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Estado de Minas RISCO NO TRANSPORTE

Cresce o roubo de carga com medidas de isolamento nas cidades

Motoristas relatam rotina de medo e inseguran�a nas rodovias


03/01/2021 04:00 - atualizado 03/01/2021 07:49

“Quebram sua janela, te chamam de vagabundo e levam embora o dinheiro que voc� ainda tem para comer. As estradas do Brasil viraram uma guerrilha nesta pandemia”, afirma o caminhoneiro Rog�rio Teixeira, de 38 anos, um dos transportadores que se manteve ativo e corajoso, circulando com cargas por Minas Gerais durante a epidemia do novo coronav�rus (Sars-CoV-2). A falta de movimento nas ruas devido � emerg�ncia sanit�ria global facilitou a preven��o policial, removeu potenciais v�timas de circula��o e tem provocado o recuo dos roubos e furtos em Minas Gerais.

Contudo, essa escassez urbana de oportunidades para criminosos levou muitos deles a expandir suas atividades para as estradas, sobretudo na capital e na regi�o metropolitana. Essa � a avalia��o de especialista em seguran�a p�blica sobre os aumentos das ocorr�ncias de roubos e de furtos de cargas neste ano, em compara��o com o ano anterior, mesmo em meio ao isolamento social (veja a tabela).

O caminhoneiro Carlos Alberto revela temor da estrada e além de não rodar à noite só para em locais que já conhece(foto: Fotos Edésio Costa)
O caminhoneiro Carlos Alberto revela temor da estrada e al�m de n�o rodar � noite s� para em locais que j� conhece (foto: Fotos Ed�sio Costa)

De forma geral, a modalidade criminosa que apresentou maior crescimento em 2020 com rela��o a 2019, no comparativo de janeiro a outubro, foi o furto de cargas, que � a subtra��o de mercadorias transportadas sem o emprego de viol�ncia, geralmente sem que caminhoneiros e seguran�as percebam. Enquanto o crime caiu 3% no estado, experimentou eleva��o de 15% na Grande BH, de 75 para 86 registros no per�odo. Nesse conjunto de 34 cidades no entorno de Belo Horizonte, os primeiros dois meses do ano sem pandemia e mar�o, que teve 14 dias de registros da doen�a no territ�rio mineiro, foram a �poca que puxou o �ndice 45% acima de janeiro a mar�o de 2019, enquanto que de abril a outubro n�o ocorreu varia��o de ocorr�ncias de um ano para o outro.

Em Belo Horizonte, os furtos de cargas deram um salto quantitativo de 47%, passando de 17 para 25 registros entre 2020 e 2019. Nos tr�s primeiros meses a amplia��o foi de 50%, de 6 para 9 ocorr�ncias, sendo que nos meses pand�micos, at� outubro, a amplia��o foi de 45%, de 11 para 16.

As ocorr�ncias de roubo, que s�o a subtra��o de cargas com emprego de viol�ncia, amea�a, muitas vezes com feridos, torturados e sequestrados, apresentaram redu��o entre 2019 e 2020 no estado como um todo, da ordem de 12%, e em Belo Horizonte tamb�m, onde caiu 6%. Contudo, o inferno da inseguran�a para caminhoneiros e transportadoras continuou nos munic�pios da Grande BH. Nessa regi�o os registros se ampliaram 16%, saltando de 85 ocorr�ncias para 96, entre janeiro e outubro. Avaliando os meses pr�-pand�micos, de janeiro a fevereiro, e contando com mar�o, o aumento foi de 7%, de 29 para 31 registros. Nos meses de epidemia, os �ndices dispararam, subindo 16%, saltando de 56 para 65 ocorr�ncias.

Ocorr�ncias 


Os locais onde mais se registra furtos de carga na Grande BH s�o Contagem, � beira da BR-381, entre MG e SP, que passou de 13 ocorr�ncias entre janeiro e outubro para 40 (+207%), e Ribeir�o das neves, munic�pio cortado pela BR-040, entre BH e Bras�lia, que experimenta um acr�scimo de 9 furtos em 2019 para 37 neste ano, uma alta de 311%.

“O medo existe e tem ficado pior. A gente tenta tomar as precau��es em cima do que os colegas contam. N�o rodar de noite. N�o parar em qualquer lugar, por que na pandemia nem todos os lugares estavam abertos. De Contagem a Uberl�ndia est� um terror. A gente sabe do perigo, de colega que trabalhava com cigarro e que os bandidos dominaram e ficaram 4 horas torturando ele. Voc� n�o sabe quem � quem, quem � amigo da gente, por isso s� paro onde frequento sempre”, disse o caminhoneiro Carlos Alberto Tarc�sio de Almeida, de 58 anos.

Alessandro Maciel diz que um amigo já foi agredido e roubado por criminosos e que se sente inseguro nas paradas onde o risco é de furto
Alessandro Maciel diz que um amigo j� foi agredido e roubado por criminosos e que se sente inseguro nas paradas onde o risco � de furto

“Voc� tem de escolher muito bem os postos onde vai dormir, porque se n�o amanhece com a carreta faltando retrovisor, farol, pneu, centro de embreagem, o pessoal t� roubando mesmo, furto de qualquer coisa nas paradas. Me sinto muito inseguro. � aterrorizante, uma coisa que a gente n�o quer para a gente. Tive um amigo que foi pego pelos ladr�es agora, em Atibaia (SP), entraram na cabine batendo nele. Moeram ele, machucaram muito, � frustrante voc� sai e deixa a fam�lia em casa para buscar o p�o e acontece uma coisa dessas”, desabafou o caminhoneiro de Contagem Alessandro Maciel, de 43.

“A dificuldade aumentou com a pandemia. Sentimos e vemos que aumentaram os assaltos e roubos. Te pegam dormindo, porque fecharam muitos postos e pontos de apoio nas rodovias. Tinha de aumentar a fiscaliza��o e ter mais �reas seguras. Minas Gerais � um dos estados onde mais temos de passar e onde menos seguran�a temos. Tem lugar onde n�o te deixam nem parar para dormir se voc� n�o se abastecer”, critica o caminhoneiro ga�cho Michel Costa de Oliveira, de 30 anos.

Avalia��o 


A Secretaria de Estado de Justi�a e Seguran�a P�blica (Sejusp) avalia que os resultados s�o bons. “Os bons resultados alcan�ados em todo o estado mostram o trabalho integrado realizado pelas for�as de seguran�a, como, por exemplo, a megaopera��o Divisas Seguras, realizada no �ltimo m�s, e que envolveu, inclusive, outros estados. A a��o teve como foco, tamb�m, o roubo e furto de cargas. Vale destacar o empenho dos militares do Comando de Policiamento Rodovi�rio (CPRV) da Pol�cia Militar e as opera��es constantes no Anel Rodovi�rio e rodovias estaduais e federais delegadas sob a responsabilidade do CPRV, principalmente nesse per�odo de pandemia”, informa a secretaria em nota.

Ainda para o governo, “a criteriosa an�lise dos dados estat�sticos com direcionamento das a��es/opera��es para os locais indicados pelos n�meros que culminou, neste ano de 2020, na pris�o de 706 pessoas com mandados em aberto, no registro de 769 ocorr�ncias por tr�fico de drogas e na apreens�o de 1.044 armas de fogos. Al�m disso, 1.260 ve�culos foram recuperados pelo CPRV durante as a��es preventivas realizadas nas rodovias estaduais e federais delegadas".

A pasta tamb�m elencou v�rias opera��es e destaca que, “al�m de identificar envolvidos na a��o criminosa, inclusive na localiza��o de receptadores, foi poss�vel restituir �s v�timas diversas cargas roubadas, quais sejam: fardos de produtos aliment�cios, avaliados em R$ 30 mil, furtados no Sul de Minas; objetos, como cal�ados e poltronas, avaliados em mais de R$ 350 mil roubados na regi�o Central do estado; carga de respiradores roubados na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte; carga de sil�cio, cuja pris�o ocorreu no estado do Rio de Janeiro; entre outras".


Especialista v� migra��o do crime

A amplia��o dos furtos e roubos de cargas v�m na contram�o das estat�sticas de crimes que tendem a diminuir devido �s medidas de distanciamento para conter a dissemina��o da COVID-19. Os crimes violentos tiveram nova queda em outubro, menos brusca do que j� se registrou neste ano, mas ampliando uma tend�ncia de redu��o que vem desde 2017. De janeiro a outubro de 2020, os crimes considerados violentos ca�ram 33,78% com rela��o ao mesmo per�odo do ano passado, de 58.237 para 38.562 registros.

O m�s de outubro, contudo, teve a quarta menor queda no comparativo m�s a m�s anual, atr�s de maio (-47%), abril (-42%), julho (-41,7%), agosto (41,3%) e setembro (-36%), com um patamar de redu��o de 33,4%, j� bem pr�ximo de mar�o, m�s do in�cio das medidas de isolamento e que fechou com 30% menos crimes violentos. Antes da pandemia, a redu��o mensal m�dia ano a ano era de 24% e a mais brusca queda tinha sido registrada no comparativo de agosto de 2017 com o mesmo m�s de 2018, com 32% menos ocorr�ncias.

Com o aumento do e-commerce, o com�rcio digital, com essa quantidade enorme de entregas, se tornou um alvo muito cobi�ado, j� que as pessoas n�o circulam mais tanto para comprar


Carlos J�nior, 
coronel especialista em seguran�a p�blica

De acordo com a avalia��o do especialista em intelig�ncia de Estado e seguran�a p�blica, coronel Carlos J�nior, a nova din�mica tem feito o crime migrar para onde encontra melhores oportunidades de obter lucro sem a exposi��o dos autores a riscos muito grande de serem presos, feridos ou mortos.

“As cargas que s�o furtadas e roubadas deixaram de circular dos centros de distribui��o para as lojas e com�rcio varejista em geral, ainda com estoques cheios devido � baixa dos clientes para compras f�sicas. As resid�ncias est�o sempre com pessoas dentro, o que torna o crime de roubo e furto menos atraente, pois pode se tornar um latroc�nio, c�rcere privado ou acabar mesmo com a pris�o do criminoso antes de concluir sua a��o. A maior parte deles prefere ter vantagem e procuram por oportunidades que pesam no custo-benef�cio de suas a��es”, afirma o especialista.

Com isso a migra��o acabou ocorrendo para as estradas. “Os criminosos que muitas vezes estavam envolvidos em outros tipos de atua��o viram uma oportunidade na outra ponta da log�stica, das f�bricas e armaz�ns para os centros de distribui��o. Por outro lado, com o aumento do e-commerce, o com�rcio digital, com essa quantidade enorme de entregas, se tornou um alvo muito cobi�ado, j� que as pessoas n�o circulam mais tanto para comprar”, observa o coronel. Essa tend�ncia, inclusive, tem sido observada no comportamento de refor�o de seguran�a de v�rios segmentos.


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