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Estado de Minas

Nove argumentos cient�ficos contra a flexibiliza��o do isolamento

Pesquisadores UFMG alertam: afrouxamento da quarentena � precipitado e pode provocar disparada dos casos de COVID-19 em Minas


postado em 10/05/2020 04:00 / atualizado em 13/05/2020 23:16

Ruas vazias e a maioria das pessoas em casa são a condição ideal para se obter o melhor resultado no combate ao coronavírus(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press )
Ruas vazias e a maioria das pessoas em casa s�o a condi��o ideal para se obter o melhor resultado no combate ao coronav�rus (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press )


A retomada gradual das atividades econ�micas proposta pelo Programa Minas Consciente – protocolos disponibilizados pelo estado �s prefeituras mineiras desde 30 de abril – � prematura e pode anular os benef�cios proporcionados pela quarentena, como redu��o da taxa de mortalidade e de contamina��o pelo novo coronav�rus. Neste momento, o que o governo deve articular junto aos munic�pios � o refor�o do isolamento social, n�o a flexibiliza��o. A recomenda��o � do Comit� de Enfrentamento do Novo Coronav�rus da UFMG.

Por que ainda n�o � o momento para flexibilizar o isolamento social?
9 argumentos da UFMG

  • A transmiss�o do v�rus no Brasil ainda n�o est� controlada
  • Nosso sistema de sa�de ainda n�o est� detectando adequadamente as pessoas com COVID-19 em Minas Gerais
  • Ainda n�o h� um planejamento para a realiza��o de testes em amostra representativa da popula��o
  • � necess�rio aprimorar a sistematiza��o e a transpar�ncia das informa��es relativas aos servi�os de sa�de (profissionais, disponibilidade de leitos, insumos de EPI, respiradores)
  • Os protocolos com as medidas preventivas e de controle em ambientes de trabalho, espa�os p�blicos e escolas ainda n�o foram amplamente divulgados e debatidos nos diversos setores da nossa sociedade.
  • � insuficiente ainda o investImento em campanhas que promovam o engajamento da popula��o e conscientiza��o para ades�o �s medidas preventivas 
  • � preciso esclarecer como ser� a vigil�ncia e o controle de poss�veis novos casos importados de outras cidades e estados 
  • A “imunidade de rebanho” n�o ir� acontecer t�o cedo
  • Ainda n�o h� suficiente alinhamento da pol�tica de preven��o entre o n�vel federal e estadual para garantir a��es coordenadas e efetivas
 
O grupo de defende a tese em um artigo, com base em nove argumentos cient�ficos calcados em crit�rios da Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS), estudos de institui��es renomadas, como a Imperial College, al�m da experi�ncia de pa�ses como Alemanha e Singapura. 

O primeira raz�o alegada para manuten��o das medidas restritivas � o fato de que a transmiss�o do v�rus tanto no Brasil, como em Minas, n�o est� controlada. Com mais de dez mil mortos por COVID-19, o pa�s ocupa o 6° lugar no ranking mundial de �bitos pela doen�a, cuja propaga��o ocorre em propor��es exponenciais. “O problema do crescimento exponencial � que ele pode acelerar de forma imprevis�vel, necessitando de medidas dr�sticas para evitar novos casos e interromper a cadeia de transmiss�o”, diz o texto do artigo. 

No estado, os especialistas recorrem � trajet�ria da pandemia no interior para demonstrar o descontrole da dissemina��o. N�meros da Secretaria de Estado de Sa�de (SES-MG) citados pelos pesquisadores mostram que, em 6 de abril, 56% dos �bitos confirmados em Minas eram procedentes de cidades de menor porte. Um m�s depois, em 6 de maio, o �ndice j� era de 76%. A publica��o tamb�m alerta para a capacidade de esgotamento hospitalar no interior. Em 4 de maio, 6 das 14 macrorregi�es mineiras j� estariam com 90% dos leitos de terapia intensiva ocupados.

Rebanho

Outro t�pico levantado pelos membros do comit� � que a pol�mica “imunidade de rebanho”, estrat�gia que chegou a ser defendida no Reino Unido pelo Primeiro Ministro Boris Johnson, n�o deve ocorrer t�o cedo no Brasil. A professora da Faculdade de Medicina da UFMG Cristina Alvim - uma das autoras do documento - explica que o conceito remete � resist�ncia adquirida pela popula��o ap�s o cont�gio por uma doen�a - como a catapora, por exemplo - e posterior recupera��o. Em tese, as pessoas curadas criam anticorpos. Quando uma porcentagem alta do “rebanho” se torna imune, o v�rus ent�o deixa de circular e a doen�a pode ser erradicada. 

No caso do novo coronav�rus, os estudiosos ressaltam que o custo humano e social dessa solu��o poderia ser alt�ssimo em Minas. A imunidade em massa, afinal, s� pode ser alcan�ada quando mais de 70% da popula��o � infectada. Uma proje��o feita no artigo mostra que, aplicando nesse contexto a letalidade m�dia da COVID-19 de 1%, observada em pa�ses com como a Alemanha, pelo menos 145 mil mineiros teriam que morrer para o sucesso da empreitada

"O discurso da imunidade de rebanho demonstra falta de conhecimento sobre a din�mica da doen�a. Se a gente transporta esse c�lculo que fizemos de Minas para o Brasil, numa conta grosseira, chegamos � conclus�o de que 140 milh�es de pessoas (70% dos brasileiros) teriam que ser infectados para que cheg�ssemos � essa imunidade. Se 1% desse total morrer, haveria 1,4 milh�o de �bitos", pondera Cristina.



A pesquisadora ressalta ainda que n�o h� evid�ncias de que os anticorpos adquiridos pelo cont�gio do Sars-CoV-2, o v�rus da COVID-19, sejam uma garantia duradoura contra a infec��o. 

Testagem

A subnotifica��o casos e a aus�ncia de um planejamento de testagem para o estado tamb�m preocupam a UFMG. Segundo o comit�, o estado testa, efetivamente, 11% dos casos suspeitos de coronav�rus, o que faz da amostra pouco representativa da real expans�o da pandemia. Diante desse cen�rio, a flexibiliza��o do isolamento ocorreria no escuro, uma vez que, sem testes, n�o h� como monitorar a medida, ou mesmo acompanhar a evolu��o do surto. 

De acordo com o artigo, Minas realiza 478 testes por 1 milh�o de habitantes desde o in�cio da epidemia. A taxa do Brasil, considerada baixa na compara��o com outros pa�ses, � tr�s vezes maior. Na It�lia, onde o confinamento come�a a ser flexibilizado, o �ndice � de 23 mil testes/milh�o de habitantes. 

A professora Cristina Alvim alerta para o fato de que a retomada as atividades econ�micas sem um plano de testagem adequado tamb�m p�e o sistema de sa�de na rota do colapso. Estudos matem�ticos feitos pela Universidade apontam que eventuais mudan�as na taxa de transmiss�o do v�rus provocadas pelo relaxamento podem multiplicar por dez o n�mero de infec��es pela COVID-19, sem que haja aumento da demanda por leitos. Quando as autoridades notarem os efeitos dessa propaga��o em ocupa��o de vagas de UTI, pode n�o haver mais tempo para evitar sobrecarga.

“A doen�a tem transmiss�o r�pida, mas a evolu��o � lenta. N�s temos 14 dias de incuba��o, dois dias de transmiss�o ainda assintom�tica, uma semana de s�ndrome gripal e, em m�dia, at� duas semanas de interna��o hospitalar. Isso faz com que a doen�a seja lenta. E se n�s n�o detectamos precocemente a transmiss�o, quando notarmos o efeito da doen�a na ocupa��o de leitos hospitalares, j� haver� um enorme n�mero de pessoas infectadas”, explica a m�dica.

O governador Romeu Zema (Novo) admitiu recentemente � imprensa que a testagem em massa est� descartada em Minas, alegando falta de recursos para financiar o m�todo - posicionamento reiterado pelo Secret�rio de Estado de Sa�de, Carlos Eduardo Amaral em 29 de abril durante reauni�o remota com deputados na Assembleia Legislativa. 

"A crise econ�mica � mundial, ela j� est� instalada, a gente sabe. Mas, infelizmente, eu acho muito dif�cil concordar com essa postura de que 'o estado est� quebrado', n�o tem mais o que fazer, ent�o vamos reabrir'. S�o vidas humanas', rebate Cristina Alvim.




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