
N�meros da Secretaria de Estado de Sa�de mostram que doen�as card�acas s�o as mais comuns em casos de mortes pela COVID-19 no momento. Para o m�dico Caio Ribeiro, coordenador do setor de Cardiologia do Hospital Lifecenter, a redu��o na procura dos cardiopatas por atendimento m�dico no Brasil, apesar de n�o indicada em casos de sintomas mais graves, repete o que ocorreu em outros pa�ses. “Houve uma diminui��o global de busca pelos pronto-atendimentos. Isso tamb�m se refletiu em queda da procura dos pacientes cardiol�gicos, inclusive dos mais graves”, afirma.
Segundo o m�dico, a situa��o preocupa, porque as patologias continuam existindo e exigindo cuidados. “As doen�as card�acas n�o entram em ‘quarentena’. Nosso receio � que essas pessoas estejam ficando em casa com sintomas que podem amea�ar a vida”, alerta o profissional da unidade hospitalar localizada na Avenida do Contorno, no Bairro Funcion�rios, Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte.
Mas, quando procurar o pronto-atendimento? Alguns sintomas, no caso das doen�as cardiovasculares, s�o preponderantes. Os sinais s�o conhecidos de portadores dessas doen�as: dor no peito, palpita��es (cora��o acelerado ou fora do ritmo), desmaio e falta de ar. “As indica��es s�o iguais. As pessoas que t�m qualquer manifesta��o cardiol�gica importante, que habitualmente j� era motivo de ir ao pronto-socorro, devem continuar procurando cuidados m�dicos”, pontua o infectologista e coordenador de uma das UTIs do Lifecenter, Guilherme Lima, de 36 anos.
SEPARA��O E SEGURAN�A
Mas o m�dico destaca a import�ncia de as unidades de sa�de terem fluxos separados para receber os pacientes com casos suspeitos ou confirmados da COVID-19 e os demais enfermos. No caso do hospital da Regi�o Centro-Sul da cidade, os quatro setores s�o separados: a enfermaria, o pronto-atendimento, o bloco cir�rgico e as UTIs. Tal condi��o procura garantir a seguran�a de quem trabalha no local e tamb�m de quem procura apoio m�dico.
Apesar de n�o negligenciar a busca por socorro n�o ser a atitude recomendada, o temor dos portadores de doen�as cardiovasculares com a COVID-19 se explica por n�meros. At� o �ltimo dia 23, dos 51 mortos pela doen�a em Minas Gerais, 37 apresentavam comorbidades ligadas a enfermidades do sistema card�aco, entre cardiopatias e hipertens�o arterial.
P� atr�s com medicamento

“A cloroquina tem sido usada no Brasil e no exterior com base em alguns estudos que mostraram benef�cio para o paciente que enfrenta a COVID-19. Contudo, � medida que novas pesquisas v�o saindo, inclusive nos Estados Unidos, esse benef�cio tem sido colocado em xeque. N�o se tem certeza absoluta, mas em casos graves a cloroquina tem sido usada na tentativa de resgatar o paciente”, afirma o cardiologista Caio Ribeiro.
De acordo com ele, o principal problema do uso da droga � que ela pode causar arritmias (altera��es nos batimentos do cora��o) graves, at� mesmo fatais. Ribeiro alerta sobre a prescri��o do medicamento em centros de sa�de. “Nos casos leves e ambulatoriais, esse benef�cio n�o � importante. Existem riscos graves, sobretudo quando (a cloroquina �) usada com outros medicamentos. Essas arritmias podem ser muito mais graves que a pr�pria COVID-19”, alertou o especialista, ainda em uma fase na qual o minist�rio preconizava o uso da subst�ncia apenas em quadros graves.

Doen�a card�aca pode pesar mais que a idade
Estudo feito por pesquisadores em Anhui e Pequim, na China, elencou por meio de pontua��es os fatores de risco ligados � COVID-19. Na pesquisa, as doen�as cardiovasculares tiveram peso superior � idade dos pacientes, mesmo considerando que os idosos tendem a ter quadros mais graves da enfermidade.
Ainda assim, � preciso destacar que in�meros estudos ainda tentam desvendar os aspectos da COVID-19. Como a doen�a � nova, os estudos se pautam principalmente por hip�teses. “A gente sabe que o mecanismo, que chamamos de receptor, que o coronav�rus usa para entrar na c�lula do corpo � muito presente no sistema cardiovascular. Mas s�o hip�teses, a gente n�o tem confirma��o. O que a gente sabe � a quest�o observacional: as cardiopatias s�o comorbidades muito presentes, talvez as mais presentes”, afirma o cardiologista Caio Ribeiro, do Lifecenter.
Os efeitos da doen�a que assusta o mundo no sistema cardiovascular acontecem em dois quadros cl�nicos, explicam especialistas. O primeiro deles � a pericardite: o incha�o e irrita��o da membrana que envolve o cora��o. H� tamb�m casos de miocardite, que � a inflama��o do m�sculo do �rg�o, respons�vel por sua contra��o.
PREOCUPA��O
Em um caso espec�fico das doen�as cardiovasculares, no entanto, a preocupa��o dos m�dicos � ainda mais elevada e virou um dos mais recorrentes temas de discuss�o entre especialistas na �rea: o tratamento dado a pacientes que enfrentam infartos agudos durante a pandemia do novo coronav�rus. Comumente, eles s�o encaminhados a um procedimento chamado angiosplastia prim�ria. � quando o m�dico usa um bal�o para pressionar uma placa que est� comprometendo o fluxo de sangue em uma art�ria, empurrando-a contra a parede do vaso.
A interven��o dura cerca de 20 minutos, mas traz uma preocupa��o. Como tudo � feito dentro de uma sala espec�fica para o procedimento, chamada hemodin�mica, caso o paciente tenha suspeita ou confirma��o da COVID-19 h� risco de contamina��o da equipe m�dica ou at� mesmo de um pr�ximo paciente a ser encaminhado ao local. A alternativa � o uso dos fibrinol�ticos, medicamentos prescritos para objetivo semelhante, mas com efic�cia menor.
“� uma discuss�o quase que di�ria das sociedades m�dicas. A gente tem aprendido muito com as experi�ncias estrangeiras, mas acho que deixar de oferecer um melhor tratamento para o paciente com infarto agudo (angiosplastia prim�ria) � um risco maior que a COVID-19. O que a gente tem que se preparar � para proteger a equipe que vai prestar a assist�ncia”, opina o cardiologista Caio Ribeiro.
O especialista, no entanto, n�o descarta o uso dos fibrinol�ticos. De acordo com ele, esses medicamentos podem ser usados em �ltimos casos, por exemplo, quando a sala onde a angiosplastia prim�ria acontece est� ocupada ou sendo desinfectada por causa do recebimento de um paciente com suspeita ou confirma��o de COVID-19. Nessas situa��es, o passo imediato � tentar uma transfer�ncia para um hospital parceiro, mas quando n�o h� tempo para isso, o especialista opta pelo medicamento. “Em 99% dos casos, a gente vai conseguir usar a sala de hemodin�mica”, garante.