
Segundo eles, fechar acessos aeroportu�rios e rodovi�rios poderia ter evitado que o pa�s chegasse ao patamar de mais de 195 mil mortes e mais de 7,7 milh�es de contamina��es. A restri��o estava prevista em alerta dado h� nove meses, quando, por meio de um modelo matem�tico, eles previram e anteciparam o caminho do coronav�rus no pa�s, etapa por etapa. Al�m do alarme, foram detectadas solu��es, em documento de mar�o cujas recomenda��es n�o sa�ram das gavetas das autoridades.
O mapa da Covid-19 em territ�rio brasileiro foi tra�ado por um grupo interdisciplinar de cientistas de Minas Gerais e do M�xico, composto por virologistas, geneticistas, microbiologistas, f�sicos e ec�logos da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Fundacao?? Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto de Ecologia AC (M�xico). Por meio da rede de transporte a�reo, o modelo gerou previs�es alarmantes para a transmiss�o da doen�a, e apontou poss�veis solu��es, caso fossem implantados nos aeroportos protocolo severo de vigil�ncia de entrada e o monitoramento das pessoas que chegavam de regi�es de risco (nacionais e internacionais).
Os pesquisadores ressaltam que a rede aeroportu�ria brasileira tem forte capilaridade e permite r�pida dissemina��o de doen�as. “O controle aerovi�rio e rodovi�rio severo poderia ter retardado o estabelecimento da doen�a nas cidades. O controle da circula��o de pessoas nunca esteve nas m�os do Minist�rio da Sa�de, nem dos estados nem dos munic�pios. N�o houve pol�tica nesse sentido e as pessoas circularam � vontade, como o fazem at� hoje. Pelas estradas � igual. As pessoas v�o e v�m normalmente”, afirma um dos respons�veis pelo estudo, o professor titular do Instituto de Ci�ncias Exatas e Biol�gicas e do N�cleo de Pesquisas em Biologia (Nupeb) da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), S�rvio Pontes Ribeiro, do Laborat�rio de Ecologia do Adoecimento e Florestas (Leaf). “O isolamento social salvou muita gente, foi essencial e ainda �”, completa.
Ele d� como exemplo o caso de um colega pesquisador que chegou da Espanha, na �poca do auge da doen�a no continente europeu. “Eram dois avi�es vindos do epicentro da doen�a no mundo e, ao chegar ao Brasil, n�o havia exig�ncias. Os viajantes entraram no pa�s e foram para onde quiseram.”

O estudo concluiu que a falta de um r�gido controle sanit�rio nos aeroportos tornou o Brasil mais vulner�vel que outros pa�ses tropicais em desenvolvimento com rede aeroportu�ria semelhante, mas com um tamanho populacional muito maior, como �ndia (�sia), ou popula��o semelhante, mas com uma rede aeroportu�ria mais simples, caso da Nig�ria (�frica). “S�o dois pa�ses que est�o no patamar brasileiro de desenvolvimento e fizeram um servi�o melhor: controlaram e fiscalizaram a entrada de pessoas. Quando n�o havia mais nada a fazer, diminu�ram o n�mero de voos”, afirma Pontes.
Fora de controle
Em mar�o, o grupo alertou que, pelo fato de o transporte a�reo ter uma forte centralidade nas capitais e grandes cidades do Sudeste, haveria uma din�mica exponencial de infec��o em v�rios munic�pios ao mesmo tempo. “O primeiro caso no Brasil foi registrado em 26 de fevereiro e, no modelo, se nada mais for feito, de forma s�ncrona, a maioria das grandes cidades do Leste e do Sul poder� estar amplamente infectada por volta do dia 50 e tornar-se contaminante das demais cidades, conectadas pela complexa rede de aeroportos. Esse padr�o causaria o colapso dos servi�os de sa�de nas cidades que t�m os hospitais mais bem equipados”, previu o modelo. “N�s acertamos tudo, prevendo, �s vezes, no m�ximo, com uma a duas semanas de diferen�a do que realmente ocorreu”, sustenta S�rvio Pontes.
E as consequ�ncias parecem longe de aprendizado. Em 17 de dezembro, a Portaria 630, publicada no Di�rio Oficial da Uni�o manteve a restri��o da entrada no Brasil, por rodovias, outros meios terrestres ou por transporte aquavi�rio, de estrangeiros de qualquer nacionalidade. Por meio a�reo a entrada de estrangeiros continua permitida, com uma novidade. Desde 30 de dezembro, qualquer viajante de proced�ncia internacional, seja brasileiro ou estrangeiro, dever� apresentar � companhia a�rea respons�vel pelo voo, antes do embarque, teste PCR com resultado negativo feito com 72 horas antes. Para o professor titular de Ecologia da UFMG, Geraldo Fernandes, do Instituto de Ci�ncias Biol�gicas (ICB), outro autor do estudo, as consequ�ncias est�o � vista. “O mesmo (que ocorreu ao longo da pandemia) se aplica no caso de uma segunda onda. O cen�rio � bem desastroso”, afirma.
Pesquisa tra�ou mapa de avan�o do cont�gio
O modelo constru�do pelos pesquisadores previu duas ondas de contamina��o em territ�rio nacional, com uma r�pida dissemina��o da doen�a no pa�s entre o 65º e o 80º dia ap�s o primeiro caso (entre 1º de abril e 16 de maio). A primeira onda se daria pelo grande avan�o di�rio da doen�a depois de 50 dias para as cidades mais densamente conectadas (e que recebem a maioria dos voos internacionais), por volta de 16 de abril.
A segunda fase estava prevista ap�s 90 dias, para os munic�pios mais perif�ricos, incluindo toda a Amaz�nia e Regi�o Centro-Oeste. Na �poca, os pesquisadores consideraram: “O fato de essas regi�es serem atingidas em uma segunda onda � a boa not�cia, pois h� mais tempo de organizar uma resposta sanit�ria para essas que tamb�m s�o as regi�es mais vulner�veis do ponto de vista de sa�de p�blica”.
Especificamente para a Amaz�nia, Manaus foi considerado um ponto de aten��o regional da rede, capaz de espalhar o coronav�rus pelas partes mais remotas da regi�o amaz�nica, expondo, em pouco tempo, uma quantidade consider�vel de popula��es ind�genas.
Da mesma forma, cidades e vilas remotas s�o ref�ns de servi�os p�blicos de sa�de prec�rios. A mensagem do documento era clara: “Ainda h� tempo para reverter essa situa��o de vulnerabilidade ao Sars-CoV-2 no Brasil, pelo menos para as popula��es das regi�es mais remotas do pa�s”.
Mas n�o foi o que ocorreu. “Enviamos esse trabalho para todos os �rg�os que pod�amos. N�o foi por falta de avisar”, afirma o professor da Ufop. Ele critica “a incoer�ncia de um governo federal que, de certa forma, teve entendimento contradit�rio � OMS (Organiza��o Mundial da Sa�de) e a sugest�es pautadas na ci�ncia”. “Quando h� d�vida desse n�vel, � dif�cil que haja coordena��o”, conclui. (JO)
A rota do v�rus
O caminho da COVID-19 no pa�s e o que os pesquisadores previram
Entradas iniciais: S�o Paulo e Rio de Janeiro – Acertaram
Dissemina��o da doen�a entre os dias 65 e 80 ap�s o primeiro caso (entre 1º de abril e 16 de maio) – Acertaram
Primeira onda: aumento di�rio da doen�a depois de 50 dias para as cidades mais densamente conectadas (e que recebem a maioria dos voos internacionais) por volta de 16 de abril – Acertaram
Segunda onda: depois de 90 dias (26 de maio), para as cidades mais perif�ricas, incluindo toda a Amaz�nia e a Regi�o Centro-Oeste – Acertaram na Regi�o Centro-Oeste. Erraram na amaz�nica, onde o avan�o ocorreu a partir do fim de abril
Primeiras 10 cidades a aumentarem a taxa de infec��o: S�o Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Bras�lia, Fortaleza, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e Florian�polis – Acertaram a maioria das cidades, mas erraram ao n�o incluir Manaus, e na ordem de avan�o, que foi a seguinte: S�o Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus, Recife, Salvador, Bras�lia, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e Florian�polis
FONTE: Estudo “Controle sanit�rio severo nos aeroportos pode diminuir a propaga��o da pandemia da COVID-19 no Brasil” e secretarias de estado e municipais de Sa�de
Os pesquisadores
S�rvio Pontes Ribeiro – Nucleo de Pesquisas em Ci�ncias Biol�gicas, Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop)
Wesley D�ttilo – Red de Ecoetologia, Instituto de Ecolog�a AC (M�xico)
Alcides Castro e Silva – Laboratorio da Ci�ncia da Complexidade, Departamento de F�sica da Ufop
Alexandre Barbosa Reis – Laboratorio de Imunopatologia, Departamento de An�lises Cl�nicas, Escola de Farm�cia da Ufop
Arist�teles G�es-Neto – Laborat�rio de Biologia Molecular e Computacional de Fungos, Departamento de Microbiologia, Instituto de Ci�ncias Biol�gicas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Luiz Carlos Junior Alcantara – Laborat�rio de Flaviv�rus, Instituto Oswaldo Cruz, Funda��o Oswaldo Cruz
Marta Giovanetti – Laborat�rio de Flaviv�rus, Instituto Oswaldo Cruz, Funda��o Oswaldo Cruz
Wendel Coura-Vital – Laborat�rio de Epidemiologia e Citologia, Departamento de An�lises Cl�nicas, Escola de Farm�cia da Ufop
Geraldo Wilson Fernandes – Departamento de Gen�tica, Ecologia & Evolu��o/ICB -UFMG
Vasco Ariston Azevedo – Departamento de Gen�tica, Ecologia & Evolu��o/ICB-UFMG