
Em um tempo em que Bello Horizonte ainda se escrevia com “ll”, a capital enfrentava epidemia de thyfo (tifo), com “apenas dois casos confirmados”, e as obras no Ribeir�o Arrudas eram anunciadas pelas autoridades para conter os constantes transbordamentos e preparar a cidade para o futuro.
Essas eram algumas das not�cias de destaque na primeira edi��o do Estado de Minas, que circulou em uma quarta-feira, 7 de mar�o de 1928.
Hoje, quando “O grande jornal dos mineiros” completa 93 anos de conv�vio di�rio com seus leitores, o Arrudas continua causando transtornos � popula��o, a epidemia da vez conta v�timas aos milhares, tem car�ter planet�rio e mobiliza intensa cobertura do EM.
A partir dos primeiros casos, em sucessivas edi��es desde o in�cio dos alertas espalhados pelo mundo, passando por momentos em que �bitos no pa�s na escala dos 15 mil j� pareciam muito, at� que atingissem as centenas de milhares, capas hist�ricas v�m marcando os desafios dos brasileiros e da humanidade no enfrentamento da COVID-19.
Tudo sem esquecer o esp�rito cr�tico e os aspectos pol�ticos que se entrela�am, no Brasil em especial, com a pior crise sanit�ria da hist�ria moderna.
Neste anivers�rio, sem perder de vista sua miss�o de manter mineiros e brasileiros informados diariamente, � poss�vel fazer uma pausa para contar um pouco da hist�ria do pr�prio jornal, em um epis�dio que marca seu relacionamento com os leitores e a import�ncia que conquistou entre gera��es.
Como porta-vozes dessa intera��o, dois irm�os da fam�lia Lage, Oscar e Ivana, nascidos em Governador Valadares, na Regi�o Leste do estado, que demonstram uma rela��o �ntima com o Estado de Minas – que atravessou d�cadas sempre chegando � casa dos pais assinantes.
Se a imprensa � um espelho da sociedade, a hist�ria da fam�lia Lage se reflete como exemplo de preserva��o e valoriza��o de documentos. “Na nossa casa, sempre tivemos muitos m�veis antigos, lou�as e objetos, tudo conservado”, conta Oscar Martins Lage, de 52 anos, vendedor e hoje vivendo em Igarap�, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte.
ACHADO
E foi em um desses m�veis, logo depois da morte do patriarca, Joaquim Martins Lages, aos 92, em 2008, que os filhos, em um trabalho de “arqueologia dom�stica”, abriram um guarda-roupas bem antigo, onde encontram um exemplar da primeira edi��o do Estado de Minas.
O local, segundo Ivana Martins Lage, residente em Governador Valadares, n�o poderia ser mais inusitado: estava atr�s do espelho de cristal bisot� do m�vel que pertencera ao av� de Ivana, Lagino Lage. “Era comum fazer uma ‘almofada’ com papel para o espelho n�o se quebrar. Na �poca, os assoalhos de madeira trepidavam muito, vidros se partiam facilmente”, diz Ivana.
Diante da descoberta, a vi�va, Maria Jos� Cabral Lage, resolveu guardar o exemplar. Quando a m�e morreu, aos 78 anos, em 2017, Ivana se tornou a nova guardi� do documento. Produtora cultural na Secretaria Municipal de Cultura de Valadares e j� tendo trabalhado em jornal, ela reconhecia ali a import�ncia da preserva��o da mem�ria. E, em tom de brincadeira, diz que o exemplar � cheio de mist�rio.
REVELA��O
De toda forma, uma rel�quia de mais de 40 anos, testemunha de parte importante da hist�ria da imprensa mineira e de muito do respeito da fam�lia Lage pelo jornal, preservado por gera��es desde a descoberta atr�s do espelho.

FAROL
Com 12 p�ginas e na cor s�pia adquirida com o tempo, o exemplar tem apenas uma parte rasgada na �ltima p�gina. Analisar o primeiro n�mero de uma trajet�ria que hoje j� ultrapassa as 28 mil edi��es � como viajar pelo tempo, mesmo que em publica��o comemorativa. Os olhos atentos v�o fazer um giro pelo mundo, pela capital e pelo interior de Minas, com not�cias sobre agropecu�ria, obras p�blicas, pol�tica cafeeira... assuntos que em 93 anos se repetiram, se consolidaram, se modernizaram e se ampliaram, junto com o pr�prio EM, hoje tamb�m em formato digital e na era das m�dias sociais, sempre como ve�culo da essencial miss�o de informar.
Das mais recentes reportagens sobre a pandemia do novo coronav�rus, que integram a edi��o deste domingo, tanto impressa quanto digital, �s informa��es gravadas h� 93 anos e reproduzidas no exemplar da fam�lia Lage, um olhar profundo pelo retrovisor da hist�ria, e a certeza de que a not�cia jamais perde o brilho. Pelo contr�rio: � e seguir� sendo um farol para o mundo.