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Estado de Minas QUEIMADAS

Em dois dias, Corpo de Bombeiros registra mais de 100 chamados para inc�ndios florestais

Militares se desdobram para combater inc�ndios em �reas de preserva��o como a Serra do Cip�, Ibitipoca e Rei do Mato, que tamb�m amea�am casas. Em dois dias, foram 102 chamados


30/09/2020 06:00 - atualizado 30/09/2020 08:01

Fogo começou no domingo e se alastrou pelo Parque Nacional da Serra do Cipó, num incêndio de grande proporção como há anos não se via na região(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
Fogo come�ou no domingo e se alastrou pelo Parque Nacional da Serra do Cip�, num inc�ndio de grande propor��o como h� anos n�o se via na regi�o (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )


Com a chegada dos meses mais secos, inc�ndios de grandes propor��es j� chamam a aten��o no estado. Equipes de bombeiros militares, brigadistas e moradores tentam apagar as chamas que come�aram h� tr�s dias na regi�o da Serra da Caetana, no Parque Nacional da Serra do Cip�, na Grande BH. A extens�o da �rea queimada ainda n�o foi calculada, mas moradores dizem que um inc�ndio dessa propor��o n�o ocorria h� anos. A estimativa � de cerca de 1,7 mil hectares destru�dos. Outra ocorr�ncia, desta vez criminosa, destruiu um parque natural em Sete Lagoas, na Regi�o Central de Minas. Na Zona da Mata, o Parque Estadual de Ibitipoca tamb�m � alvo das chamas. O fogo j� devastou �rea equivalente a 500 campos de futebol. Na noite de ontem, uma resid�ncia e um estabelecimento comercial �s margens da MG-10 quase foram tomados pelas chamas provenientes de queimada em vegeta��o.

De segunda-feira at� a tarde de ontem, os bombeiros registraram pelo menos 102 chamados para combater inc�ndios em vegeta��es em Minas Gerais. Ainda assim, dados da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad) informam que o consolidado de �rea queimada nas unidades de conserva��o em 2020, at� aqui, est� abaixo da m�dia hist�rica entre 2013 e 2019 at� o nono m�s. Enquanto neste ano 2.302,97 hectares foram devastados entre janeiro e setembro, nos seis anos anteriores a mediana do per�odo � de 16.132,51ha, o que significa que houve uma queda de 85,7% em 2020.

Se h� queda no estado como um todo, na Serra do Cip� a situa��o � cr�tica. Moradores da �rea assistiram a um desmatamento hist�rico nos �ltimos dias. “Esse inc�ndio me preocupa demais. Este ano foi bem pior do que o ano passado. Um dos piores que eu j� vi e est� quase atingindo a nascente”, afirmou Onofre Juliano da Silva, de 78 anos, que mora h� 30 em Lapinha Jo�o Congo, que pertence a Jaboticatubas (Grande BH), e � cercada pelo parque.
 
O fogo que come�ou no parque atingiu �rea da Lapinha Jo�o Congo, regi�o que n�o tinha inc�ndios havia pelo menos sete anos, segundo a moradora Jacimaria Alves de Souza, de 24, que reside a seis quil�metros do local atingido. Segundo ela, o fogo chegou � �rea onde ela mora na madrugada de domingo, mas circulam na regi�o informa��es de que as primeiras chamas teriam aparecido no parque ainda na tarde de s�bado.

“O fogo veio do parque. (Os bombeiros e brigadistas) estavam tentando apagar desde s�bado, e n�o conseguiram. Ele subiu, queimou Lagoa Dourada toda,desceu a serra que vai para a nossa regi�o, a Lapinha de Jo�o Congo, que pertence a Jaboticatubas, e queimou tudo”, contou.  “Quando o fogo ficou mais perto e mais alto, dava para ouvir e ver da minha casa. Ficamos sem energia e era muita fuma�a”, disse.

Chamas avançaram por áreas residenciais, pondo as casas em risco (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
Chamas avan�aram por �reas residenciais, pondo as casas em risco (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )

 
A �rea em chamas � de dif�cil acesso e o sinal telef�nico costuma falhar. Jacimaria e outros moradores ligaram diversas vezes para o Corpo de Bombeiros, mas, segundo ela, os militares s� teriam chegado �quela parte da regi�o � noite. “Eu pegava a moto, subia l� em cima e ligava. At� que consegui falar e me disseram que estavam mandando um caminh�o dos bombeiros. Chegou aqui mais de 10 da noite (22h). Da minha casa n�o d� para ver, mas no grupo (de WhatsApp) o pessoal comentou que tinha chegado. Por�m, n�o tinha o que fazer. O solo � dif�cil, estava muito escuro, o fogo estava muito alto”, comentou a vendedora.
 
Ontem � tarde, estavam mobilizados 25 militares do Corpo de Bombeiros. De acordo com a corpora��o, s�o "v�rios" focos de inc�ndio e quatro frentes de trabalho na tentativa de deter o avan�o do fogo. Uma moradora que reside na regi�o h� oito anos e preferiu n�o se identificar contou que os inc�ndios na regi�o aumentam a cada ano.  “� uma tristeza danada! O fogo acaba com muita mata, muitos animais, com nossa �gua, � um desastre”, lamentou.

Devasta��o


“Aqui tem muitas aves, geralmente, s�o poucos que conseguem escapar. Os poucos n�o conseguem voar. os que sobrevivem, morrem de fome. A perda da fauna e flora � desesperador. se continuar desse jeito, n�o vai ter mais nada”, disse. Ela ainda sustentou que s�o poucos brigadistas para uma �rea t�o extensa como o do Parque da Serra do Cip� e clamou por conscientiza��o.

Ver galeria . 44 Fotos O incêndio que começou há três dias na Serra do Cipó atingiu residências e estabelecimentos na noite desta terça-feira, às margens da Rodovia MG-10, próximo ao km 54, nas imediações de Lagoa SantaLeandro Couri/EM/D. A. Press
O inc�ndio que come�ou h� tr�s dias na Serra do Cip� atingiu resid�ncias e estabelecimentos na noite desta ter�a-feira, �s margens da Rodovia MG-10, pr�ximo ao km 54, nas imedia��es de Lagoa Santa (foto: Leandro Couri/EM/D. A. Press )

 
Segundo Jacimara, a �rea da comunidade estava em processo de recupera��o. “Tem mais de sete anos que n�o pega fogo nesta �rea aqui. � uma �rea onde o pessoal j� tinha conseguido aumentar o fluxo de �gua da nascente, reflorestado uma parte e estavam com projeto de reflorestar o outro lado. Tinham fechado o acesso � visita��o dos turistas por quest�o de lixo demais, e veio o fogo e limpou tudo. Eles (bombeiros) vieram hoje pela manh�. Eram 6h, e j� estavam circulando com helic�ptero, porque se o fogo chegasse na Lapa n�s ficar�amos sem internet tamb�m. E ali tamb�m h� outros mananciais”, relatou.
 
A estimativa é de que 1,7 mil hectares da Serra do Cipó, uma das regiões com maior biodiversidade do mundo, tenham sido queimados(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
A estimativa � de que 1,7 mil hectares da Serra do Cip�, uma das regi�es com maior biodiversidade do mundo, tenham sido queimados (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
Na noite de ontem, os bombeiros informaram que o combate �s chamas na Serra do Cip� se estenderia pela madrugada com 48 combatentes. Eram quatro frentes de trabalho. Brigadistas volunt�rios de Lapinha da Serra se dirigiram ao local e toda comunidade estava empenhada. De acordo com a corpora��o, at� mesmo crian�as ajudaram a apagar um foco �s margens da MG-10, em uma �rea comercial.
 
Na noite de ontem, o terror invadiu a vida da empres�ria T�nia L�cia Moreira Estev�o. Desde domingo, um foco de inc�ndio tomava conta de uma mata pr�xima a uma floricultura e um restaurante �s margens da MG-10. A situa��o se tranquilizou na segunda, mas ontem saiu do controle. Por volta das 19h30, as chamas cercavam a resid�ncia da mulher e os estabelecimentos ao redor, que por pouco n�o foram consumidos. “Eu j� tinha acionado os bombeiros, mas eles n�o vieram. Eu tinha esperan�a que (o fogo) n�o continuaria, quando pensei que n�o alastrou tudo. Aqui � tudo nosso. Uma marmoraria de uma amiga minha, minha casa e meu restaurante e uma floricultura do meu cunhado”, contou.

Incêndios recorrentes ameaçam espécimes locais da flora e da fauna(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
Inc�ndios recorrentes amea�am esp�cimes locais da flora e da fauna (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )


Ibitipoca


Enquanto isso, inc�ndio no Parque Estadual do Ibitipoca, nos munic�pios de Lima Duarte e Santa Rita do Ibitipoca, na Zona da Mata, queimou cerca de 35% da unidade de conserva��o. Foram cerca de 500 hectares de �rea atingidos, o equivalente a 500 campos de futebol, segundo o major Leonardo Nunes, subcomandante do 4º Batalh�o do Corpo de Bombeiros de Juiz de Fora e coordenador da opera��o no local: “Os danos s�o irrepar�veis. N�o temos como, agora, afirmar se o inc�ndio foi criminoso”, disse.
 
Conforme o major, desde o fim da tarde de domingo, quando uma propriedade lindeira ao parque come�ou a pegar fogo e os ventos espalharam as chamas para uma �rea de vegeta��o no interior da unidade, 15 grandes focos de queimada se formaram. Eles s� foram extintos ontem.
 
No total, de acordo com o subcomandante,  98 pessoas foram empenhadas em debelar o inc�ndio: 62 brigadistas do Instituto Estadual de Florestas (IEF) e volunt�rios, atuantes no combate por terra; 17 pessoas dedicadas a prestar apoio log�stico e de alimenta��o, na base montada no restaurante do parque; e 19 militares do Batalh�o de Juiz de Fora, do Batalh�o de Emerg�ncias Ambientais e Resposta a Desastres, de Belo Horizonte (Bemad-BH), tripulantes do helic�ptero Arcanjo 4 e integrantes da equipe de abastecimento e mec�nica da aeronave.
 

Sete Lagoas


Na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, os bombeiros 5ª Companhia Independente tamb�m davam duro ontem, na tentativa de combater inc�ndio de grandes propor��es em Sete Lagoas que j� havia demandado 17 horas de trabalho. As chamas come�aram �s 10h de domingo e destru�ram 80% da �rea de preserva��o ambiental do Monumento Estadual Gruta Rei do Mato, segundo informa��es do Corpo de Bom- beiros. Isso equivale a 140 hectares ou 196 campos de futebol com medidas-padr�o.
 
A origem do inc�ndio foi criminosa. De acordo com a assessoria de imprensa da corpora��o, o fogo foi ateado por um andarilho j� localizado e detido pela Pol�cia Militar. Os bombeiros informaram que os focos maiores dentro da �rea da Gruta do Rei do Mato foram contidos e que a queimada se concentrava em zona de amortecimento pr�xima ao parque natural.

Preju�zos podem ser irrevers�veis

Incêndios recorrentes ameaçam espécimes locais da flora e da fauna(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
Inc�ndios recorrentes amea�am esp�cimes locais da flora e da fauna (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
O bi�logo Miguel �ngelo Andrade, coordenador da reserva da biosfera da Serra do Espinha�o e professor da PUC Minas, explica que a recorr�ncia de inc�ndios em �reas ambientais pode levar a preju�zos irrevers�veis. Al�m de atingir esp�cies amea�adas de extin��o, d� lugar a esp�cies ex�ticas invasoras, que v�o competir com a flora local, al�m da perda de qualidade do solo e diminui��o da oferta da �gua, com influ�ncias no clima local.
 
A Serra do Cip�, que ardia ontem, � uma regi�o composta essencialmente por campos rupestres, que crescem em alto de serras, jardins entre as pedras e matas de galeria, � beira de cursos d'�gua e de recarga. Sua rede hidrogr�fica � densa, “de fundamental import�ncia para diminuir a polui��o de outros cursos d'�gua, a exemplo do Rio da Velhas, e contribui para a depura��o de esgotos dom�sticos e outros contaminantes. "Sem falar da seguran�a h�drica no abastecimento humano", explica Miguel.
 
Segundo o bi�logo, � uma das regi�es com maior riqueza de biodiversidade no mundo e, por outro lado, � um ambiente extremamente fr�gil, de baixa resili�ncia. "Uma vez que o impacto ambiental ocorre, h� dificuldade de recomposi��o ao est�gio original. Falamos de uma regi�o com alt�ssimo n�mero de esp�cies amea�adas, tanto da flora quanto da fauna e de esp�cies end�micas." A Serra do Espinha�o foi considerada pela Unesco, em 27 de junho de 2005, a s�tima reserva da biosfera brasileira, devido a sua grande diversidade de recursos naturais.

Secura e calor sem tr�gua


O calor n�o dar� tr�gua aos belo-horizontinos t�o cedo. Ap�s o recorde registrado na segunda-feira, de 37,3°C, a previs�o para o restante da semana � que o tempo se mantenha est�vel, com altas temperaturas e baixa umidade do ar. "Estamos em uma onda de calor e ela aparentemente teve seu pico ontem (segunda). Ainda assim, se mant�m est�vel com temperaturas elevadas, entre os 35°C e os 36°C, e baixa umidade do ar", explica o meteorologista Cleber de Souza, do 5º Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A tend�ncia �, tamb�m, de umidade do ar em n�veis muito cr�ticos, pr�ximos � marca dos 12%. "A semana ser� muito quente, com m�ximas entre 35°C e 36°C nos pr�ximos dias e eleva��o no fim de semana, com previs�o de 38°C para o s�bado (3)", esclarece Cleber. "H� chances de al�vio s� no domingo (4), com pancadas de chuva localizadas e isoladas."


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