m est�o nas preces, devido ao coronav�rus, agentes de sa�de, empregados de servi�os essenciais, agentes de seguran�a, al�m de autoridades eclesiais, sociais e pol�ticas.
Na missa, tamb�m foram mencionados os trabalhadores que se encontram em impossibilidade de trabalhar por conta da quarentena, entretanto uma realidade at� melhor de quem n�o tem sequer uma ocupa��o. "A pandemia coloca muito em xeque. N�o tem mais espa�o para a arrog�ncia de quem considera que sabe tudo, que tudo controla", disse Dom Vicente, que tamb�m falou da import�ncia da solidariedade em momentos como esse. "Rezamos para que nunca falte trabalho digno e sal�rio justo. A solidariedade � um rem�dio para um mundo novo, justo e fraterno. E, se algu�m se sentir isolado, nos procure."
Os internautas que acompanharam a celebra��o em tempo real enviaram mensagens durante a missa. Entre pedidos de ora��o e outros apelos, a comunidade religiosa compareceu, ainda que n�o t�o de perto. Entre as declara��es, Fabiana Pitangui escreveu, na lista de coment�rios do YouTube: "Gostaria de pedir uma ora��o pelo meu emprego, que eu continue empregada. Por causa dessa pandemia estou em casa. Que Deus aben�oe para que as pessoas n�o percam seus empregos, para que isso passe r�pido. E que, quando passar, que sejam abertas mais portas para quem precisa trabalhar."

Juliana Mara Correa declarou: "S�o Jos� rogai por n�s! Por todos os trabalhadores e principalmente pelas pessoas que est�o desempregadas." Em outra mensagem, Lucilia da Silva Souza desejou: "Que Deus abra as portas do trabalho para nossos irm�os." Josinea Prates considerou s�bias e tocantes as palavras de Dom Vicente. "N�o podemos sair dessa pandemia com os velhos h�bitos. Que o bom Jesus nos liberte de todo ego�smo e nos ajude a cuidar da casa comum. S�o Jos� nos proteja", postou.
Ao fim da missa, padre Jean leu mensagem enviada por Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e presidente da Confer�ncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). "O momento � de uni�o de esfor�os, p�blicos e privados, para que ningu�m seja deixado para tr�s. Saiba que voc� n�o est� sozinho", consta em um trecho do depoimento de Dom Walmor.

Depois, como j� � costume, carteiras de trabalho foram colocadas � frente do bispo Vicente para a ben��o, e o religioso disse para que tamb�m os fi�is em casa portassem a carteira ou outros s�mbolos que remetessem ao trabalho para serem aben�oados.