
A queima de mais um �nibus na Grande BH, na noite de quarta-feira, aumentou o medo entre motoristas e cobradores e deixou as esta��es Venda Nova e Vilarinho – os dois maiores pontos de integra��o do sistema de transporte de Belo Horizonte – transbordando de passageiros na manh� de ontem. A aglomera��o foi causada pela suspens�o da circula��o de coletivos durante a madrugada em toda a cidade, devido � queima do quinto ve�culo em menos de uma se- mana.
Ap�s o ataque de quarta � noite, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) orientou as companhias do transporte p�blico por �nibus a suspenderem o atendimento na capital mineira at� o clarear de quinta-feira. Dessa vez, o �nibus foi queimado em Ribeir�o das Neves, na Grande BH. Segundo os bombeiros, o fato ocorreu na Rua 41, altura do n�mero 679, Bairro Pedra Branca. Duas viaturas da corpora��o se deslocaram ao local.
“� o perigo que a gente corre”, foi assim que o motorista Egladson Angelo de Souza, de 39 anos, definiu a rotina de inseguran�a de quem, assim como ele, trabalha no transporte coletivo da capital. H� tr�s anos na linha 607 (Esta��o Vilarinho/Esplendor), itiner�rio que sofreu na noite de quarta-feira o ataque por quatro criminosos encapuzados e armados com submetralhadoras que incendiaram um ve�culo da linha, ele conta que esse tipo de crime j� se tornou parte do seu cotidiano.
“Como o pessoal aqui j� � acostumado com algumas coisas eles devem ter ido de carro pro servi�o. Querendo ou n�o, todo fim do ano � isso”, disse. O motorista relata que s� ficou sabendo do fato, que ocorreu a aproximadamente a 400 metros do ponto final do �nibus, em Ribeir�o das Neves, quando chegou � garagem da empresa na manh� de ontem. L�, ele foi avisado de que a linha s� voltaria a circular �s 6h por ordem do sindicato das empresas. No local do crime foi deixado um bilhete com queixas a respeito de uma pris�o considerada irregular pelo grupo que realizou o ataque.
A sensa��o de vulnerabilidade frente aos recorrentes inc�ndios de �nibus ocorridos nos �ltimos dias tem amedrontado os motoristas e passageiros. “Se a gente for conversar com os criminosos quando eles chegam com o gal�o (combust�vel) eles querem entrar de qualquer jeito e n�o tem como a gente barrar. A gente n�o tem como barrar uma pessoa que pula a roleta, imagina quem chega com um gal�o. N�s n�o conhecemos a pessoa e tem que tentar ser o mais brando poss�vel e tentar fazer o nosso trabalho”, conta.

Desde ter�a-feira, a PM lan�ou uma opera��o para combater os ataques. Ontem, a PM tamb�m esteve no local do fato, mas, mesmo assim, Egladson teme por outros ataques. “Quando eu cheguei aqui s� tinha um carro da pol�cia. Eles fizeram a escolta de alguns carros. Mas eles acompanham o carro por um quarteir�o e chega no pr�ximo ponto eles voltam e n�o adianta”, lamenta o motorista.
Na Rua 41, altura do n�mero 679, Bairro Pedra Branca, onde ocorreu o crime, vizinhos tamb�m foram afetados pelo ato e acumularam preju�zos. Uma moradora que n�o quis ser identificada, contou � reportagem do Estado de Minas que uma casa foi comprometida pelas chamas e um carro que estava pr�ximo ao �nibus incendiado tamb�m foi danificado. “O fogo pegou e se alastrou muito r�pido. Na casa da vizinha, o forro de isopor por dentro queimou todo, o carro dela tamb�m, a pintura est� toda queimada. Eles tiveram que ir para a casa de parentes.”
Transtorno
Al�m do medo, passageiros que precisaram usar o servi�o na manh� de ontem tiveram que enfrentar esta��es superlotadas sem nenhum cuidado em rela��o � prote��o contra a COVID-19. Sem transporte, os passageiros se arranjaram como puderam para chegar �s esta��es. Alguns foram de Uber. Outros, de carona. Houve quem pegasse linhas metropolitanas e completasse o restante do percurso a p�. Muita gente chegaria atrasada ao trabalho.
� o caso do porteiro Rodrigo Rubens, cujo expediente come�ava �s 6h. Ele conta que sai de casa, normalmente, �s 4h30 e chega � Esta��o Venda Nova �s 5h. De l�, toma outra condu��o rumo ao Centro. Ele calculava que chegaria ao trabalho com cerca de uma hora de atraso. “Hoje, como n�o teve �nibus na cidade, eu tive que pegar um do DER, com passagem mais cara, para conseguir chegar � esta��o. S� que eu cheguei aqui e j� estou h� uma hora esperando, pois s� tem �nibus a partir das 6h, quando eu j� deveria estar come�ando a trabalhar. Paci�ncia", lamentou o passageiro.
A t�cnica de enfermagem C�lia Maria Soares, que trabalha no centro de hemodi�lise do Hospital da Baleia, estimava que seus pacientes ficariam esperando por ela por ao menos duas horas. A profissional come�a a trabalhar �s 5h30. �s 6h, quando os �nibus come�aram a circular, ainda estava na esta��o. “Peguei um Uber para chegar at� aqui. Cheguei por volta das 5h. Quando vi que os �nibus ainda iam demorar, tentei pegar um �nibus do lado de fora da esta��o, na avenida, mas n�o passou nenhum. O jeito � esperar", conformou-se.
Quando os coletivos finalmente chegaram, muitos passageiros, irritados com o atraso, embarcaram reclamando. Sobrou desaforo para o motorista Robson Magela, da linha 621 (Esta��o Venda/Lagoa). Ele relata que, normalmente, come�aria a rodar �s 4h. Hoje, come�ou �s 6h, com medo ser agredido pela multid�o. “Foi o vandalismo que prejudicou bastante as pessoas, n�? O motorista trabalha com medo constante. Com medo de danos f�sicos causados tantos pelos passageiros, quanto pelos bandidos. No caso da queima dos �nibus, j� houve casos em que o motorista n�o teve tempo de sair do carro” comentou. Segundo a BHTras, o intervalo entre as sa�das dos �nibus Move foi encurtado para absorver o p�blico aglomerado nas esta��es. *Estagi�ria sob supervis�o do subeditor Frederico Teixeira
Dois suspeitos s�o presos
Dois homens, de 18 e 31 anos, foram presos no final da noite de quarta-feira, suspeitos de ter sido respons�veis pelos inc�ndios a dois coletivos no Bairro Jardim Vit�ria, Regi�o Nordeste de BH, nos dias 9 e 11 de setembro. Eles foram localizados no aglomerado Vila da Luz, na mesma regi�o. Durante opera��es, a PM recebeu a informa��o de que no �ltimo dia 11 um traficante da Vila da Luz, pequeno aglomerado localizado nas redondezas do Bairro Jardim Vit�ria, teria se deslocado pela regi�o com um gal�o de gasolina e, em seguida, entrado em um ve�culo de cor escura. Ele estava com um comparsa, e ambos carregavam armas longas de fabrica��o caseira.
Os denunciantes afirmaram ainda que a dupla usava um casebre no aglomerado para armazenar drogas e armas il�citas. A PM se deslocou at� o local. Os autores tentaram fugir ao se deparar com as guarni��es, mas foram alcan�ados. Nas buscas, foram apreendidas 10 barras de maconha, 49 pedras de crack, R$ 89 em esp�cie, dois radiocomunicadores, duas submetralhadoras de fabrica��o caseira, uma chave e um gal�o com gasolina.
A chave encontrada com os autores abria o ent�o suposto casebre usado para armazenar subst�ncias il�citas. As armas estavam escondidas embaixo do colch�o e em cima da caixa d'�gua, enquanto o gal�o com gasolina estava dentro de um quarto, perto dos radiocomunicadores. Durante a tentativa de fuga, um dos autores, que trabalhava como uma esp�cie de olheiro do esquema, gritou "azul", enquanto corria pelas vielas do aglomerado, para avisar da presen�a dos militares. (RS) *Estagi�rio sob supervis�o do subeditor Frederico Teixeira
Outros ataques
O ve�culo incendiado na noite de quarta-feira foi o quinto �nibus queimado na Grande BH nos �ltimos dias. Antes do fato dessa quarta, um �nibus metropolitano da linha 5500, que liga os bairros Morro Alto e Serra Dourada, foi queimado. Na segunda-feira, criminosos atearam fogo em um ve�culo da linha 705, que faz o trajeto Solim�es-Esta��o S�o Gabriel. Tr�s homens abordaram o �nibus, roubaram os passageiros e exigiram que todos sa�ssem antes de incendiar o coletivo. Tr�s dias antes, na sexta-feira passada, um coletivo da linha 825 (Esta��o S�o Gabriel / Vit�ria II via UPA Nordeste) tamb�m foi atacado. Desta vez, por oito criminosos armados, que cercaram o �nibus com dois carros. O primeiro registro de inc�ndio em ve�culo � de 9 de setembro, no Bairro Jardim Vit�ria, na Regi�o Nordeste da capital. Tr�s homens renderam o motorista da linha 5502C (Pousada Santo Ant�nio), mandaram que ele se retirasse e atearam fogo no ve�culo. O trio disse que estava a servi�o de presos da Nelson Hungria.