Enfermeiros, t�cnicos e auxiliares de enfermagem s�o pe�as-chave no enfrentamento de grandes desafios na �rea de sa�de – e permanecem imprescind�veis no combate � pandemia do novo coronav�rus. Mais do que o acolhimento dos pacientes, esses profissionais os acompanham por todo o tratamento, auxiliando no conforto, bem-estar e seguran�a, at� o momento da alta. � emblem�tico, ent�o, que seja comemorado nesta ter�a-feira o Dia Mundial dos Enfermeiros. O Estado de Minas conversou com alguns deles sobre como � estar na linha de frente em um momento t�o delicado.
Patr�cia Aguiar, de 43 anos, trabalha como enfermeira h� 21. Ela conta que escolheu a profiss�o depois de ouvir repetidamente da m�e um relato do tempo em que era crian�a. “Eu nasci com meningite, uma doen�a bem s�ria, e tive de ficar internada por 30 dias. Quase morri. Durante toda a minha vida, escutei minha m�e contando essa hist�ria. E o que mais me chamava a aten��o era a parte em que ela dizia que, quando chegou ao hospital, preocupada e sem saber a raz�o da minha febre, uma enfermeira logo me pegou nos bra�os e foi me dar banho. J� melhorando todo meu estado naquele momento”, conta. “Quando chegou o momento de me decidir, foi f�cil. Sempre gostei de cuidar das pessoas.”

Ela trabalha na linha de frente do Samu h� sete anos, encarando jornadas de 12 horas duas vezes por semana. Patr�cia comp�e a equipe da Unidade de Suporte Avan�ado (USA) 04, baseada no 1º Batalh�o de Bombeiros Militar, na Regi�o Centro-Sul de BH. Seu servi�o se baseia em atender pacientes que necessitam de cuidados emergenciais, como os que sofrem acidentes de tr�nsito. Agora, em meio � pandemia, ela diz que jamais imaginou viver situa��o similar.
“Est� sendo uma �poca de diferentes desafios para a ci�ncia, para tudo. Um v�rus novo mudou nossa vida desta forma. Quando a gente tem a not�cia de que um colega faleceu, � um sentimento enorme de apreens�o. Ficamos extremamente tristes, mas lembramos que os enfermeiros e t�cnicos de enfermagem s�o imprescind�veis no cuidado aos pacientes”, afirma.
"Somos instrumentos de Deus. O que eu fa�o � seguir todas as orienta��es. Vou de casa para o trabalho e do trabalho para casa. N�o sou apenas um c�digo de barras. Eu fa�o a diferen�a e � maravilhoso"
Nat�lia Guedes
De acordo com o Conselho Federal de Enfermagem, 98 profissionais do setor haviam morrido at� quarta-feira de COVID-19 no Brasil. “Agora, mais que tudo, a enfermagem precisa estar unida. Finalmente, temos o espa�o para mostrar nossa import�ncia e falar para a popula��o que estamos aqui para ajudar e contribuir”, refor�a Patr�cia.
GRUPOS DE RISCO Se idosos e portadores de doen�as cr�nicas comp�em os chamados grupos de risco da COVID-19, deficientes f�sicos tamb�m se enquadram nessa faixa. Com 12,7 milh�es deles no Brasil, h� exig�ncia redobrada de cuidados nesses tempos de pandemia. Nat�lia Guedes, de 35, conhece muito bem esses desafios. Ela � enfermeira da institui��o Novo C�u, que h� cerca de 28 anos desenvolve trabalho reconhecido de acolhimento, em regime de abrigo, de crian�as, adolescentes e adultos com paralisia cerebral em situa��o de vulnerabilidade social. Para ela, o maior temor � que o v�rus chegue at� seus assistidos.

“Tenho muito medo. Medo porque esses meninos n�o t�m chance contra o v�rus. E medo de que eles sejam contaminados. Mas, ao mesmo tempo, sempre digo: � meu trabalho e n�o tem muito para onde correr. Somos instrumentos de Deus. O que eu fa�o � seguir todas as orienta��es. Vou de casa para o trabalho e do trabalho para casa, sem colocar em risco ningu�m”, descreve.
Especializada em atua��o em CTIs, ela viu sua hist�ria se confundir com a do Novo C�u em v�rias etapas. Chegou a trabalhar na institui��o tr�s vezes e, entre idas e vindas, diz que se apaixonou pelos pacientes. “L�, eu n�o sou apenas um c�digo de barras. Eu fa�o a diferen�a e � maravilhoso.”
"A minha paix�o come�ou quando eu percebi que poderia contribuir e cuidar do outro em um momento de vulnerabilidade. Hoje, eu me autorreconhe�o, sei que estou fazendo a diferen�a na vida dos outros"
Jaime de Oliveira
Em abril, foi uma das 5 milh�es cadastradas no programa Brasil conta comigo, do Minist�rio da Sa�de, para ajudar no enfrentamento do Sistema �nico de Sa�de (SUS) � COVID-19, recebendo capacita��o nos protocolos oficiais por meio de curso a dist�ncia.
Enfermeiro no Hospital das Cl�nicas, Jaime de Oliveira, de 31, tamb�m trabalha na linha de frente de combate ao coronav�rus. Ele faz quest�o de observar que, durante o ensino m�dio, sempre gostou da ideia de ser professor. Diz que escolheu a enfermagem exatamente por isso, ao enxergar na profiss�o a oportunidade de lecionar. Hoje, Jaime � tamb�m professor da Pontif�cia Universidade Cat�lica de Minas Gerais.

“A minha paix�o come�ou quando percebi que poderia contribuir e cuidar do outro em um momento de vulnerabilidade. O enfermeiro est� com o paciente do nascimento at� a morte, em todos os momentos. Hoje, eu me autorreconhe�o, sei que estou fazendo a diferen�a na vida dos outros”, pontua.
O enfermeiro, especialista em urg�ncia e emerg�ncia, afirma sentir que est� fazendo a diferen�a em um contexto mundial com a pandemia. Em uma analogia com a Segunda Guerra, Jaime diz que “defender o bem comum” � o que faz profissionais da sa�de irem para os livros de hist�ria. “O nosso dever � cuidar, independentemente da pandemia ou n�o”.
"Est� sendo uma �poca de diferentes desafios para a ci�ncia, para tudo. Um v�rus mudou nossa vida desta forma. Quando a gente tem a not�cia de que um colega faleceu, � um sentimento enorme de apreens�o"
Patr�cia Aguiar
Para Jaime, falta ao poder p�blico um olhar especial para esses profissionais. Em sua vis�o, � preciso colocar em vigor pol�ticas que priorizem e cuidem dessa profiss�o que est� na linha de frente dos desafios na sa�de.
*Estagi�ria sob supervis�o do subeditor Eduardo Murta