
"Nos meus oito anos de socorrista, essa ocorr�ncia foi a que mais me impactou psicologicamente. Foi uma cena de filme de terror”, recorda a engenheira civil e volunt�ria do Servi�o Volunt�rio de Resgate (Sevor) de Jo�o Monlevade, S�mara Ferreira, de 27 anos, que estava presente no dia do acidente. Socorrista desde 2012, ela ajudou a resgatar as v�timas da trag�dia: um menino com idade entre 10 e 11 anos.
S�mara conta que estava trabalhando na unidade da Arcelormittal em Jo�o Monlevade quando recebeu o comunicado do acidente pelo grupo do WhatsApp dos socorristas. Logo, ela e seu chefe seguiram para a rodovia para ajudar no resgate. “Quando eu cheguei, j� tinha uma equipe do Sevor atendendo, e tamb�m tinha muita gente tentando ajudar”, conta a engenheira.
“Eu estava com uma blusa larga (uniforme da Arcelormittal) e me confundiram com m�dica. Assim que eu disse que eu era socorrista, um rapaz me entregou um menino de 10, 11 anos”, relata. S�mara lembra que a crian�a estava desacordada em raz�o de um traumatismo craniano. “Foi a primeira v�tima da ocorr�ncia que eu recebi e a que mais me marcou. Por ser crian�a e tamb�m por eu n�o saber o que tinha acontecido: se ele estava preso no �nibus, ou se ele pulou.”
Como o estado da v�tima era delicado, S�mara chamou outra socorrista e as duas seguiram com a crian�a para o Hospital Jo�o XXIII em Belo Horizonte. “Foi uma situa��o em que, no momento, eu s� pensava em garantir que ele poderia sobreviver”, comenta.
Assim que chegou ao hospital, a v�tima recebeu apoio m�dico e passou por uma cirurgia. A engenheira relata que n�o chegou a saber o nome do menino. “Durante todo o percurso, a gente veio tentando achar alguma informa��o sobre a v�tima, mas como ele estava inconsciente, n�o tinha muito o que fazer”, lembra.
Quando a gente est� no momento, a sua adrenalina est� no m�ximo e voc� quer ajudar da melhor forma poss�vel. Mas quando acaba, voc� v� a realidade. Ent�o, a gente come�a a repensar e ver como Deus nos d� for�a para seguir essa miss�o
S�mara Ferreira, socorrista
Em raz�o da carga emocional, S�mara comenta que ser volunt�rio � um trabalho que requer um psicol�gico “muito bem preparado”. Para isso, o Sevor disp�e de uma psic�loga para apoio. “A gente j� passou por tanta situa��o semelhante, eu n�o falo igual, porque cada ocorr�ncia que a gente atende tem algo diferente”, conta.
Desde a �ltima sexta-feira, S�mara vem buscando mais informa��es sobre as v�timas do acidente. Ela explica que o Sevor tem uma estat�stica mensal de atendimentos, ent�o todas as ocorr�ncias devem ser bem detalhadas.
Na manh� desta ter�a-feira (8/12), ela e dois companheiros do Sevor foram ao Hospital Margarida, em Jo�o Monlevade, recolher dados sobre as oito pessoas que continuam internadas. “Como a gente trabalha com trabalho volunt�rio, toda pessoa que a gente traz para o hospital, a gente recolhe a ficha para ter um boletim de atendimento. Como se fosse um Boletim de Ocorr�ncia, da pol�cia”, explica.

S�mara destaca, por�m, que o acidente da �ltima sexta-feira foi de "potencial de gravidade muito alto”, ent�o o grupo ainda n�o conseguiu todas as informa��es sobre as v�timas. "N�s tentamos buscar informa��es com a Pol�cia Rodovi�ria Federal e com outros grupos de resgate. Mas n�o conseguimos. Ent�o a gente vai ter que esperar a Pol�cia Civil, nessa fase de investiga��o, para conseguir os dados das v�timas”, conclui.
Depoimentos
A Pol�cia Civil come�ou a colher os depoimentos de v�timas do acidente do �nibus que caiu de um viaduto na BR-381. O delegado Diego Morais Carvalho e o escriv�o Fl�vio Ponciano foram ao Hospital Margarida, nesta ter�a-feira (8), para ouvir as v�timas que continuam internadas.
No dia anterior, na �ltima segunda-feira (7), a Policia Civil interrogou o motorista, Luiz Viana de Lima, que pulou do �nibus antes do ve�culo cair da ponte. Al�m de Viana, Uma representante da empresa Localima, a filha da propriet�ria da empresa, tamb�m se apresentou � delegacia.
Entenda o acidente:

A Pol�cia Civil de Minas Gerais abriu inqu�rito para apurar as causas do desastre minutos depois da queda do �nibus. Relatos de testemunhas pontam que as m�s condi��es mec�nicas do ve�culo contribu�ram para o acidente.
Segundo as testemunhas, o �nibus seguia pela BR-381, no sentido S�o Paulo. Ao descer a serra, quando se aproximava da Ponte Torta, viaduto sobre o Rio Piracaba e a estrada de ferro Vit�ria-Minas, o �nibus perdeu os freios e entrou na contram�o, descontrolado, chegando a bater no retrovisor de outro ve�culo que viajava no sentido contr�rio.
No “embalo da descida”, o ve�culo passou pela Ponte Torta, mas na subida perdeu acelera��o (possivelmente por um outro problema mec�nico) e come�ou a descer de r�, ainda segundo as testemunhas.
Nesse momento, seis pessoas saltaram do ve�culo em movimento – uma delas seria o condutor do �nibus, Luiz Viana de Lima. Na sequ�ncia, o �nibus despencou do viaduto e pegou fogo. A medi��o da per�cia constatou que a altura � de 23 metros entre o viaduto e a �rea onde o �nibus caiu, ao lado dos trilhos da Estrada de Ferro Vit�ria-Minas.
Na noite de s�bado (05/12), uma equipe da Vale, que opera a ferrovia, trabalhou na libera��o da �rea. A Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF) e bombeiros trabalharam na per�cia do local do acidente e parte da ponte foi interditada. O �nibus foi retirado dos trilhos com um guindaste e levado para outro ponto.
*Estagi�ria sob supervis�o da editora-assistente Vera Schmitz