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Estado de Minas Entrevista/Annie Caroline Pra�a Arcanjo, 3� sargento do CBMG

'Primeira, mas n�o a �ltima', aposta bombeira promovida por ato de bravura

�nica mulher em 109 anos do Corpo de Bombeiros de Minas a receber esse reconhecimento, Annie Arcanjo conta como foi o salvamento em que arriscou a pr�pria vida


18/12/2020 06:00 - atualizado 18/12/2020 07:30

"O fato de ter atuado e podido demonstrar a for�a da mulher e in�meras outras coisas foi mais do que uma promo��o para mim" - sargento Annie Caroline Pra�a Arcanjo, do Corpo de Bombeiros (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Na mitologia crist�, os arcanjos s�o os principais anjos de Deus, respons�veis pelas miss�es mais importantes. Para seis pessoas resgatadas em Raposos, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, a defini��o n�o poderia ser mais verdadeira.

Em 24 de janeiro de 2020, durante as intensas chuvas que atingiram a cidade, elas estavam ilhadas no terra�o de uma casa, em rua onde a enchente quase chegava ao n�vel dos cabos energizados, e foram salvas n�o por n�o um, mas dois arcanjos.

A principal respons�vel pelo salvamento foi a sargento Annie Caroline Pra�a Arcanjo, de 29 anos, que passou a ser a primeira mulher promovida por “ato de bravura” em 109 anos de hist�ria da corpora��o mineira. A a��o, que colocou em risco a pr�pria vida da militar, ainda contou com a ajuda do pai, capit�o Jos� Arcanjo, de 59, que entrou para a reserva em 2010.

Os dois cumpriram o juramento que fizeram ao ingressar na carreira, que diz: “Salvar! Mesmo com o sacrif�cio da pr�pria vida”. E manter a promessa exige treinamento, altru�smo e muita coragem. Com esses requisitos � que Annie vai ter oficialmente, a partir de 25 de dezembro, o maior reconhecimento que um militar pode receber em fun��o de uma a��o exitosa e que, at� aqui, s� havia sido concedido aos homens. Mesmo de folga, ela enfrentou empecilhos da correnteza e resgatou as v�timas com vida, incluindo uma pessoa acamada e um cadeirante. A entrega do reconhecimento � t�o singular que, em um universo aproximado de 6 mil integrantes, costumam ocorrer, em m�dia, apenas duas promo��es desse tipo por ano, segundo a institui��o.

Em entrevista ao Estado de Minas, ela conta como o pai a inspirou quando decidiu ingressar na corpora��o, aos 18 anos. Em minoria no ambiente militar, ocupando apenas 10% das vagas, tamb�m est� na pauta a import�ncia da representatividade feminina. Antes cabo e agora 3º sargento, Annie Caroline defende que a mais importante promo��o concedida por uma institui��o militar deve ser cada vez mais ocupada por mulheres que se orgulham e se entregam por amor � profiss�o, assim como ela.

Como foi aquele 24 de janeiro de 2020 para voc�?
Por causa das chuvas, eu estava em alerta, mas n�o imaginei que poderia ficar numa situa��o t�o ca�tica. Fui acionada pelos moradores. Como � uma cidade pequena, eles sabem quem sou, que meu pai � bombeiro e eu tamb�m. No dia, havia duas guarni��es de bombeiros em Raposos, mas elas estavam ilhadas e n�o conseguiram passar com o barco. Estava muito perigoso. Tentamos passar com o barco, mas a correnteza estava muito forte. Foi o momento em que decidi agir. Meu pai entrou na �gua para ir ao encontro das v�timas e tentar acalm�-las. Enquanto isso, fiquei na outra ponta e verifiquei a situa��o, pedi a todos que sa�ssem das casas. Analisei a situa��o no local e pedi um colch�o infl�vel pra gente encher e iniciar o resgate. Durou cerca de 40 minutos. Quase tive uma fadiga muscular porque fui e voltei com as v�timas. E todo o tempo em alerta.

Como voc� se sente hoje olhando para tr�s e se lembrando dessa cena de hero�smo?
Entrei com 18 anos (no Corpo de Bombeiros), fiz esse resgate com a mesma vontade de quando a gente entra. � como se estivesse no nosso sangue. O nosso intuito � sempre salvar, sempre cumprir a miss�o. J� me perguntaram se eu tive medo. Eu disse que n�o. Estava determinada, tinha prepara��o para isso. A gente tem que ter amor ao pr�ximo. O sentimento que tive na hora era de salvar. O juramento do bombeiro � “vida e bens a salvar mesmo com o sacrif�cio da pr�pria vida”. A gente est� ali para a sociedade mesmo.

Apesar de a a��o ter acontecido no in�cio do ano, a divulga��o da promo��o s� foi feita nesta semana e ainda ser� efetivada no dia 25. Como voc� recebeu essa not�cia?
O ato de bravura � raro de acontecer. Fiquei at� bem surpresa por isso. O fato de ter atuado e podido demonstrar a for�a da mulher e in�meras outras coisas foi mais do que uma promo��o para mim. Geralmente, o Corpo de Bombeiros faz cerim�nias. Em tempos de pandemia, n�o vai acontecer este ano. Mas comemora��o tem que ter, nem que seja com a fam�lia.



O que essa promo��o significa para voc�?
N�o consigo nem colocar em uma palavra s�. Al�m de significar a representatividade, muito importante para as mulheres, significa humanidade entre todas. � como se a gente tivesse algu�m mostrando para a gente que a humanidade tem um futuro bom. As pessoas t�m um cora��o bom. E isso com muita f�, porque eu sempre me agarrei a Deus. Eu estava no momento e lugar certo. Se n�o estivesse de folga, em casa, a outra guarni��o n�o chegaria �quelas pessoas.

Por que voc� escolheu ser bombeira?
Ser bombeiro significa muito mais que apenas ser bombeiro. � existir. � sentimento, dentro do cora��o, do corpo e da alma. Al�m de ter v�rios exemplos em que a gente consegue ajudar o pr�ximo, � fazer com que o nosso ato seja exemplo do que Deus ensinou pra gente, � sobre ajudar o outro.

Voc� tem outras inspira��es al�m do seu pai?
Minha inspira��o � ele. Sempre tive uma influ�ncia muito forte. Estudei em col�gio militar e durante toda a inf�ncia ficava muito no quartel, fazia aula de nata��o e col�nia de f�rias.  Ele me incentivava direta e indiretamente no exemplo que sempre deu. Aos 18 anos, apesar de tamb�m querer ter uma carreira acad�mica, escolhi entrar para o Corpo de Bombeiros. Depois, me formei em engenharia civil, em 2016.

Atualmente, voc� trabalha no servi�o administrativo, mas tamb�m tem experi�ncia no operacional. De que voc� mais gosta na profiss�o?
Hoje, trabalho no Centro de Atividades T�cnicas, no setor de preven��o de combate a inc�ndio urbano e p�nico. Trabalho nisso porque � alinhado ao que fui formada. Entendo que muitas trag�dias poderiam ser evitadas se houvesse sistemas de preven��o. Mas qualquer bombeiro tem o treinamento para atuar em situa��es de resgate. Temos que estar atentos e dispon�veis para qualquer situa��o de resgate. Gosto bastante do operacional, mas tamb�m sou apaixonada pela preven��o.

Como � ser mulher no Corpo de Bombeiros, lugar majoritariamente composto por homens?
� um ambiente masculino, mas o pr�prio comando tem dado abertura para que sejamos tratadas igualitariamente. Estamos na luta para mudar esses 10% (quantidade de mulheres permitida nos concursos). Somos tratadas iguais, por�m, como qualquer outro lugar, sempre tem alguma coisa que a gente tem que tentar enfrentar. Ser bombeira a cada dia � um desafio novo. Para mim � um orgulho, principalmente, abrir portas para muitas mulheres.

Que mensagem voc� deixa para outras mulheres que queiram entrar na carreira militar?
Esse ato de bravura me d� esperan�a de que todos os atos futuros v�o ser reconhecidos. Fui a primeira e n�o serei a �ltima. Tenho certeza de que elas s�o capazes de fazer muito mais do que eu. Toda e qualquer mulher � capaz de qualquer coisa. � s� querer. E sigam firmes. Voc�s v�o encontrar alguns obst�culos e muitas pessoas que n�o v�o acreditar em voc�s. Nesses casos, mantenham-se firmes, a coluna ereta e a cabe�a limpa.

O que diz a lei

O ato de bravura est� descrito no Decreto Estadual 44.557, de 28 de junho de 2007, na se��o IV, artigo 21: “A promo��o por ato de bravura � decorrente da a��o praticada pelo pra�a, de maneira consciente e volunt�ria, com evidente risco � vida e da qual n�o se tenha beneficiado o agente ou pessoa de seu parentesco at� 4º grau, cujo m�rito transcenda em valor, aud�cia e coragem quaisquer atitudes de natureza negativa porventura cometidas”


Palavra da corpora��o


“A atua��o de Annie reverbera o pioneirismo feminino e a conquista das mulheres em espa�os cada vez mais importantes no enfrentamento ao sexismo e outros desafios a serem superados nos diversos �mbitos sociais. Al�m disso, mostra tamb�m o merecido reconhecimento que a corpora��o presta aos seus integrantes, sem distin��es de qualquer natureza e a necess�ria e urgente evolu��o que a sociedade vivencia objetivando ser mais justa e igualit�ria.”


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