
Um dos maiores pistoleiros da hist�ria de Minas Gerais foi assassinado na manh� dessa sexta-feira (17/7) com dois tiros – um no t�rax e outro no abd�men – ao sair de uma barbearia, na Rua Conde Dolabela, no Bairro V�rzea, em Lagoa Santa, Grande BH. Ad�lcio Leite, de 79 anos, era de uma fam�lia de matadores, que ficaram conhecidos como “Os irm�os Leite”, cujos crimes aterrorizaram o Vale do Mucuri.
No curr�culo, chacinas como a de Malacacheta, o assassinato de um herdeiro de terras no Maranh�o e a morte do deputado mineiro Wander Campos.
Ad�lcio esteve preso na Penitenciaria N�lson Hungria por cerca de 20 anos. Saiu em 2013, gra�as a um indulto, por causa de sua idade. H� tr�s anos, foi viver em Lagoa Santa.
No final da manh� dessa sexta-feira, como de costume, Ad�lcio foi at� � barbearia para cortar o cabelo e fazer a barba. Depois de pagar, ao sair do estabelecimento foi surpreendido por uma HB20 preta, que parou em frente ao local. Da porta do passageiro, um homem saiu de arma em punho. Ad�lcio tentou sacar a arma que tinha na cintura, mas o assassino atirou duas vezes e esperou que ele ca�sse. Em seguida, entrou no carro, que arrancou em alta velocidade.
Curiosamente, um dos primeiros crimes dos irm�os Leite, em 1956, que n�o teve a participa��o de Ad�lcio, foi cometido por seu irm�o mais velho, Z� Leite, que matou Zeca da Lia, quando este sa�a da barbearia do Dito, em Santa Maria do Sua�u�, a terra natal da fam�lia Leite.
Quando fizeram os primeiros exames no corpo, os policiais encontraram um rev�lver, que estava na cintura do pistoleiro. N�o existe, at� o momento, pista do matador. Os policiais disseram que ele “morreu do mesmo modo que tinha feito outras v�timas”.
Vida de crimes
Os irm�os Leite eram temidos em Minas Gerais. O quarteto era formado por Ad�lcio, Z� Leite, o mais velho e mentor intelectual dos crimes, Al�rio – ambos morreram de morte natural –, e Toninho, o mais novo, que tamb�m morreu assassinado.
Eles eram famosos em Santa Maria do Sua�u�, a terra dos Leite, e eram acusados de diversos crimes. Mas logo ganhariam fama por servi�os de pistolagem em todo o Vale do Mucuri. Governador Valadares, Diamantina e Te�filo Otoni formavam um tri�ngulo e, dentro dele, os Leite agiam. Capelinha, �gua Boa, Malacacheta, em especial, ficaram conhecidas como palcos de seus crimes.
Em 1974, os Leite, com a participa��o de Ad�lcio, foram respons�veis pelo assassinato do ex-deputado estadual Wander Campos. O pol�tico tinha fama de pistoleiro. Chegou a ser preso por um dos crimes que era acusado, ficando detido no DOPS.
Como o pol�tico era ligado ao governador Israel Pinheiro, tinha privil�gios. Servia caf� na delegacia. Depois, recebeu indulto presidencial. Voltou ao Vale do Mucuri, onde havia nascido. Juntou-se com uma mulher, Gabi, que passou a cobrar uma vingan�a contra os Leite, que teriam matado seu pai. Z� Leite foi o matador.
Valente, Wander Campos se prop�s a acabar com os Leite. Mas n�o esperava pela rea��o dos irm�os. Em uma audi�ncia no f�rum de Pe�anha, se referiu aos Leite, que estavam presentes, como “cag�es e ladr�es de terras”.
Os irm�os ficaram ressabiados com os xingamentos e a raiva se acirrou quando tomaram conhecimento por meio de um amigo do Coronel Pedro, famoso ca�ador de bandidos e pistoleiros do Mucuri, que Wander Campos estaria contratando pistoleiros para acabar com o quarteto.
Apesar de tem�-lo, os irm�os armaram uma emboscada. Em 7 de outubro de 1974, por volta das 13h, quando Wander Campos entrava em �gua Boa, foi interceptado por Ad�lcio, Al�rio e um terceiro pistoleiro contratado por eles, “Z� Pretim”, que o alvejaram no momento em que o pol�tico tentou sacar seus dois rev�lveres. Apesar de todas as provas serem contra os tr�s, foram julgados e absolvidos em Capelinha.
Os irm�os Leite havia se aproximado dos militares, e assim conseguiam prote��o para seus crimes. Pouco tempo depois, tinham uma lista de quem deveria morrer.
Na lista, Galileu Vidal de Oliveira, um fazendeiro que vivia em Governador Valadares. Eles tinham dificuldades em planejar seu assassinato por morar numa cidade considerada grande.
A fam�lia Leite teria um acordo com o coronel Jair Alves Pinheiro para n�o matar ningu�m em sua regi�o militar, sendo ele comandante do Batalh�o PM de Valadares.
Galileu desconhecia esse trato e aceitou ir ao encontro dos irm�os Leite em Capelinha, onde selariam um almo�o da paz para acabar com a rixa existente entre eles. N�o podia desconfiar de seu amigo Telles, que tamb�m era bem relacionado com os Leite e era o intermedi�rio do encontro.
Era uma armadilha. Em 8 de dezembro de 1979, por volta das 10h, Galileu embarcou em uma aeronave em Governador Valadares para Capelinha. Desembarcou �s 11h20. T�o logo desceu, foi assassinado pelos Leite. Foram 29 tiros.
Os Leite eram tamb�m conhecidos por realizarem chacinas para tomar terras por causa de pedras preciosas. Em 1983, contrataram um pistoleiro, Donizete Pereira dos Santos, conhecido por “Giramundo”, para ir ao Maranh�o e matar Jos� Bernardino Pereira, chamado de “Juquita Pe�o”, herdeiro de terras em �gua Boa. Esse crime ocorreu na Fazenda Alexandrin�polis. Com medo de serem assassinados, a fam�lia da v�tima fugiu para Imperatriz.
Chacina de Malacacheta
Um dos crimes mais famosos cometidos pelos Leite – em todos Ad�lcio estava envolvido – ficou conhecido como a “Chacina de Malacacheta”, quando nove pessoas de uma s� fam�lia foram assassinadas na cidade.
O crime ocorreu por causa de uma disputa de terras, em fevereiro de 1990. Joel Moreira Cordeiro , o "J�", pretendia assumir a administra��o das terras de sua amante, a Fazenda Palmital do C�rrego Novo, em Malacacheta. No entanto, esta estava arrendada por Ant�nio Nunes Leite, o Toninho, irm�o mais novo da fam�lia Leite, ali�s, parente da herdeira.

Toninho n�o pretendia deixar as terras. J� tinha, inclusive, feito uma proposta � herdeira. Quando Toninho arrendou a fazenda, havia um lit�gio pelas terras deixadas por Jos� dos Anjos.
O contrato venceria em 1º de agosto de 1989, e, antes mesmo do vencimento, os tios da herdeira, Carlos, S�lvio e Valdir Correa de Souza, conhecidos como Carlinhos, Salvino e Bedeu, manifestaram o desejo de administrar as terras.
Os tr�s filhos do fazendeiro Joaquim Correia de Souza, o Joaquim do �, que se relacionavam com os irm�os Leite, tinham interesse nas terras. Sabendo do interesse dos filhos de Joaquim do � pelas terras de sua amante, J� resolveu assassin�-los, como ficou apurado pela pol�cia. Carlinhos, Salvino e Bedeu foram mortos em junho de 1989, mas sem a participa��o dos Leite.
Com o crime, um dos v�rtices do tri�ngulo dos pretendentes �s terras da herdeira de Jos� dos Anjos estava eliminado. Restavam ainda, contudo, J� Cordeiro e Toninho Leite.
Com plano arquitetado por Z� Leite, Ad�lcio, Al�rio e Toninho contrataram capangas, que chegaram � fazenda dos Cordeiro vestidos com coletes da Pol�cia Civil e assassinaram toda a fam�lia de “J�”.
Ao todo, aos irm�os Leite s�o atribu�dos mais de 40 assassinatos. Antes de ser colocado em liberdade gra�as a um indulto por causa da idade, Ad�lcio tinha sido condenado a 229 anos de pris�o.
Amea�a a jornalista: "Bom para uma faca"
Em 1982, logo ap�s a posse de Tancredo Neves, eleito governador de Minas, recebi a informa��o de que os irm�os Leite estavam presos no Dops. Tratava-se da desarticula��o de uma esp�cie de sindicato do crime. Os pistoleiros estavam agindo em nome de figuras influentes interessadas em terras ricas em minerais no Leste do Estado. Eles matavam os donos das fazendas, ficavam com a cria��o e os "s�cios" com o solo recheado de pedras preciosas. Entrevistava-os, com perguntas pertinentes e impertinentes. � certa altura, o Jos� Leite olhou firme para mim, bateu na minha barriga e disse: "Voc� tem um 'zoinho' bom para uma faca". Desde ent�o, andava no escuro e dormia sobressaltado. Agora, com essa not�cia, posso voltar � cama com a certeza de um sono tranquilo e sem medo. (Arnaldo Viana, jornalista).