
Os profissionais de reciclagem de Belo Horizonte pedem socorro. Afetados diretamente pela pandemia da coronav�rus, uma vez que a prefeitura suspendeu a coleta seletiva de lixo na capital desde o fim de mar�o, eles v�o completar na pr�xima semana tr�s meses sem conseguir trabalhar, acumulando d�vidas e ang�stia, mas sem perder a esperan�a.
S�o seis associa��es e cooperativas de catadores e trabalhadores com materiais recicl�veis integrantes do F�rum Municipal Lixo e Cidadania de Belo Horizonte. Todas est�o com instala��es fechadas, � espera de desfecho das restri��es impostas para tentar conter o avan�o da COVID-19 ou de maior apoio do poder p�blico e da sociedade civil para conseguir sobreviver.
"Est� do�do, dependemos do material (coletado pela SLU) para sobreviver e n�o estamos tendo esse material. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) tem doado cestas-b�sicas, mas n�o suprem as necessidades do m�s das fam�lias. Al�m disso, temos de pagar aluguel, luz, �gua. J� temos companheiros e companheiras sendo despejados. Ent�o, para n�s, est� uma situa��o muito triste”, afirma Silvana Assis Leal, presidente da Cooperativa Solid�ria dos Recicladores e Grupos Produtivos do Barreiro e Regi�o (Coopersoli Barreiro), que 47 re�ne profissionais efetivos.

Ela ressalta que muitos recicladores n�o conseguiram receber o aux�lio-emergencial do Governo Federal, no valor de R$ 600/m�s. Seria um valor muito bem-vindo para quem tem sofrido para suprir as necessidades b�sicas da fam�lia.
“Temos tido at� apoio psicol�gico atrav�s de conv�nio com a UFMG. Muita gente fica deprimida”, diz Silvana, que muitas vezes tem de lutar para seguir forte. “Chegar e ver o galp�o vazio nos faz pensar muito no que estamos vivendo. A gente sente muita tristeza, saber que nossos filhos est�o precisando e n�o podemos dar.”
Outras cooperativas conseguiram se sair um pouco melhor, mas n�o est�o nem perto de estar em situa��o tranquila. � o caso da Cooperativa dos Trabalhadores com materiais Recicl�veis da Pampulha Ltda (Coomarp Pampulha), que obteve ajuda de parceiros nas primeiras semanas da pandemia, inclusive financeira.
Como isso n�o se manteve, buscou alternativas, como a confec��o de m�scaras, tendo conseguido encomenda de 20 mil unidades dentro do projeto “Herois usam m�scaras”. Tamb�m tem gente produzindo sab�o. Mas o desejo � mesmo o de voltar a trabalhar com a reciclagem, mas s� quando houver condi��es sanit�rias para tal.
“Faltou um plano emergencial por parte das autoridades. N�o s� n�s, mas muita gente depende do que produz para sobreviver”, afirma Cleide Maria Vieira, umas das 55 catadoras e catadores da Coomarp Pampulha.

Em uma das maiores entidades do g�nero, a Associa��o dos Catadores de Papel, Papel�o e Material Reaproveit�vel (Asmare), que tem uma unidade no centro e outra no Prado, com 130 profissionais, a situa��o n�o � diferente. “A situa��o est� dif�cil, muita gente desesperada, sem saber o que fazer. Esperamos ajuda, mas n�o sabemos de onde”, diz Carina Pereira dos Santos, que � de fam�lia de catadores.
A expectativa por dias melhores une todos os catadores, que cada vez t�m mais consci�ncia da import�ncia do trabalho deles para a sociedade. “Antes, achavam que lixo n�o servia para nada. Hoje s�o milh�es de pessoas que tiram sustento desse material descartado, que d�o vida digna �s fam�lias”, argumenta Silvana. “Com mais gente em casa, em isolamento, aumentou a gera��o de res�duos, mas tudo est� indo para o aterro sem nosso trabalho. � pior para o planeta, para a natureza e, claro, para as pessoas”, pondera Cleide.
MUDAN�A DE VIDA
Como a pandemia de COVID-19 mudou a vida de todos, os profissionais da reciclagem sabem que ter�o de se adaptar. E para minimizar o risco de contamina��o, prometem seguir todas as normas estabelecidas pelas autoridades sanit�rias.

Cleide Maria Vieira, por exemplo, se anima ao saber que funcion�rios da Prefeitura de Belo Horizonte est�o vistoriando galp�es para fazer as modifica��es necess�rias para a volta ao trabalho. “J� me falaram que vamos receber capacita��o, pois teremos de mudar nossa forma de trabalhar, vai haver quarentena do material recolhido. J� era para estar ocorrendo, mas n�o come�ou. O importante � ter um plano para voltarmos”, declara.
SLU
Em nota, a SLU se pronunciou:
"A coleta seletiva foi interrompida, em virtude da pandemia, para evitar o manuseio dos res�duos durante a triagem do material recicl�vel nos galp�es das cooperativas e associa��es parceiras do Munic�pio.
A SLU tem consci�ncia das dificuldades que estes trabalhadores v�m enfrentando com a suspens�o do servi�o. Semanalmente a SLU se re�ne com os representantes das cooperativas e associa��es de trabalhadores com materiais recicl�veis, integrantes do F�rum Municipal Lixo e Cidadania de Belo Horizonte, para acolher as demandas dos catadores e estudar possibilidades de apoio.
A Prefeitura de Belo Horizonte, desde o m�s de abril, tem feito a entrega de cestas b�sicas via rede de supermercado, com o objetivo de contribuir para que fam�lias em situa��o de vulnerabilidade possam suprir as necessidades alimentares. Em fun��o da diversidade e do n�mero de fam�lias alcan�adas foi definido um modelo padr�o de cestas b�sicas que dure por todo m�s, considerando a necessidade nutricional m�dia das fam�lias.
As cestas s�o compostas por 12 itens (5 kg de arroz, 5 kg de a��car cristal, 2 kg de feij�o carioca, 1 kg de fub� de milho, 500 g de macarr�o parafuso massa com ovos, 500 g de macarr�o espaguete massa com ovos, 1kg de sal refinado, um frasco de �leo de soja, 1 kg farinha de mandioca, dois pacotes de leite em p�, uma lata de extrato de tomate, uma lata de sardinha).
AUX�LIO
Outro ponto que gera converg�ncia de ideias, mas de forma negativa, � o aux�lio devido pelo Governo do Estado, chamado Bolsa-Reciclagem. Institu�do pela Lei 19.823/2011, visa “conceder incentivo financeiro �s cooperativas e associa��es de catadores que segregam, enfardam e comercializam papel, papel�o, cartonado, pl�sticos, metais, vidros e outros res�duos p�s-consumo. O objetivo � estimular a reintrodu��o de materiais recicl�veis no processo produtivo”, por�m, acumula mais de dois anos de atraso.
“Bolsa-reciclagem virou lenda. No governo anterior estava atrasado. No atual, acertaram 2017, mas 2018 e 2019 n�o temos nem not�cia. Eles j� prometeram acertar, mas n�o tem previs�o”, afirma Cleide.
Questionado, o executivo estadual diz que a “atual gest�o da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent�vel (Semad), a partir da cria��o da Subsecretaria de Gest�o Ambiental e Saneamento (Suges), em dezembro de 2019, retomou os pagamentos do programa”, tendo sido quitadas as parcelas referentes ao �ltimo trimestre de 2017 e aos dois primeiros de 2018, “o que totalizou repasse de cerca de R$ 1.500.000,00, apoiando 80 associa��es e 1.600 catadores” em Minas.
“A Semad reconhece a import�ncia do trabalho prestado pelas Associa��es de Catadores para o meio ambiente e, consequentemente, para a qualidade de vida da popula��o. Por isso, tem se esfor�ado para obter os recursos financeiros para quitar as parcelas que ainda est�o em atraso. A secretaria espera que, em breve, a situa��o seja regularizada”, diz o �rg�o p�blico, em nota.