José Maria Evangelista, dono do Bar Coqueiros, na Avenida Amazonas, no Centro de BH e o garçom Wellington Gomes Torres (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A. Press)
"Depois daquilo nós compramos e enchemos o estoque. Agora eu não sei quem vai pagar a conta. Está desesperador. Meu aluguel é R$ 12 mil, tenho 13 funcionários, comprei 15 barris de chope, que vence em 10 dias. A minha pergunta ao prefeito é: quem vai pagar essa conta?", indaga o empresário.
O funcionário do bar, Wellington Gomes Torres, teme em perder o emprego com a crise causada pela pandemia do novo coronavírus. "A gente não pode trabalhar... vamos virar bandidos?", reclama. "As cidades em volta estão abertas. As pessoas vão pra lá, se contaminam e trazem o vírus pra cá", disse o garçom.
No mesmo quarteirão onde é sempre movimentado, com mesas de clientes pelo passeio, outro bar fechava as portas depois das 14h. “Estamos sem chão”, lamenta o dono do Palmeiras Bier, Eliezer Evangelista. Com os olhos marejados, ele se diz consciente da pandemia. “A gente até entende a situação que está difícil com a COVID-19, mas eu não concordo com o modo que o prefeito agiu. A gente fez todo o estoque e ele fez a notícia de surpresa em menos de 24 horas”, reclamou.
Dono do bar Palmeiras Bier, Eliezer Evangelista, ficou triste com o novo fechamento (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A. Press)
Outras despesas que Eliezer cita são os oito funcionários e aluguel do estabelecimento. “Já que está fechando, por que não dá ajuda de custo pra gente? É simplesmente fechar e a gente que se vira? Isso é receita pra quebrar. A gente está desesperado. Numa situação muito complicada”, disse.
Pedido de perdão
Em coletiva de imprensa na sexta-feira, o prefeito Alexandre Kalil (PSD) pediu desculpas e explicou que, até quarta-feira (03/03), estava sob controle. Na sexta, os números subiram e a cidade precisou fechar “para não perder o controle da situação”.
“Não estamos vendo outro caminho. É o prefeito que fecha. Peço desculpa ao comércio, ao trabalhador”, disse Kalil.
Ajuda aos empresários
Questionada sobre os pedidos dos comerciantes ouvidos pela reportagem, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que prorrogou o pagamento das parcelas de abril a dezembro do IPTU/2020 e das taxas imobiliárias (TCRU e TFAT) cobradas com este imposto, bem como das taxas mobiliárias (TFLF, TFS e TFEP) que tinham vencimento em 10 e 20 de maio de 2020, para as empresas que tiveram suspensos os seus Alvarás de Localização e Funcionamento (ALFs) ou autorizações de funcionamento pelo Decreto 17.328, de 2020.
As datas dos vencimentos dos tributos foram prorrogadas para 30 de dezembro de 2021. Os tributos poderão ser pagos em até seis vezes, até o fim de maio de 2022.
Com as medidas de amparo, a prefeitura vai prorrogar o pagamento de R$ 157 milhões, que é o saldo devedor em aberto das empresas beneficiadas pelo novo decreto.
Fiscalização
A reportagem do Estado de Minas visitou as ruas do Centro e Região Centro-Sul da capital. A maioria dos comércios não essenciais respeitaram a determinação e fecharam após as 14h. Bares abertos por volta das 16h foram vistos no Mercado Novo, onde pessoas ainda bebiam em mesas no passeio da Rua Tupis.
Até às 15h, pelo menos 20 bares foram abordados por ação da fiscalização da prefeitura e obedeceram o fechamento, segundo Genilson Zeferino, secretário municipal de Segurança e Prevenção. O balanço das ações será divulgado na próxima segunda-feira (08/03).
Aglomeração
Mais cedo, a cidade registrou filas em estabelecimentos, pontos e ônibus lotados, restaurantes e lanchonetes com gente comendo até em pé. As aglomerações que contribuíram para índices crecentes de contaminação pela COVID-19 em BH perduraram nas últimas horas deste sábado (06/03) antes de mais um fechamento restritivo de atividades, que ocorreu as 14h.
População dividida
O fechamento dessas atividades não essenciais, como academias e salões de beleza, além da limitação para o funcionamento de bares, restaurantes e lanchonetes sem servir refeições dentro dos estabelecimentos dividiu a população.
Entre as justificativas de quem apoia as medidas de maior controle e restrição de atividades, o grande medo de o sistema hospitalar não ser suficiente para receber todos os doentes, a presença do vírus cada vez mais intensa entre pessoas próximas e a persepção de que ocorreu um relaxamento das medidas de distanciamento e comportamento preventivo contr a doença.
Já aqueles que se manifestaram contra a suspensão da flexibilização, os motivos são a perda de empregos e a continuidade de aglomerações em ônibus, bancos e outros estabelecimentos permanecerem enquanto outras atividades serão forçadas a fechar, mesmo se tomarem todas as medidas preventivas.
(Com informações de Mateus Parreiras)
O que é o coronavírus
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.