
Doentes � m�ngua dentro de casa, insufici�ncia de covas nos cemit�rios, pacientes que morrem por falta de atendimento. O cen�rio de terror enfrentado por pa�ses como It�lia e Equador no in�cio da pandemia do novo coronav�rus n�o � mais uma realidade distante do sistema de sa�de brasileiro.
Em diversas regi�es do pa�s, o caos j� est� instalado. � o caso do Rio Grande do Sul, onde dados oficiais apontam mais de 500 pacientes na fila de espera por leitos de UTI, e do Mato Grosso do Sul, em que 100% das vagas de terapia intensiva do SUS est�o ocupadas.
Os pr�ximos 30 dias, alertam especialistas, ser�o cruciais para definir se a crise ser� generalizada. N�meros divulgados pelas secretarias estaduais de Sa�de mostram que, em 24 das 27 unidades da Federa��o, a situa��o � de pr�-colapso ou colapso, com lota��o de hospitais superior a 80%.
Enquanto isso, o v�rus se propaga com grande velocidade: s� na sexta-feira (12/3), foram 75,4 mil novos infectados em todo o territ�rio nacional. Minas Gerais e Belo Horizonte est�o inseridos nesse contexto, com recordes di�rios de contamina��es e capacidade assistencial praticamente estrangulada.
Enquanto isso, o v�rus se propaga com grande velocidade: s� na sexta-feira (12/3), foram 75,4 mil novos infectados em todo o territ�rio nacional. Minas Gerais e Belo Horizonte est�o inseridos nesse contexto, com recordes di�rios de contamina��es e capacidade assistencial praticamente estrangulada.
Infectologistas e autoridades consultados pela reportagem do Estado de Minas avaliam que a Uni�o, os estados e os munic�pios ainda podem frear a cat�strofe, mas precisam trabalhar juntos, equilibrando uma esp�cie de trip�: aten��o prim�ria, vacina��o e aten��o terci�ria. Tudo isso sem economia na libera��o de recursos para a �rea da sa�de.

PACTO NACIONAL
Para o ex-ministro da Sa�de e ex-presidente da Anvisa Agenor �lvares, embora todas as esferas de governo – federal, estadual e municipal – sejam respons�veis pelo enfrentamento da pandemia, a iniciativa de conduzir a crise deve partir do Minist�rio da Sa�de.
“A gest�o � tripartite, ou seja, n�o exime ningu�m. Mas cabe � Uni�o induzir o processo de planejamento. A coordena��o nacional � muito importante. Se n�o houver uma a��o coordenada nos tr�s n�veis, fica dif�cil evitar um colapso. Sem isso, n�o podemos identificar onde est�o localizados os maiores gargalos e problemas e, a partir da�, centrar esfor�os coletivos para sanar a situa��o”, analisa o sanitarista.
Entre as principais provid�ncias a serem tomadas em �mbito nacional, ele cita o Pacto Nacional em Defesa da Vida e da Sa�de, defendido por governadores de 24 estados. A proposta, divulgada em 10 de mar�o, pede a cria��o de um comit� gestor para o enfrentamento da epidemia, com representantes dos tr�s poderes da Rep�blica e de todos os n�veis da Federa��o, com assessoria de comiss�o de especialistas.
Entre as propostas citadas no texto est�o a amplia��o de doses e fornecedores para a campanha de vacina��o, al�m de apoio �s medidas preventivas de conten��o do coronav�rus, como uso de m�scaras, al�m de suporte para manuten��o e aumento com agilidade dos leitos de UTI.
“Esse pacto � necess�rio tamb�m para que, neste momento cr�tico, seja poss�vel injetar recursos na sa�de com rapidez e sem amarras burocr�ticas. Agora, mais do que nunca, o SUS precisa de suporte financeiro e liberdade para aloca��o de recursos onde quer que seja necess�rio, sem limites. A prioridade � salvar vidas. E isso n�o se faz sem dinheiro. Nos pa�ses onde a pandemia est� sendo superada com sucesso, n�o houve economia de recursos”, argumenta �lvares.
A infectologista e epidemiologista Luana Ara�jo acrescenta que o combate � doen�a no Brasil precisa considerar tamb�m a��es que equilibrem todos os n�veis de aten��o � sa�de. “N�o adianta focar s� na ponta da alta complexidade, abrindo leitos de CTI. Precisamos frear a propaga��o do v�rus, sen�o nunca teremos leitos suficientes. Enquanto o foco estiver nos hospitais, vamos enxugar gelo”, pondera a m�dica.
Segundo Luana Ara�jo, ao mesmo tempo em que monitora as unidades de terapia intensiva, o poder p�blico deve investir na aten��o prim�ria, ou seja, no atendimento b�sico � popula��o, com ampla oferta de testes para a COVID-19. “Com isso, � poss�vel reduzir a propaga��o do v�rus. A testagem permite que o m�dico fa�a a detec��o precoce da doen�a e oriente os pacientes a ficar em casa, para que n�o contaminem os outros. Consequentemente, a demanda das UTIs diminui”, afirma a infectologista.
Luana critica ainda a ado��o do lockdown de forma isolada, sem planejamento que inclua outras medidas.“O lockdown � uma medida extrema, que funciona no curto prazo para conter a circula��o de pessoas; logo, a dissemina��o do v�rus. Mas ele tem sido usado no Brasil como uma esp�cie de tapa-buraco. Assim que os n�meros da pandemia explodem, vem o prefeito e decreta lockdown. Mas ele n�o pode se esquecer de que a cidade ser� aberta de novo dentro de algumas semanas e que, a cada lockdown, a ades�o das pessoas � menor. Por isso, � importante coordenar o bloqueio junto com a vacina��o e com a aten��o prim�ria, com oferta irrestrita de testes”, defende.

TESTAGEM EM MINAS
O presidente do Conselho de Secretarias de Sa�de de Minas Gerais (Cosems-MG), Eduardo Luiz da Silva, tamb�m aposta na testagem em massa como arma de combate � pandemia no estado. “Os testes est�o entre as nossas principais reivindica��es da Secretaria de Estado de Sa�de. No in�cio da pandemia, era compreens�vel que esses itens fossem escassos, pois havia falta no mercado mundial. Agora, a produ��o j� foi normalizada. A oferta desse insumo aos munic�pios mineiros � urgente nesse momento cr�tico”, diz o dirigente.
Silva prop�e ainda maior repasse de recursos destinados � sa�de pela Uni�o e pelos estados. Ele explica que 65% das cidades mineiras t�m menos de 10 mil habitantes e, portanto, dependem majoritariamente de transfer�ncias governamentais para o sustento de suas despesas. Se n�o houver acr�scimo de verbas nos pr�ximos meses, alerta o gestor, os prefeitos podem ter dificuldades para responder �s demandas do quadro pand�mico.
“No in�cio de 2020, houve libera��o de recursos do governo federal por meio das portarias 374 e 1.666 para aplica��o emergencial na sa�de. Mas esse dinheiro j� est� se esgotando. A libera��o de mais verbas, tanto pelo estado, quanto pela Uni�o, para que possamos atravessar esse momento dif�cil � urgente”, afirma Silva.
MEDIDAS DE CONSENSO NA RMBH
Em Belo Horizonte, onde 89,3% das vagas de UTI est�o ocupadas, a superintendente do Hospital das Cl�nicas da UFMG, Andrea Ferreira, teme que as restri��es anunciadas na sexta-feira (12/3) pelo prefeito Alexandre Kalil tenham efic�cia reduzida se n�o houver um consenso dos munic�pios da regi�o metropolitana.
“At� acho que a Secretaria Municipal de Sa�de vem desenvolvendo um trabalho eficiente, Belo Horizonte � uma cidade conurbada. Ou seja: cercada de diversas cidades pr�ximas, que muitas vezes recorrem ao nosso sistema de sa�de. Ent�o, o ideal seria que os prefeitos entrassem num acordo e padronizassem as medidas de conten��o da pandemia”, diz Andrea Ferreira.