
A m�sica sempre fez parte da sua vida no teatro, bal� cl�ssico e instrumentos. Aos 18 anos, ela prestou vestibular para musicoterapia na UFMG e se formaria em 2020, mas a pandemia atrasou o diploma.
Nina, como gosta de ser chamada, � musicista desde crian�a. No in�cio da quarentena, em mar�o, Nina se fechou em casa e permaneceu durante seis a sete meses sem nenhuma atividade na rua. Ela tem asma controlada e ficou com medo de contrair a COVID-19.
Durante o per�odo em casa, se dedicou a um projeto da sua gradua��o, que fazia m�sicas para profissionais da sa�de, o “M�sica para quem Cuida”. Fez as grava��es do seu quarto, cumprindo com o distanciamento social.
H� tr�s meses, em setembro, ela voltou a trabalhar e precisava andar cerca de dois quarteir�es at� o local, mas esse era o �nico trajeto fora de casa. Ela e a fam�lia mantiveram os cuidados recomendados pelas autoridades de sa�de desde o in�cio: uso de m�scara, �lcool, limpeza de compras e objetos, trocar de roupa e sapato ao chegar em casa.
No entanto, mesmo sem ter contato com pessoas doentes, Marina contraiu o novo coronav�rus. Ela diz n�o ter ideia de onde foi, mas os sintomas come�aram dia 8, quando perdeu o paladar: “Comi um biscoito recheado que n�o experimentava h� anos. Ele sempre foi muito doce, com aquele gosto de inf�ncia, mas n�o senti nada”.

A partir dessa constata��o, ela se isolou no quarto imediatamente. Foram 14 dias intensos desde o primeiro sintoma. Nos primeiros dias, se sentia indisposta, fraca e com dores, mas a piora n�o demorou e dois dias depois, ocorreu a primeira ida ao hospital.
Sua satura��o geral e press�o estavam boas, mas seu cora��o tinha algumas arritmias e isso se tornou um problema, j� que qualquer movimento a deixava com um cansa�o extremo. Dobrar roupas ou levantar da cama eram atividades que Marina n�o conseguia fazer sem sentir o cora��o disparado.
Quase uma semana depois do primeiro sintoma, ela e a fam�lia viveram um dia muito dif�cil. Nina foi andar, com m�scara, em outro c�modo da casa, para tentar reagir e melhorar a fraqueza. Minutos depois, ela reparou a boca e os p�s arroxeados, al�m de dorm�ncia nos bra�os.
A dor s� piorou e ela precisava de atendimento m�dico urgente at� que uma ambul�ncia chegou em sua casa, no Bairro S�o Luiz, e por 40 minutos, tentaram uma vaga em hospital. Em BH, n�o foi poss�vel encontrar vaga em nenhum hospital particular, por isso ela teve que ser levada at� um hospital de Contagem.
Na ambul�ncia, Nina conta que quase foi seu �ltimo respiro: “A dor parava, eu tentando abrir o olho, mas a vis�o estava escura e j� n�o sentia mais nada, nenhuma dor. Ouvia minha m�e gritando 'volta pelo amor de Deus' e fazia uma for�a descomunal para conseguir abrir os olhos”. E completa: “Se n�o fosse a minha m�e implorando para voltar, eu teria aceitado que a dor passou e ficava ali, naquela ambul�ncia”.
No hospital, fizeram muitos exames e n�o acharam nenhum sinal de infarto ou inflama��o ap�s o epis�dio na ambul�ncia. Era “s�” a COVID-19.
Marinalva e J�lia cuidaram dela durante 24 horas em todos os dias e, gra�as a isso, ela diz, que tem se recuperado bem. Apesar de ser uma cura demorada, ela j� est� se “sentindo viva novamente”. "Voltei a sentir os �rg�os mexendo, o ar entrando e saindo, o cora��o bombeando sangue. At� ontem, meu corpo estava lutando para sobreviver, hoje ele est� voltando a vida.”
Aos poucos, ela est� conseguindo se mexer, sentindo dores de cabe�a e no corpo, mas chegou a tomar banho em p�, comer com apetite e sentir alguns gostos.
Uma postagem feita numa rede social em 20 de dezembro, ela relatou a situa��o e em entrevista, disse que “se uma pessoa ler o meu post e desistir de ir para uma festa, usar uma m�scara ou se uma fam�lia n�o precisar passar pelo que passamos, pra mim j� valeu alguma coisa”.
Ela diz n�o se importar com a exposi��o da privacidade se “uma vida for salva”. Encarar a morte aos 23 anos foi muito intenso, e sua vis�o sobre tudo mudou completamente em duas semanas. Tudo o que ela v� e sente agora � com mais gratid�o. “Eu e minha fam�lia consideramos que foi um renascimento” ela completa.
*estagi�ria sob supervis�o da editora-assistente Vera Schmitz